Porque motivo um SSD numa consola não é o mesmo que um SSD no PC

Há varias situações que tornam a realidade completamente diferente da que temos no PC.

Quando se fala de um SSD nas consolas, aquilo que surge à mente de cada um é pura e simplesmente “Tempos de carga mais rápidos”.

E isto é a realidade mais normal. Um SSD sendo mais rápido a ler, é mais rápido a fornecer dados. É a consequência mais imediata dessa realidade.

Mas olhando para as actuais consolas, o que vemos se lhes metermos um SSD? Uns ganhos de alguns segundos, mas nada mais! Diga-se aliás que um SSD rápido fica completamente sub-aproveitado numa consola acual.

Os motivos para isso são simples!



Os jogos criados para as actuais consola tem de ter como base de criação o denominador comum, que neste caso é o disco standard que é fornecido com as consolas. Isso quer dizer que os jogos são concebidos para receberem dados à velocidade que esses discos podem fornecer.

E essa velocidade sendo baixa recorre-se muito à compressão de dados. Basicamente o disco enviar 1 MB e informação descomprimida ou 1 MB de informação comprimida a 50% não é a mesma coisa, uma vez que na prática no segundo caso o enviado é 1,5 MB, no mesmo período de tempo. A grande questão é que a informação para ser processada não pode estar comprimida, e isso obriga ao uso de memória para a recepção de dados e respectiva descompressão. Ou seja, todo o processo de carga é um misto de envio de dados do disco, associado a descompressão do CPU. E ao colocarmos um SSD, enviamos os dados mais depressa, mas no entanto o CPU não os descomprime mais depressa, o que significa que o SSD não pode ter o seu total rendimento e só funcionará de acordo com os pedidos do CPU.

Nesse sentido, os ganhos, apesar de existirem, não podem mostrar a realidade do que um SSD pode fazer nos tempos de carga. E este é o motivo pelo qual, tanto Sony como Microsoft recomendam a execução dos jogos das consolas de actual geração, nas consolas de nova geração, a partir de um HDD normal externo. Porque usar o SSD da consola para isso não traz vantagens e usaria o seu espaço.

Para isso seria necessário que o jogo estivesse concebido de forma a contar com um denominador comum bem mais capaz. E isso será o que acontecerá na nova geração. Ao se ter consciência de um SSD com determinadas capacidades de envio de dados, mais dados descomprimidos podem ser enviados pelo SSD, e dessa forma, evitar-se uma tão grande interferência do CPU no processo de carga.

E dessa forma, os ganhos serão efectivamente maiores.

Olhando para a apresentação da PS5, o que é referido aqui é claro nos slides apresentados por Cerny.



Caso actual:

O que vemos é na imagem é uma série de processos obrigatórios acontecerem entre o envio dos dados e o processamento. Aqui a situação é mais detalhada, e envolve as várias tarefas do CPU na memória. Os dados são recebidos e é feita a gestão da carga na memória, através do sistema de Input /Output de ficheiros, há depois um mapeamento dos dados, é criada uma coerência dos mesmos em memória e realizada a descompressão.

Tudo isto, num sistema como os actuais, sejam eles PCs ou consolas, faz com que o ganho nos tempos de carga seja aproximadamente 2x, mesmo que o SSD usado seja 10x mais rápido que o disco base da consola.

Mas com as novas consolas, todos estes processos foram optimizados a nível de hardware, ao ponto de um SSD 100x mais rápido, conseguir colocar na memória do sistema e prontos a serem usados, os dados de forma igualmente 100x mais rápida.



O que isto significa é que os tempos de carga não terão nada a ver com o que observam no PC, mesmo na presença dos SSDs mais rápidos do mercado. Porque estas operações de organização interna do sistema, pura e simplesmente continuam a ocorrer sem optimização, e os ganhos verificados apenas se dão no lado da velocidade de leitura.

Isto significa que, com estes sistemas optimizados, os 16 GB de memória podem ser enchidos em menos de 3 segundos. E tudo com dados já prontos a serem usados. Isto significa cargas ultra rápidas, e uma vez no jogo, re-inícios e movimentações efectivamente instantâneas.

Para se obter tudo isto, tal como já foi referido, foram necessárias várias alterações internas no hardware. Basicamente, para que tudo isto ocorra em tempo real, um sistema como a PS5, ao qual as imagens de cima se referem, possui um sistema que se equivale a 9 núcleos Zen 2 e que fazem essa descompressão e toda a gestão associada, em tempo real.

Possuem ainda motores de coerência, co-processadores de Input/Output, controladores DMA dedicados (que se equivalem a 2 núcleos Zen 2 adicionais), os cache scrubbers que permitem a carga mesmo durante o processamento, poupando igualmente largura de banda, e uma série de novidades não presentes nos actuais sistemas ou PCs.



E é o resultado final de tudo isto que permite que o SSD possa fazer algo que nos PCs não é possível. Colocar os dados na RAM em tempo útil. Falamos de colocar 2 GB de nova informação presente no SSD, na memória em 0,27 s! Um valor que na actual geração, com o disco a debitar algo entre 50 a 100 MB/s demoraria pelo menos 55 segundos. E isto sem contar com o tempo perdido na busca de ficheiros (o seek time) que nos SSDs basicamente não existe.

Por outras palavras, entramos em um domínio completamente inédito. Algo que até agora não era possível. Basicamente mesmo mundo fechados e normalmente metidos na sua totalidade na memória, como nos casos dos jogos Fifa ou NBA, não precisarão de continuar a ser assim pois os dados podem ser actualizados do SSD em tempo útil. Tal permite que o GPU se concentre apenas nas partes visíveis do ecrã, poupando processamento.

A vantagem de uma situação dessas passa pelo concentrar de recursos do GPU. Ao não processar partes desnecessárias, pode usar esse processamento nas partes necessárias, e tal, face a um GPU num sistema standard, trará ganhos de performance, ou melhorias gráficas adicionais.



Resumidamente. Um SSD numa consola, um sistema optimizado, fechado, e onde o denominador comum é fixo e não variável como nos PCs, e onde existem equipas dedicadas e que tirarão total partido das capacidades do hardware, não é a mesma coisa que um SSD colocado num PC.

 

 



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