A desculpa é a grande evolução da tecnologia. Mas será que é esse o real motivo?
Há certos argumentos que não convencem. E isso porque não estamos a falar de empresas que estão alheias à evoluções tecnológicas, mas sim empresas que sabem perfeitamente o que contar. Daí que a desculpa da rápida inovação tecnológica pode ser uma desculpa para gerações mais curtas, mas não para o que se pretende implementar.
Sim, Sony e Microsoft não são exatamente duas empresas sem contactos ou raízes na industria do hardware, pelo que acreditar que não possuíam, quando do lançamento das suas consolas, uma noção do que o mercado é ou virá a ser é quase impossível.
A Microsoft é um dos maiores gigantes mundiais da industria do software, com ramos que se estendem ao hardware e ao fabrico de computadores. A empresa não só está enraizada na área da tecnologia, como possui contactos prviligiados junto dos seus parceiros
A Sony, apesar de neste momento estar desmembrada, foi o maior gigante da electrónica do mundo, e ainda hoje possui contactos e ligações à industria como poucas empresas possuem, sendo que a empresa se desfez da sua divisão de computadores não faz assim tanto tempo.
Isto quer dizer que, quando Sony e Microsoft resolveram lançar as suas consolas PS4 e Xbox One sabiam perfeitamente que as mesmas partiam atrasada face ao PC. Aliás sabiam igualmente que o fosso para o que o PC pode oferecer não será nunca mais alcançado ou ultrapassado a não ser que as consolas possuam um custo abismal, e que o mesmo aumentaria a cada ano que passa.
Nesse sentido, PS4 e Xbox One não foram fracassos. Foram o melhor que era possível obter-se na relação qualidade preço desejada. O mundo encontra-se ainda hoje numa situação de crise, com a maior parte dos países a debaterem-se para não ultrapassarem determinados défices, e com as políticas internacionais a apertarem cada vez mais no sentido de que tal não aconteça, penalizando mesmo os não cumpridores. E nesse sentido, a relação qualidade preço das consolas Xbox One e PS4 foi efectivamente do melhor que era possível obter-se.
Mas eram estas consolas fracas?
Na realidade… Não! Podiam ser mais potentes? Sim! O PC pode fazer melhor? Sim! Muito melhor? Sim! Muito, muito melhor? SIM!
Mas a realidade que vemos é qual? Apresentem-me um jogo no PC que supere aquilo que Uncharted 4 faz na Playstation 4!
Não é que o PC não possa ter jogos superiores a Uncharted 4. Porque pode! Aliás o PC possui neste momento potência que só estará disponível nas consolas lá para o Uncharted 6 (se é que alguma vez existirá algum outro jogo da série). Mas aquilo que vemos é que ela se perde por dois principais motivos (note-se que falamos da realidade pré DX 12, e na altura dos lançamento das consolas, e não necessáriamente do que virá por aí para o futuro).
- Ninguem usa a potência toda do PC uma vez que o PC não é um hardware fixo, mas sim uma multiplicidade de máquinas com potências diferentes, sendo que os topo de gama são uma fatia pequena do bolo.
Nesse sentido, dado que o investimento de um jogo obriga a um número elevado de vendas para ser compensatório, há que se apontar para máquinas muito mais fracas. E a realidade do PC é bem diferente daquela que nos querem fazer crer! Sim, há máquinas muito potentes. Muito potentes mesmo! Mas são apenas uma percentagem pequena, com a maior parte das máquinas a apresentar grandes desiquilíbrios a nível de CPU/GPU.
Alguém se recorda de um inquérito do Steam com estatísticas para o ano de 2015 e que mostrava que 61,93 dos utilizadores usavam o seu PC em resoluções abaixo dos 1080p? E que apenas 34,72% usavam 1080p? E que a percentagem de utilizadores que trabalhava acima disso era de apenas 3,64%? E que 4K eram apenas 0,07%?
Esta situação só prova a realidade PC. E é bem diferente da que muitos tentam pintar quando falam das suas mega máquinas. - O hardware PC é extremamente diversificado, com centenas de milhões de combinações e mesmo arquitecturas internas de hardware possíveis. Tal impede optimizações específicas e obriga a código genérico, desaproveitando assim muita da performance existente (o que não invalida a frase introdutória destes pontos)!
Resumidamente, as consolas, apesar de muito menos potentes, apresentavam grandes vantagens face ao PC! E daí que os resultados que apresentam, com o hardware devidamente puxado ao máximo, são impressionantes.
E o mercado sabia disso! Tanto que sabia que a PS4 vendia a um ritmo que igualava ou mesmo superava a consola de maior sucesso da Sony, a PS2. Do lado da Microsoft a empresa tambem dizia à boca cheia que a One vendia mais do que a 360!
Resumidamente o mercado aceitava as consolas com as suas virtudes e defeitos. E não requeria verdadeiramente novas consolas tão cedo, apesar de haver a consciência de que esta geração teria forçosamente de ser mais curta devido ao rápido avanço da tecnologia presente no PC.
Mas então porque se resolveu lançar novas consolas?
A resposta está à frente de todos! Basta rever o passado!
- A Xbox One é apresentada. A apresentação é extremamente decepcionante com a consola a apresentar escolhas e políticas iniciais terríveis. Destaca-se a presença de DRMs, um custo elevado devido a um Kinect que era mal visto pelo público mais hardcore, menos performance que a consola oponente e uma grande enfase em funções TV. Até o nome da consola, Xbox One, dado por a Microsoft pretender que este fosse o único sistema multimédia que seria preciso para uma sala de jantar, foi polémico por ser incoerente face à consola anterior.
- A PS4 é apresentada. Mais potente, mais barata, sem restrições, e uma consola pensada para ser consola.
- O público vota com a carteira. A Xbox One é batida no lançamento pela PS4 em todos os países do mundo, incluindo nos EUA. A PS4 arranca bastante forte!
- As escolhas da Microsoft para a consola, graças a um conceito de TV que esteve na origem do nome polêmico, como o uso da eSRAM que forçaram inclusive ao corte no número de Compute Units do GPU, mostram-se problemáticas no lançamento. Alguns jogos saem a 720p na Xbox One e 1080p na PS4!
- A XBox One continua a vender abaixo da PS4. A Microsoft começa a esconder os números de vendas trocando-os pelos números de consolas despachadas.
- A Microsoft aposta numa campanha de Marketing associada à Cloud e como a sua consola é “Cloud Powered” e como a Cloud pode trazer até 13x a performance da Xbox One aos seus utilizadores.
- A Cloud “não cola” pois a Microsoft não tem nada para apresentar e a tecnologia Cloud ainda está a dar os primeiros passos.
- As vendas da PS4 continuam a bater as da Xbox One e a margem alarga-se. Com excepção do mercado Norte Americano a Xbox não compete em vendas com a PS4.
- A Microsoft resolve então abandonar o Kinect de forma a libertar recursos da sua consola, e aproximar mais a mesma da PS4.
- As vendas da Xbox continuam em baixa face às da PS4. A Microsoft aposta então no DirectX 12, um API pedido à anos pela AMD e que a Microsoft não criava, tendo levado a AMD a criar o Mantle. Na altura não se sabiam os planos da unificação com o PC, mas eles já estavam definidos.
- A Microsoft deixa de indicar números de consolas despachadas. E começa a indicar ativações no Live e horas de log-in.
- De forma a alargar o alcançe da Xbox, e dadas as fracas vendas da consola face às da Sony, a Microsoft passa os exclusivos Xbox One para o PC. Anuncia o fim da Xbox como uma consola e cria a plataforma Xbox baseada no UWP.
- A criação da plataforma Xbox tem como vantagem a oferta dos exclusivos consola, mas igualmente performances de topo para quem possui bons PCs. A situação começa a pesar e muitos jogadores aderem à mesma graças os seus PCs, negligenciando as consolas. A situação não afeta verdadeiramente a Microsoft, mas ataca o mercado da Sony (ver ponto seguinte).
- Surgem os rumores de uma consola Playstation mais potente em desenvolvimento. Fugindo da cronologia, sabemos agora que, segundo Andrew House, a consola foi concebida porque a Sony se apercebe da fuga de jogadores para o PC, algo que se torna mais atrativo com os exclusivos Xbox nessa plataforma. Sabemos igualmente agora que a consola efectivamente existe. Esta consola, com o nome de código Neo, oferecerá performances melhoradas de forma a segurar os jogadores mais exigentes.
- A Microsoft reage aos rumores, e anuncia a sua Scorpio.
E este é o ponto onde estamos.
Basicamente, como se torna claro pelo historial, as novas consolas não estão a ser lançadas porque as consolas sejam fracas. Estão a ser lançadas no seguimento de acções empresariais de acção-reacção de duas empresas que lutam pelo mesmo mercado, em particular da Microsoft que, naturalmente, como a empresa que menos vende, tenta diversas metodologias para alargar o seu mercado. Não há aqui uma verdadeira preocupação com o consumidor, ou com o servir melhor. O que acontece é que a Microsoft mexeu-se porque todo o seu historial passado a colocou por baixo, e daí e criou a plataforma Xbox. E a Sony mexeu-se com a Neo para não sair de cima e não perder clientes perante esta introdução do PC. E a Microsoft mexeu-se novamente apresentando a Scorpio para garantir que a Neo não matava as vendas da Xbox definitivamente ao ser lançada antes.
Mas independentemente da precisão do historial passado, basicamente o que se quer que se perceba é que o que temos aqui é uma guerra empresarial, e não um pensar no cliente. Não se iludam pois ninguem nos quer oferecer melhores serviços ou consolas, ou está sequer preocupado com a evolução tecnológica. O que ambos querem é garantir que ficam por cima nesta guerra, e devido a isso o que podemos esperar?
A continuação desta situação de acção reacção.
Infelizmente, mesmo com Neos e com Scorpios, a realidade que vemos agora na PS4 e Xbox One face ao PC não se vai alterar. Estas novas consolas usarão hardware novo e serão mais potentes, mas o PC tambem receberá hardware novo pelo que o fosso… esse vai-se manter.
Daí que sem que consolas de nova geração sejam verdadeiramente uma solução para o problema, com elas o que no futuro teremos são consolas que se vão atualizando, mesmo que mantendo a compatibilidade com os modelos anteriores (e esse veio para ficar). Tal situação não será boa para o utilizador que se vê obrigado a optar por ficar com um modelo de menores performances, ou investir a cada atualização.
Mas o pior é que vivemos numa era onde as performances contam. O que vemos são discussões constantes sobre diferenças de resoluções e fotogramas que dividiram a comunidade Gamer entre marcas. E isto não era algo que existisse nos primórdios onde o discutido era o jogo e não a plataforma onde corria. E esta tendência que termina com as gerações mantendo mais do que uma consola activa vai criar a divergências e divisões mesmo no interior da mesma marca quando os utilizadores se aperceberem que a guerra das palavras relacionadas com a performance está a acontecer entre utilizadores da mesma marca e não de marcas diferentes.
Os que possuem a consola mais fraca vão-se queixar das performances, e os da mais rápida vão-se queixar que a consola está a ser limitada por conceitos de jogo base que necessitam de ser concebidos a pensar numa consola mais fraco. Tal e qual como acontece com os motores multi plataforma que abrangem várias gerações de consolas.
É, como tem vindo a ser dito constantemente, uma alteração grande ao que existia antes. Haverá quem goste, haverá quem não goste. Mas o problema é que estamos a mexer numa base que antes era uniforme e concordante e a criar divisões no meio desta. Ou seja, o que para aí vem, e as reações do mercado, por ser algo inédito, é algo que ninguém pode prever, pelo que teremos de ir andando e vendo.
Mas fica a pergunta: Porque motivo não se esperou mais um ano e se lançou uma nova geração? E a resposta e simples. Porque com uma nova geração certamente haveria novamente uma consola mais fraca e uma mais potente, e essa realidade teria de se manter por toda a geração. Desta forma ninguém fica por cima ou por baixo por muito tempo pois ambas as empresas vão respondendo uma à outra com modelos mais potentes. É algo que lhes interessa a eles! Só não nos interessa verdadeiramente é a nós que teremos de investir nas mesmas caso as queiramos manter atualizadas.