A Microsoft não consegue abdicar de receber dinheiro onde ele estiver, mesmo que os tipos de negócio sejam prejudiciais um ao outro. Está incapacidade de pensar o futuro ainda a pode levar a espalhar-se novamente.
O último relatório e contas da Microsoft foi lançado. E como seria de esperar, as receitas subiram bastante.
O motivo para tal é simples: Os jogos da Microsoft são um sucesso de vendas… Na PlayStation!
Basicamente, e isto é inegável, as receitas das vendas tradicionais, que quase não existem na Xbox, mas que ocorreram em quantidade na PS5, com os jogos Xbox a entrarem para os tops de vendas, estão a trazer aquilo que a Microsoft não conseguiu trazer com a sua plataforma: Dinheiro em quantidade para a Xbox
Por outras palavras, aquilo que se adivinhava há anos, e que sempre dissemos era uma inevitabilidade acontecer, aconteceu, e a Microsoft tornou-se uma third ao publicar multiplataforma, sendo que se está a dar bem com isso.
A realidade é que enquanto a Microsoft apostou em ser detentora de uma plataforma, competidora da Sony, e a faze-la crescer, deu-se mal. Agora que leva os seus jogos para outras plataformas, vende lá o que não vende na sua, e finalmente está a subir as receitas.
A questão é que há vários pontos a assinalar a este sucesso, e claro, o primeiro é que o lançamento como multi tem como consequência a perda de identidade da sua plataforma. A Xbox vai cair e eventualmente morrer por se estar a tornar num produto que é supérfluo.
Ora não podemos negar que ser detentor de uma plataforma é algo fantástico. Algo do qual, teoricamente, uma empresa, só com isso, conseguiria viver, mesmo sem apostar nela (desde que ela seja um sucesso, o que infelizmente não acontece sem se apostar nela, o que torna este raciocínio teórico).
Mas ab realidade é que ser detentor de uma plataforma de sucesso dá biliões. Todos querem publicar nela e recebes 30% de todas as transações de terceiros dentro dela, seja software, seja hardware, sejam serviços. É uma fonte de receita da qual só com isso tens lucros brutais, sem risco, e que pode mesmo superar todas as outras.
Mas agora vamos cair na realidade. Porque para uma plataforma ter esse sucesso, é preciso investir nela para se a tornar desejável. E isso implica fazer o que a Microsoft falhou em fazer, dar-lhe conteúdo que, mesmo que temporáriamente, mais ninguém tem. Os exclusivos!
Ora é inegável perante o último relatório que a Xbox está a dar-se bem com a venda nas plataformas de terceiros. Mas isso quer dizer que apostar na sua se torna um contrasenso, pois se ela sempre falhou em ter sucesso, mantê-la é competir com aquilo que parece ser a fórmula do dinheiro. Daí que a partir do momento que é nas plataformas de terceiros que tens o teu potencial crescimento assegurado, continuar-se a apostar numa plataforma que compete com as outras p\soa a algo incoerente.
Mas por outro lado, abdicar da plataforma é perder as receitas que a plataforma por si traz. Pois mesmo que decadente, a plataforma continua a apostar dinheiro das vendas de terceiros.
Daí que com esta dualidade e a necessidade de se definir o que se quer para o futuro, há aqui ainda muito por onde a Microsoft meter a pata na poça. A experiência dita que ele são incapazes de tomar decisões que abdiquem de receita, mesmo que isso no futuro traga desvantagens, daí que vejo a Microsoft a continuar a não se definir e a continuar a apostar numa Xbox decadente, e com um futuro que já soa a traçado, mas que mesmo assim faz concorrência aos lucros que obtem nas outras plataformas, apenas para não abdicar das receitas que ela traz.
Resumidamente, devido a esta incapacidade de traçar um rumo definido, ainda vejo muito por onde a Microsoft se espalhar largamente.
Há porém algo muito relevante a se ter em conta. É que convém não esquecer tudo o que a Microsoft apostou na divisão ao longo de décadas, os estúdios que tem, o que eles custaram, o investimento em hardware, etc, etc, e que os relatórios e contas não mostram ter sido minimamente recuperados.
Basicamente a Xbox nunca teve lucros ao nível das despesas, e a mesma foi um enterrar de dinheiro. Aliás, mesmo com o recente crescendo, o valor obtido está longe de ser o que dava a Xbox nos seus tempos áureos + o que dava a Zenimax + o que dava a Activision. É certo que a Microsoft está a conseguir subir as receitas, mas o atual valor nem sequer chega ao que a Xbox sozinha chegou a dar. Ou seja, a Microsoft está efetivamente a melhorar, mas não ao ponto de estar verdadeiramente a conseguir gerar uma receita que cubra rapidamente o investimento que fez ao longo dos anos, e a este passo vai demorar décadas para o fazer.
Um dos maiores contrasensos da Xbox é o Gamepass que se confirma agora de forma clara que compete com as vendas (os estudos apontam para quebras de 80% nas vendas dos jogos que vão para o Game pass). E apesar de atualmente serem exatamente essas vendas, neste caso na PS5 onde o Gamepass não existe, e que estão a ser um sucesso e a trazer a receita, a Microsoft não desiste dele, ou pelo menos reformula-o de forma a não ser um verdadeiro competidor com as vendas. São incongruências de querer apanhar dinheiro onde ele estiver, sem perceber as potenciais consequências.
E depois o mais chocante é que a Microsoft continua a mascarar o crescimento do Gamepass. No seu último relatório e contas referiu que ele cresceu 30% no PC, um valor bonito de se referir.
O que não disse foram dois pequenos pormenores:
1 – Que esse crescimento se deveu ao COD, que deixou de vender para ser jogado por assinatura.
2 – Que, de acordo com um estudo da empresa de análise de mercado Omnia, os assinantes Gamepass do PC em finais de 2024, são apenas 1/6 dos assinantes totais do serviço, o que implica que o crescimento terá sido de 1,7 milhões de assinantes. Um valor que já soa a muito menos impressionante, especialmente se tomarmos em conta o ponto 1.
Está na altura da Microsoft assumir os seus erros. Apostar forte no multi, manter a consola apenas para quem a quiser, mas sem pensar em competir verdadeiramente com as suas novas fontes de rendimento, e remodelar o Gamepass para algo ao estilo da PSN, com jogos mais antigos, e que até pode manter jogos no dia um, mas apenas para pagamentos premium.
E é assim que vemos a Microsoft a singrar neste mercado.
A 360 foi um ponto fora da curva mesmo. O erro da PS3 não fora mais cometido posteriormente, assim afastando ou perdendo clientes ao longo do tempo. Quer queira ou não, com sua visão errônea de negócios, quase viu sua divisão ser fechada e apostou fortemente no ramo de serviço ( no que ela é boa por sinal ). Mas uma empresa que vive somente de Office e um SO fechado acreditaria que poderia assim mudar o mercado ? Trouxe algumas tendências, mas o bom e velho método nunca falha. A ressalva fica para a falta de concorrência. Hoje se a Sony ficar sozinha ( Nintendo acredito eu estar em outro ramo, mesmo tendo console) veremos mais disparates como preços enormes, queda de qualidade e etc.