Xbox com CPU a 1.9 Ghz? Eis desde já uma opinião sobre o rumor.

Muito certamente nos próximos dias irão aparecer questões sobre a possível veracidade de uma notícia que circula e onde, baseado nos diagramas apresentados pela Microsoft, se conclui que o CPU da Xbox One corre a 1.9 Ghz. E dado actualmente não tenho possibilidade de estar presente para responder a essas questões, devido a um curto período de férias, antecipo-me desde já a dizer algo sobre o assunto.

Efectivamente tal ideia surge do website semiaccurate.com, que analisando o diagrama que se segue, conclui que o CPU da Xbox One corre a aproximadamente 1.9 Ghz, o que, supostamente, o tornaria mais rápido do que o da PS4 que se afirma correr a 1.6 Ghz (apesar de tanto Sony como Microsoft nunca terem confirmado oficialmente estes valores, eles são referidos por várias fontes e websites da especialidade como factuais).

Quem faz a afirmação relativamente aos 1.9 Ghz é Charlie Demerjian criador do website e um suposto especialista em semicondutores e arquitectura de redes, que refere ser consultor da industria em matérias técnicas. E alguém certamente muito mais habilitado do que eu para fazer estas afirmações.

No entanto, mesmo assim, no alto de toda a minha ignorância, atrevo-me a colocar dúvidas ao que este senhor refere.



No seu artigo Charlie analisa a imagem de cima, e refere aquilo que está visível:

O CPU conecta-se à memória por quatro canais com 64 bits de largura (256 bits totais), obtendo graças à DDR-1333 um total de 68 GB/s de largura de banda.

Charles constata ainda que o canal que liga o CPU ao controlador de memória é de 30 GB/s.

Assim, sendo o canal de 256 bits, e a largura de banda de 30 GB/s, podemos calcular a velocidade de relógio do sistema que o gere usando a formula:

Bits de largura do canal * velocidade de relogio em mhz / 8 = largura de banda em MB/s

E assim substituindo os valores pelos dados conhecidos ele fica com:



256*x/8=30000 mb/s

Daqui tiramos que a velocidade de relógio é de 937,5 Mhz.

Mas é aqui que o raciocínio de Charles se me escapa. Porque ele afirma algo que nem a Microsoft, nem a AMD disseram, começando a sua lógica com uma suposição, mas acabando-a com uma certeza que se baseia nessa suposição, tudo isto aceitando que o bus em causa é gerido pelo North Bridge.

Mais especificamente ele refere: “something that strongly suggests that Microsoft sticks with Jaguar’s half-clock speed NB”, ou em Portugues, “Algo que sugere fortemente que a Microsoft se ficou por metade da velocidade de relógio do Jaguar no North Bridge”.

O grande problema é que Charles presume que os 30 GB/s são na sua totalidade do Northbridge, e ainda presume que este corre a metade da velocidade de relógio do CPU. Mas se ele não tem dúvidas que o bus é do Northbridge, quanto à questão de este correr a metade da velocidade do CPU, ele não tem a certeza! Apenas refere que a situação sugere fortemente.



E é aqui que se colocam as minha questões:

1 – Mas porque motivo há dados para se referir que algo sugere fortemente que o Northbridge corre a metade da velocidade do CPU?

2 – Desde quando o North Bridge tem necessariamente de correr a metade da velocidade de relógio do CPU?

3 – Com todo do respeito pelo senhor, é este website de confiança?

4 – E porque razão se afirma que aqueles 30 GB/s são exclusivos do North Bridge?



O certo é que baseado nessa suposição, Charles multiplica os 937.5 Mhz*2 e refere que o CPU da Xbox One corre a 1875 Mhz (os tais 1.9 Ghz).

Quando li a situação achei-a ridícula, mas quando li as credenciais deste senhor no fundo da página fiquei de pé atrás. Afinal, com aquelas credenciais, quem sou eu ao lado dele para o contrariar.

Mas pesquisando um pouco tentei responder às minhas próprias questões:

Porque motivo há dados para se referir que o apresentado sugere fortemente que o Northbridge corre a metade da velocidade do CPU?

Sendo o Northbridge um chip independente do CPU para se responder a esta questão haveria de se saber dados técnicos sobre ele. Infelizmente não há qualquer indicação sobre este chip, pelo que não consigo responder a esta pergunta. Fica assim a dúvida sobre se Charles terá alguma informação que mais ninguém tem e que o  leve a afirmar tal situação.  Seja como for é curioso como alguém não é peremptório a garantir as bases de toda uma argumentação, mas mesmo assim faz uma afirmação clara face à conclusão final a que chega, baseada nessa suposição.



Desde quando o North Bridge tem necessariamente de correr a metade da velocidade de relógio do CPU?

Tendo alguma experiência com computadores e overclocks, nunca me apercebi nas arquitecturas modernas qualquer necessidade de relação de velocidade entre o North Bridge e o CPU. É certo que a velocidade do bus que liga o CPU ao North Bridge deve ser coerente com a do Bus de acesso à RAM de forma a permitir que o CPU possa tirar partido adequado da situação, mas dado que nem todos os dados da RAM se destinam ao CPU uma relação fixa não é uma obrigatoriedade.

Assim pesquisei um pouco e nos exemplos que encontrei com processadores AMD não encontrei nenhum onde o North Bridge corresse a metade da velocidade do CPU. Cito aqui com imagens um exemplo (cliquem sobre a mesma para a ver em ecrã total – NOTA: As imagens são externas ao website pelo que podem de um momento para o outro ficar indisponíveis).

O exemplo da imagem é de um CPU AMD Phenon II XT a 4050 Mhz, e com o North Bridge a 2700 Mhz. Ou seja não é metade! E experiências com o CPU mostram que mexendo nos timings das memórias posso aumentar ainda mais a velocidade do North Bridge sem alterar a velocidade do CPU.



Na imagem que se segue, com o mesmo CPU o North Bridge passou para 3 Ghz e o CPU mantêm-se a 4050 Mhz.

Por outras palavras, o que se percebe é que nas arquitecturas modernas o North Bridge é independente do CPU. Daí que não compreendo como Charlie Demerjian faz uma afirmação de relação entre as velocidades dos dois componentes, tão peremptória sem qualquer apoio em documentação técnica ou registo, mesmo que fosse verbal (dito por alguem), de que tal seja uma realidade, e ainda por cima quando ele claramente começa toda a sua afirmação com uma suposição (“sugere fortemente” não é uma garantia).

Há que não excluir a hipótese de este senhor estar certo! Afinal aqui estamos perante um APU com o NorthBridge integrado. Mas se for o caso terei de ter novas fontes a confirmar a situação, pois por muito respeito que as credenciais deste senhor me mereçam, aquilo que refere não bate certo com a realidade que conheço e aprendi a conhecer ao longo de vários anos.

Da mesma forma não se descarta a possibilidade deste senhor ter informação que não é do domínio público. Só que se assim for terá de o dizer claramente.



É este website de confiança?

Como é algo já bem conhecido de quem nos acompanha, é uma realidade que na escolha das nossas fontes há algumas que nos merecem mais credibilidade que outras. E aqui estamos perante um website que nunca ouvimos falar, mas que entra em campos bastante polémicos, fazendo afirmações sobre situações que nunca ninguém abordou. E isto apesar do Bus de 30 GB/s ser conhecido desde sempre e websites de renome como o Anandtech terem analisado o hardware sem qualquer nota sobre a possível velocidade de relógio do CPU.

Há por isso que avaliar alguns outros artigos do mesmo autor para saber até que ponto este efectivamente sabe do que fala.

Curiosamente nem precisamos de ir muito longe para ficarmos de pé atrás sobre este website.  É que na segunda parte do mesmo artigo,  na parte da sua análise da apresentação, mas sobre a placa gráfica, este possui sérias gafes. Entre elas a indicação de que o overclock da Xbox One foi dos 800 para os 831 Mhz, quando na realidade foi para os 853 Mhz (que sugere, caso o CPU tenha tido um overclock idêntico que este possa ir até 1750 Mhz e não 1900 como este senhor diz). Erro de escrita… tlavez sim… talvez não! E isto porque refere que este overclock é um rumor, quando na realidade a Microsoft já confirmou o mesmo oficialmente. Ora quando alguém pretende mostrar que sabe algo mais do que é conhecido falha em referir correctamente aquilo que é conhecido… algo está mal.

Mas talvez a gota de água que nos levou a ficar de pé atrás foi o comparar a gráfica da Xbox One a algo entre a Radeon HD6000 e 7000 é… E tal é exagerar um pouco… para baixo! Afinal a placa gráfica da Xbox One é reconhecidamente bem mais potente que isso.



Mas convenhamos para o bem dos argumentos… o especialista é ele. Quem sou eu para contrariar alguém que apresenta aquele currículo? Um mero amante da informática que manda uns bitaites aqui e ali.

A questão é que há necessidade de chamar a atenção para estes erros de forma a verificar até que ponto podemos aceitar as afirmações do website como credíveis. E o que é certo é que quando se refere que a placa gráfica da Xbox One a uma placa da série HD 6000 o website certamente mostrará a qualquer pessoa minimamente informada que essa informação não é de confiança, mas certamente para alguns o website já passará a ser de  toda a confiança por referir que o CPU da consola é a 1,9 Ghz. Por isso se tomarmos o website como de confiança, para aceitar que a Xbox One tem um CPU a 1.9 Ghz, teremos então de aceitar da mesma forma que a sua placa gráfica nem sequer anda perto da existente na PS4.

Para além do mais, mesmo que aceitemos os 1.9 Ghz como verdade e o resto como gafe, tal a situação levanta várias questões. Afinal, se é assim, porque motivo a Microsoft não anuncia essa característica? Seria um Marketing excelente e a consola da Sony já não pode ser alterada pois estamos a 2 meses do lançamento em 32 países. E a Xbox One certamente beneficiaria de bom Marketing.

Para além do mais, o nome do website… “semi exacto”, não é certamente a melhor das escolhas para o website ser tomado como credível.

Porque razão se afirma que aqueles 30 GB/s são exclusivos do North Bridge?



Outra situações que me levam a duvidar das conclusões de Charles é que os 30 GB/s nunca foram novidade, e nunca ninguém teve dados para concluir que o CPU corria a 1.9 Ghz. E como já foi referido, websites da especialidade como o Anandtech, apesar do cuidado de nunca terem referido em qualquer das consolas os 1.6 Ghz como um valor confirmado, não atiraram para o ar esta possibilidade. E mais do que Charlie estes websites poderiam e deveriam fazê-lo.

O motivo é, aparentemente, simples:

Um antigo esquema da consola (pré-overclock), que até  pode estar errado ou desadequado, mostra que os 30 GB/s não são efectivamente para o CPU que apenas recebe 20,8 GB/s, tal como o da PS4, sendo os restantes 9 GB/s para o Kinect. Ou seja, de acordo com o esquema os 30 GB/s são um acumulado de dois buses, em que 20,8 GB/s são para cada par de CPUs (na realidade são 20,8 para a totalidade do CPU, sendo que os dois buses partilham a mesma largura de banda) e  9 destinados a componentes do sistema. E assim sendo, toda a esquemática de acesso ao CPU da Xbox One fica em tudo semelhante à da PS4 onde o a largura de banda para esse mesmo processador é igualmente de 20,8 GB/s, levando a acreditar que as velocidades de relógio do CPU são iguais, apesar das dos NB poderem ser diferentes.

xb2

Mas certezas… não tenho, e nem li nada sobre outros que as tenham! Daí que há que aguardar por outras fontes fiáveis para saber se este senhor tem ou não alguma informação que é até ao momento desconhecida. Porque se tem, então terá razão! Mas até ao momento, e apesar de este senhor já ter falado nisto à dois dias e meio, apenas os fóruns e os sites noticiosos que publicam toda e qualquer notícia falaram do assunto.



Note-se que com este artigo não pretende ser técnico e nem elucidar ou explicar seja o que for, sendo que reconheço que não tenho competência para o abordar por falta de conhecimento técnico da situação. Mas para aqueles que acompanharam o meu raciocínio deverão perceber que as dúvidas são uma realidade, e como tal, ao contrário de outras situações onde tomei o relatado como verdadeiro, aqui soa-me a algo um bocado atirado para o ar. Mas admito que posso estar errado, basta existir algo que este senhor saiba e mais ninguém sabe (mas como já dei a entender em cima, tal não me parece provável).

O grande problema do artigo de Charlie não é o analisar e comentar sobre o que é conhecido. Isso é o que aqui fazemos. É o tirar conclusões sobre algo que nunca foi falado, nunca foi confirmado, ou nunca foi sequer colocado como hipótese e, apesar de usar frases como “tudo leva a crer” para servirem de base às suas teorias, no final fazer afirmações inéditas sobre o assunto. Falar sobre o hardware e suas capacidades muitos fazem, mas daí a concluir-se e fazerem-se afirmações sobre situações não oficiais e desconhecidas, ainda por cima sem uma sustentação sólida, vai uma grande diferença.

Imagens: Overclock.Net



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