A adolescência é algo que nos marca. Mas para a vida ficam as saudades… e nada como a nostalgia para nos fazer reviver os bons momentos do passado. Uma nostalgia que os jovens e futuros jogadores dificilmente terão!
A minha infância foi bastante normal em muitos pontos, nomeadamente no facto que, tal como a maior parte dos miúdos da minha geração, passei-a maioritariamente a jogar à bola, a andar de bicicleta e a brincar com os amigos. No entanto, tive a oportunidade de crescer igualmente com os videojogos, e nesse aspecto vivi-os desde sempre, e são algo que ocupam as memórias da minha infância com grande saudade dos momentos ali passados.
Felizmente para mim, reviver esses jogos, e essas sensações, é algo que posso fazer. Possuo não só as máquinas perfeitamente funcionais, como possuo os videojogos. E quando quero, desde o velhinho Spectrum com as suas teclas de borracha, passando pelo Atari St, os primeiros PCs, e todas as consolas que possui, posso ligar os mesmos, e jogar os seus jogos, revivendo aquilo que foi a minha juventude.
Mas o motivo pelo qual posso fazer isso é que cresci num mundo de jogos de retalho. Um mundo onde aquilo que adquiri é meu, e será meu para sempre enquanto estiver funcionar. Não haviam microtransações, patches, ou servidores que os jogos precisavam quer para se validarem, quer para serem jogados. Não é que veja problemas com a evolução dos tempos e a necessidade dessas realidades, até porque tenho a consciência que muitos dos actuais jogos que existem e dos quais até gosto, não poderiam existir sem isso. Isto apesar que espero que ainda demore até que este tipo de jogos substituia plenamente que ainda é o mercado atual.
Mas a realidade é que estes jogos mais recentes trouxeram com eles uma realidade diferente da que conheci. Atualmente os jovens jogam jogos online multijogador como Destiny, Battlefield, The Division, e muitos outros, e tal como eu, estão nesta altura a criar as memórias da juventude que lhes irão perdurar uma vida. Mas infelizmente, ao contrário do que acontece comigo, esses jovens dentro de 20 ou 30 anos não terão a possibilidade de reviver de forma nostálgica os momentos da sua juventude, mesmo que para esse efeito guardem os jogos e as consolas. É que devido à necessidade de servidores de validação e de jogo, que inevitavelmente irão fechar, esses jogos irão, mais cedo ou mais tarde, desaparecer, e a posse do mesmo valerá tanto como uma folha branca de papel. Será a sua morte definitiva!
Colocar esses jogos a funcionar no futuro será algo impossível. Poder-se-á, com muito esforço, dedicação, e investimento, até conseguir criar servidores, mas onde se irão buscar os jogadores suficientes para a criação de uma partida?
Nesse aspecto, a atual juventude tem mais é de agradecer a ainda existência de jogos single player, e a existência de empresas como a Sony, que apostam fortemente neles. Pois somente esses jogos poderão um dia mais tarde fazer parte de uma experiência nostálgica como a que consigo viver actualmente. E garanto… é uma experiência tremendamente satisfatória para a alma!
O que me levou a escrever este artigo foram as noticias sobre serviços e mais serviços de aluguer de jogos, mas especialmente o recente término de suporte a Paragon, um jogo bem recente. Sim, é certo que o jogo terminou e o dinheiro nele investido foi devolvido (uma situação louvável), mas e o tempo, as horas ali perdidas e colocadas pelos fans do jogo?
Essas horas são agora apenas memórias uma vez que o jogo desapareceu da existência!
Infelizmente isto é algo que vai acontecer igualmente a grande parte, senão mesmo a maior parte, dos actuais jogos! E tudo o que não tenha uma componente de jogador único offline, está condenado a desaparecer! Com os jogos a serem estruturados para serem jogados em torno de dezenas ou mesmo centenas de jogadores, o fecho dos servidores implica forçosamente a sua morte.
Este é um dos problemas dos “jogos como serviço”. Não que esta geração alguma vez sinta falta de jogos, pois novos estão sempre a aparecer, e a diversão que se extrai dos mesmos é efectivamente boa. Aliás, a diversidade e quantidade de jogos de qualidade que os jovens actualmente possuem passam em muito o que se obtinha antigamente, e cada vez mais jovens perdem mais e mais horas com eles.
Nesse sentido os atuais jovens são mais presos aos jogos do que eu alguma vez fui na minha juventude. E isso entristece ao saber-se que as suas memórias com os videojogos serão ainda maiores que as minhas, e estes não terão a oportunidade de um dia mais tarde os poder rejogar.
A nostalgia pode ser lamechas… mas sinceramente é boa para a alma! E tenho pena que o mercado tenha evoluído num sentido que vai negar a quem a quiser experimentar, essa possibilidade.
Tal como os historiadores preservam o passado para que as futuras gerações possam conhecer como foram as coisas, o manter-se viva a capacidade de se viver as experiências passadas é importante. Eu adoro e agradeço o poder fazer isso! E só lamento que os jovens actuais e futuros, um dia, mesmo que queiram, não o possam vir a fazer!
Mas são outros tempos… e certamente ninguém vai morrer por isso. Vão apenas passar a ser bem mais melancólicos pois perdem a possibilidade de matar a Nostalgia.