Na atual geração a aposta da concorrência foi no online. Apesar de tal ainda ter sido bem aceite, a Sony não entrou com a mesma força nessas apostas. Mas se tal aconteceu com sucesso nesta geração, a realidade é que a Sony, mesmo com as devidas adaptações e restrições que protejam o seu ecossistema, necessita de entrar nesses mercados com mais força, tendo nesse sentido anunciado que a PS5 terá mais exclusivos multi jogador. A questão é: Será que a Sony está preparada para isso? E analisando aquilo que é a realidade da empresa, tal não parece acontecer.
Em Julho de 2018 Shuhey Yoshida veio referir que gostava que a Playstation tivesse mais sucesso no multi jogador. Tal é um desejo perfeitamente compreensível dado que a Sony tem apostado quase exclusivamente em jogos Single, com componentes multi. Apesar de tal ter sido bem aceite nesta geração, o sucesso incontestado de jogos como Apex Legends, PUBG, ou Fortnite mostram claramente que uma aposta mais intensa nesses mercados tem de acontecer.
Nesse sentido Gran Turismo Sports foi uma excepção. Apesar de o jogo ter acrescentado uma componente single player e offline (e não somos defensores de jogos sem ela), o jogo quando foi lançado era basicamente online. Mas numa geração, um jogo multi é apenas uma excepção e não se pode considerar que a Sony esteja a apostar nesse campo.
Shawn Layden veio recentemente dar a conhecer que a Sony reconhece essa lacuna, e que a PS5 terá mais exclusivos que apostam no multi jogador, uma medida que se encara como bem vinda.
Agora a questão que temos de colocar é: A Sony está preparada para um futuro em que a componente multi jogador de um jogo seja a predominante?
Tal não parece acontecer!
Com a nova geração de consolas a Sony introduziu uma novidade, o pagamento obrigatório do PSN+ para os jogos online. Esta foi uma medida que tentou seguir os passos da concorrência, no sentido de criar e manter uma infra-estrutura online de qualidade, e que apesar de não ser do agrado da maior parte dos utilizadores, poderia efectivamente trazer melhorias ao ecosistema online que fossem significativas.
Mas se as pessoas passaram a pagar para jogar online, nem tudo o que se viu foram melhorias. Aliás, no último mês o valor recebido pelo pagamento do PSN+ caiu significativamente, e sem que tenha existido qualquer retorno adicional para o pagante. Um assunto sobre o qual já falamos aqui.
Talvez a situação fosse compreensível se percebêssemos que a Sony estaria a usar essa receita adicional oriunda da poupança de uma forma diferente do que aconteceu no passado. O caso de Gravity Rush 2 talvez tenha sido o mais mediático, quando a Sony resolveu acabar com os servidores da componente online do jogo, apenas 18 meses depois do lançamento do jogo. Uma expectativa que certamente quem pagava PSN+ para poder jogar online, certamente não possuía.
Perante um pagamento para se jogar online, o expectável era que os jogos lançados numa geração de consolas, mantivessem os servidores activos enquanto a geração estivesse activa. Naturalmente que se percebe que servidores sem procura possam ser encerrados. Afinal se alguém quiser jogar online e o servidor não possui pessoas para servir os jogos, de nada adianta ele estar activo. Mas se isso se percebe, o certo é que quem pagou para jogar os seus jogos online, deveria poder fazê-lo, e o custo dos servidores deveria ser pensado para durar a geração, quer o jogo tivesse muito sucesso ou não. Remover a componente online ao fim de 18 meses num jogo vendido como tendo a mesma como parte integrante é cortar o valor do jogo, e isto sem que o cliente seja ressarcido da perda. Pior ainda quando ele paga extra para poder jogar online.
Mas apesar de ter sido menos mediático, pior do que Gravity Rush 2 foi o caso de Kill Strain cujos servidores foram totalmente eliminados menos de um ano após o lançamento. Mas não foi o único, The Tomorrow Children viu os servidores desaparecerem após 12 meses, e Drawn to Death tambem já tem data para o término dos servidores.
É um conjunto de fechos de componentes online que mostra que a Sony não está preparada para um futuro com aposta no online. Neste campo, a Sony é a empresa que menos confiança nos merece, e numa altura em que as pessoas pagam para jogar, a aposta na manutenção dos servidores tem de ser maior. Tal não impede que haja um caso ou outro, mas tal não pode acontecer tão cedo e em tantos jogos. Necessita de haver um esforço adicional para se manter pelo menos os jogos Full Price durante mais tempo, e se possível, durante a geração.
Esta critica no fundo estende-se a outras empresas e não apenas à Sony. Mas dado que o artigo é sobre a Sony, será sobre ela que nos iremos focar maioritariamente.
Agora, será que com o corte da oferta na PSN+ a Sony irá corrigir estes erros?
Na realidade não! A Sony acaba de anunciar que Driveclub será retirado da venda, e que os seus servidores irão fechar. Driveclub, um jogo que é dos poucos exclusivos de corridas automóveis da Sony, e um jogo que foi publicitado pela sua componente social. Mais ainda, apesar de a mesma não ser muito procurada atualmente, o jogo foi prejudicado nas vendas pelo facto de a componente online não vir funcional.
Uma análise à realidade do jogo, feita por mim mesmo ontem à noite, mostra que os servidores estão ainda com bastante actividade, não havendo dificuldade em arranjar jogos e com certas actividades a contarem com 360 participantes simultâneos, o que parece mostrar actividade que justificaria a sua manutenção. Mais ainda, numa altura em que as pessoas pagam para jogar, numa altura em que a geração está activa, numa altura em que se refere que a PS5, supostamente, possuirá retro-compatibilidade, não nos parece boa prática terminar com servidores de jogos que irão continuar a poder manter-se activos no futuro.
Daí que terminar com aquela que nesse jogo, foi a componente mais publicitada, o social online, não nos parece uma medida adequada.
Este tipo de atitudes leva a questionar o futuro de outros jogos, sendo que Gran Turismo Sports salta imediatamente à cabeça. Quando vemos que a Microsoft, apesar de também fechar servidores menos activos, como por exemplo os de Project Spark que não teve grande aceitação, faz um claro esforço desta empresa em manter servidores abertos, como se constata facilmente pela manutenção dos servidores de Forza Motorsports 2 e Forza Motorsports 3, do lado da Sony não há, até ao momento, nenhum sinal deste género, de uma comprometimento da empresa para com o jogador pagante e com os seus jogos, o que torna a mesma muito pouco recomendável para jogos online, especialmente quando esta nos vem falar de um futuro com maior aposta nessa vertente.
A explicação da remoção de Driveclub das lojas digitais é dada pelo antigo Director da Evolution, Paul Rustchynsky, que refere que o jogo está a ser retirado do ar por uma questão de licenciamento que foi de 5 anos, o que torna a situação, a nosso ver, ainda mais extensa. Os jogos da Microsoft usam igualmente licenciamentos, e estão activos, pelo que a Sony aqui não só corta os servidores a quem tem o jogo, como retira o jogo do ar para não ter custos com novos licenciamentos.
Para todos os efeitos, com excepção de cópias usadas físicas, Driveclub passará a comportar-se como se nunca tivesse existido. E se os licenciamentos se revelam assim tão problemáticos e/ou custosos, mais uma vez se questiona o futuro de Gran Turismo Sports, e já daqui a poucos anos.
To be clear the game, like most racing games, it is being delisted for licensing reasons. It’s standard practice across the industry for ~5yr deals, so buy it before it’s gone forever.
Mas uma coisa Paul Rustchynsky deixa claro, que a retirada do jogo de venda é uma coisa, mas que o fecho dos servidores é uma decisão completamente paralela e exclusiva da direcção da Sony. Se o licenciamento não permite que o jogo continue a ser vendido, nada impede que quem o tenha continue a jogar nos servidores, e que essa decisão é exclusiva da Sony.
Well the servers are a different matter, the sale of the item is what gets restricted after the agreed terms expire. Servers will just be a business decision.
Numa altura em que o valor do PSN+ está em causa, o fecho de Driveclub não abona a favor do investimento da Sony em licenciamentos e infra-estruturas que permita à empresa manter os seus jogos online activos, não tornando nesse sentido o anuncio de Shawn Laiden em algo minimamente excitante, mas sim antes num factor de preocupação.
E diga-se que uma possível retro compatibilidade com jogos que possuem servidores fechados fica muito menos interessante.