Se o modelo de Sea of Thieves de jogos com qualidade mas desprovidos de conteúdo que só é lançado ao longo do tempo é o que a Microsoft pretende implantar, então é questionável se o mesmo terá efectivamente grande sucesso, e acima de tudo se ele interessa ao consumidor.
Nota: o artigo que se segue é totalmente especulativo, analisando a possibilidade de futuros lançamentos da Microsoft serem nos mesmos moldes de Sea of Thieves a nível do disponibilizado. Tal poderá contudo não ser assim, o que torna este artigo num mero exercício teórico sobre uma possibilidade que atualmente parece que poderá vir a confirmar-se.
Quantidade sobre qualidade. Tal poderá ser o lema futuro da Microsoft para o futuro!
Sea of Thieves era um dos jogos mais esperados para a Xbox One. Com o Crackdown 3 a sofrer atrasos e ainda sem data definitiva de lançamento, e o State of Decay 2 a só sair para o final do ano, no que toca ao campo da exclusividade, Sea of Thieves era o jogo desejado para se mudar um pouco o panorama do que tem vindo a ser lançado nos últimos tempos, onde o PlayerUnknowns Battlegrounds, apesar da qualidade intrínseca da sua jogabilidade que sofre tremendamente de questões de performance e técnicas, e o Halo War 2, apesar de ter qualidade, revelou-se bastante longe de ser um jogo que vende sistemas.
Nos últimos dois anos, a Xbox destacou-se no campo da exclusividade apenas em dois jogos, Cuphead e Forza Motorsport 7, que se revelaram os dois jogos “must have” desta consola dos últimos tempos.
Não se pode deixar porém de referir que Cuphead, apesar da sua qualidade, é um jogo Indie e não um AAA, sendo ainda um jogo de uma dificuldade extrema, motivo pelo qual, no campo daqueles jogos que atraem massas e vendem consolas, ficamos reduzidos a Forza Motorsport 7. Muito pouco face à lista avassaladora de títulos exclusivos de qualidade da concorrência.
Mas Sea of Thieves era um jogo esperado com ansiedade. Afinal era o primeiro jogo de grande orçamento da lendária Rare ao fim de vários anos em que esteve relegada a fazer jogos Kinect. Este seria o jogo que finalmente se mostraria como daqueles de fazer inveja aos amigos da Playstation, seria o jogo que colocaria a Xbox novamente no caminho certo, um multi jogador com qualidade e conteúdo capaz de prender tudo e todos ao ecrã durante meses. Pelo menos era isso que eu desejava que acontecesse uma vez que, comparativamente à PS4, a Xbox tem estado muito parada.
Infelizmente… não foi isso que aconteceu!
Se leram o nosso artigo anterior sobre este jogo perceberam que o jogo pouco ou nada mudou desde as alphas, que há uma fundação muito forte para um jogo de qualidade, mas que sofre pela falta de conteúdo e repetição do existente, sem existir progressão, melhorias e onde o Boss existente não passa de uma ocupação pois não pode sequer ser morto, sendo o prémio máximo do jogo o acesso a um local secreto para os piratas lendários. A ideia global dos queixosos é que o jogo está longe de justificar o custo a retalho de um jogo full price, sendo que pelo conteúdo oferecido, face ao que outros jogos do género ao mesmo preço oferecem, ele deveria ser mais barato.
Perante este estado de coisas, o que terá levado a que a Microsoft a decidir pelo lançamento do jogo?
Claramente percebe-se que, caso o jogo tivesse um jogo mais completo, a Microsoft teria aqui um caso de sucesso pelas fundações criadas. Porque permitir então que se lançe um jogo destes tão vazio de conteúdo? Um jogo sem qualquer progressão, sem melhorias de armas ou de barcos, com apenas 3 tipos de inimigos, sem melhorias nas armaduras, no equipamento, mas caracteristicas das personagens, enfim, sem aquilo que define um RPG clássico e que os torna populares e insistentemente jogados?
É certo que estas situações não são todas obrigatórias de existirem, e há jogos que também são assim possuindo bastante sucesso. Mas aqui não há o factor competitivo, apenas o cooperativo, e esse pormenor, perante estas situações, faz muita ou toda a diferença.
Como compensação a Rare promete atualizações gratuitas, o que cria aqui uma situação de um jogo como serviço. E sim, ok, é certo que o jogo vai melhorar, e se calhar até tornar-se em algo de muito especial. Mas isso é no futuro… e agora? O jogo foi lançado agora, não no futuro!
Note-se que isto não é exclusivo da Microsoft. Gran Turismo Sport sofreu do mesmo e é um jogo Sony. A diferença é que se no caso da Sony estamos perante um claro caso de mau planeamento, aqui, apesar de tal poder ser tambem uma possibilidade, surgem questões pertinentes relacionados com o Game Pass.
Repare-se. Tanto aqui como em Gran Turismo, Perante o existente no lançamento o preço era elevado. Caro demais!
A diferença é que se no caso da Sony isso não lhe trazia qualquer vantagem, aqui a situação pode trazer vantagens à Microsoft. Aliás as vantagens de tal, perante a existência de um serviço como o Game Pass e a disponibilização no mesmo de jogos First Party acabados de lançar, parecem de grande interesse.
Repare-se que, como em qualquer jogo, a criação de conteúdo obrigaria a mais desenvolvimento e consequentemente a mais custo de produção, custo esse que dificilmente se pagará num Game Pass alugado a 10 euros com esse valor a ser dividido com uma centena de outros jogos e que requer acréscimo regular de novidades. Daí que, ao contrário do caso da Sony, possa haver vantagens no corte no conteúdo!
Perante isso a Microsoft não precisa que se compre o jogo no retalho a 60 dólares, sendo até que quem o faz tem todo o direito a sentir que o que pagou, presentemente, não vale o custo… Mas tudo isto será até vantajoso no sentido de se tornar o jogo bem mais apetecível no Game Pass, perante os 10 euros mês, do que na compra por 60. Afinal ali aderes, jogas… cansas-te e pausas jogando outros jogos do serviço, voltando lá depois quando houver mais conteúdo. Entretanto ficas a pagar o serviço e ajudas o serviço a crescer.
É isto que no caso da Microsoft pode justificar este tipo de modelo de lançamento, e até poderá já ser aquilo que a Microsoft alertou que viria a existir. Ou seja, como a Microsoft tinha anunciado “Uma nova forma de conceber, distribuir, e jogar os jogos” que está associada ao Game Pass. Ora esta situação explica as dúvidas sobre como se paga um jogo destes com um serviço destes. Basicamente a manter-se este modelo em outros jogos teremos jogos onde o conteúdo global de lançamento é mais reduzido tornando as receitas dos alugueres mais adequadas ao custo de produção, uma vez que este não consegue facilmente pagar os custo de um jogo AAA completo, e como tal o jogo tem de ser liberado como um serviço onde se vai acrescentando conteúdo ao longo do tempo.
Este ano ainda teremos o State of Decay 2 e preve-se que igualmente o Crackdown 3 como exclusivos First Party. Todos possuem algo em comum, nomeadamente o terem co-op de 4 jogadores. E certamente todos terão conteúdo atualizado no futuro! Aliás State of Decay 2 até custará apenas $30 não sendo um jogo “Full Price”, o que por norma implica que se reconhece à partida que a qualidade estará uns furos abaixo do que de melhor atualmente se faz. Mais do que isso, todos estes jogos estarão disponíveis no Game Pass.
Ora se há forma de se melhorar um jogo que tenha limitações, é permitir joga-lo com amigos… E o que poderá vir a acontecer é a Microsoft deixar de tentar alcançar o mercado da mesma maneira. A ideia deles poderá não passar pelo tornar os jogos interessantes para se venderem jogos, mas poderá, e deverá, passar por criar situações mais vantajosas para que as pessoas adiram ao seu ecossistema, e para mantê-las lá. E se um jogo sem conteúdo a 60 dólares é caro, é ultrajante, e afasta as pessoas da compra física, pagar 10 euros por mês juntamente com todos os restantes títulos do Game Pass, é certamente bem mais apelativo.
Repare-se no gráfico que se segue e que inclui os dados preferenciais de divulgação da Microsoft, os usuários activos no Live.
Este tipo de situação requer, tal como anunciado, alterações no tipo de desenvolvimento, mas as reais e totais consequências de tal a nível de compromissos não as conhecemos ainda. Será ainda que isto quer dizer que todos os jogos Microsoft no futuro vão abandonar o single player? Talvez não, o Halo e o Gears sempre tiveram uma forte componente desse tipo, mas o certo é que é espectável que cada vez mais títulos se foquem nestas situações de co-op caso o conteúdo continue a sofrer para justificar a sua inclusão no Game Pass.
Diga-se que a nível empresarial as decisões da Microsoft são arriscadas mas brilhantes a nível de inovação e tentativa de penetração do mercado. A questão é se realmente o consumidor beneficia realmente com isto, especialmente com a quebra do conteúdo ou da qualidade dos jogos que Sea of Thives parece mostrar que será o implementado e como tal se este será o tipo de serviço procurado. Bem, procura e adesão terá certamente, a questão é se ele, perante tais compromissos, dominará o mercado como desejado. Nesta fase é dificil de se dizer isso!
Claramente se a ideia atual é quantidade sobre a qualidade, a Xbox é a consola ideal. É atualmente o ponto forte onde a Microsoft está a apostar! Já a concorrência vai exactamente pelo caminho oposto.
Agora cabe a decisão ao consumidor, mas está cada vez mais claro que as duas consolas de mesa mais potentes estão a ir por caminhos diferentes.