As decisões da Sony só serão conhecidas da actual direcção. No entanto podemos tentar aplicar aqui um bocado de lógica e tentar perceber, por coerência, se isso acontecerá, ou não?
Porque motivo existem as consolas… e porque motivo existem os exclusivos?
As consolas apareceram como uma forma de receita. Basicamente elas criam uma plataforma fechada onde o detentor da mesma ganha royalties sobre tudo o que é vendido associado à plataforma, seja software, seja hardware. E essa formula, que resultou ao longo de 40 anos ainda na actual geração se revelou lucrativa. Permitiu à Sony um enorme sucesso, e permitiu inclusive que a empresa saísse do enorme buraco financeiro em que se encontrava.
Os exclusivos surgem depois. Com o aparecimento de consolas concorrentes que pretendiam competir pelo mesmo mercado, os detentores das plataformas entendem apostar na criação de jogos que apenas poderiam ser jogados na sua consola. Tal garantiria mais adesões e consequentemente mais receitas.
Estas duas situações tem vindo a definir o mercado das consolas por 40 anos. É certo que o mercado evoluiu ao ponto de o hardware já não ser uma verdadeira fonte de receita, tomando o software e a venda de serviços e periféricos maior preponderância financeira que as consolas em si. Ao ponto de podermos efectivamente dizer que o negócio actual das consolas já não está nas consolas, mas sim nas royalties, serviços e software.
Da mesma forma, apesar de os exclusivos serem uma grande fonte de atração para a plataforma, os custos de desenvolvimento tornaram quase necessário que os mesmos, tal como qualquer jogo, vendam em quantidade. Não porque eventuais prejuízos não possam ser compensados pelas restantes receitas da consola, mas porque os prejuízos poderão ser significativos e como tal não desejáveis.
Ora tendo colocado a coisa neste ponto, o que vemos é que atualmente as consolas são uma enorme fonte de receita. As vendas dos exclusivos, as vendas de jogos Third Party, a venda de serviços, a venda de periféricos, tudo, mas absolutamente tudo, criado pelo detentor da plataforma, ou não, rende dinheiro aos mesmos mediante o pagamento de licenciamentos de uso da sua plataforma, as royalties.
É um negócio de largos milhões, um negócio lucrativo, e um negócio que não interessa largar.
Nesse sentido, seria producente a Sony colocar os seus jogos no PC?
Claro que não!
Sony e Microsoft ocupam actualmente lados opostos numa balança… a Microsoft tem em mãos uma consola que perdeu mercado face à geração anterior. A Sony em mãos tem uma consola que ganhou mercado face à geração anterior.
A Microsoft tem em mãos a consola que na sua história, na relação anos de vida/vendas, menos vendeu. A Sony tem nas suas mãos uma das consolas que, na relação anos de vida/vendas, mais vendeu.
São totais opostos… opostos que obrigam a políticas diferentes no sentido de alargar o seu mercado e de manterem as suas receitas.
Aqui não está em causa se alguma das duas empresas tem prejuizos. A realidade é que com a venda de jogos, de serviços e outros, ambas as plataformas podem, em escalas diferentes, dar lucros, isto apesar de notícias de 2018 que dão conta que só a PSN deu mais lucros à Sony do que tudo o que a Xbox e a Nintendo arrecadaram com a totalidade dos seus negócios.
Esta situação só para se perceber a diferente realidade das duas empresas, e como tal, as diferentes políticas.
A Microsoft, perante a sua menor base de utilizadores, e num intuito de aumentar receitas, optou por levar os seus jogos para o PC. Acima de tudo começou por o fazer de forma fechada, com o controlo das vendas, tentando assim alargar a base de clientes, mas manter o controlo sobre a totalidade das percentagens de lucro dos seus jogos. Mas quando isso falhou, abriu as portas a lojas de terceiros, abdicando assim de receita, com o intuito de vender mais.
A Sony não tem essa necessidade… Os seus produtos vendem bem e pagam-se na sua consola! Mas no entanto há uma outra realidade… o mercado PC está lá, e pode aumentar essas receitas, algo que nenhum empresa no seu perfeito juízo abdicaria.
A grande questão é que levar os Exclusivos para o PC traz consequências. E isso derivado de algumas realidades de mercado:
- O mercado PC e consolas é muitas vezes partilhado. Ou seja, há utilizadores com consolas… e com PCs! E colocar o jogo nos dois não aumenta as vendas na mesma percentagem do aumento de mercado. Isto porque estes utilizadores ou compram de um lado, ou compram do outro, mas dificilmente comprarão dos dois.
- Abrir os exclusivos ao mercado PC é retirar à sua plataforma um ponto de atracção. Tal pode ser amenizado com algum desfasamento entre o lançamento na consola e no PC, mas mesmo esse desfasamento pode ser suficiente para o mercado consola perder clientes. Se é certo que o cliente mais hardcore poderá não estar disposto a esperar pelos jogos no PC, a realidade é que as consolas duram 7 anos e esgotam esse público nos primeiros tempos. As restantes vendas são de pessoas que, muito certamente, se tiverem um PC que corra o jogo, mesmo que com menor qualidade, optarão por jogar aí em vez de adquirir a consola.
Estas situações implicam a possibilidade da destruição do eco-sistema. Basicamente o PC não aceita pagamentos como a PSN ou o LIVE, e essas fontes de receita fogem. Depois, com os jogos que só haviam nas consolas nos PC, as pessoas podem deixar de comprar a consola. E não comprando a consola, deixam de pagar os serviços da mesma.
Pior ainda, essas pessoas deixariam de comprar igualmente jogos das Thirds na consola, comprando-os igualmente no PC. E isso implicaria a perda das royalties das vendas.
Basicamente, e num cenário extremo, esta medida pode desmoronar completamente aquilo que é o eco-sistema de uma plataforma que tão bem tem servido a Sony.
E mudar isso após uma das gerações de maior sucesso de sempre, não parece algo coerente! O mercado está longe de mostrar que não quer o modelo que tão bem o serviu durante mais de 40 anos! E quem mais está a beneficiar com isso? A Sony!
Mas eis que recentemente, um rumor, anteriormente negado pela Guerrilla, volta a ressurgir. Um que diz que Horizon: Zero Dawn, um exclusivo Sony, e criado por uma das suas equipas First Party, irá para o PC.
Naturalmente não sabemos se há ou não veracidade nisso. Na realidade pode não passar de um boato infundado. Mas a realidade é que o rumor ressurgiu e em força, sendo acompanhado de outros rumores que referem que este será apenas o primeiro de muitos jogos Playstation que passarão para o PC.
Daí que perante o exposto anteriormente, será que há alguma coerência nesta situação?
Na realidade… há!
A posição da Sony tem sido até ao momento a de 0% dos exclusivos no PC… Já a sua competidora, a Microsoft, tem a posição totalmente oposta, com 100% dos exclusivos no PC.
Ora esta situação, apesar de não aparentar trazer desvantagens à Sony, na realidade traz. O mercado PC é potencialmente muito grande, e é a esse mercado que as consolas são buscar os seus clientes. Isto quer dizer que, apesar de a Sony não precisar, e nem sequer ter grandes vantagens em entrar nesse mercado, está a perder num campo para a Microsoft. O campo de promoção da sua consola junto destes utilizadores.
Isto quer dizer que a Sony pode perfeitamente ter optado por uma posição que nem é o 8 nem o 80… é algo intermédio. Algo que lhe pode permitir manter a sua posição, mas ao mesmo tempo promover os seus jogos e a sua consola junto dos consumidores PC.
E isto não passaria pela colocação de 100% dos seus exclusivos no PC, mas passaria pela colocação de alguns exclusivos no PC. Alguns exclusivos com algum tempo no mercado e que foram um sucesso, mas já não vendem na consola. Tal e qual como Horizon: Zero Dawn, que esgotou o seu potencial de vendas e está agora disponível por apenas alguns trocos.
A vantagem em usar um jogo nesta posição como potencial publicitário do que a Playstation pode oferecer soa assim a algo bem maior do que as receitas que o jogo pode ainda angariar, sem lhe retirar a vantagem de ter sido exclusivo. E desta forma a Sony marca igualmente presença no mercado PC, não deixando a Xbox obter todos os focos ali existentes.
Depois, com uma escolha que não englobe todos os jogos nesta situação, tal não garante a passagem do jogo A ou jogo B para o PC, o que impede as pessoas de deixarem de pensar na consola, esperando jogar os jogos, mesmo que tardiamente, no PC.
Basicamente este é um raciocínio que nos soa a lógico e coerente. Porque se não for assim, porque motivo a Sony não deixa os seus exclusivos de peso manterem-se para sempre no PSNow, um serviço seu? A Sony impede os possuidores PC de aceder aos seus exclusivos num serviço seu, e depois permite o acesso aos seus jogos vendidos em lojas de terceiros (sim, porque a Sony não tem uma loja implantada no mercado PC, e se a tivesse, enfrentarias os mesmos problemas que a Microsoft dada a popularidade do Steam).
Naturalmente estamos a teorizar. A Sony mudou muito a nível estrutural e de chefias. E aquelas decisões sensatas e ponderadas que vinham do Japão, podem agora estar intoxicadas pelas ideias dos Estados Unidos, podendo colocar a empresa numa rota de colisão com os seus fans, enterrando a Playstation.
No entanto, tal não é expectável, e nem temos dados que levem a que se pense assim. Daí que neste sentido, a haver realmente a entrada de exclusivos da consola no PC, e sem mais dados, a lógica de coerência soa à que aqui expomos.