Acabou… custou, mas finalmente chegamos ao final de Mass Effect, e à semelhança de muitos milhares de utilizadores, conforme temos vindo a noticiar, o final a que tivemos direito não nos agradou nem um bocadinho.
Ao longo de todo este tempo temos vindo a referir o desagrado dos fans com o final de Mass Effect, mas a realidade é que tentamos evitar ler muito sobre o assunto de forma a que o nosso jogo não fosse estragado. Assim, apesar de termos conhecimento do descontentamento, não sabíamos exactamente os motivos que levavam a tal, pelo que tentamos fazer o melhor jogo possível de forma a conseguirmos um bom final. Mas quando lá chegamos… oh decepção das decepções…
AVISO: DAQUI PARA A FRENTE SERÃO REFERIDAS SITUAÇÕES QUE REVELAM PORMENORES DA HISTÓRIA QUE PODEM ESTRAGAR A EXPERIÊNCIA DE QUEM AINDA SE ENCONTRA A JOGAR O JOGO.
A Trilogia Mass Effect tem alguns pontos com semelhanças a Star Wars, nomeadamente o facto de o seu primeiro jogo parecer algo separado de tudo o resto. Tal foi uma realidade com o Episódio IV de Star Wars (o primeiro a ser filmado), onde o filme possui um início e um fim, quase podendo ser visto independentemente de toda a série. Mass Effect 1 tambem foi assim, com a destrição do Sovereign à semelhança da Death Star,.
Curiosamente Mass Effect 2 inicia-se com a Morte de Sheppard, e quando tudo parecia apontar que o mesmo era uma carta fora do baralho, eis que o heroi é ressuscitado pela ciência para dar continuidade à história, iniciando assim uma continuidade à série que, em Mass Effect 2, cria tremenda empatia com os fans graças aos diversos laços de amizade criados com personagens das mais diversas raças.
Por esse motivo, não será de estranhar que numa votação recente os fans deram a sua preferência a Mass Effect 2 como sendo o melhor jogo da Trilogia, seguido por Mass Effect 1, e com o terceiro volume a aparecer em último nesta lista. Um bocado como Star Wars onde muitos consideram o episódio V (o segundo a ser filmado) o melhor da Trilogia original.
Mas o que se passou com Mass Effect 3 que levou a toda esta situação de descontentamento? Será que o terceiro jogo justifica ser considerado o pior uma vez que acaba por ser o mais recente e o que mais envolvência poderia oferecer?
Pois bem, agora que acabamos o jogo podemos analisar e perceber o que se passa.
Mass effect 3 é um jogo extraordinário, e com uma envolvência fantástica que em certos momentos atinge uma magnanimidade fantástica, superando tudo o que vimos antes nos videojogos. Para quem acompanha a série desde o seu início, Mass Effect 3 possui certas sequências que são um apogeu de acções do jogador e que chegam a a transmitir um grau de satisfação que chega a ser marcante. É o caso quando vemos personagens nobremente a sacrificar a sua vida por um bem maior, como Mordian que se sacrifica para espalhar a cura para o genophage que impede os Krogan de se reproduzirem.
Toda a cena posterior, com os Krogan a mostrar que afinal não são os animais que se julgava serem, bem como a própria missão que mostra um planeta que fora outrora belo e que agora os Krogan, libertos desta maldição que os assolara, pretendem que volte a ser, são deveras tocantes, e um dos pontos altos de toda a série.
Da mesma forma quando Sheppard consegue unir os Geth e os Quarians, pondo fim a uma guerra entre as duas raças, trazendo uma paz inesperada para essa zona da Galaxia, temos igualmente um outro ponto alto.
Mas graças à liberdade de ações permitidas por Mass Effect, Sheppard pode não agir nesse sentido. Durante todo o jogo, começando logo em Mass Effect 1, Sheppard toma decisões que podem ser vistas como tomando partido por um lado bom, ou um lado mau, e que dão pontuação às suas características de Paragon (que não tem tradução para português, mas está associado à perfeição), ou Renegado, sendo que há escolhas possiveis que resultam em resultados diferentes. E seria assim expectável que os diversos caminhos e escolhas levassem a um final diferente.
Mas Mass Effect 3, apesar dos seus momentos magnânimes, destrói tudo o que foi feito para trás. Para começar, as personagens que viemos a conhecer e a ter como amigos em Mass Effect 2, existem em Mass Effect 3 quase como adereços, ou para servirem de mártires para uma causa maior. Com excepção de Miranda Lawson, que gostaríamos de ver neste jogo com um papel de maior relevo, todas as restantes personagens que conhecemos em Mass Effect 2 estão reduzidas a essa situação, e mesmo Miranda pouco ou nada aparece neste último episódio, apenas merecendo destaque pelo facto de o seu papel ser um pouco mais espalhado pelo jogo.
E é aqui que o ME3 começa a decepcionar, pois quando esperavamos uma continuidade do segundo jogo, verificamos que as personagens secundárias que conhecemos são quase meras referências em Mass Effect 3, não havendo assim uma continuidade do jogo anterior.
Mas o pior é que, quando confrontados com o final apercebemo-nos da realidade dura e crua: Independentemente de tudo o que fizemos para trás, de termos salvo ou não as diversas personagens cujo destino pende nas nossas decisões, de termos ou não unificado as raças em guerra, de todas as decisões dos jogos anteriores, e da quantidade de recursos bélicos que conseguimos alocar para a batalha final, o/os final/finais disponível/disponiveis, é/são sempre em quase tudo idêntico/idênticos.
Salvar as personagens, pacificar a galáxia, unificar os poderios bélicos das raças… tudo o que tanto ponderamos nas decisões e que sempre tomamos como sendo relevantes, não é verdadeiramente importante para o resultado final que é exactamente igual em 95% dos pormenores sejam quais forem as escolhas do jogador, quase apenas alterando as cores do raio final que é disparado, para o término do conflito contra os Reapers.
E com o nosso caso, em que terminamos o jogo com uma pontuação que não deverá andar muito longe do máximo possível, com 6780 pontos de recursos bélicos recolhidos, e uma prontidão galáctica de 100%, o que correspondia a uns recursos eficazes idênticos aos recolhidos, confirmamos que os três finais que podemos escolher, apesar da escolha moral ser completamente diferente, levam a três finais em tudo idênticos.
No final, e apenas dependente da pontuação bélica recolhida e não das consequências das nossas acções ou caminho tomado (bem ou mal), poderíamos controlar os Reapers, poderíamos fundir os sintéticos e orgânicos, ou podíamos destruir toda a vida sintética na galáxia. Mas independentemente do que fizermos o final será o mesmo, com um raio de cores diferentes. O “Crucible” dispara, os Reapers são destruídos ou param de lutar, os Mass Relays são destruídos e a Normandy luta apara escapar, despenhando-se num planeta onde acabamos por ver as personagens sobreviventes a sair para o exterior. E é tudo!
Mas e os Quarians e os Geth? De que valeu a unificação? E a cura para o Genophage foi a correcta? Valeu a pena salvar as personagens conhecidas? Ou será que todas as consequências das minhas decisões apenas serviram para amealhar pontos para os recursos bélicos? E ainda por cima o seu valor é irrelevante pois dada a existência do Galactic Readiness obtido por intermédio do MultiPlayer, um jogador que o jogue precisa de 5000 pontos para obter todos os finais. Quem não o jogue, mesmo com 7000 pontos apenas obtém 50% desse valor. É a deturpação total do jogo.
É que se as personagens principais morreram em Mass Effect 2, Mass Effect 3 será igualzinho, mas em vez dessa personagem outra aparecerá no seu lugar, repetindo-se os eventos tal e qual. Parece por isso irrelevante, excepto nos pontos atribuidos pela sua presença, se as salvamos ou não! E curar o genophage, salvar o conselho, salvar a base de misseis, unificar os Geth e os Quarins, em que resulta? Mais ou menos pontos?
Infelizmente Mass Effect 3 parece resumir-se a isso. Salvar ou não salvar as raças, pacificar a galaxia ou não, tudo parece resumir-se a pontos para a pontuação final, mas pior ainda a própria pontuação pouco ou nada parece interessar dado que os finais acabam por dar todos quase no mesmo.
Para além do mais, o final de Mass Effect 3 deixa mais dúvidas no ar do que responde a questões. O que acontece ao universo face às nossas acções? É que com a destruição dos Mass Relays pouco ou nada interessa se as raças estão em paz ou em guerra entre si, uma vez que as viagens interplanetárias deixam de ser possíveis e como tal as raças nunca mais se verão.
Mas e mesmo os Mass Relays, como é que eles são destruídos? No Codex de Mass Effect dizia que os mesmos eram indestrutíveis e que caso fossem destruídos destruiriam igualmente a galáxia onde se inseriam… Como é que agora os mesmos são destruídos e sem outras consequências?
E as diversas raças, o que lhes aconteceu? Em que estado ficaram após a guerra? E todas as espécies e milhares de naves que se deslocaram para a batalha final na terra, com raças de todos os cantos do universo, o que lhes aconteceu? Sem os Mass Relays terão ficado presas para sempre na Terra, mas como é que a Terra os sustenta se está sem recursos e destruída pela batalha com os Reapers?
E as personagens nossas conhecidas, morreram todas na batalha? Quem sobreviveu? Quem morreu. Ah sim , e dado que a batalha era no nosso sistema solar, em que planeta é que a Normandy caiu (o planeta tem vegetação e vida)? E como é que lá foi parar se ela estava numa batalha em orbita da terra?
A verdade é que, independentemente do que se faz, o jogo acaba da mesma forma. Sheppard morre (apesar de o melhor dos finais dar uma pequena indicação de que poderá estar vivo), os Reapers desaparecem, os Mass Relays desaparecem, e a Normandy despenha-se no tal planeta. Curiosamente no melhor final, o corpo de alguem que se pensa ser Sheppard aparece rodeado de destroços, sendo que, aparentemente, estamos perante restos de betão e pedra, nada condizentes com o interior da Cidadela, todo ele em aço, o que ainda levanta mais questões.
Seja como for, num jogo onde as nossas decisões deveriam moldar o final, parece-nos que andamos aqui estes anos todos a encher chouriços. E isso torna Mass Effect 3 numa desilusão de todo o tamano, revelando-se quase frustrante todo o tempo dispendido no mesmo!
Deixamos de seguida um vídeo com os finais possíveis que mostram bem que basicamente em 95% do final só as cores do raio é que mudam, sendo que as dúvidas que se levantam não são respondidas em nenhum dos casos.