Qual é afinal a politica da Xbox?

A Xbox tem ultimamente vindo a conquistar as parangonas de todas as notícias, apesar que pelos maus motivos. Daí que é caso para nos questionarmos, afinal qual é a politica da Xbox?

A era Xbox 360 foi excelente… e a Xbox gozou de uma posição de destaque nessa geração que a catapultou para a lista das consolas mais desejadas. Mas daí para a frente, foi sempre a cair: Mau suporte, viragens de 180 graus constantes, e fechos de estúdios. Algo que se esperaria acabasse com as Xbox. Mas graças a um conjunto de fans fieis e que tomam tudo o que a Microsoft diz como garantido,  isso não aconteceu!

Metendo pelo meio algumas compras mirabolantes e polémicas como a da ABK, que deram esperanças de mudança aos fans, a realidade é que as más políticas, falta de suporte e os fechos de estúdios foram a tónica dominante desde a 360. E ainda recentemente a Microsoft fechou 3 estúdios e dissolveu um quarto englobando-o em outro. Isto após ter despedido 1900 pessoas dos seus estúdios Xbox ainda no presente ano, que se seguiram aos 10 mil despedimentos que tínhamos visto em 2023.

Basicamente, no que toca a relações públicas e à imagem da consola, tudo isto dá o que pensar, pois tudo soa a auto sabotagem da própria Microsoft à mesma, especialmente dada a reputação de muitos dos estúdios fechados. E este foi um tópico que até a Digital Foundry abordou! Daí que a politica de expansão da consola parece estar a ser colocada em causa pela própria empresa, questionando-se assim qual é realmente a política desejada para o futuro da mesma.

Sim, é certo que a Arkane Austin teve um flop chamado Redfall, mas convém que se diga que a Microsoft reconheceu que foram os seus próprios “testers” internos que decidiram que o jogo estaria em condições de ser lançado, e até previam que o jogo, no estado em que estava, fosse um grande sucesso. Nesse sentido, que parte das culpas tem a Arkane Austin no meio de tudo isto? É esta a politica da Xbox? Decidir como e quando se lança um jogo, penalizando as equipas pelas suas más decisões?



Recorde-se que este era um estúdio de créditos firmados pois em 2017 lançou o reboot de um jogo de sucesso, o Prey, e que foi muito bem sucedido. Foi também o estúdio responsável pelo primeiro Dishonored que tanto sucesso deu ao Franchising.

A Tango Gameworks dá também o que pensar. Numa altura em que a Microsoft tanto parece lutar por um lugar no Japão, fechar este estúdio ali sediado parece um contrasenso. Um estúdio que criou os jogos Evil Within, e o jogo que até ganhou um Bafta, o Hi-Fi Rush. E diga-se que a Microsoft elogiou imenso este jogo, dizendo mesmo que o que a empresa precisava era de mais jogos como este, o que não a impediu de fechar o estúdio que ainda vivia o sucesso do lançamento do mesmo. Mas afinal qual a política da Xbox que refere precisar de mais jogos como Hi-Fi-Rush, e depois acaba com a equipa que o produziu?

Um outro contra senso surge com a Alpha Dog. Numa altura em que a Microsoft cada vez mais fala em jogos para aparelhos móveis, a Alpha Dog era uma empresa que estava já inserida nesse mercado e para o qual criava jogos. Mas foi fechada! A política não era de expansão para o mercado móvel? Se é, qual a lógica desta medida?

Finalmente a Roundhouse Studios. um estúdio fundado pelos criadores do jogo Prey original, mas que agora foi dissolvido e inserido em outro, sendo que é uma incógnita o que irá fazer daqui para a frente? Sabe-se que irá ajudar com The Elder Scrolls Online, mas a fazer exatamente o quê? Roupinhas para Microtransações, será?. É essa a política da Microsoft? Colocar estúdios inteiros a servir de mero apoio a outros?

O que convêm recordar é que estes estúdios foram todos adquiridos num pacote que custou 7 biliões de dólares… e em 2021! Aguentaram basicamente 3 anos sob alçada da Microsoft, até serem fechados, ajudando a passar a imagem de que ser estúdio da Microsoft é viver com a pressão na garganta.

Quer se queira quer não, infelizmente as noticias de fechos de estúdios da Microsoft quase se tornaram parte normal das notícias diárias. De 2012 a 2020 foram 12, e de 2020 a 2024 foram 4. 16 estúdios fechados em 12 anos!  Afinal a política da Microsoft é de expansão ou de contração? Compra para depois fechar?



Isto mata a Xbox? Não, ainda não matou, mas vai moendo fortemente, e é mais uma postura danosa para a sua imagem que obriga a uma nova mudança de direção para salvar alguma coisa da geração.

A Xbox está conosco há quase duas décadas, e nos últimos 14 anos as suas políticas são viragens de 180 graus atrás de viragens de 180 graus, reboots estratégicos e constantes aquisições e fechos. Mas tudo sempre pintado como se o melhor ainda estivesse para vir. Ou seja, as suas políticas sempre foram pouco claras, variáveis, sem nexo ou compreensão, mas sempre coladas como sendo boas para a consola e para a industria. Algo que os seus fans sempre foram engolindo, acreditando num futuro cor de rosa.

A Cloud é o futuro, a Cloud permite aumentar o poder da consola em 5x, nós criamos o DirectX e não permitiremos a Sony ter 40% de vantagem, a Xbox Series X é a consola mais poderosa, o Gamepass é o futuro, as Xbox Series terão os jogos, as Xbox Series são as full RDNA 2, o Starfield vai impulsionar o Gamepass, etc, etc… Tudo palavras balofas atrás de palavras balofas sem que nunca ninguém tenha visto nada, e finalmente, pela primeira vez, até os mais crentes começam a questionar-se se o futuro prometido não é apenas uma ilusão, com abandonos em massa da consola e quebras de vendas acentuados.

Se, bem ou mal, a imagem que passa para o público em geral de uma empresa que fecha estúdios é a de alguém que só vê lucros à frente e não compreende as dificuldades de criação de jogos, ver-se fechar estúdios que demonstraram já possuir o talento para criar jogos bem aceites é algo que se torna ainda mais difícil de compreender pela comunidade, soando a algo absurdo. É, para todos os efeitos, uma política que soa a incompreensível.

Infelizmente a Xbox ruma há muitos anos sem direção certa, e talvez já ninguém lá dentro saiba exatamente onde é que a mesma quer chegar.



Comparando com a Sony ou a Nintendo (e coloco relevo nesta última pois a Sony tem andado um pouco perdida também ultimamente) o que vemos é que as suas consolas existem para proporcionar divertimento e jogos. E os estúdios existem para lhe fornecer jogos. Satoru Iwata da Nintendo disse mesmo que “A missão da Nintendo é tentar fazer as pessoas felizes, tentar fazer as pessoas sorrirem”.

Mas o objetivo da Xbox não é entreter as pessoas. É crescer, crescer, crescer… é dominar! E devido a isso tem falhado miseravelmente.

Isso ficou bem claro quando em 2013, e após uma Xbox 360 de sucesso a Microsoft perdeu o foco ao querer passar a dominar não só o universo das consolas, mas igualmente o das salas de estar. A ideia era mesmo que a Xbox substituisse as Set Top Boxes das salas e expandisse aquilo que a 360 já fazia. Segundo a Microsoft a ideia era vender um bilião de consolas!

E foi com isso em mente que tivemos o famoso “TV, TV, TV”, com a Xbox a perder o foco e tornar-se num dispositivo de entretenimento doméstico tudo-em-um.

E se a ideia até poderia soar a boa, crescendo para além do mercado dos jogos, a mesma penalizou a consola na parte fulcral, a dos jogos. E, como consequência, a consola caiu mal junto do público!



A Microsoft não esperava isso, e andou claramente à nora por alguns tempos, com políticas sem rumo e usando de todas as possibilidades possíveis de obter os lucros que faltavam junto da consola.

Devido a essas políticas miseráveis a Microsoft fechou uma boa quantidade de estúdios, entre os quais, a lendária Lionhead. E porquê? Porque a empresa não entregava! A questão é que não entregava, mas por culpa de quem? Não sua, mas da Microsoft que, com o jogo já avançado deu ordens para se mudar o estilo de um RPGs para um GAAS multijogador, trocando as voltas à equipa que precisava de mais tempo para o jogo.

Segundo Simon Carter da Lionhead, Fable era lucrativo. Nas suas exatas palavras, era “altamente lucrativo”, mas a Microsoft pura e simplesmente entendeu que ele e o seu género não eram lucrativos o suficiente. E sim, sabemos que um RPG não é tão lucrativo como um FPS, ou outro tipo de jogos, mas daí a se subverter o jogo para ser diferente e num estilo que não conhecia era um grande passo. E a equipa não conseguia fazer isso, mantendo a sua filosofia de jogo viva, do pé para a mão. Como consequência… viram-se na rua.

Scalebound foi cancelado por motivos semelhantes. Era um RPG de ação em terceira pessoa, mas a Microsoft impôs o Co-op online, o que colocou a empresa face a elementos desconhecidos e uma subversão ao jogo originalmente concebido. E sem a experiência necessária para a criação de um jogo online, e com uma batata quente na mão, os conflitos estouraram, e o jogo acabou cancelado.

Mas uma segundo mostra da forma como a dimensão e o crescimento para valores desmesurados é o que interessa à Microsoft apareceu com o Gamepass. A ideia dos lançamentos dia um e adesões permitidas a 1 dólar não eram mais do que um plano super agressivo e financiado para angariar clientes a todo o custo. Ben Decker, chefe de marketing de serviços de jogos do Xbox, disse mesmo à Eurogamer que o objetivo do serviço era angariar 3 biliões de jogadores em todo o mundo.



A Microsoft, pura e simplesmente não percebe que, no mundo dos videojogos, é apenas o terceiro, e isto porque não há mais competição. E não percebe também que o mercado, apesar de altamente lucrativo, é altamente disperso em ideologias e gostos. Mas tem sempre ideias megalómanas de crescimento e domínio. É uma política onde o interesse do cliente é secundário. O relevante são os lucros, o crescimento, e acima de tudo, o domínio.

Diga-se aliás que a compra da ABK nunca teve outra intenção senão roubar os títulos de maior sucesso dos seus concorrentes, pressionando-os e roubando-lhes o mercado, numa tentativa de comprar o domínio do mercado. Saiu no entanto furado ao se encontrar um conjunto de reguladores que, mesmo tendo permitido a compra, puseram travão a essa ideologia, colocando na Microsoft uma batata quente que traz imensa despesa e que a Xbox só por si não consegue sustentar. E daí o lançamento dos jogos Xbox nas consolas rivais.

E é essa percepção do que a Microsoft é e o que pretende, que tem sido o calcanhar de Aquiles da empresa. Porque apesar de algum crescimento inicial, o Gamepass está desde à alguns anos estagnado. O atual número de 34 milhões de assinantes é enganador pois os assinantes do Xbox Live foram forçados a mudar para Gamepass, e só eles fizeram crescer o valor dos 25 milhões de assinantes em que se encontrava estagnado à vários anos.

A realidade é que, à semelhança da geração Xbox One, e neste caso até pior, as atuais Xbox Series X e S estão a vender neste momento, em algumas zonas do mundo 5x menos que a Playstation. E isto pura e simplesmente porque a Microsoft não tem foco na satisfação do cliente, mas pura e simplesmente no seu crescimento e obtenção de maiores lucros.

Nesse sentido era comum ouvirmos dizer “A xbox não tem jogos”. E isto não era dito de forma literal, mas sim porque uma empresa que não prioriza a produção dos grandes jogos, nunca pode ser uma empresa que fornece grandes jogos.



Ali a cultura é outra. É a de ou entregas… ou vais de vela! E já vimos isso em cima: Redfall não foi um sucesso… Goodbye Maria Ivone! E isto independentemente de a equipa já ter criado sucessos no passado.

Aliás, como mostra o caso da Tango Gameworks, mesmo um jogo de sucesso não é garantia de nada. Estar na Microsoft é estar com a corda na garganta a tempo inteiro. E como esperar que, com esta perspectiva, as equipas se sintam à vontade para criar?

Repare-se no sucedido após o lançamento de Hellblade 2, onde os fans Xbox incitam a compra do jogo, tudo com medo de este poder falhar e a equipa encerrada.

Isto dá o que pensar. Se olharmos para o caso do jogo de ultra sucesso da Sony, o Helldivers 2, ele demorou 8 anos a ser criado! Mas a Microsoft está a encerrar equipas que só tem sob seu controlo há 3 anos. Com essa cultura, como é que se pode alguma vez criar um jogo assim do lado da Xbox? Que equipa arriscaria a produzir algo mais complexo e que demore mais tempo sem correr o risco de encerrar?

Mas a coisa não se fica por aqui. Um relatório da Bloomberg refere que estes fechos são parte de uma “iniciativa generalizada de redução de custos que ainda não foi concluída”. Segundo o mesmo, Matt Booty teria dito aos funcionários do Xbox que os estúdios da empresa estavam “espalhados demais – tal como a ‘manteiga de amendoim no pão'”. E Jill Braff, chefe da Zenimax Studios, teria acrescentado: “É difícil apoiar nove estúdios em todo o mundo com uma equipe central e com uma lista cada vez maior de coisas para fazer… Acho que estamos prestes a cair”.



Mas o mais absurdo é que se de um lado a empresa acha que está demasiadamente espalhada, por outro gasta 72 biliões a comprar mais estúdios para espalhar ainda mais a “manteiga”.

Mas a parte mais ridícula de toda a história é o que se refere ter sido relatado por Booty como os motivos de fecho da Tango e da Arkane Austin. Segundo este, ambos os estudios estavam a criar novos projectos e isso implicava formar uma equipa para os realizar. A Tango até estaria a planear uma Hi Fi Rush 2, e a Arkane queria voltar ao que era boa a fazer. Mas como eles queriam fazer novos jogos, e isso requeria investimento… foram fechados.

Basicamente se uma Sony ou Nintendo fazem consolas para poder fazer jogos e ganhar dinheiro, para fazer mais consolas, criar mais jogos e ganharem mais dinheiro. A Microsoft faz consolas para ganhar dinheiro. E a imagem que passa é que a ideia acaba por aí! Podendo não fazer mais nada e apenas receber dinheiro seria como a Microsoft estaria bem.



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Hennan
Hennan
29 de Maio de 2024 13:51

Eu sinceramente nem tento mais entender a lógica das decisões da Microsoft. Uma vez que com a nova mudança de postura, a lógica seria não lançar COD dayone no Gamepass. Mas já anunciaram. Não sei como esperam vender mais, ao mesmo tempo que mantém o modelo de assinatura atual.

Juca
Juca
Responder a  Hennan
29 de Maio de 2024 14:41

Pra mim, o que eles esperam é tirar clientes do PS, ou empurrar o Gamepass por lá pra aumentar fortemente a sua base. E se não der certo, ao menos lucrarão com o PS, esse é o plano B.
Ou ganha clientes na base ou vende o jogo no concorrente pra, ao menos pagar custos, enquanto se vangloria do Gamepass Robin Hood.

Sparrow81
Sparrow81
Responder a  Juca
29 de Maio de 2024 18:14

Não sei… Não me surpreenderia em ver esse COD anunciado day one na Plus também. Vamos aguardar.

Livio
Livio
Responder a  Hennan
29 de Maio de 2024 17:43

Acho que a MS vai tentar ganhar $$ colocando um preço mais caro nas DLCs e/ou microtransações

Juca
Juca
Responder a  Livio
29 de Maio de 2024 18:50

Então você parece acreditar que irão capar bem o jogo, é isso?

Juca
Juca
29 de Maio de 2024 14:37

A política da MS é confusa, parece coisa de gente com muito dinheiro, mas que não contrata profissionais capacitados para sugerirem ou ajudarem a escolher o melhor caminho. Mas sempre haverá gente a garantir que ela está a apostar em todos os caminhos possíveis e essa é a estratégia. Pra mim, é só algo sem rumo mesmo.
Veja, a nova aposta da MS é exaltar os novos processadores da qualcomm, em pasme, IA local com seus 45Tops de NU, isso após anos a propalar a ideia de que o futuro era cloud com seu poder das redes neuronais e tudo mais. Repentinamente, a IA local e o ARM são o novo futuro dos PCs, sobretudo dos ultrabooks… pelo menos até a MS mudar de ideia novamente. MS está exaltando as peripécias do Windows frente ao MacOS com M3… e a Apple já vai no M5… Fora a questão de apostar que seus sistema será fortemente apoiado por programadores a portar seus programas, embora eu acredite que queiram, inicialmente, ter uma camada de abstração para empurrar as coisas de qualquer jeito. Falta agora só combinar com AMD, Nvidia, Intel e com os usuários de PCs mais antigos!

Trevisan
Trevisan
30 de Maio de 2024 10:46

Só há um jeito, e se tem alguém para faze-lo eu duvido ! É despedir toda essa cambada de diretores que não entendem nada deste mercado. Porque a marca Xbox apesar de não ter o mesmo peso em si do que o Playstation, disputou em igual na era 360.

Felipe Leite
Felipe Leite
30 de Maio de 2024 20:53

Eu fiquei imensamente confuso com a parte do encerramento dos estúdios porque estavam a querer fazer mais jogos…
Mas depois lembrei de que estavamos a falar da Microsoft!
Eu ainda consigo ficar surpreendido com tamanha falta de rumo. Como é possível que mesmo tendo gasto um valor extraordinário na aquisição de estúdios ( que não seria preciso gastar se não tivesse fechado os outros e destruído franquias excelentes, lançando jogos da treta) volta a cometer o mesmo erro! Ao invés de separar verba para deixar os estúdios trabalhar, não…
É tipo comprar um bugatti e depois resolver andar de bicicleta porque afinal o carro consome combustível…

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