Alguem se lembra do do Commodore 64? E alguém se lembra de como na altura haviam técnicas que conseguiam superar limitações do seu hardware?
Recordando o passado encontramos situações e necessidades que o tempo apagou e que deixaram de ser necessárias, mas que na altura eram autênticos prodígios de técnica.
A situação que vamos falar aqui aplicou-se em várias máquinas, desde o ZX Spectrum ao Atari ST. Mas no entanto, a situação melhor documentada foi no Commodore 64, sendo que será dela que iremos falar.
Para quem não se lembra, eis os gráficos do Commodore 64 num jogo dos anos 80 e num jogo criado para ele bastante recentemente:
Esta pequeno computador que nos maravilhou e entreteve durante tanto tempo, possuia uma resolução de 320×200 e uma paleta de cores com um total de 16 cores, que podiam ser usadas de forma livre em cada um dos seus pixels.
Eis a paleta de cores em questão (a primeira barra, à esquerda, é preta, tal como o fundo do ecrã):
Ora todos os gráficos eram criados com estas cores de cima. E dada a sua pequena variedade, as mesmas eram conhecidas da frente para trás e de trás para a frente. Aliás, apenas pela paleta de cores era possível distinguir-se ao longe se o jogo era do Commodore 64 ou não.
Mas eis que,a determinada altura, num jogo denominado Dragon Breed, as pessoas ficaram surpreendidas quando viram um dragão a aparecer no ecrã, com a seguinte cor:
Apesar de algumas parecenças com o azul da paleta, na realidade este azul turquesa era bem diferente. Vamos comparar com detalhe:
Cortando um pedacinho do azul da paleta, e fazendo o mesmo com o dragão, ampliando, vamos colocar ambos lado a lado.
Como vemos, são dois azuis completamente diferentes. A cor do dragão (direita) é uma cor que não existia na paleta de cores da placa gráfica do Commodore 64!
Como era isto possível? Será que a placa gráfica era programável e permitia o acréscimo de funções não previstas de base?
Claro que não! 🙂 Essas situações só apareceram muitos, mas mesmo muitos anos mais tarde.
Na realidade o que ali estava era uma ilusão óptica, um truque muito bem pensado e que permitia ao Commodore 64 mostrar mais cores do que aquelas para as quais tinha sido concebido.
E como era isso possível?
Bem, muito simplesmente desenhando o dragão 50 vezes por segundo (o refrescamento das TVs), alternando cada um dos desenhos, comum dragão de cor diferente.
No caso, um dos dragões seria este:
E o outro, este:
A cor misturada tem mesmo de ser vista, e não se consegue obter com uma captura de ecrã que, por ser um instantâneo, irá sempre apanhar uma destas duas imagens. Daí que a imagem que mostra o resultado final que visuamizamos tenha de ser algo offscreen e tirada a uma velocidade maior que 1/50 de segundo, de forma a apanhar a transição de ambas as cores, e a cor resultante:
Impressionados? Nem por isso?
Vamos então ver de forma mais alargada o que esta técnica pode fazer. E para isso vamos criar uma grelha com as 16 cores do Commodore 64 colocadas em colunas:
Agora vamos colocar novamente as 16 cores, mas em linhas.
E apliquemos o efeito de cima às duas imagens (infelizmente, sem me aperceber cortei o quadrado final em todas as imagens):
Como se vê, esta técnica permite um total de 256 cores. É certo que visualizando o efeito criado sem ser por foto, algumas cintilam bastante o que as torna pouco usáveis, mas mesmo assim é impressionante.
Mas claro… atualmente o número de cores não é um problema. e esta é uma técnica que caiu em desuso. Mas que merece créditos a quem a criou numa altura onde o número de cores no ecrã era limitado.