Apesar de enormes semelhanças entre os serviços o contraste com o Gamepass acaba por ser gigante. E o motivo é passa pela diferença entre eles, uma vez que o PSnow elimina todas as questões sobre o serviço ser sustentável, ao não colocar os exclusivos Playstation disponibilizados no dia de lançamento!
Nota: Este é um artigo comparativo sobre o serviço Gamepass e o PSnow, nos novos moldes anunciados pela Sony.
O Gamepass, tal como está… é lucrativo? Na nossa opinião… não! Já o dissemos em inúmeros artigos que, tal como está, o gamepass é um risco para a qualidade futura dos jogos! E se lerem este artigo perceberão novamente o porque!
Na perspectiva do cliente, o Gamepass só pode soar como um serviço fantástico, com uma grande oferta de jogos a excelentes preços. A sua concorrência passa pelo PSNow, com o qual o compararemos, pelo EA access, e outros ainda por abrir como o Stadia, o Uplay+, e muitos outros que ainda irão aparecer.
Daí que quem não leu os nossos artigos anteriores pode pensar, e de forma lógica, mas porque raio porque se fala tanto sobre este serviço serviço e não dos restantes?
Bem, o motivo acaba por ser simples, porque o Gamepass é o único que se propõem ter um serviço por 10 euros por mês (oficialmente este é o único preço), e onde esse valor inclui todos os jogos AAA first Party, disponibilizados imediatamente no dia do lançamento, juntamente com mais de 200 jogos diversos presentes no serviço.
No Stadia os jogos custam tanto como no mercado clássico.
O EA Access é um serviço de baixo custo e com fraca oferta, comparativamente aos restantes.
Já no PSNow, o concorrente mais directo do Gamepass, o custo mensal é semelhante (9.99), sendo no entanto mais barato no trimestre (24.99) e na assinatura anual (59.99). O PSNow revela-se ainda mais barato, ao não obrigar ao PSN Plus para os acessos online, algo que o Gamepass requer com pagamento adicional.
O PSNow oferece mais de 800 jogos.
Apesar de, olhando só para os preços e oferta, o serviço da Sony poder aparentar ser ainda mais problemático que o da Microsoft, há uma grande diferença entre eles, e essa passa pelo disponibilizado e quando é disponibilizado. A grande diferença é que o Gamepass conta com jogos first party disponibilizados no dia do seu lançamento, ao passo que no PSNow, os jogos disponibilizados já tem algum tempo de mercado. A consequência de tal, é que ao contrário dos exclusivos do gamepass, estes jogos já obtiveram as receitas que podiam das vendas físicas, e como tal não entram neste serviço com a necessidade de obterem receitas para se pagarem, mas apenas para obter receitas adicionais.
Isso não impede que o serviço da Sony tenha, mesmo assim, grandes nomes. Por exemplo, neste relançamento do PSNow, a Sony anunciou a presença de alguns jogos first party de maior renome, que se manterão por três meses tais como:
- God of War – Lançado em 2018 conta já com mais de 10 milhões de cópias vendidas
- inFAMOUS Second Son – Lançado em 2014, vendeu um milhão em 9 dias, desconhecendo-se vendas posteriores. Dada a sua idade o seu potencial de vendas está completamente esgotado
- Uncharted 4: A Thief’s End – Lançado em 2016, conta com mais de 15 milhões de cópias vendidas.
Naturalmente que esta situação de diferença do Gamepass, com a oferta dos exclusivos no serviço, revela-se uma enorme mais valia do serviço da Microsoft face aos restantes, tornando-o imbatível para o cliente, mas há que se ter a consciência que perante esta disponibilização de jogos cujo custo de produção pode rondar as largas dezenas de milhões, no seu lançamento, canibalizando as receitas de vendas, a sustentabilidade do serviço e da criação de jogos AAA aparenta ficar em causa. E a Microsoft não ajuda a destruir esta ideia, caso ela seja errada, ao esconder dados de adesão e receitas do serviço.
Note-se que aqui na PCManias não nos importa e nem nunca nos importou o que as empresas fazem. Se elas tem lucros ou prejuízos para nós é irrelevante. São decisões que nos ultrapassam e como tal só podemos viver com elas. Mas procupamos-nos com o cliente e com o mercado, e aqui, esta situação em que os jogos são ofertados no seu lançamento revela-se preocupante perante a possibilidade da insustentabilidade do modelo, o que a acontecer levará a descida de qualidade do ofertado ou, como alternativa a monetização forte, ou subida dos preços do serviço, depois do cliente cativado (uma possibilidade que agora parece arredada perante a concorrência do PSNow).
Se pensarmos que, por exemplo, em 2018 a Sony lançou os seguintes jogos, todos eles best sellers:
- Detroit: Become Human
- God of War
- MLB The Show 18
- Shadow of the Colossus
- Spider-Man
Percebemos que quem os comprou todos terá gasto 350 euros em jogos. Ora perante este custo, uma adesão a 59.99€ por ano, seria tremendamente compensadora. Mas claro… as vendas sofreriam, e consequentemente a receita que paga estes jogos, e os sustenta, também.
Ora apesar de a Microsoft não estar, presentemente, a lançar tantos exclusivos, a realidade é que os tem… e alguns excelentes, como Gears 5. Daí que para o cliente pagar 120 euros por ano com uma oferta de todos os exclusivos no dia de lançamento e mais 200 jogos que vão rodando, ou pagar 70 euros por cada jogo da Microsoft que compra, são coisas bem diferentes. E o modelo da Microsoft acaba por ser super compensador. Nesse aspecto, qualquer desvantagem que possa ter face ao PSNow até podemos considerar que se desvanece. É super compensador para o cliente!
Mas essa atracção que este modelo traz é questionável a nível de sustentabilidade pela canibalização da fonte de receita principal dos jogos, as vendas fisicas e digitais. Daí que uma adesão em massa a este modelo, pelo facto de ser super atractivo, coloca em causa não só o ecossistema de exclusivos da Microsoft, mas também toda a industria dos videojogos uma vez que perante a oferta de 200 jogos rotativos, há menor necessidade de compra (um problema que, infelizmente, tambem pode existir no PSNow, e em qualquer outro serviço deste tipo, fornecido a baixos preços).
A grande questão é quando dizemos que esta situação, tal como está, não aparenta ser sustentável, não o dizemos apenas da boca para fora, ou como mera opinião. Dizes isso de forma sustentada e apresentando dados de outros serviços de subscrição, com os quais comparamos lucros, custos e receitas: Nomeadamente, e como exemplo, citamos aquele que é referido como sendo o modelo que todos querem seguir, o Netflix.
Ora como podem ver neste outro artigo, comparamos receitas, lucros, custos, fontes de receitas, base de clientes, e concluímos. Daí que com ou sem razão, não nos podem acusar de falar da boca para fora, mas sim de forma devidamente sustentada. E a conclusão parece clara! O Gamepass, no modelo actual, com a oferta dos exclusivos, só pode estar a subsistir como um investimento para o futuro da Microsoft. Mas o certo é que tudo aparenta que este é um modelo que não conseguirá manter-se neste formato por muito tempo.
Nesse sentido, caso esta ideia seja errada, seria bom que a Microsoft mostrasse números em contrário, mas isso ela não faz. Esconde-se debaixo de secretismo, e cada vez mais esconde dados, tendo mesmo anunciado já que futuramente nem as receitas irá divulgar. Daí que dessa forma, o que nos sobra são dados de terceiros com que temos de lidar… e infelizmente eles não são animadores e não nos permitem pensar de outra forma.
Gears 5 foi um exemplo bem recente. O jogo, disponibilizado no Gamepass, vendeu 4.5x menos que o Gears 4, e mesmo as vendas digitais não se mostraram nada de espectacular. Isso deu mesmo origem a um artigo da Eurogamer sobre esse assunto, e que nós também exploramos.
Mas apesar de vendas baixas, o jogo foi um enorme sucesso a nível de adesão, com mais de 3 milhões de jogadores na primeira semana, e que vieram, naturalmente, do Gamepass!
E isto mostra que realmente o Gamepass está a crescer, mas que as receitas da Microsoft estão a descer. E se é verdade que a longo prazo elas podem ser igualadas, com o lançamento entretanto de novos jogos, sem se ter pago os já existentes, irá existir uma clara acumulação de prejuizo.
Ora toda esta conversa surge graças ao re-lançamento do PSNow, um serviço de subscrição da Sony, que possui as devidas semelhanças com o Gamepass, mas igualmente diferenças. Daí que vamos compara-lo com o modelo do Gamepass que tantas dúvidas nos suscita.
O mercado e a exigência do cliente
Tanto o Gamepass como o PSNow existem num mercado em que o cliente espera dos seus jogos algo com qualidade e livre de custos adicionais como monetização ou pay to win (algo que algumas empresas estão a tentar impor). Estamos a falar de jogos de 60 a 70 euros, um valor que pesa em qualquer agregado familiar.
O mercado das consolas é, desde à muito tempo o mercado que define a qualidade global dos videojogos, um mercado onde o cliente procura qualidade de jogo, grafismo e animações de topo. Um mercado virado para a exploração das resoluções das TVs, qualidade gráfica, de imagem, e de exploração máxima das performances das máquinas. É um mercado exigente onde a qualidade se associa à simplicidade de uso.
Vamos então ver as semelhanças e as diferenças entre os serviços, e o que os distingue:
Funcionamento
Gamepass – Acessível na versão PC e Xbox, funciona através de descarga dos videojogos
PSNow – Acessível para PS4 e PC, funciona através de streaming. Os jogos PS4 podem no entanto ser descarregados para a consola e jogados localmente.
O facto de o gamepass ser sempre jogo local dá-lhe vantagem aqui, algo que apenas é eliminado no caso PSNow para os possuidores de consolas PS4, e nos jogos PS4 presentes no serviço.
Oferta
Gamepass – Mais de 200 jogos
PSNow – Mais de 800 jogos
Apesar de o serviço PSNow contar com mais jogos, quantidade nunca definiu qualidade, pelo que se é certo que no parâmetro numérico o PSNow leva vantagem, tal pode acabar, para alguns e dependendo de gostos, por significar muito pouco.
Mensalidade
Gamepass – 9.99 euros por mês. Os jogos presentes no serviço que requeiram online necessitam ainda da adesão ao Live Gold, o que implica um pagamento extra de 5 euros/mês ou 60 euros por ano.
PSNow – 9.99 euros por mês. O valor fica por 24.99 por três meses, e 59.99 numa adesão anual. Não há outras despesas.
Basicamente, o custo do PSNow é bem inferior numa adesão anual, algo que ainda se revela mais díspar pelo facto de o PSNOW não requerer pagamentos adicionais para o online.
Custo máximo do ofertado – Note-se que se toma em conta estes valores pelo facto de o Gamepass incluir jogos no lançamento
Gamepass – 79.99 (Gears 5 Ultimate).
PSNow – 39.99 (God of War)
Apesar de os valores poderem variar, e muitos dos produtos serem já antigos e com pouco valor comercial, a realidade é que pela disponibilização dos jogos AAA First Party no seu lançamento, o potencial de canibalização de receitas imediatas de venda no Gamepass é enorme.
Os valores do lado da Sony são menores, mas mesmo assim tornam-se irrelevantes uma vez que os jogos já esgotaram o seu grande potencial de vendas no mercado fisico e digital, e já venderam em quantidade para se pagarem.
Interferência com as vendas físicas/digitais
Gamepass – O facto que o serviço possui jogos acabados de lançar canibaliza vendas e chama clientes. Os clientes presentes no serviço poderão, teoricamente, comprar menos jogos também a terceiros, por terem já o que jogar. A canibalização de vendas físicas corta a receita, e como tal pode causar corte de qualidade nos lançamentos futuros, ou a inclusão de métodos de monetização adicional.
PSNow – Tal como no gamepass, um cliente do serviço poderá, teoricamente, comprar menos jogos (neste caso a terceiros e à Sony), ao já ter o que jogar. O serviço é no entanto menos atractivo por não ter jogos acabados de lançar, mas por outro lado, o serviço não canibaliza as vendas, garantindo que os jogos continuam a vender sem interferência no mercado clássico, capaz de gerar receita suficiente para os pagar, e assim garantir que estes continuam a ser lançados com a mesma qualidade e quantidade.
Basicamente por aqui se percebe a grande diferença entre os dois serviços. O conceito é semelhante, mas a diferença na oferta separa-os claramente. O Gamepass é mais apetecível, apesar do preço, pelo que oferece, mas por outro lado coloca em causa toda a sustentabilidade do serviço e levanta sérias questões sobre a capacidade de os jogos disponibilizados serem lucrativos.
Conclusões e resumo
PSNow e Gamepass são serviços que, quer queiramos ou não, serão cada vez mais comuns, e um dia, o standard do mercado. São ambos serviços de extremo valor para o cliente e que justificam a adesão.
A grande diferença passa pelo que é ofertado e quando é ofertado. Sendo que a metodologia de oferta de jogos de elevado custo no seu lançamento, levanta duvidas quanto à capacidade destes serviços em gerar receitas para os pagar, e mesmo da viabilidade do serviço em si. Sinceramente, por muitas voltas que demos, não conseguimos ver que o Gamepass, neste modelo, seja rentável, e só conseguimos ver o mesmo como um investimento da Microsoft para tentar aumentar o seu mercado.
Estes serviços, Gamepass e PSnow, apenas fazem sentido como alternativas ao mercado clássico de vendas. E quando um Netflix com 190 milhões de clientes dá menos lucro que a divisão de jogos da Sony, e apenas mais 50% que a divisão Xbox, tendo acumulado prejuízos ao longo de vários anos (valores obtidos dos relatórios oficiais das empresas Netflix, Sony e Microsoft), e sabendo-se os jogos AAA apresentam custos de produção semelhantes às de muitos filmes (que se rentabilizam no cinema e não nos serviços de aluguer), percebemos que estes modelos só podem existir como fonte adicional de receitas, mas nunca como alternativa às existentes
E esse é para nós o problema do modelo actual do Gamepass. O disponibilizar de jogos recentes atrai clientes ao mesmo tempo que canibaliza assim as suas vendas físicas/digitais e as receitas possíveis de se obterem com eles. Uma situação que no PSNow, não existe!
No global, e apesar do maior custo, pelo que oferece o Gamepass revela-se a melhor oferta. Mas o PSNow é dos dois o que aparenta ser sustentável ao ponto de poder permitir que os jogos continuem a dar lucro e a ter elevada qualidade. É uma fonte de receita adicional, e não uma ameaça ao modelo de negócio clássico.