O modelo do Netflix é o desejado. Mas o que se pretende é utópico, e mesmo o Netflix atualmente corre riscos que no passado não existiam.
Quando o conceito do Netflix apareceu todos gostaram da ideia. Pagar um valor mensal reduzido para se ter acesso a centenas ou milhares de filmes seria bem mais interessante do que a compra. Afinal desta forma teríamos acesso a uma quantidade de títulos que nunca poderíamos pagar.
O serviço oferecia um conceito semelhante ao dos videoclubes, mas com a comodidade de não se ter de sair de casa ou sequer do sofá. Era interessante!
No entanto, quando o Netflix apareceu, poucas eram as empresas que viam futuro na coisa. Basicamente o Netflix cresceu sozinho e sem competição, tornando-se assim no gigante que é hoje!
Mas a realidade do Netflix já não é o que era. Se durante muito tempo ele esteve no mercado sem concorrência, isso é uma realidade que se está a alterar.
A competição
O ponto forte do Netflix era a grande oferta de conteúdo pelo seu baixo preço. E a realidade é que quando o Netflix apareceu e cresceu todos diziam sem problemas que o Streaming apareceu e está para ficar.
Mas nos dias que correm a realidade é outra. O Netflix deixou de ser o único modelo de interesse. A concorrência apareceu e tornou-se relevante:
Netflix, HBO, Hulu, Amazon Fire, Apple Tv, Disney Plus, Sony Vue, etc, são agora serviços concorrentes! A realidade face ao que existia antes alterou-se e todos estes serviços possuem conteúdo que todos gostariam de ver.
Infelizmente para o cliente, para se tornarem interessantes, todos estes serviços apostam em algo, o conteúdo exclusivo. E isso quer dizer que há conteúdo de interesse em todos eles que só pode ser visualizado ali.
Ou seja, onde antes tínhamos um serviço que nos oferecia tudo, agora temos vários com conteúdo que nos interessa, e se quisermos ver tudo, teremos de pagar por vários serviços. É este o tipo de problema que irá aparecer com os serviços de streaming dos videojogos.
Infelizmente, o que se vê, é que muitas pessoas estão a recuperar velhos hábitos de pirataria para irem buscar séries e filmes de outros serviços, evitando assim pagar mais do que uma subscrição.
As subscrições dos serviços de streaming de jogos
Já nem abordando a questão da rentabilidade destes serviços, sobre a qual falamos em outros artigos, a realidade é que vemos logo aqui que estes serviços não vão entrar no mercado da mesma forma que o Netflix. Na realidade, mesmo antes deles existirem, já temos conhecimento de várias empresas que se vão iniciar no serviço e que concorrerão entre si. O Xcloud e o PSNow usarão a Azure, O Stadia usará a rede da Google, a Ubisoft tem o seu UPlay+ anunciado, e a EA tem o seu EA Access. Isto só falando de alguns pois esperam-se muitos mais concorrentes neste mercado.
Basicamente a concorrência será feroz, e no futuro se quisermos um Halo, teremos de aderir ao serviço da Microsoft. Se quisermos um Uncharted, ao da Sony, um Call of Duty, a um serviço da Activision, um Assassins Creed, a um serviço da Ubisoft, um Fifa, a um da EA, etc.
Se formos a ver, aquilo que era uma promessa de poupança irá deixar de o ser. E no futuro até podemos não gastar mais, mas se o não fizermos passaremos a estar restringido sobre o que jogamos. Basicamente o mercado vai-se diferenciar do que é agora, acima de tudo pela fragmentação.
É certo que poderemos alternar entre serviços, mas isso só pode acontecer ao mês… e isso quer dizer que aquele conceito de o amigo nos chamar para jogar o Fifa e amanhã outro nos chamar para jogar Halo, acabará. Ou estamos com um serviço, ou com o outro, e não teremos acesso aos jogos todos que jogamos habitualmente, a não ser que paguemos por todos os serviços.
Para que isso não aconteça, o que teremos é que em vez de se pagar 60 euros de x em x meses por um jogo que realmente nos interessa, para termos acesso a tudo teremos de pagar quase o mesmo, mas mensalmente.
Infelizmente o streaming de jogos não permite a pirataria. Mesmo que seja possível obter-se o jogo, introduzir um jogo pirata num servidor onde todos os jogadores estão autenticados com uma conta e a obter o jogo por streaming não parece ser possível. Daí que aqui, a alternativa é só uma… pagar!
O certo é que o futuro não aparenta ser risonho. Poderá oferecer mais quantidade, mas a qualidade pode ser discutível. E mais do que isso, a fragmentação passará a ser uma realidade. Os bons jogos, aqueles que realmente interessam, vão estar em vários serviços. E a alternância entre jogos que fazemos várias vezes ao dia, todos os dias, não será possível se eles forem exclusivos de outros serviços, a não ser que se pague.
Resumidamente, aquilo que é a realidade atual passará a ser algo pago e bem pago. O que passaremos a ter será então um mercado fragmentado, com acessos limitados e onde os jogos que temos à disposição, apesar de muitos, não seriam aqueles pelos quais optaríamos se estivéssemos no modelo clássico com os jogos comprados a 60 euros.
A solução?
Bem, uma pessoa mais optimista veria certamente uma solução para isto, como por exemplo, a manutenção em paralelo do modelo clássico e do streaming.
Isso poderá ser… mas a realidade é que não acredito muito que eles sejam compatíveis. Se o modelo de streaming der lucro, face aos seus muito menores custos, como o bastar criar uma versão e ela dá para todos os sistemas, evitando-se equipas diversas e tempo de desenvolvimento para multiplas plataformas, acabarão por matar o modelo físico.
Daí que a única solução que vejo para que tal não aconteça é mesmo as pessoas estarem conscientes do que serão as consequências daquilo em que se estão a meter, evitando meter-se. E daí que estes artigos surjam regularmente nesse sentido.