A Microsoft não revela números de vendas ou de receitas de vendas de/em jogos e serviços/subscrições. Mas na realidade esses números podem ser encontrados nos seus relatórios. Tal só obriga a procurar dados e umas contas. Chatas… mas meras contas.
O último relatório e contas da Microsoft, que podem encontrar aqui, segue a tendência dos últimos tempos. A venda das consolas caem a cada mês que passa, um pouco consequência do final de geração, mas as receitas com o Gaming aumentam.
Não sendo a Microsoft clara em números, até porque não refere números de vendas de consolas e muito menos os valores das quebras de receitas, esta prefere desde à vários anos abafar tudo que possam ser perdas dentro de eventuais ganhos mais colectivos. Daí a questão: Apesar das quebras de vendas e de a Microsoft estar longe dos resultados da Sony, qual é a real saude financeira da Xbox?
É isso que este artigo vai tentar responder!
No seu último relatório e contas a Microsoft deu a conhecer que as vendas da Xbox, mais uma vez, e seguindo uma tendência desde já à bastante tempo, se encontram em queda face a igual período do ano anterior. 33% de quebra na receita das vendas foi o valor reportado, o que é um número só por si muito relevante, uma vez que representa basicamente uma quebra de 1/3 nas receitas nas vendas de hardware e periféricos, e que só por si se pode revelar preocupante,
Mas esse é o único número dado, sendo que a Microsoft realça mais o facto de, mesmo com essa quebra, a divisão Gaming registar um aumento de receita de 12%, vindo da venda de/em jogos, e serviços/subscrições.
Ora aqui a Microsoft, nestes quadros resumo, sem que tal se possa censurar tal, tenta pintar a coisa numa perspectiva positiva. Que a quebra das vendas não são assim tão relevantes, pois as receitas continuam a subir, e como tal a empresa está no rumo certo. Ela aqui nem sequer refere qual a quebra de vendas no hardware, que só se encontra lendo o texto do relatório linkado em cima. É proverbial o copo meio cheio!
Mas a perspectiva em que a Microsoft pinta a coisa são os dados que menos nos interessa. O que gostávamos era de saber quantas consolas vende, quantas deixou de vender, quando está a gerar em vendas de jogos e serviços. Ou seja, qual a cor real das coisas, e não a que a Microsoft pinta! Naturalmente não esperamos encontrar a mesma coisa que na divisão equivalente da Sony, mas mesmo assim, pretendemos mais transparência no revelado, e acima de tudo, perceber se o que temos aqui é uma Xbox que ainda respira saúde, ou se estes números são mera areia para os olhos.
Ora esses dados, acreditem ou não… estão lá! Não são directos, não são fáceis de serem obtidos… mas estão lá! E para lá chegarmos, bastam umas pequenas contas e uma análise ao conteúdo ali presente!
Acima de tudo temos de ter presentes os seguintes dados
Dado que falamos de receitas, a venda de menos uma consola implica uma quebra nessa mesma receita do valor de venda da consola. E dado que a comparação é com o trimestre anterior ou com o trimestre equivalente do ano anterior, o que estamos a falar é da variação de receitas de vendas de consolas e de jogos e serviços face a esse período e só a esse período.
Isso quer dizer que se todos os trimestres as receitas das vendas de hardware são independentes pois não dependem de resultados anteriores, o mesmo não pode ser dito da população apta a gastar dinheiro como jogos e serviços, pois essa à partida cresce com as novas vendas de hardware e assim sendo o seu valor é o acumulado do referido no relatório do trimestre anterior com os novos utilizadores que entraram entretanto.
E isso quer dizer que basicamente, a não ser que as pessoas abandonem a plataforma, ou deixem em quantidade de comprar da mesma forma, as receitas com vendas de jogos e serviços necessitam forçosamente de crescer a cada trimestre.
Ora o que acontece com este caso é que, havendo uma quebra nas vendas do hardware, mas no global sendo registada uma variação de receitas positiva, para que no global a Microsoft continue a respirar saúde financeira, as receitas com as vendas de jogos e serviços necessitam de superiores à quebra registada de receitas registas nas vendas. É essa situação que precisamos de perceber!
Perante estes dados avancemos para as contas. E o que podemos verificar do relatório:
Dado: Valores do relatório do terceiro quarto fiscal de 2018:
Formula 1: Lucro de X consolas vendidas no q3 2018+Lucro de vendas de jogos e serviços no q3 2018= 2250 milhões
Temos aqui duas incógnitas!
No entanto, dado que tudo o resto é fornecido percentualmente face a este ano, temos então:
Dado: Para o terceiro quarto fiscal de 2019, sabemos que as receitas de vendas de jogos e serviços subiram 12% face ao trimestre equivalente do ano anterior. Ou seja, essa receita é igual á 2018 multiplicada por 1.12.
Formula 2: Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019+Lucro de vendas de jogos e serviços no q3 2018*1.12=2363 milhões
Acrescentamos uma terceira incógnita… mas temos já duas formulas, Precisamos de mais uma!
Ora o dado que falta é encontrado no texto do relatório.
Dado: A quebra nas receitas de de vendas de consolas foi de 33%. Isso implica que o lucro das consolas vendidas no q3 2018 é 67% do mesmo lucro do q3 2018.
E assim temos:
Formula 3: Lucro de X consolas vendidas no q3 2018*0.67 = Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019
Três equações independentes… três incognitas… Podemos calcular os valores das mesmas!
Afinal, como vemos, a Microsoft acabou a revelar mais do que se calhar julgava! E com estas três incognitas calculadas podemos saber a realidade sobre a saúde financeira da Microsoft,
Vamos recapitular as três formulas:
Formula 1: Lucro de X consolas vendidas no q3 2018+Lucro de vendas de jogos e serviços no q3 2018 = 2250 milhões
Formula 2: Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019+Lucro de vendas de jogos e serviços no q3 2018*1.12=2363 milhões
Formula 3: Lucro de X consolas vendidas no q3 2018*0.67 = Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019
E vamos resolver:
Formula 1: Lucro de X consolas vendidas no q3 2018+Lucro de vendas de jogos e serviços no q3 2018 = 2250 milhões
Formula 1: Lucro de vendas de jogos e serviços no q3 2018= 2250 – Lucro de X consolas vendidas no q3 2018
O que implica na Formula 2:
Formula 2: Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019+Lucro de vendas de jogos e serviços no q3 2018*1.12=2363 milhões
Formula 2: Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019+(2250 – Lucro de X consolas vendidas no q3 2018)*1.12=2363 milhões
Formula 2: Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019 + 2520 – Lucro de X consolas vendidas no q3 2018*1.12=2363 milhões
Formula 2: Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019= – 2520 + Lucro de X consolas vendidas no q3 2018*1.12 +2363 milhões
Formula 2: Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019 = Lucro de X consolas vendidas no q3 2018*1.12 -157 milhões
Agora vamos aplicar ambos os resultados na terceira formula:
Formula 3: Lucro de X consolas vendidas no q3 2018*0.67 = Lucro de Y consolas vendidas no q3 2019
e temos:
Formula 3: Lucro de X consolas vendidas no q3 2018*0.67 = Lucro de X consolas vendidas no q3 2018*1.12 -157 milhões
-Formula 3: Lucro de X consolas vendidas no q3 2018*0.45 = -157 milhões
Formula 3: Lucro de X consolas vendidas no q3 2018 = 348.9 milhões
E isto permite então obter:
Lucro de X consolas vendidas no q3 2018 = 348.9 milhões
Lucro de y consolas vendidas no q3 2019 = 348.9 * 1.12 – 157 = 233.8 milhões
Lucro de vendas de jogos e serviços no q3 2018= 2250 – 348.9 = 1901.1 milhões
Lucro de vendas de jogos e serviços no q3 2012= 1901.1 milhões*1.12 = 2129.2 milhões
Só para confirmar:
Total 2018 = 2250 =348.9+1901.1 = 2250 OK
Total 2019 = 2363 = 233.8+2129.2= 2363 OK
Basicamente a diferença na receitas de vendas de consolas foi de 115.1 milhões.
Todos os valores de cima, apesar de não referidos, são tirados do relatório da Microsoft, e são como tal, factuais! Encontravam-se apenas escondidos.
Daqui para a frente o que se segue serão então estimativas baseadas nestes valores. E são estimativas pois daqui para a frente temos de presumir muitas coisas!
Assim, apenas e só como estimativa, se considerarmos que 80% das receitas com o hardware advém da venda de consolas (20% nos periféricos), tal implica uma quebra com venda de consolas de 92.08 milhões, ou, tomando como valor médio 250 euros cada consola, menos cerca de 368 mil consolas vendidas neste trimestre face ao anterior.
É uma mera estimativa… Mas um valor que já nos permite avançar e que é melhor do que o nada que a Microsoft nos dá directamente!
Já a receita com jogos e serviços subiu 228.1 milhões face a igual período do ano anterior. Se considerarmos que em 2018 a Xbox teria 40 milhões de consolas vendidas, os 1901.1 milhões de receita desse ano representavam aos utilizadores um gasto médio por consola de aprox. 47 euros.
Em 2019, com 2129.2 milhões, se considerarmos 45 milhões de utilizadores, o gasto por consola manteve-se!
Apesar de tal ser mais uma vez estimado pois não há números reais de vendas de consolas (podíamos obte-los fazendo as contas de cima a todos os quartos, caso hajam dados – Se alguem se quiser dar ao trabalho, agradecemos os resultados), este valor não deve andar muito longe da verdade e diga-se, ele é o melhor que, nesta situação, se poderia obter:
Um valor menor significaria que os utilizadores estavam a gastar menos, o que associado à quebra de vendas, mostraria algo que poderia não ser um bom sinal. Teríamos uma quebra de vendas que seria acompanhada por uma perda de interesse na oferta da Microsoft.
Um valor maior, poderia significar que os utilizadores estavam a ser impelidos a gastar mais com os serviços da Microsoft, e que como tal, o custo de usar a consola estava a subir.
Mas o resultado, apesar de calculado com muitas suposições, acaba por ser o melhor possível. Ele indica que os utilizadores continuam a gastar, em média, o mesmo, o que é um bom sinal para o futuro. Numa altura em que se questiona a viabilidade dos novos serviços de subscrição da Microsoft, este é um valor muito relevante. O custo médio por utilizador para usar a consola manteve-se face ao analisado à um ano atrás.
A outra conclusão que se pode tirar é igualmente muito positiva. Mesmo vendendo menos consolas e continuando a manter os custos por utilizador, a divisão continua mesmo assim a crescer em receitas, o que quer dizer que apesar da quebra nas vendas de novas consolas, os utilizadores que entram, mesmo sem gastarem mais do que a média anterior, ainda garantem, um crescimento positivo, sem que seja necessário que se gaste mais dinheiro. E com valores maiores ou menores, isso é um factor muito positivo, especialmente numa fase de declínio de vendas face à proximidade de novas consolas, mostrando que a Xbox no seu global, está de boa saúde.
A Xbox pode estar em queda, mas as contas não mentem. A divisão, a nível de receita gerada, ainda está no positivo! Não são números como os da Sony, não implicam lucros uma vez que as despesas são desconhecidas, mas implicam aquilo que os accionistas querem ouvir, e que se torna relevante para investimentos futuros, que as receitas continuam a crescer.