Porque motivo o Gamepass não tem ainda pelo menos 45 milhões de assinantes?

Se o serviço é realmente tão bom, porque motivo o número de assinantes entre Xbox e PC não cobre ainda sequer o número de possuidores de consolas Xbox?

Entre todos os serviços de subscrição, não hajam dúvidas… o Gamepass é o melhor deles todos!

Apesar de não ser oficialmente o mais barato, de forma não aberta, mas recorrendo a esquemas legais, ele não só é o mais barato, como é igualmente incomparavelmente mais barato. E aqui as pessoas nem sequer podem alegar desconhecer a situação, dado que ela está reportada em milhares de posts em foruns, e em diversos artigos espalhados pela internet.

Para além do mais, o Gamepass é o único que oferece, no dia um, acesso aos jogos First Party da empresa que o detêm, a Microsoft.

Ora perante esta realidade, torna-se aparentemente claro que o Gamepass é um excelente negócio, e que como tal, já nem falando da possibilidade de ganhar mercado à Playstation, onde as pessoas podem preferir, por mil e um motivos, manter-se e aderir aos serviços equivalentes da Sony (PSN Extra e Premium), seria expectável pensar-se que, pelo menos a maior parte dos fans Xbox estivessem a assinar este serviço.

O ultimo número oficial, fornecido em Janeiro de 2022, era de 25 milhões de assinantes, um valor que é cerca de metade da base de utilizadores da Xbox. Mas, neste caso, este número inclui assinaturas na Xbox e PC.

Qual o número de assinantes Xbox? Bem, o CADE pode ajudar aqui, pois a Microsoft, nas respostas dadas a este regulador Brasileiro indica que o Gamepass, na consola Xbox (excluindo PC), gerou em 2021, um total de 2,9 biliões de dólares em receita.

E por aqui podemos fazer umas contas. Dado que em 2021 o serviço custava ainda 15 euros, isto atira-nos para o equivalente a 16,1 milhões de assinantes pagantes na Xbox.

Podem no entanto ser mais, dado que o serviço tem vindo a permitir assinaturas de 3 anos por 1 euro, e mais recentemente esquemas de assinaturas por 3 anos por 65 euros, ou 1,8 euros mensais, e que desce para algo abaixo de 1 euro mensal com o novo plano familiar que pode ser partilhado por até 5 pessoas. Daí que, certamente a Microsoft tem-se esforçado por “dar” o serviço, pelo que, se o número no global for maior, isso não é nada que nos surpreenda.

Mas a realidade é que, a receita gerada equivale-se apenas a 16.1 milhões de assinantes pagantes. Um valor pequeno face ao número de consolas existentes no mercado.

Daí que surge a questão:

O QUE ESTÁ A IMPEDIR O GAMEPASS DE DAR O SALTO E DE LEVAR A UMA ADESÃO EM MAIORES NÚMEROS DOS UTILIZADORES XBOX?

E a resposta pode não ser simples, sendo que, no entanto, apresentamos de seguida dois dos fatores possíveis para essa situação.

1 – As pessoas percebem o risco que é para o mercado um negócio destes.

A Microsoft apresentou receitas de 16 biliões com a sua divisão de Gaming, mas 16 biliões não é um valor fácil de ser atingido com assinaturas. Aliás, se 45 milhões de pessoas aderissem a este negocio, a receita anual pela assinatura seria de 7 apenas biliões. Claro que poderia ser mais com vendas de jogos e conteúdos dentro do serviço, mas a realidade é que a oferta de um serviço destes pode retirar muito do interesse das pessoas em investir em DLCs ou outros. Afinal, há tanta oferta gratuita que o pagar por DLCs ou outros, passa a ser uma opção muito menos interessante.

Ou seja, ir buscar os mesmos 16 biliões, seriam algo complicado.

Mas ainda dentro deste ponto, convêm que se perceba que estamos a falar dos utilizadores necessários para igualar  as receitas. E não os lucros!
No modelo de negócio tradicional, a Microsoft recebe 30% por cada venda de um jogo de uma Third na sua plataforma. mas no Gamepass, a coisa altera-se, e para contar com o jogo de uma Third no serviço, a Microsoft em vez de receber… paga!

Há claramente uma inversão das coisas com este modelo, e um claro aumento de despesa, sendo que em caso de adesão da totalidade dos utilizadores da consola, tal situação teria grande impacto na forma como as contas para se chegar aos lucros são feitas.

A diminuição de lucros na industria, e a potencial quebra de vendas fora do serviço são riscos que são reais. Que não podem ser ignorados, e que muitos tem consciência deles, e das consequências que isso acarreta, optam assim por não aderirem ao processo.

2 – A consciência que a Microsoft pode tomar uma posição dominante.

Uma situação que nunca foi contabilizada prende-se com o saber-se qual a dimensão real do mercado das consolas. Quando se diz que uma Xbox One vendeu 48 milhões (valor indicado ao CADE), uma PS4 vendeu 117 milhões e uma Switch vendeu 112 milhões, não podemos somar estes valores e dizer que há aqui um mercado de 277 milhões de clientes consola.

Na realidade, uma situação nunca contabilizada passa por perceber-se quantos destes clientes são efetivamente diferentes. E citando como exemplo o meu caso, na geração passada possui uma PS4, uma Xbox One e uma Switch, pelo que fui contabilizado 3 vezes, quando na realidade sou apenas 1 cliente.

Daí que seria relevante perceber-se quantos utilizadores possuem simultaneamente uma Playstation e uma Xbox (vamos esquecer a Switch pois o artigo aqui não é sobre o nicho particular de mercado que ela alcança). E mais do que isso, perceber dentro desse mercado, qual das duas consolas é a sua preferida!

A realidade é que, eu não posso negar que, desde já à alguns anos, que a minha preferência no que toca aos jogos First Party, não está na Microsoft. Não só a empresa tem muito menos IPs de nome, como tem deixado alguns, como Halo, mergulhar na lama. A má gestão dos estúdios Microsoft é clara, os problemas com os estúdios, são conhecidos, os atrasos, reboots e outros problemas, são uma realidade. E o output não só tem sido extremamente baixo, como incomparável ao da Sony.

Por outro lado a Sony tem vindo a afirmar-se cada vez mais como uma produtora de títulos de altíssima qualidade, apostando em novos IPs e tornando-os um sucesso. Títulos como God of War, Uncharted, Ghost of Tsushima, Horizon, The last of us, Spiderman, e outros são dos jogos mais cobiçados da industria, e a provar isso estão as vendas no PC, isto apesar de estes jogos serem lançados sem qualquer DRM.

Qualquer pessoa que não seja fanática por uma marca, e que aprecie jogos pro si mesmo, reconhece a qualidade dos jogos, estejam eles em que plataforma estiverem. Um Gears 5 ou um Forza Horizon 5 tambem são reconhecidos como jogos de elevada qualidade pelos possuidores Playstation, e jogos que gostariam de ter. Porque qualidade não se mede, e nem nunca se mediu, pela plataforma em que os jogos existem.

Mas uma situação de controlo do mercado pela Microsoft, com um serviço como o Gamepass pode obrigar os outros a terem de aderia a esquemas semelhantes. E a Sony já veio dar a conhecer não ter capacidade para manter a qualidade e oferecer os seus jogos no dia um.

Daí que um dos motivos da não adesão da totalidade do mercado Xbox pode estar relacionada com isso. Tratam-se de gamers e não de fanáticos pela marca, que se preocupam com os jogos e a sua manutenção no nível de qualidade em que estão.

Naturalmente que, num cenário idílico, a proposta da Microsoft seria fabulosa, mas a tentativa de compra da Activision tem como objetivo alavancar as adesões ao serviço (Gamepass) que não estão a ocorrer e impulsiona-lo de vez. E há mesmo relatos de pessoas que referem que trocaram consolas Playstation por consolas Xbox devido ao jogo (falta saber se esses relatos são verdadeiros), algo que certamente será do conhecimento dos reguladores que tomarão isso em conta na sua análise. Afinal uma coisa é ser concorrencial, outra é pura e simplesmente prejudicar terceiros, tirando-lhes os jogos de maior sucesso, apenas porque se pode, e roubando-lhes os clientes no processo.

Concorrer não é isso… é lutar de igual para igual, com melhor hardware e melhores jogos. Não é ser mais poderoso financeiramente, e adquirir tudo de sucesso, passando para primeiro sem mérito próprio, e destruindo a concorrência pelo meio.

E uma coisa é certa… se a Microsoft atingir a posição de número um do mercado com a compra da Activision, não foi por escolha do mercado, ou por mérito próprio! Foi isso sim, por imposição financeira.