O consenso popular é que a Microsoft sendo uma gigante e com muito mais arcaboiço financeiro está em melhor posição do que a Sony para poder criar uma consola mais capaz, absorvendo prejuízos e mantendo-a competitiva a nível de preços. Mas Albert Penello explica que a coisa não é bem assim.
Quem terá a consola mais potente na próxima geração? Sony ou Microsoft? Bem, a disputa está aberta, e qualquer um deles pode sair por cima. Mas os motivos para tal serão exclusivamente ligados aos preços conseguidos e não à capacidade de absorção de prejuízos das empresas. Até porque nesse campo, a Microsoft perde para a Sony.
E quem explica o porque.. é Albert Penello, ex líder de Marketing da Microsoft.
Numa discussão acesa no Resetera sobre a “vontade” das empresas em vender as futuras consolas com prejuizo, os argumentos eram que a Microsoft, sendo uma gigante, com muito maior capacidade financeira que a Sony, estaria muito mais habilitada a fazer isso, e poderia, caso o desejasse, abafar a Sony completamente.
Nessa altura Albert Penello intervêm, referindo o seguinte:
Don’t confuse investment with “willing to take a loss
The Xbox advantage is that it can leverage Microsoft capital for “big bets”. This could be headcount, acquisitions, or infrastructure (like Xcloud)
But the bet needs to pay off. Unlike say Nintendo, Microsoft’s size means that it’s also diversified, and therefore a single business unit like Xbox can’t bring down the whole company.
It’s not correct to draw a line between the size and profitability of Microsoft, and the willingness or ability for Xbox to take a loss on HW. They are completely independent things.
Penello não se refere directamente à Sony, mas as suas palavras são bem claras, e basicamente a mensagem que ali está só não a percebia quem não queria, uma vez que a situação sempre foi clara. Vamos analisar as frases!
O primeiro parágrafo refere:
“Não confundam investimento com “vontade” de absorver prejuizos.“
Esta frase é extremamente relevante. A absorção de prejuízos não é verdadeiramente isso, e nem nunca foi. Trata-se de um investimento arriscado, que pode ou não trazer vantagens e compensações, mas mesmo assim, um investimento. Basicamente a ideia é que as perdas iniciais serão recuperadas no futuro, e que as mesmas acabam por ser uma promoção ao produto, que o fará vender mais, compensando assim o investimento.
Basicamente, se a publicidade na TV funciona para vender as consolas, nada funciona melhor que um preço atractivo. E nesse sentido, em vez de se investir na publicidade, investe-se na redução do preço. Mas claro, tudo com a intenção de recuperar o investimento.
Resumidamente, não há aqui intenções de se assumir prejuizos, há isso sim, uma análise de mercado que estima o crescimento do mercado e nível de adesões face à redução do custo. Tal toma em conta a qualidade do ofertado, do que a concorrência poderá ter, e a base de utilizadores que vem de trás, e que poderá aderir de forma clara.
São esses factores que vão ajudar a decidir o preço final do produto e a quantidade de prejuízo que a empresa pode ter na venda. Não há cá questões de intenção ou vontade, de querer bater a concorrência mesmo que tal prejudique a empresa. A coisa não funciona assim!
“The Xbox advantage is that it can leverage Microsoft capital for “big bets”. This could be headcount, acquisitions, or infrastructure (like Xcloud) “
Nesta frase Penello mostra as vantagens que a Xbox poderá trazer à Microsoft, e situações que poderão aumentar as suas receitas com a venda de consolas. São neste caso factores ou outras grandes apostas que a Microsoft tem a seu favor e que a Sony não possui ou pelo menos não ao mesmo nível. Por outro lado, a Sony tem a seu favor outras situações tais como uma imagem de suporte de qualidade a nível de exclusivos, um nível de agrado pelos seus produtos superior, e uma base de utilizadores mais do que dupla.
Estes serão todos factores que serão contabilizados na decisão de quanto poderá ser absorvido como prejuízo na venda das primeiras consolas.
“But the bet needs to pay off. Unlike say Nintendo, Microsoft’s size means that it’s also diversified, and therefore a single business unit like Xbox can’t bring down the whole company.”
O que Penello refere de seguida é talvez a parte mais relevante de toda a frase. Ele refere que a aposta necessita de compensar. E que a diversidade de produtos da Microsoft, dos quais a Xbox é apenas mais um, não lhe permite que se aposte num eles ao ponto de ele poder por em causa as receitas da empresa, ou mesmo a empresa.
E apesar de Penello não usar como comparação a Sony, mas sim a Nintendo, a ideia passa. E é aqui que a Sony ganha uma vantagem. Não uma vantagem desejável, uma vez que ela se torna um risco gigante, mas mesmo assim uma vantagem. É que a Sony como empresa necessita da Playstation. Ela é não só o seu produto principal, o seu Core Business, mas é o que tem ajudado a manter toda a empresa a dar lucro. A Sony é mais diversificada do que a Nintendo, mas a realidade é que em a Playstation, ela não é verdadeiramente nada.
Daí que a Sony, mesmo não desejando entrar em perdas excessivas, é mais provável que o faça do que a Microsoft, e que como tal possa ter o produto superior. Isto porque é a subsistência da empresa que está em causa. Não apostar aqui fortemente pode permitir poupanças, mas pode também condenar o futuro da empresa. E como tal, quando se pesam as coisas nos pratos da balança, o que vemos é que a Sony estará mais aberta a prejuízos iniciais do que verdadeiramente a Microsoft.
Daí que Penello acaba da seguinte forma:
“It’s not correct to draw a line between the size and profitability of Microsoft, and the willingness or ability for Xbox to take a loss on HW. They are completely independent things.”
O que é dito aqui é que devido ao de cima, não é correcto tracar-se uma linha entre a dimensão e lucros da Microsoft, e a vontade ou capacidade de ter prejuizo no hardware da Xbox. Isto são coisas completamente independentes.
O que Penello refere é exactamente aquilo que já andamos a dizer desde 2010, e que levou a que não ficássemos surpreendidos com o que se revelaram as consolas actuais. A Sony necessita dos lucros da PS para sobreviver, a MS não! Daí que se a Microsoft tem efectivamente um arcaboiço financeiro que a Sony não tem, a Sony é quem tem de correr os riscos para se manter no mercado. E tal aconteceu em 2013 com a PS4 e pode acontecer agora, provavelmente em 2020, com a PS5.
Quem terá a melhor consola, só o futuro dirá. Mas que o argumento da capacidade da Microsoft é furado… isso sempre foi! E os argumentos reais sempre foram outros.