Porque razões, o rumor da PS5 a 9.2 Tflops deixa dúvidas no ar?

Para que se compreendam esses motivos há que se fazer um enquadramento, explicar a origem dos documentos que apontam nesse sentido, e as suas contradições.

Recentemente alguém que pode ser definido como um “minerador de dados” descobriu no Github um conjunto de documentos, que se acredita terem sido criados por um colaborador da AMD, onde foram colocados diversos resultados de testes realizados naqueles que se acredita serem os APUs da Xbox série X e PS5.

Os documentos, cuja veracidade nem pretendemos colocar em causa, apesar de nunca os termos visto, estão a ser dados como aparentemente verdadeiros e efectivamente da AMD. Neles encontram-se um conjunto grande de ficheiros e pastas, com testes e dados relativos ao Oberon (suposto APU da PS5), ao Arden (Suposto APU da Xbox série X), e do Sparkman (suposto APU da Lockhart, a consola de baixo custo da Microsoft). Estes documentos são por isso considerados como a coisa mais palpável a nível de fugas de informação que tivemos até agora, e relativo às futuras consolas.

Resumindo o que consegui apurar existir nos documentos:

– Os documentos aparentam vir de um empregado oficial da AMD.



– Os documentos possuem referências a futuros GPUs e SOCs da AMD (Renoir, MI100, Oberon, Arden, e Navi 10, entre outros). Com excepção do Navi 10, nenhum foi ainda lançado.

– O chip mais detalhado é o Oberon, supostamente com 36 CU e uma velocidade nativa de 2 Ghz, com um bus de 256 bits, sem Ray Tracing.

– O Arden e o Sparkam são ambos referenciados como tendo Ray Tracing e Variable Rate Shaders, com 3584 Shader Processors (56 CU), e um bus de 320 bits.

– A maioria das referencias ao Oberon dizem respeito a testes de retrocompatibilidade. São referidos os CUs activados em cada modo, ao downgrade da velocidade de relógio do GPU, e igualmente uma equivalência de larguras de banda em cada um dos modos.

– Os documentos são confusos, há ficheiros em pastas erradas, sub pastas em locais errados, e referencias como a do Arden e Sparkman que não fazem sentido,

Agora que já percebemos a fonte e os dados que circulam, vamos explicar os motivos que levam a que se questione não o seu conteúdo, mas as conclusões tiradas pela análise ao mesmo, fazendo referência aos dados que ali foram encontrados e que tem vindo a ser conhecidos.



Como dado essencial convem que se diga de forma clara que as observações deste artigo não derivam da observação dos documentos em causa. Nunca os vimos e desconhecemos o seu real conteúdo! O que aqui se analisa é baseado em informação publicada nos foruns do Neogaf e do Resetera, que pode ser ela tambem irrônea ou incompleta.

Mas como essa é a única informação que temos, será com os dados ali referidos que iremos trabalhar.

E um dos grandes problemas relativos às conclusões tiradas é que, segundo refere quem analisou o conteúdo encontrado, este está cheio de erros e imprecisões.

Aparentemente há um conjunto grande de ficheiros nas pastas erradas, sub pastas e mesmo pastas em sitios errados. Basicamente isto quer dizer que, mesmo tomando-se o conteúdo dos documentos como legítimo, não se pode dizer que as conclusões tiradas do seu conteúdo estejam sempre correctas ou precisas.

O grande problema deste conteúdo é que a sua leitura permite concluir que o Sparkman (o APU da Lockhart, a consola de baixo custo), possui 56 CUs.



E isto implicaria que o Sparkman (Lockhart) seria igual ao Arden (Xbox série S). Ora não só isto contraria informações anteriores que apontavam a Lockhart para um APU na ordem dos 4 Tflops, como não faz qualquer sentido, uma vez que não há qualquer lógica em a Microsoft ter dois APUs iguais em desenvolvimento, ou sequer em colocar um APU tão caro numa consola de baixo custo.

O que isto quer dizer é que, se o conteúdo destes documentos é válido para se acreditar que a PS5 tem apenas 36 CU, e corre a 2 Ghz (9.2 Tflops), ele também tem de ser válido para se aceitar que a Lockhart é igual à Série X, e que a Microsoft anda a desenvolver dois APUs iguais.

E este é o primeiro ponto relevante: Se os documentos servem para se afirmar com confiança que a PS5 tem 36 CUs, eles então terão de servir para se afirmar com confiança que a Lockhart tem 56 CUs e é igual à Série X. Mas se alguem questiona a questão da Lockhart ter 56 CU, então também tem de questionar a questão da PS5 ter apenas 36 CU. 

Havendo imparcialidade na análise, não há como fugir a isto, daí que me choca ver grandes websites a pegar apenas em metade desta realidade para a criação de artigos, sem referir estas situações.

Percebem a questão, e o motivo pelo qual perante estas contradições não temos facilidade em aceitar, não os documentos em si, mas sim as conclusões dele tiradas? Porque aceitar que há um erro com o Sparkman e não aceitar que pode existir igual erro  ou pelo menos falta de contexto nos dados da PS5? Porque a questão é só uma: Ou os documentos se tomam como fiáveis, ou não tomam. Agora tomar só em parte, sem pelo menos se referir que os documentos possuem situações menos fiáveis, é que não.



O grande problema desta nova informação é a contradição com todos os rumores anteriores. Pura e simplesmente não havendo aqui uma clareza na leitura dos dados presentes nestes ficheiros, não se pode desacreditar várias dezenas de insiders que ao longo dos tempos vieram a terreiro afirmar que as duas consolas era muito semelhantes a nível de performances. Eis alguns exemplos de pessoas que apostaram a sua reputação em afirmações de que as consolas seriam muito semelhantes em performance.

As duas principais seriam Jason Schereider, editor de notícias do Kotaku, e Andrew Reiner, editor executivo da Game Informer.

Naturalmente não conhecemos estes dois senhores, pelo que eles podem ser apenas uns fala baratos e linguarudos que vieram despejar tretas. Mas o certo é que estamos a falar de duas pessoas com reputação na indústria, e ligadas a dois websites de renome que podem sair prejudicados com estas afirmações de responsáveis seus. Naturalmente, tal como qualquer pessoa que se atravessa em fornecer dados meramente baseados em informação de terceiros e não oficiais, estas pessoas correm o risco de poderem estar erradas. Mas dadas as suas posições, parece-nos que estas dificilmente diriam o que diriam se não tivessem plena confiança nas fontes de informação.

Mas sabe-se lá…

No entanto há outras pessoas que afirmaram o mesmo, mas desta vez sem estarem ligadas directamente à industria. Podemos incluir aqui  moderadores do célebre fórum resetera, um fórum onde as informações dadas como certas e não comprovadas dão direito a expulsão do fórum, e um insider veterano da industria denominado Kleegamefan.



Apesar de todas estas pessoas poderem estar erradas, seja porque lhes deram má informação, seja porque a mesma se baseou em devkits iniciais, ou seja porque outro motivo for, o certo é que acreditamos que estas pessoas quando falaram, falaram com dados concretos,  daí desacreditar as mesmas com base em documentos que, mesmo sendo dados como reais, possuem dados imprecisos ou mal explicados, não será algo que aqui na PCManias iremos fazer de ânimo leve. Porque como vimos em cima, o que estes documentos nos fornecem é informação, mas sem que consigamos perceber exactamente o seu contexto real.

E mais: Apesar de a informação obtida pelo Github ser mais recente, segundo quem teve acesso à mesma, o conteúdo dos ficheiros é relativo a datas anteriores às datas em que estes insiders fizeram as suas afirmações

Mas o conteúdo destes documentos levantam outras questões. Vamos ver:

  • Os testes realizados ao Oberon não incluem Variable Rate Shaders e nem Ray Tracing. Mas o certo é que já foi confirmado oficialmente pela Sony que a PS5 terá Ray Tracing. Porque motivo então o Ray Tracing não aparece? Não se sabe, e há várias possíveis explicações! Mas o certo é desta forma, vemos pelo menos que os testes não incluem a totalidade das capacidades da PS5.
  • 36 CUs a 2 Ghz! Será que estamos realmente a falar da capacidade total do GPU, ou de outra coisa? Aliás, será que este Oberon testado, sendo os documentos já antigos, corresponde à versão final?

Será que poderemos explicar os 36 CU e a ausência de RT de outra forma?

Na realidade… até podemos! É apenas uma teoria, mas convêm não esquecer uma realidade, os documentos dizem basicamente respeito a testes de retrocompatibilidade e possuem erros ou más informações. E assim sendo a teoria não se torna disparatada!



É que se aceitarmos estarmos perante testes de retrocompatibilidade, podemos olhar para trás para vermos o que temos de emular:

Historicamente tivemos a PS4, e depois tivemos a PS4 Pro. E esta última possuí 3 modos de funcionamento.

  • Modo PS4
  • Modo PS4 Pro
  • Modo PS4 Boost

Basicamente o modo PS4 é quando os jogos desactivam metade dos CUs da PS4 Pro, deixando ficar apenas 18 deles, o número de CUs da PS4 original, descendo as velocidades de relógio para os valores da consola original. É uma compatibilidade por hardware que se torna necessário manter, prevendo a possibilidade do GPU da PS5 fazer o mesmo, deixando apenas 18 CUs activos.

O modo PS4 Pro, activa a totalidade da consola, permitindo tirar-se o total rendimento da mesma. Daí que uma PS5 teria de ter um modo com 36 CU para retrocompatibilidade com os jogos activados para este modo. Os mesmos 36 CU que vemos aparecerem aqui indicados.

O modo PS4 Boost é basicamente o modo PS4, com 18 CUs activos, mas com o CPU e o GPU nas velocidades de relógio máximas da PS4 Pro, permitindo assim ganhos de performance nos jogos originais.



Ora, perante esta realidade, o que parece coerente é que a PS5 tenha também este modo de Boost aplicado à PS4. Mas porque não pensar que ela terá tambem um modo Boost, aplicado à PS4 Pro?

E porque não aceitar, sendo os dados do Oberon presentes nestes documentos relativos a testes de retrocompatibilidade, que estamos perante um lapso semelhante ao que diz que o Sparkman tambem tem 56 CU, e que na realidade este não é o modo nativo do Oberon, mas uma performance para um modo Boost da PS4 Pro, onde o GPU poderia ir a 2GHz, com os mesmos 36 CU, aumentando igualmente a largura de banda até um bus de 256 bits?

Basicamente isso explicaria a falta de VRS e Ray Tracing nos testes, explicaria o uso de 36 CU (o número de CUs da PS4 Pro), e explicaria a maior velocidade de relógio, neste caso um teste ao limite, mas não necessariamente a velocidade final, com 2 Ghz de velocidade. Mas não daria informação sobre quais os CUs totais do GPU, apenas os usados na retrocompatibilidade.

Como percebem há questões… e não sendo a fiabilidade desta informação total, é lógico que se as coloque.

Note-se porém que esta situação é apenas uma hipótese, e os dados sobre o Oberon até podem estar correctos. E essa possibilidade tambem tem forçosamente de estar em aberto.





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