NOTA: O ARTIGO QUE SE SEGUE É UM ARTIGO DE OPINIÃO DO NOSSO LEITOR/COLABORADOR JOSÉ GALVÃO, REFLETINDO A SUA PERSPECTIVA PESSOAL SOBRE O ASSUNTO EM CAUSA E PUBLICADO NO AMBITO DA NOSSA PARTICIPAÇÃO ABERTA DENOMINADA “OPINIÃO DO LEITOR”.
NOTE-SE QUE O ARTIGO E SEU CONTEÚDO É DA EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DO SEU AUTOR, NÃO REFLETINDO FORÇOSAMENTE QUALQUER OPINIÃO DO AUTOR DESTA PÁGINA..
———————————- Artigo do Leitor José Galvão ———————————–
Muito provavelmente, fui das primeiras pessoas a comprar a Xbox em Portugal, no único ponto de venda na cidade onde vivo, lá estava eu, e mais ninguém, pronto para gastar 496€ na consola de estreia da Microsoft, mais dois jogos, Dead Or Alive 3 e como não podia deixar de ser, o tão falado Halo: Combat Evolved.
Apesar de já ter a PS2 e a Dreamcast, a Xbox parecia-me diferente, era enorme, tinha um comando ‘’gigante’’, não precisava de cartões de memória porque tinha um disco rígido, e acima de tudo, os seus jogos eram visualmente mais apelativos e os géneros de jogos presentes no seu catálogo puxavam muito ao PC, era de facto uma consola com ADN de PC, e a experiência agradou-me imenso.
Quatro anos volvidos e lá estava eu no mesmo ponto de venda, novamente sozinho, desta vez para comprar a Xbox 360, versão Premium com um HDD de 20GB, com dois jogos, Project Gotham Racing 3 e Perfect Dark Zero.
Foi a minha estreia na anterior geração, a era da alta definição, mesmo sem ter uma HDTV, foi também a minha estreia absoluta no mundo do online, lembro-me da minha tremenda felicidade a jogar ao PGR3 contra ingleses, graças ao mês gratuito de Live Gold a que tinha direito por criar uma nova conta, lembro-me igualmente do meu espanto ao verificar não só que já não era preciso comprar revistas para ter demos, pois estavam ali mesmo à mão, como a possibilidade de comprar jogos na loja online, e do mundo de possibilidades que isso permitiria, porque só assim seria possível aceder a jogos como Geometry Wars, na realidade, estava perante uma das maiores inovações desde sempre na industria, pois acabou por mudar para sempre o meio, o que não sabia é que nem tudo seria uma mar de rosas, bem pelo contrário.
Desde cedo a Microsoft começou a impor restrições aos membros Silver. Queres jogar online? Paga.
Mais tarde foram as demos, as de jogos mais aguardados começaram a ser exclusivas dos membros Gold, até o simples navegar na internet era exclusivo Gold, e por incrível que pareça, era necessário ser Gold para aceder a outros serviços que por sua vez eram igualmente pagos como o Netflix, ou seja, aos poucos a Microsoft foi solidificando a cultura de, pagar agora pelo produto, para depois pagar mais para usufruir do produto, pelo qual já se pagou, e durante toda uma geração, o modelo de negócio da Microsoft foi um sucesso, tinha chegado ao fim a era em que o consumidor pagava pelo jogo, e usufruia do mesmo, agora tinha que comprar não só o jogo, mas igualmente a acesso a outras características do jogo, nomeadamente o modo multiplayer online.
Felizmente a Sony e a Nintendo, com as suas PS3 e Wii, decidiram não cobrar o acesso ao online, e se na PS3 ainda se podia jogar decentemente online, na Wii a experiência era algo arcaica, mas por muito que a opção da Sony me tivesse poupado imenso dinheiro no Gold, de facto a experiência Live Gold era melhor, argumento que permitiu à Microsoft lucrar imenso com um serviço que era mais que auto-sustentável, criando a ilusão nas pessoas de que só era possível jogar online com qualidade desde que fosse cobrado.
O modelo de negócio criado pela Microsoft, foi o primeiro passo para tornar o videojogo não num produto, mas num serviço, um serviço cujo potencial seria imenso, e de facto foi, porque não tarda muito, começaram a surgir todas as más práticas que se instalaram na industria, DLC excessivo, DLC no lançamento, DLC trancado no produto final, season pass, microtransações, saturação de géneros, etc.
Apesar da Microsoft não ser a criadora de todas estas más práticas, deu acima de tudo o exemplo, mau exemplo, deu a imagem de que é OK explorar um videojogo como serviço e consequentemente o consumidor, e deixou a porta aberta para mais más praticas, e pior, pratica-as todas, e nada personifica mais essa atitude que a Xbox One (XO), consola que tem dado que falar, ainda antes de sequer estar à venda.
Desde que foi revelada a XO, percebi o quão desesperada está a Microsoft, o mesmo desespero que levou a que tivesse um punho de ferro em relação ao Windows 8, o mesmo desespero nos últimos anos, causado pela paranóia que tem pela Apple e sua relevância, desespero esse que se reflecte igualmente na XO, um sistema criado de raiz para proteger a Microsoft de futuras ameaças imaginárias, quando na realidade só expôs a consola ao falhanço, correndo o risco de se tornar uma relíquia do passado.
A Microsoft conseguiu ir mais além do que eu previa, não lhe chegou tentar ser o centro das atenções na nossa sala de estar, tentou sim, competir com a nossa própria televisão, uma ideia incoerente, tendo em conta que uma XO precisa de um TV para funcionar, e uma TV dispensa por completo uma XO.
A Microsoft já estava a cimentar esta estratégia desde a 360, ao promover TV, desportos, TV, desportos, TV, desportos e mais TV streaming, mas eis o senão, a minha SmartTV, já faz tudo isso, e fá-lo mais rápido, de forma mais eficiente e melhor que a minha XO.
Estamos numa era em que já não precisamos de ‘’terceiros’’ para aceder ao Twitter, Netflix, TV streaming, web browsing ou música. Mas aparentemente a Microsoft tentou vender-me junto com a consola uma TV sem ecrã! Sim, com algo menos do que já tenho em casa.
Toda a filosofia ‘’One’’, inspirada na ideologia dos Senhores dos Aneis e o seu anel que dominará tudo, estava condenada à partida, um destino, um único centro multimédia, que foi apresentada como uma experiência unificadora, mas quando temos tablets, smartphones, smartTV’s e computadores a fazer o mesmo que a XO faz, a ironia é que em vez de unificar o nosso entretenimento, a Microsoft tenta desfragmentar esse mesmo entretenimento, competindo pela nossa atenção, em vez de complementar o que já temos e fazemos.
É evidente que a Microsoft vê para onde caminha o futuro e quer surfar nessa onda, só que já existem dispositivos melhores e mais especializados a fazer a mesma coisa, e a melhor aposta de uma consola seria o de encontrar formas de o complementar ao invés de tentar fazer o mesmo.
Estar à frente da curva não é o mais sábio para um sistema de videojogos. Temos ao longo dos anos exemplos diversos de consolas que tentaram andar à frente da curva e falharam, mas o mais flagrante é constatar que até hoje, à excepção da PS4, nunca a consola mais avançada tecnologicamente ou com mais serviços e inovações foi a que venceu a geração. E isso tem provado que o que importa é que a consola consiga especializar-se naquilo para que foi criada em vez de tentar ser um canivete suíço.
Com esta postura já de si a estreitar a sua base de consumidores, a Microsoft parecia contente em limitar ainda mais a sua base de utilizadores, correndo o sério risco de tornar a XO num produto apenas para os mais ricos e os mais priveligiados, mais ricos e priveligiados o suficiente para terem os gadgets que já fazem o que a XO queria fazer.
No evento de revelação da XO, a palavra de ordem era, TV, a palavra TV foi repetida uma e outra vez estando a empresa totalmente focada em apresentar a sua próxima consola como um sistema multimédia all-in-One, parte integrante desta estratégia era o kinect, aquela coisa que a Microsoft nos tentou impor na Xbox 360 e que se tornou parte integrante da experiência Xbox One, forçando o seu uso e com a promessa de que seria uma parte integral do sistema.
A Xbox One já tem quase 3 anos de mercado, e tornou-se bastante claro que o que a Microsoft visionava não era aquilo que era capaz de produzir, além disso todas as polémicas desde a sua revelação e lançamento pintam a Xbox One não como uma força de entretenimento all-in-One mas antes uma consola construída de promessas não cumpridas, desinformação e reviravoltas.
O kinect era alegadamente crucial para a Xbox One, a Microsoft fazia questão de mencionar que teria que estar ligado em todas as ocasiões, é claro que quem tem uma Xbox One já sabe que isso é treta, no entanto o peixe vendido desde o primeiro dia era o kinect era tão importante ao ponto da companhia estar suficientemente confiante em cobrar mais 100$/€ que a PS4 o que levou a que muitos estúdios como a Harmonix embarcassem em jogos exclusivos para o periférico, porque toda a gente com Xbox One teria o kinect, já não era um opcional e dispensável periférico…até que a Microsoft decidiu torná-lo num opcional e dispensável periférico…
Depois de atirarem devs como a Harmonix para a lama sem no entanto admitirem que iludiram acerca da realidade dos seus produtos, o tão crucial e indispensável kinect tornou-se de repente, bastante dispensável, passando a Microsoft a alegar que passava a oferecer a opção de escolha, ”graciosamente” permitindo aos seus novos clientes a opção de comprar uma Xbox One mais barata mas sem o big brother acorrentado.
Até hoje a remoção do Kinect só revelou ser vantajosa para a consola, mas não deixa de ser perturbador que a Microsoft de certa forma admita que nos impingiu algo desnecessário olhos nos olhos, alegando ser obrigatório, enquanto caiu nas boas graças de ter conseguido uma consola mais barata mesmo que baseada em algo que se confirmou não ser exactamente verdade.
Após ter remetido a categoria de videojogos para segundo plano, para fazer crer que a Xbox One era algo supostamente superior, a divisão Xbox acabou por, lentamente, rastejar de volta ás suas origens, reposicionando as suas conferências de imprensa para mostrar somente jogos, prometendo focar as suas energias no que realmente interessa, e alguns aplaudem-nos por isso esquecendo rapidamente quantidade de mentiras e treta que tentou sacar desde o inicio, como aquela tentativa de DRM, que tal como o kinect, uma ligação persistente sempre online era impossível não ter, era crucial para a funcionalidade do sistema e pura e simplesmente não era possível alterar isso, até que a Microsoft o fez, depois de defender o seu DRM, que era necessário, que era o futuro, acabou por tornar possível, o aparentemente impossível.
Sou da opinião que se deve admitir os erros e remediá-los, o que não tolero é a pouca clareza e engano sem um pedido de desculpas. Mas pior, tentar passar tamanha atitude como algo heroico, pois a remoção do kinect pela boca de Phill Spencer deve-se à ”dedicação” da Microsoft em proveito da escolha do consumidor, apesar de que nem por uma única vez se pediu desculpa pela companhia ter iludido os pioneiros que compraram a Xbox One e aos devs que suportaram o kinect. Nunca a Microsoft nos pediu desculpa por tratar os seus fans como cordeiros, pelas suas politicas DRM e afins, e até esse gesto de humildade e reconhecimento um dia acontecer, não me sinto inclinado a sentir-me grato pelos poucos ”favores” que a Microsoft nos tem feito.
Tudo isto leva a uma conclusão que só uma pessoa sã pode ter, a Xbox One é um produto destinado ao fracasso. Pode fazer dinheiro e a consola está a vender bem o que é bom porque muitos estúdios de qualidade estão a fazer jogos para ela e a competição no mercado é sempre algo positivo, mas tendo em conta o que a Xbox One era para ser, as vergonhosas reviravoltas que teve e a consola medíocre em que se tornou, a One é uma manta de retalhos de políticas que se alteram diáriamente.
A conversa do always online, kinect, cloud powered, all-in-One, foi tudo esventrado para se tornar naquela coisa em que jogamos Halo. Alguns podem achar-me injusto porque a Xbox One finalmente se tornoue no tipo de consola que posso apreciar, mas não estou a apreciá-la. Não estou a apreciá-la porque não gosto de me sentir engando, que me mudem a realidade das coisas constantemente ao mesmo tempo que tentam passar a estas medidas que só prejudicam o consumidor como um acto de nobreza e esplendor.
A Xbox One foi construída sobre marketing enganador, falhas que foram sendo corrigidas e terrivelmente prejudicada pelos conceitos iniciais. Não estou a dizer que mancha a qualidade dos seus jogos ou a torna numa consola absolutamente descartável, mas não a vou elogiar por fazer o mínimo expectável. Não depois de destilar marketing enganador meses a fio, e continua a fazê-lo, continua a mudar de filosofias, ideologias, como quem muda de roupa, ontem retirou o kinect e o DRM, hoje unifica a XO com o PC, amanhã acorda e percebe que não só não conseguiu monopolizar o mercado PC ideologia de se parecer como a Apple e o seu modelo de negócio, como ainda matou a marca Xbox. Mas até perceber isso, vai fechar mais estúdios como a Lionhead, cujo único pecado foi o de fazer o mesmo IP até à exaustão, conforme estipulado pela Microsoft, politica que impõe a todos os seus estúdios.
https://www.youtube.com/watch?v=2SWQpRxJqwo
Perante tudo isto, asseguro que, se soubesse o que sei hoje, nunca teria comprado a XO, comprei por impulso, deixei-me levar pelo preço convidativo, o meu amor pelos jogos falou mais alto, ignorei por completo os sinais, não dei ouvidos à razão, aquela voz interior que me dizia que estava a comprar uma consola pelos seus exclusivos, quando de facto, esses exclusivos, à excepção do muito promissor Quantum Break, não passavam de mais do mesmo, as mesmas velhas IP’s com outro número à frente.
Talvez não me tivesse apercebido que já não tenho paciência para mais um Halo, mais um Forza, mais um Gears, da mesma forma que já começo a ficar cansado de Fifa, PES, COD ou Assassin’s Creed, tudo jogos aparentemente planeados para cumprir o caderno de encargos da moda que saem de um qualquer departamento de marketing para satisfazer fantasias de poder adolescentes sobre a conquista de adversários, sem qualquer pingo de nuance ou maturidade, são a essência do mais banal videojogo, e aqui a Microsoft cumpre a sua quota, com Halo e depois Gears a darem-nos toda a violência gratuita e sem senso que poderíamos esperar.
Das três fabricantes de consolas, é a Microsoft a que mais aposta hoje num meio dominado por videojogos populistas e adolescentes. Não questiono o valor destes jogos como peças de entretenimento, mas questiono o seu valor artístico (nulo) por representarem a contribuição da Microsoft para o já curto portfólio iconográfico e temático do meio videolúdico, porque pelo menos uma vez na vida, discutamos videojogos em vez de franquias, orçamentos, tecnologia, acordos de exclusividade e modelos de negócio.
Os videojogos são arte? Uma coisa é certa: os deste lote da Microsoft não são. Mesmo séries reputadíssimas como Halo, Gears ou até mesmo o cancelado Fable, podendo ser vistas como campeãs de uma certa concepção lúdica de videojogo, figuram-se como objectos culturais paupérrimos, fruto de uma Microsoft que parece não ter a capacidade de fazer um jogo com uma história com principio, meio e fim, como alguns dos filmes, livros e videojogos do passado, que prescinde de ser revisitada diversas vezes, dignificando os jogos como arte em vez de olhar para os mesmos como navios enviados para as águas da mediocridade para voltarem carregados de dinheiro, ou como uma petrolífera que encontra óleo e explora até secar, e quando não houver mais formas para estender o IP para além dos seus limites, e a audiência já estiver farta, toca a pegar na ideia mumificada de uma outrora boa IP, e joga-a para a pilha de lixo onde jazem as outras vitimas, porque na ânsia pelo lucro ou por pura cobardia artística, não consegue viver sem uma fonte fiável de receita, não porque artisticamente seja o mais correcto a fazer, mas porque as Microsoft’s desta industria não conseguem viver sem franchises que precisam do infindável poço da aldeia que lhes dá dinheiro continuamente, e se não tiver pelo menos uma fabrica de sequelas, sentir-se-à nua, independentemente do mérito artístico.
Por muito que a possamos acusar a Sony de contribuir igualmente para alguma da ”repetição” que actualmente se vive na industria, ao menos consegue presentear-nos com projectos mais arriscados e consequente variedade, que é a forma saudável de se estar, podemos ter uma mistura de diferentes géneros imaginem só, não esta aproximação cega e amedrontada, perpetuada pela Microsoft, Ubisoft e Activision, a Sony também tem os seus Uncharted’s, os seus Killzone’s, claro, mas também tem a coragem de nos brindar com Heavy Rain e Until Dawn, pois percebe que pode fazer dinheiro de certos franchises e assim financiar outros projectos mais arriscados, pode ser feito, a Sony mostra que pode ser feito, mas no entanto quase ninguém parece querer fazê-lo, porque a atitude é, se é bom uma vez, será duas, três e mais uma dúzia de vezes, e sabem quem é que pensa assim? Crianças! Uma criança diz algo que faz os pais rir, e continua a repetir esperando o mesmo resultado, ás vezes a Microsoft parece que encara os videojogos como as crianças, conta a mesma piada até toda a gente parar de rir, e só então é que tenta material novo.
Em parte, nós, a audiência, também temos culpa, também somos como crianças que queremos ver os mesmos cartoons uma e outra vez, vemos um bom jogo e pensamos logo na sequela, nós os gamers olhamos para um jogo como o Alan Wake ou The Last of Us com uma grande história e que acabou de forma perfeita, e o que é que pedimos? Sequela? Sequela? Quando é que vamos ter a sequela??? Porque não sabemos dizer que já chega, o que acaba por tornar ainda mais difícil, criticar a cobardia artística de quem mina as suas IP’s até à morte, enquanto lhe damos colo.
Não quero com isto dizer que as sequelas são más, não sou contra sequelas, sou fã de Mário e Zelda, como posso ser contra sequelas? O que defendo é uma abordagem saudável na criação de videojogos, não esta atitude de tudo ou nada, sequela ou morte que me faz trepar as paredes, tudo de um, nada do outro, é esse o problema, um perigoso desiquilibrio, e é isso que eu detesto, o preto e branco, a inabilidade extremista de arriscar, uma tremenda falta de ambição, o mesmo extremismo que tornou os videojogos cada vez mais caros de se produzir, tenham os vossos franchises, tenham as vossas sequelas, mas ao menos considerem o mérito artístico de um jogo que simplesmente quer contar uma única história e acabar em alta.
Infelizmente não estou a ver o cenário a mudar, bem pelo contrário, a cultura da sequela parece ter vindo para ficar, entrámos num loop interminável de sequelas que se tem agravado geração após geração, provocando desgaste e saturação nos consumidores, não é à toa que Halo e Forza estejam a vender muito abaixo do esperado e que estúdios estejam a fechar. Para agravar ainda mais a situação, temos a praga das microtransações que serve de combustivel ao modelo pay-2-win nos jogos full price, e mais uma vez a Microsoft teve quota parte nisso, pois foi uma das que liderou a ”carga” no inicio desta geração.
Em abono da verdade, o line-up inicial da XO era pura e simplesmente implacável, Ryse: Son of Rome estava carregado de microtransações, bem como Crimson Dragon, Forza 5 teve que reajustar a sua economia após a revolta dos fãs, mas ainda assim, retém dezenas de carros que estão reféns de DLC enquanto sujeita o jogador à guerra psicológica que são as microtransações.
Com a sua line-up inicial, a Microsoft parece ter tentado educar os jogadores para um futuro onde 70€ apenas compra uma casca de um jogo, um mero método de exploração para mais conteúdo pago, e numa consola com a responsabilidade moral da XO, isso é simplesmente imoral, é imoral porque demonstra a gula de uma industria que está constantemente a proclamar pobreza, vejamos Forza 5, um jogo de 70€, com imensas quantidades de DLC, licenciado pela Top Gear, patrocinado pela McDonald’s, requer um serviço pago para jogar online e para uma consola patrocinada pela bebida energética Mountain Dew, esta é a realidade dos jogos AAA dos dias de hoje, uma total decadência financeira, uma indulgência digna de um império romano de que estas companhias gozam actualmente, companhias que se queixam de como os jogos são caros, enquanto sugam dinheiro de todas as fontes possíveis, espremendo mais e mais, até à ultima gota de sangue, ao mesmo tempo que tentam de todas as formas meter a mão nas nossas carteiras sem qualquer pingo de dignidade.
Mas de que vale a dignidade quando se está a fazer dinheiro certo? E quem é que quer saber do amanhã quando se está a fazer dinheiro hoje? É a atitude prevalente da nossa industria, e dos tolos corporativos que defendem estas práticas, porque o pay-2-win como conceito, está a fazer dinheiro agora, portanto ”bora” lá montar essa égua até à morte, que parece ser uma óptima ideia a curto prazo mas que vale zero a longo prazo, algo que estes CEO’s não percebem, porque esta atitude de ‘’vamos fazer dinheiro agora pois estou-me a borrifar para as consequências no futuro’’ é irresponsável, a mesma irresponsabilidade que levou ao crash da industria nos anos 80, e que vai levar à ruína de algumas companhias, como aconteceu com a THQ, (inventores do online pass) um exemplo recente que serve de aviso.
Quero acreditar que estes problemas vão acabar por se corrigir, eventualmente o excesso e inconsciência da industria vai criar uma revolta, porque eventualmente estas companhias serão castigadas pela sua decadência por cometerem as mesmas proezas, uma e outra vez, porque simplesmente não podem cometer os mesmos erros do passado, esperando resultados diferentes e positivos no futuro, mas estão na ilusão de que o mercado de massas é complacente, que compra tudo, o que é verdade, até um certo ponto, e quando deixar de o fazer, será de forma repentina e chocante, conforme a Microsoft está a começar a perceber, dai virar-se para o PC, embora não perceba que está a cometer exactamente o mesmo erro que cometeu com o ‘’Games For Windows Live’’, só que com contornos potencialmente mais gravosos, só quando for tarde demais é que vai perceber que a bolha de domínio em que quer encarcerar o PC, não será mais que uma incontinência que correu mal nas cuecas do avozinho!
———————————- Fim do artigo do Leitor José Galvão ———————————–
NOTA: O ARTIGO QUE ACABARAM DE LER É UM ARTIGO DE OPINIÃO DO NOSSO LEITOR/COLABORADOR JOSÉ GALVÃO, REFLETINDO A SUA PERSPECTIVA PESSOAL SOBRE O ASSUNTO EM CAUSA E PUBLICADO NO AMBITO DA NOSSA PARTICIPAÇÃO ABERTA DENOMINADA “OPINIÃO DO LEITOR”.
NOTE-SE QUE O ARTIGO E SEU CONTEÚDO É DA EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DO SEU AUTOR, NÃO REFLETINDO FORÇOSAMENTE QUALQUER OPINIÃO DO AUTOR DESTA PÁGINA..