Porque motivo não estou a gostar da série Halo na Paramount+?

Como série de TV, a série até é boa… Mas como Halo? Esqueçam… aquilo não é Halo!

A nova série de TV, Halo, que se encontra a ser exibida na Paramount+ é uma boa série de ficção científica. E em 99% do tempo até tem bom CGI e é algo que se vê bem.

Como problemas desta série temos alguns…

O primeiro é chamar-se Halo… e não ser Halo.

O segundo é que Halo roda em torno da personagem Master Chief… mas a série gira em torno da personagem John.

Em Halo, John é o humano que está por baixo de Masterchief, apenas revelando a sua humanidade quando se torna necessário… mas na série o Masterchielf é a máquina de guerra que está por cima de John, e que aparece apenas de vez em quando.

Basicamente a série subverte completamente o que Halo é, focando-se na humanidade de John, e não em Masterchief… E nesse sentido, como uma série Halo… é patética!

Sinceramente andava entusiasmado com esta série desde que ela foi prometida em 2013. E apesar de ter demorado 9 anos a aparecer, ainda assim a ansiava… e esperava muito dela.

E quando comecei a ver a série, estava a gostar e ainda mais gostei quando Master Chief aparece pela primeira vez a varrer hordas de Covenant ao bom estilo de Halo.

Mas quando esperava que a personagem Master Chief fosse explorada e apresentada ao público, o que vejo foi algo que me chocou… Ao fim de 40 minutos, MasterChief deixou de existir… e a personagem John tomou conta da série.

Sim, ao fim de apenas 40 minutos, e de pouco tempo de MasterChief no ecrã, aquilo que nunca aconteceu em 21 anos de jogos Halo, tornou-se uma realidade. MasterChief remove o capacete… e vemos finalmente a cara do Homem por baixo… John!

Isto até poderia não ser algo terrível se Master Chief fosse ainda explorado. Mas a partir desse momento a personagem que define Halo basicamente morre… e John toma o controlo!

E de vermos a face de John para John aparecer nú não demora muito. Apenas mais um episódio e já está!

Daí para a frente vemos um John que parece ter alergia à armadura, e um esquecer completo da personagem MasterChief que sempre definiu Halo, e que na série passa a ser apenas um segundo nome para John.

Se calhar muitos estão já a dizer… Oh que palhaçada… O John é o MasterChief e o MasterChief é o John. E sim… é! Mas tambem não é! E quem diz isso ou nunca jogou os jogos Halo, ou nunca percebeu a essência dos jogos Halo.

John é MasterChief, e vice versa, mas no caso do jogo, John é a consciência de uma máquina de guerra assassina. E MasterChief é a máquina de guerra que se sustenta pela humanidade de John!

Esse conceito não existe na série. Ali temos apenas o John, um Espartano ou super soldado alterado geneticamente, que é conhecido militarmente por MasterChief, e que veste uma armadura para ir combater. Tudo o resto é esquecido ou ignorado!

E depois vemos John a explorar a sua infância, e um conjunto de outros factores em torno dos quais assenta a história que na realidade poderiam entrar em qualquer filme de ficção científica de tão genéricos que são. E é nisso que se torna a série. Numa série de ficção genérica, com alguns momentos Halo!

Talvez o mais chocante para mim foi o que se passou no episódio 9, quando John tem sexo (consentido), com uma humana prisioneira de guerra e que trabalhava para os Covenant. Ora esse tipo de coisas, consentido ou não, é considerado um crime de Guerra, algo que os produtores parecem ter esquecido, tornando o heroico MasterChief no mero humano John, e num criminoso de guerra.

Verdadeiramente triste, e devastador para aquilo que Halo sempre foi!

A gota de água para mim surge no episódio 10… Quando as personagens desembarcam no planeta para onde os Covenant levam o artefacto que activa o Halo. E aí o CGI toma conta, para mal dos nossos pecados!

Numa série dominada por CGI, e até muito bem conseguido, as cenas nesse planeta são verdadeiramente vergonhosas. A qualidade do grafismo quase faz lembrar a de um jogo da geração passada, e nada digna de CGI de cinema. Verdadeiramente triste!

Percebi à posteriori, e daí o motivo pelo qual resolvi escrever este artigo, que as minhas queixas não são únicas, e que muitos fans de Halo as partilham. São aliás muitos os fans que ou deixaram de ver a série, ou que se mostraram revoltados pelo facto de a Microsoft e/ou a 343 Industries terem aprovado este guião e uma personagem totalmente desprovida daquilo que é a sua essência.

Um desses fans de Halo é nada mais, nada menos do que Marcus Lehto, um dos co-criadores de Halo, que num comentário à série, referiu apenas “Não sei de onde vem a inspiração para esta série, mas este não é o Halo que eu ajudei a criar“.

Ora Marcus, tal como eu, nem desgosta da série, que como série de ficção científica até é boa. O que ele não consegue é rever Halo naquilo que é a série, e nesse sentido a sua critica.

Ora no fundo o que se passa aqui não é muito diferente do que vi no filme Uncharted, da Sony.

Os motivos não são bem os mesmos, mas a realidade é que, apesar de ter gostado bastante do filme, consegui pouco ou nada associar as personagens ao jogo, isto apesar de a Sony ter tentado fortemente recriar cenas do jogo que nos são familiares para nos tentar criar o elo de ligação.

Tanto num caso como outro temos um bom produto. Uma boa série, e um bom filme… mas não temos nem um real Halo, e nem um real Uncharted… O que diga-se mata muito do interesse que se tem em ver a série ou o filme.

Mas nem tudo se perde, tanto num caso como noutro, a associação aos jogos existe quanto basta… e isso acaba por ser suficiente para nos prender. Pena é falharem redondamente no transmitir o mesmo espirito existente nos jogos.