Apesar de já se saber que a nível mundial as vendas da PS4 superariam as da Xbox, a realidade é que nos nos EUA, o único mercado onde a XBox se bate com a PS4, mesmo com o lançamento de uma nova consola, a mais potente alguma vez criada, a Microsoft não conseguiu bater em vendas a Sony. Há que questionar o porque? Onde falha a Microsoft? Na realidade… a resposta parece simples… demasiadamente simples!
Quando olhamos para esta geração vemos uma PS4 dominadora! Mas o que levou a Xbox a não conseguir impor-se? Terá sido o facto de a PS4 ser mais potente como alguns afirmam?
Antes de responder a isso, confesso que foi uma surpresa para mim ver os resultados nos EUA das vendas em Novembro (agora confirmados perante os resultados finais da NPD). Perante uma Xbox One S a 189 dólares e o acumular de reservas de vários meses para a nova Xbox One X, onde grande percentagem eram upgrades de clientes que já possuíam consolas Xbox e como tal não podemos dizer que as vendas da X se revelaram como não vendas da S, acreditava seriamente que, pelo menos no mercado onde a Xbox joga em casa, as vendas fossem claramente favoráveis à Microsoft.
Mas não foram. Mesmo com as promoções e com uma nova consola que despachou de uma vez largos meses de pré-reservas, a PS4 vendeu mais… e isso mostra claramente que algo está mal na imagem da Xbox. O que falha?
Claramente a performance não foi o motivo pelo qual a Xbox One falhou, e isso é notório quando vemos que as vendas somadas da S e da X (a consola mais potente de sempre) não superaram as das consolas PS4. Basicamente, perante o lançamento da X só se pode concluir que não só a S vendeu pouco, como a Xbox One X não teve a adesão em massa que muitos acreditariam que tivesse, apesar de ser uma consola extremamente desejável a nível de performance.
Aliás se há algo que estes números revelam é uma realidade que pode ser vista como preocupante: Sabendo-se que muitas das vendas Xbox One X foram upgrades, quais seriam as vendas da Xbox, caso a X não fosse lançada???
Mas o motivo porque as vendas da Xbox estão abaixo daquilo que seria expectável não é algo que se possa identificar claramente. Não deverá haver um motivo único, mas sim uma conjugação deles, mas no entanto há algo muito simples, lógico e coerente que, claramente, se pode apontar: O facto que o Gaming… é sobre jogos! Não é sobre hardware, não é sobre serviços, não é sobre capacidades multimédia… mas pura e simplesmente, é sobre jogos!
Porque é isso que conta… é isso que sempre contou! E nunca foi a potência de um hardware que definiu uma geração, algo visivel pelas vendas da Switch que já possui quase 1/3 do mercado XBox. Isto é algo que ando a dizer desde 2013 (notem que o artigo é anterior ao lançamento das consolas), numa altura em que o suporte, e consequentemente os jogos, não passavam de promessas em ambas as consolas. Nessa altura a PS4 vendia melhor porque era mais barata ou quando tinha igual preço porque, efectivamente era mais potente. Mas a potência nunca foi o factor principal de vendas, apenas o foi nessa altura! A componente suporte e jogos é sempre o fator principal no sucesso de qualquer consola, e a relação qualidade/preço surge logo a seguir. Dado que nessa altura (2014) o suporte quantitativo era mera promessa em ambas as consolas, não havendo o factor jogos a separar, a relação qualidade/preço assumia por esse factor um relevância muito superior. Mas apenas nessa altura!
Infelizmente, e contrariando um historial passado notável com a 360 na vertente jogos, a Xbox One falhou aí logo no seu lançamento! A consola nunca foi apresentada como uma máquina dedicada a jogos! Foi apresentada como uma consola dedicada a TV e a multimédia… que pelo que se viu nos últimos minutos da apresentação, também corria jogos! Um tremendo erro de marketing.
A apresentação da consola durou uma hora, e apenas 20 minutos (1/3) foram dedicados a jogos. 40 minutos foram dedicados a funções TV e outras funções secundárias naquilo que quem ali se deslocou esperava ver… uma consola de jogos pura e dura! E esta primeira imagem foi marcante no mercado!
As políticas de DRM anunciadas e existentes também eram anti consumidor e queimaram a imagem da consola! Impedir os jogos usados, impedir a simples troca de jogos, tudo isso era um abalar de um mercado que estava definido à muito tempo e das expectativas do cliente. O mercado de Gaming estava a ser adulterado com situações que de diversão e jogo pouco ou nada tinham. Eram decisões comerciais, decisões monetárias, políticas de controlo e domínio. Um colocar dos interesses próprios à frente dos do consumidor. E perante uma concorrência que apresentava uma consola mais barata, e que correria os mesmos multi, sendo mais potente e livre de todos esses inconvenientes, acompanhada do slogan “For the players”… A Xbox One arrancou mal!
Basicamente, conforme exposto, dada que nessa altura os jogos não era uma realidade palpável e apenas mera promessa, os restantes fatores entraram em consideração… mas aí e só aí!
No entanto a Xbox recuperou! E recuperou quando Phil Spencer pegou na divisão e mudou as políticas ali existentes. Phil criou um conjunto de novidades que devolveram a Xbox ao desejado. Foi o fim do Kinect e das suas reservas, foi o deitar abaixo da ideologia demagoga e utópica da Cloud, relevando que ela se iria basicamente reduzir a servidores dedicados, e o anuncio de jogos, muitos jogos para a consola. Basicamente uma mudança da política que aos olhos do utilizador aparentava ser para aquilo que a consola deveria ser desde o início: uma máquina dedicada a jogos!
E a Xbox arrancou, e nós aqui na PCManias elogiamos muito essa atitude na altura!
Tal mudança permitiu o grande “boom” da consola! Porque era isso que se esperava da Xbox: que fosse uma consola… para jogos, e com o apoio da Microsoft por detrás, tal como a 360 tinha sido! E nesta fase inicial de Phil Spencer, tudo apontava que estavam reunidas as condições para que a Xbox pudesse brilhar nesse campo ao nível que sempre mereceu e que a 360 nos mostrou ser possível..
Mas aos poucos Phil Spencer foi borrando a pintura inicial. A Xbox apenas manteve essa imagem por cerca de ano e meio pois já com ele surgiram as promessas de alteração das performances com o DX 12 e que não aconteceram, o retirar os exclusivos da consola e leva-los para o PC e que retirou aos possuidores do PC qualquer interesse na consola, e uma série de outras políticas, de declarações e decisões de fecho de equipas de desenvolvimento First Party e cancelamento de jogos exclusivos que foram sendo tomadas, e que foram revelando que afinal a Microsoft, no seu essencial, não era a Microsoft que tínhamos conhecido com a 360 e que tanto suporte lhe deu.
Basicamente a Microsoft falhou ao não lançar a Xbox One com o conceito “jogos, jogos e mais jogos” em mente. E o seu historial mostra que actualmente, e para um futuro próximo, no que toca aos jogos pelos jogos, ela falha novamente. Pelo conhecido atualmente, com excepção de uma mão cheia de títulos e dos quais os AAA são super reduzido, podemos dizer que a Xbox apenas terá o que os outros também terão. E isto para 2017, pois daí para a frente pouco ou nada se conhece! Já os outros possuem uma lista consideravelmente extensa de grandes e desejáveis jogos que a Xbox não terá. Estatisticamente a realidade é dura: A Xbox One tem o pior suporte de sempre da história das consolas, e apesar de se poder elogiar outros serviços e outros pontos da consola, ela é a única marca onde isso acontece.
Os jogos que distinguem uma consola, que a definem, que a tornam desejável, e que a separam do resto… esses actualmente não estão na Xbox! A Microsoft cortou e cortou no suporte, cortou nas equipas, e actualmente praticamente colocou esse elemento separador de parte.
Mesmo que possam existir outros factores, esse é um dos motivos pelos quais a Xbox One X não atrai assim tanto público alvo como se poderia pensar! A consola realmente é um colosso de hardware, mas é lançada numa altura onde, mais uma vez, a plataforma Xbox está carenciada. E carenciada em que? No que realmente importa… os jogos! Uma realidade que, curiosamente a Microsoft reconhece, mas tardiamente, sendo que Satya Nadella abordou essa queixa dos fans sobre a falta de jogos na recente reunião com os accionistas da Microsoft.
Não vamos dizer que no que toca aos jogos multiplataforma a consola não valha a pena. Isso seria uma falsidade de todo o tamanho pois é nela que estes jogos correrão com os melhores visuais e até performances! Mas isso não impede que os jogos corram igualmente bem nas outras plataformas, especialmente a PS4 base que, sendo a consola mais vendida, é vista como a plataforma primordial de desenvolvimento. Com isso em mente, e sabendo-se que para se tirar verdadeiramente partido da Xbox One X (ou das consolas de meio de geração em geral) se torna necessário uma TV 4K, uma despesa extra e uma tecnologia ainda pouco implementadas nos lares de todo o mundo, o grupo de pessoas que realmente vê nos ganhos introduzidos nos multi, uma vantagem digna do custo elevado da consola, não se revela tão grande como desejado. E com os preços atuais da PS4, muito menos!
Basicamente a Xbox One X tem quase tudo para ser um sucesso, só lhe faltando aquilo que realmente conta, e que foi a causa do menor sucesso da One, o foco nos jogos! Não há nela os jogos que a distinguem, os jogos que a separam, os jogos que são feitos a pensar em tirar o total e absoluto partido da consola, os jogos que a tornam invejável e desejável.
Bem, aqui estamos a ser imprecisos, haver novos exclusivos até há… Não é exactamente verdade que a Xbox não tenha jogos exclusivos, porque os tem! Onde a consola falha é nos jogos AAA, em particular nos First Party, e no número de exclusivos no seu global. Comparar o conteúdo de um copo de água com a água presente no leito de um rio torna certamente válida a frase de que o copo “não tem água”, e é nessa perspectiva que se fala. Dado o número esmagador de títulos de qualidade da concorrência e que são exclusivos da sua consola, o que a Xbox apresenta é demasiadamente pouco para ser comparável.
Olhando para o passado vemos que a consola mais potente nunca venceu uma geração, e isso é justificado mais uma vez pela máxima: O gaming… é sobre jogos! O que importa são os jogos! Sempre foram os jogos! Havendo jogos, as consolas vendem! A Xbox One e a Xbox One X vendem porque possuem jogos que interessam a muita gente, a PS4 e a PS4 Pro vendem mais porque tem mais jogos e que interessam a muitos mais!
Por muito que isto possa chocar muitos, é assim tão simples! Porque o Gaming… por muito que tentem dizer o contrário… é sobre jogos! Apesar de o resto contar, este factor é o primordial. A performance ajuda a vender… sim! Mas os jogos são aquilo que diferencia as plataformas, e sem eles, mesmo o melhor sistema do mundo… não vale nada.
Vamos ver como serão as vendas das Xbox nos próximos meses…