Os pontos em que aparentemente a Apple decepcionou

Analisando o anuncio oficial do novo iPhone muitas decepções terão ficado presentes em muitas pessoas. Mas será que realmente haveria motivo para tal?

Convenhamos, terão existido muitas pessoas decepcionadas com a apresentação do novo iPhone. E realmente há pontos onde essa decepção se justificará. Mas será que tal é justificável em todos os pontos?

O secretismo da Apple

A maior e mais compreensível decepção passa pelo facto de que o novo iPhone 5 era na realidade o velho iPhone 5. Quer isto dizer que efectivamente o que foi apresentado correspondia a tudo o que tinha vindo a ser apresentado como rumor sobre o iPhone. E nesse aspecto, confesso que eu próprio me senti desiludido.



Estando o mundo habituado a uma política de segurança interna da Apple que em certas alturas chegou mesmo a ser “Pidesca” (para que os nossos leitores brasileiros percebam, a referência é realizada face à antiga Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), que actuou entre 1945 e 1969 e criada com base em consultorias da Gestapo), torna-se agora bastante caricato ver que se passou do 8 para o 80, com a totalidade dos pormenores do telefone a serem conhecidos antes do seu lançamento. E nesse aspecto a decepção pela nova gestão de Tim Cook face ao que nos habituou Steve Jobs, é realmente compreensível. É quase como se estivéssemos perante uma nova empresa e não a Apple que Steve Jobs tornou popular.

O Design

Mas há outros factores que poderão ter levado à decepção de muitos. A estética por exemplo é um desses factores, e o novo iPhone 5 poderia perfeitamente ser chamado de iPhone 4 XL, tal a semelhança estética que apresenta com o anterior iPhone 4 e 4S.

No entanto nesta campo a Apple já possui uma desculpa. E é uma desculpa que só poderá ser compreendida por quem sabe o que a Apple é e que não a vê apenas como alguém que fabrica telemóveis.

Acima de tudo a Apple vende produtos que terão forçosamente de possuir extrema qualidade, design, versatilidade, funcionalidade e estabilidade. Mas a verdade é que a Apple vende igualmente um estilo de vida. E o iPhone faz parte da imagem que a empresa pretende passar para esse estilo de vida.

Isso não quer dizer que a Apple não pudesse alterar radicalmente o design do seu telefone, mantendo contudo os pontos de contacto suficientes para que o mesmo se pudesse identificar como um iPhone. Pode e certamente o fará futuramente, mas não nesta fase.



O primeiro iPhone manteve o seu design ao longo de 3 gerações (iPhone, iPhone 3G, iPhone 3GS), e o novo design do actual telefone apenas entrará agora na terceira geração (iPhone 4, iPhone 4S e iPhone 5).

No entanto, se analisarmos friamente a situação, o design do novo iPhone 5 tem tanto de semelhante como de diferente face ao iPhone 4. E quase que poderemos analisar a situação na perspectiva do copo meio cheio ou copo meio vazio. Cada qual verá a coisa como quer.

Mas a decisão de não romper definitivamente com o modelo anterior é algo com vantagens e desvantagens. A desvantagem mais notória, que se passou mais com o iPhone 4 e 4S, é a dificuldade na percepção clara se alguém segura um modelo mais recente ou mais antigo do telefone. Esta será uma situação que com um bocado mais de atenção não ocorrerá no iPhone 5, mas que mesmo que ocorresse seria algo que apenas importaria a alguem que, mais do que mostrar que segura um produto Apple, quer igualmente mostrar que possui o mais recente.

Sabendo a Apple que os inquéritos de satisfação face ao design do seu iPhone 4 e 4S mostram satisfação total por parte dos seus clientes, a empresa poderia ter sido arrojada e mudado. Mas há contudo uma outra perspectiva para a situação. E para isso vamos fazer um comparativo com os automóveis.

Quando falamos de marcas automóveis mais acessíveis, como Renault, Opel, Citroen, e muitas outras, verificamos que estas marcas mudam as linhas dos seus veículos a períodos curtos de 2 ou 3 anos. Fazem-no porque necessitam de inovar a vender, e daí procurarem sempre novas linhas.



Mas quando falamos de Mercedes, BMW e Audi, reparamos que estas marcas possuem ciclos de vida das suas linhas muito superiores, chegando mesmo a 10 anos de existência antes do aparecimento de renovações radicais das linhas dos veículos. E o motivo aqui é simples: A marca vende mais do que um automóvel, ela vende um estilo de vida associado a uma imagem. E essa imagem há que a preservar.

Com a Apple e o seu iPhone a situação é exactamente a mesma.

A ausência do NFC

Falemos agora de uma outra possível decepção, a ausência de um Near Field Comunicator no novo iPhone, uma situação referida como possível nos rumores que foram aparecendo ao longo dos meses.

E esta situação eventualmente poderá parecer decepcionante quando vemos a concorrência a apostar fortemente no mesmo. Mas será que alguma vez seria de esperar que a Apple colocasse um NFC no seu iPhone?



Sinceramente seria extremamente duvidoso que tal acontecesse. E isto porque estamos a falar da Apple.

O motivo é que novos standards estão constantemente a aparecer no mercado, e não é só porque os mesmos existem que deverão ser suportados. Aliás a história está cheia de exemplos do género como o Laser Disk, o HD DVD, os telefones fixos com vídeo chamadas e tantas outros.

As vantagens reais de um NFC serão uma realidade quando existir a nível mundial uma infra-estrutura para interagir com o mesmo, algo que actualmente não existe. Assim, e até lá o standard do NFC pode inclusive mudar, criando incompatibilidades com o actualmente existente. Para que oferecer aos clientes e forçar os mesmos a pagar por algo que actualmente não possui verdadeiras vantagens.

A implementação de uma rede NFC a nível mundial irá demorar alguns anos a aparecer, e até lá possuir um NFC terá as suas vantagens, mas as mesmas serão relativamente reduzidas face ao potencial do produto. Assim o mesmo é actualmente mais um show off do que outra coisa, e o iPhone 6 irá bastante a tempo de implementar essa tecnologia quando ela for efectivamente uma realidade.

De referir contudo que o NFC permite a interacção entre os telefones equipados com ele, e como tal, desde que implementado um software que mostre benefícios nesse tipo de interacção, as vantagens existirão desde já. No entanto tal é uma redundância uma vez que tal pode igualmente ser conseguido recorrendo ao Wi-Fi ou Bluetooth, sendo a Nintendo 3DS um bom exemplo dessa situação.



A ausência de uma tecnologia inovadora como o Wireless Charging

Quando a Nokia apresentou ao mundo o seu Wireless Charging muitas vozes se elevaram – Eis uma tecnologia inovadora que o novo iPhone também poderia ter.

Mas será que o Wireless Charging é realmente uma vantagem?

O Wireless Charging permite eliminar os fios dos carregadores, e acima de tudo criar uma plataforma universal e compatível com todos os telemóveis. Quer isso dizer que com um carregador wireless posso carregar qualquer telefone que suporte a tecnologia, seja ele Nokia ou de outra marca qualquer.

Como outra vantagem temos o facto de nos livrarmos dos fios. E tão incómodos que eles são.



Mas será que é só virtudes que estão por trás desta nova tecnologia?

Comecemos por desmistificar a questão da plataforma universal. É que essa situação só não existe nos telemóveis com carregadores mini USB porque as marcas querem vender carregadores. E se essa política existe, porque acreditar que os carregadores Wireless serão universalmente compatíveis? Será que os produtores de carregadores desistiram de um momento para o outro de fazer dinheiro? E se isso é verdade, porque não o fizeram antes adoptando o mini USB como formato universal?

Depois temos a questão de nos livramos dos carregadores. Uma outra falsa questão. A plataforma de apoio do telefone é maior do que os mini carregadores actualmente existentes, sendo que continuam a ser necessários de serem levados numa viagem. É certo que muitos poderiam alegar que tal será desnecessário com a existência de carregadores wireless nos locais, mas isso leva-nos de novo à compatibilidade universal e o facto que tal nunca aconteceu até hoje com o microUSB.

Mas mesmo os carregadores wireless necessitam de ser ligados à tomada. Quer isso dizer que os fios continuam a existir, apenas não entre o telefone e o carregador, sendo que um único carregador pode carregar mais do que um telefone.

Mas e no caso de ser necessária carga durante a realização de uma chamada? Como é que a carga wireless resolve o problema? Não resolve! A chamada tem mesmo de terminar a não ser que alguem planeie ficar a segurar no telemóvel+carregador junto da orelha, pressionando os dois com cuidado para se manter o contacto.



Não quer isto dizer que a tecnologia de carda de baterias por wireless não possui as suas vantagens, pois possui. No entanto as mesmas não são assim tão reais e directas como se quer dar a entender. É que acima de tudo a função principal de um telemóvel é o estar-se contactável em qualquer local, e perder a possibilidade de manter uma chamada importante activa, apesar de se possuir um carregador ao lado é algo a que a Apple nunca aderiria.

O 4G que é 3G

Quando da introdução da tecnologia 4G a Apple fez questão de referir que a Europa estava devidamente coberta. Esqueceu-se porém de referir que o seu telefone apenas suportava uma frequência que não é a mais usada na Europa, e que países como a Alemanha, França, Itália, Suécia e mesmo Portugal, irão ficar a ver navios no que toca ao seu suporte 4G.

Esta é uma situação que realmente se revela decepcionante, e que demonstra que a Apple não aprendeu nada desde os seus problemas com o iPad 3 que se anunciava como 4G, sendo que realidade, na Europa apenas poderia funcionar a 3G.

E aqui sim, há motivos para decepção. Pagar por uma tecnologia que não funciona quase tira a razão da Apple para não suportar desde já o NFC.

Conclusão

O iPhone 5 inovou nas situações onde possui os pés bem assentes e não teve a necessidade de apostar em situações cuja adesão e implementação são ainda uma incógnita. E num telefone com a qualidade, prestigio e preço de um iPhone, não seria de se esperar outra coisa. Assim como não seria de esperar um suporte 4G que não fosse perfeito. Este é um verdadeiro tiro no pé da Apple que parece apostada em ter uma situação que mancha a sua imagem a cada novo lançamento que ocorre.



Daí que, apesar de poderem não ser em todos os pontos que se imaginava,  motivos para decepção existem. Falta agora saber se tal se vai ou não reflectir nas escolhas dos compradores.



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