Uma consola… não é um smartphone.

Querer justificar o lançamento de uma nova consola a meio da vida útil das atuais comparando a situação com a que se vive atualmente com os telemóveis é algo incompreensível. Eles são produtos diferentes, e quando as coisas são diferentes, não há analogias que as possam tornar iguais.

Como será já do conhecimento de todos, corre o rumor de que a Sony irá lançar uma nova consola Playstation, denominada pelos media de Playstation 4.5 ou 4K.

Este seria uma consola mais potente com a atual, e completamente compatível com a mesma, mas que poderia executar os jogos da atual com melhores performances.

Esta é uma situação que, dado o curto tempo de vida da atual Playstation, não está a cair bem junto dos possuidores da consola. No entanto há quem defenda que a situação é aceitável, alegando que a nova consola não vem alterar nada no panorama dos videojogos.

Como comparação, de forma a justificar a ideia, referem os lançamentos de novos smartphones. Estes quando saem não impedem os possuidores da versão antiga de beneficiar de todos os novos produtos que vão saindo para os mais recentes, sendo que os novos apenas permitem executar as coisas de forma melhorada. Com a nova PS 4.5 seria a mesma coisa, e como tal os possuidores da antiga Playstation em nada seriam prejudicados.



Ora, independentemente de haver ou não argumentações válidas para defesa deste tipo de lançamentos, este argumento não tem ponta por onde lhe consiga pegar, pois olhando para uma comparação entre as duas realidades, não consigo ver qualquer semelhança entre elas. Aliás, considero as situações tão dispares ao ponto de serem incomparáveis.

As novas versões são sempre melhores. E o motivo é… o upgrade

Para começar não é exatamente verdade que quando se lança um novo smartphone os anteriores proprietários continuem a usufruir de tudo como antes. Sim, é verdade que nada se altera face ao que tinham, mas os novos produtos normalmente trazem novas capacidades que não estão acessíveis aos anteriores modelos. Umas vezes por questões de capacidade do hardware, outras por mera opção de software, mas a realidade é que as diferenças existem, e onde antes os possuidores das agora antigas versões dos aparelhos possuiam algo que era o mais completo do mercado, agora deixaram de o ter.

Vejamos o iPad Air 2 por exemplo. Este tablet da Apple não é apenas mais rápido e mais potente que o seu antecessor. Na realidade ele possui capacidades de multitasking que estão vedadas a todos os modelos anteriores. Aqui a base é a capacidade do hardware, mas casos houve onde isso não acontecia. Por exemplo, o Siri apenas não corria no iPhone 4 porque a Apple não permitia que os pedidos fossem autenticados nos seus servidores vindos deste telefone. Mas a restrição era apenas software pois o hardware desse telefone era perfeitamente capaz.

O motivo porque os novos lançamentos trazem estas realidades é só um. O upgrade! O tentar conseguir que aqueles que já investiram na versão anterior invistam de novo. E isso é algo que a Sony, como qualquer empresa, não se importaria nada que acontecesse com a PS 4K! Se os 40 milhões de possuidores da Playstation 4 resolvessem fazer um upgrade deixando a PS4 antiga numa outra divisão, isso seria ouro sobre azul. Daí que nessa perspectiva, sendo a Sony apenas mais uma de muitas empresas, será lógico que o Upgrade esteja considerado como uma opção. E nesse aspecto, a nova consola ao trazer capacidades que a antiga não possui, torna-se uma candidata a tal.

A questão aqui é que desde que as alterações não mexam com a performance geral da consola, e a sua função nuclear, os jogos, nenhum possuidor da atual PS4 terá problemas em que a nova versão venha com mais capacidades multimédia. Considerarão a situação apenas uma revisão. Mas se tal acontecer… e tudo parece indicar no sentido que tal será uma realidade… a diferença passará a ser demasiada para ser ignorada. Os motivos estão indicados de seguida.

O aumento de performance tem mais significado nas consolas

Talvez a maior das diferenças entre as consolas e os smartphones esteja relacionada com a performance e a necessidade do sistema em obter mais e mais potência disponível.



A questão é que desde à muito tempo que os smartphones continuam a evoluir e a aumentar as performances sem que o utilizador ganhe verdadeiramente com isso. A diferença entre um Samsung Galaxy Note 3 e um Note 5 está apenas nas limitações a nível do software existente e fornecido de fábrica. Porque a nível de performances, apesar de ser claro que o Note 5 é mais rápido, o Note 3 é ainda hoje um telefone com performances topo de gama e capaz de executar em perfeitas condições tudo o que existe na Google Play.

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Uma análise aos últimos lançamentos permitem constatar que desde à algumas gerações para cá, as diferenças de performance entre duas gerações de smartphones não são verdadeiramente notórias, limitando-se a tornar o modelo mais recente capaz de abrir e executar aplicações umas centésimas de segundo mais rápido. Mas apesar dos ganhos, tal não é algo que o utilizador note verdadeiramente no seu dia a dia de forma clara, uma vez que as aplicações existentes correm igualmente bem quer no modelo mais recente, quer num com já 3 ou 4 anos. As diferenças reais limitam-se a ser os valores obtidos nos benchmarks, o que face à realidade do constatada, acaba por ser mais show off do que realmente uma necessidade.

Já nas consolas a coisa é bem diferente. O tipo de processamento efetuado nestes aparelhos especializados em videojogos não é o mesmo que temos nas aplicações ligeiras dos smartphones (que aliás não são máquinas especializadas de jogos). Nas consolas temos uma máquina criada e concebida com um objectivo em mente: jogos, e onde a performance é toda ela necessária. E quanto mais… melhor pois é possível, e mesmo comum, usa-la toda ao máximo.



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Mas se nos smartphones as diferenças de performances não são penalizadoras, o mesmo não se passas com as consolas.   As novas consolas possuem problemas em acompanhar a performance dos PCs, e o que vemos nos jogos multi plataforma são jogos limitados na resolução e/ou fotogramas. Daí que naturalmente que introduzir aqui, numa nova consola, mais performance, se torna muito mais atrativo do que fazer o mesmo num smartphone onde qualquer modelo mais recente não vem alterar nada nesse panorama. Aqui uma nova consola poderia melhorar os fotogramas, a resolução, ou manter os mesmos acrescentando mais efeitos visuais. Ou até quem sabe… os três em simultâneo. E ao contrário dos telefones onde as aplicações 3D são meramente lúdicas e de uso esporádico, sendo que ninguém procura o jogo hardcore, mas apenas o jogo casual e lúdico de diversão rápida, aqui nas consolas esse é o tipo de processamento principal. Nas consolas procura-se a criação de jogos 3D com grafismos de elevada qualidade, e com a maior qualidade de som e imagem possível, pelo que consequentemente um novo hardware mais potente trará uma fragmentação de mercado não existente nos smartphones.

Aqui estamos perante o possível caso de os jogos criados para a consola mais potente, poder não correr na menos potente. E isso não é algo que aconteça nas aplicações genéricas para o mercado de smartphones, especialmente entre modelos de gerações sequenciais.

Resumidamente… não é possível comparar-se a realidade dos upgrades de um smartphone aos de uma consola de mesa… Dê lá por onde der!



O ciclo de vida

Pode parecer a muitos que as pessoas aceitaram muito bem os lançamentos anuais de smartphones topos de gama a 800 euros. E sim, há “malucos” para tudo, sendo que alguns até comprariam continuamente os novos modelos mesmo que fossem lançados a cada 6 meses. Aí claro há a questão da possibilidade monetária, mas acima de tudo do exibicionismo e show off pois tecnicamente, desde à alguns anos para cá, os ganhos não justificam verdadeiramente o upgrade em todas as gerações, quer se tenha dinheiro para tal, ou não.

Mas a realidade é que maior parte das pessoas não trocam de telefone todos os anos. E dentro dessas, mesmo os apaixonados pela tecnologia fazem-no quando a necessidade, as evoluções ou o salto tecnológico o justificam, e não apenas porque há um novo smartphone disponível. Tal seria apenas mero consumismo.

Mas mesmo que assim não fosse, há outra realidade. O facto que quem compra um smartphone saber logo na altura de compra que ele só será topo de gama por um período de um ano, e que novo modelo poderá trazer novidades que o seu não suporta. Esta é uma realidade desse mercado, e que todos conhecem e aceitam.

Já no mercado das consolas a coisa não é assim!

Basta ver que o mercado de smartphones basicamente arrancou em 2008 com o primeiro iPhone. Desde 2007 até hoje já tivemos o iPhone, o iPhone 3G, o iPhone 3GS, o iPhone 4, o iPhone 4s, o iPhone 5, o iPhone 5s, o iPhone 6 e o iPhone 6s.



De 2007 a 2016, ou seja 8 anos (mal medidos pois o primeiro iPhone foi lançado em Junho e ainda não estamos em Junho de 2016), tivemos 9 telefones. Ou seja, o periodo médio entre lançamentos nem sequer chega a um ano.

E isto é uma realidade desde que os smartphones arrancaram. Uma realidade que o mercado aceita… porque sempre foi assim!

No entanto o número de gerações de consolas que existiram até hoje é menor do que o número de iPhones lançados nessa base anual. A atual geração é a oitava!

Mas as consolas estão no mercado… faz 44 anos!

A primeira geração esteve sozinha no mercado 4 anos (72 a 76), a segunda esteve 7 anos (76 a 83), a terceira 4 anos (83 a 87) e a quarta 6 anos (87 a 93).



Apesar de a quarta geração já ter tido bastante aceitação do público, foi com a quinta geração que as consolas arrecadaram junto do público um lugar de destaque. Aliás para a maior parte das pessoas, quando se fala em consolas o seu historial retrocede apenas até aqui. A quinta geração foi a geração da Playstation, da Nintendo 64 e da Sega Saturn!

A quinta geração apareceu em 93 e esteve sozinha no mercado até 98, ou seja 5 anos!

A sexta geração foi a da PS2, Xbox, Gamecube e Dreamcast. Esteve sozinha no mercado de 98 a 2005, ou seja 7 anos, e deu o arranco final que as consolas precisavam para se implementarem nas nossas casas.

Temos depois a sétima geração, a geração passada e que dispensa introduções, que esteve sozinha no mercado de 2005 a 2013, ou seja 8 anos!

Resumidamente, a média de todos estes anos, e a realidade conhecida junto das pessoas é que uma consola possui uma esperança de vida mínima de 5,8 anos.



No entanto todos possuem consciência que a tecnologia atualmente evolui muito rápida, e que a atual geração poderia ser menor. 5 anos seria aceitável para todos, 4… talvez não para todos, mas já aconteceu. Mas 3… é um quebrar de um ciclo para transformar as consolas em algo semelhante aos smartphones, e que ninguem, quando da compra, tinha conhecimento ou esperava existir! E quem acompanha a industria desde sempre, sabendo que demora anos a que os programadores cheguem a conhecer verdadeiramente as capacidades de um hardware, sabe que isso nada tem de bom, e que tal só significa o sub-aproveitamento das consolas. Com mais do que um hardware no mercado, os programadores deixam de programar para o hardware passando a programar para uma plataforma. E isto foi algo que já explicamos quando a Microsoft apresentou a Universal Windows Platform que unifica a Xbox One e o PC. Basicamente,caimos numa situação inédita para as consolas.

Daí que mais uma vez, independentemente de o modelo de negócio poder vir a ser adoptado ou não, comparar as realidades destes dois produtos parece um pouco ridículo, deitando por terra todo este argumento comparativo. Até porque os smartphones não pagam depois 60 euros/ano para poderem jogar online!

Entretanto Phil Spencer já se pronunciou sobre a questão destes lançamentos intermédios, e apesar de as suas palavras serem um pouco contraditórias face aos já referidos possíveis upgrades da Xbox One, o facto é que ele não se mostrou muito a favor da ideia, preferindo um upgrade maior. Tal e qual a maior parte dos utilizadores quer sa sua consola, quer da concorrente.

http://www.gameinformer.com/b/news/archive/2016/04/01/i-m-not-a-big-fan-of-xbox-one-and-a-half-says-xbox-boss-phil-spencer.aspx



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