Se a ideia das entidades reguladores é verificar se há ou não vicio de mercado e a possibilidade de monopólio, o conteúdo deste artigo é algo que não pode deixar de ser analisado.
Sinceramente nem é meu desejo ou deixa de o ser que a Microsoft adquira ou deixe de adquirir a Activision. O mercado é aberto, as compras e aquisições são uma realidade, e a compra da Activision não é mais do que uma fusão de uma mega corporação com outra. Claro que é algo que apenas está ao alcance de uma empresa como a Microsoft, mas até aí, nada de anormal, uma vez que as coisas são o que são.
E nesse aspeto, desde que a situação não configure uma situação que possa alterar os pratos da balança do mercado, usando o seu poderio económico para tomar controlo do mesmo, e aniquilar a concorrência, nada de mal nisso. Aliás, sendo a Microsoft terceira neste ramo, e isso não se alterando a nível contabilístico com esta compra, negar a mesma seria dar de bandeja uma prenda à concorrência.
E o que tem vindo a ser referido é isso mesmo, que com esta aquisição, a Microsoft continuará, a nível de receita, atrás da Sony e da Tencent.
No entanto, o que estamos a ver é que a divisão Xbox não está a funcionar de forma estanque. Mesmo sem se conhecer os seus lucros, é quase consensual junto dos analistas que dificilmente a Xbox terá gerado em toda a sua existência lucros num valor próximo dos 75 biliões de euros (lucros, não receita), e como tal, a aquisição não estará a ser feita com dinheiros vindos da Xbox.
Não que isso seja um problema ou algo anormal. A Microsoft é uma empresa com diversos ramos de atividade e não tem porque forçosamente ter as suas divisões estanques a nível financeiros. Não há nenhuma lei ou obrigatoriedade quanto a isso!
No entanto esta situação deixa aqui um cenário em aberto que não é exatamente agradável, e que por esta ser uma empresa em particular, a Microsoft, que é das empresas mais valiosas e mais poderosas do mundo, com um poder económico larga vezes superior ao somatório do das suas concorrentes, até já podermos estar a ver a acontecer. Mas uma empresa na qual, os lucros da divisão são desconhecidos.
Como já dei a conhecer em diversos artigos, não será de estranhar que a Microsoft em breve venha anunciar que o seu Gamepass possui mais utilizadores do que os anteriormente anunciados 25 milhões. E os motivos são já do conhecimento de todos… basicamente, a Microsoft está a dar o serviço!
Há threads e threads em foruns sobre como se conseguir o Gamepass de forma gratuita ou muito mais barata.
Desde os Microsoft awards, que permitem obter o serviço de graça apenas por usar as aplicações da Microsoft, a campanhas diversas, acumuláveis, que permitem aderir por 3 meses por um euro, e renovar novamente no final por mais 1 euro por mais três meses e, sem se conhecer limite de renovações.
Fora isso há outros esquemas, como a compra de 3 meses de live gold a algo na ordem dos 8 euros, que podem acumular, e ainda receber tempo extra de serviço como oferta, ao se aceitar a renovação automática, algo que pode ser contornado com a colocação de um cartão de crédito que na data de renovação será já inválido, e beneficiando assim da oferta sem possibilidade de posterior cobrança.
E como foi já citado neste artigo, com um exemplo real e conseguido sem qualquer burla ou hack, mas apenas usando o que oficialmente está à disposição, há quem esteja a conseguir renovar por 3 anos, pagando apenas cerca de 2,2 euros por mês (2 libras).
Este esquema não é no fundo diferente do que sempre existiu, e que permitia assinar por 3 anos pagando cerca de 180 euros, em vez dos 540 que o serviço deveria custar. A diferença aqui é apenas que em vez de se comprar três vezes o serviço anual, se compra 9 vezes o serviço trimestral, o que dá direito à oferta de 9 meses adicionais com a renovação automática, pagando-se assim pouco mais de 80 euros por um serviço que deveria custar 540.
Ora não se pode alegar que a Microsoft não tem conhecimento destas situações… porque as tem, quer contabilisticamente, quer porque elas já duram à mais de 4 anos, são do conhecimento publico e faladas abertamente em qualquer fórum, e porque nada é feito para as parar. A Microsoft está mais interessada em poder dizer que o seu serviço está com XX milhões de assinantes do que com as verdadeiras receitas ou lucros. E nesse sentido, sem a divulgação dos mesmos, qualquer pessoa minimamente capaz de pensar por si tem se questionar se o serviço não está a ser subsidiado, com a Microsoft a cobrir as perdas.
Se um Netflix com 270 milhões de assinantes está com problemas em manter um serviço de 16 euros mês, como consegue a Microsoft ter lucros com 25 milhões de assinantes onde uma percentagem (não me vou atrever a dizer se é grande ou pequena), não paga o que deveria. E sim, os jogos AAA são tão ou mais caros de se produzirem que as séries de grande orçamento, sendo que o Streaming (incluído no serviço) tem custos bem maiores que o simples armazenamento de jogos ou filmes.
E é aqui está o real risco para a industria dos videojogos. Porque caso haja realmente aqui financiamento, e a Microsoft esteja a sustentar este serviço com ous seus grande lucros de outros segmentos, este tipo de atitude pode e deve ser encarado como anti concorrencial, e algo que pode piorar tremendamente com uma aquisição como a da Activision, onde mesmo que os jogos possam aparecer nos serviços concorrentes, essas empresas não podem estar a absorver prejuízos da mesma forma que a gigante Microsoft, e consequentemente terão de vender esses jogos a preço inteiro (80 euros), quando a Microsoft basicamente os dá a clientes que não pagam ou pagam tão pouco como 2.2 euros por mês. E esta situação pode levar a concorrência a ter de abandonar o negócio, dando assim o monopólio à Microsoft.
Recorde-se que por algo do género, os reguladores já ponderaram em tempos dividir a Microsoft em empresas mais pequenas.
E esta situação é algo que temos de encarar, no mínimo, como algo que pode ser possível de acontecer!
Ora sendo as atitudes monopolistas os alvos de foco das entidades reguladoras, quer-nos parecer que uma análise a toda a contabilidade do negócio da Xbox se torna necessária, de forma a se esclarecer como é que a Microsoft consegue perder vendas de um (1) jogo a 80 euros para passar a ter clientes a pagar tão pouco como 24 euros por ano, não por um jogo, mas por toda a oferta de jogos anual do serviço (+ de 300). E isto deveria não só preocupar as entidades reguladoras, mas igualmente todos os produtores de jogos do mercado, estejam estes presentes no Gamepass ou não.
E esta questão merece uma resposta, sob pena de os reguladores poderem falhar e acabarem por revelar que, afinal, a sua existência não se justifica por não funcionarem.
Este procedimento seria apenas uma simples verificação da contabilidade. Não havendo aqui nada deste género, a compra não deverá ter porque não ser aprovada, mas caso contrário, caso se comprove que a Microsoft está a usar o seu poderio económico para sustentar um negócio não lucrativo e que os outros não podem manter da mesma forma, a compra deverá ser barrada. Alternativamente a mesma poderá ainda ser aprovada, mas dentro das regras reguladoras terá de surgir o impedimento de a Microsoft impedida usar os IPs da Activison cedidos a terceiros neste tipo de serviços.
Basicamente o não pode acontecer é pura e simplesmente ignorar-se este risco, acreditando apenas na boa vontade e bondade da Microsoft. Aliás, questiona-se mesmo se, caso haja absorção de prejuízo, ou quebras grandes de receitas, se este tipo de negócios, justificado como um investimento, se revela concorrencialmente correto face às leis anti-trust..
Como sempre, teremos de acreditar que s instituições existem para funcionar, e que caso tudo passe sem qualquer atuação, é porque o risco efetivamente não existe.
Bem a justificar os lucros só aos acionistas diz direito, no entanto os reguladores devem ter acesso á declaração de impostos.
Mas no ponto de vista pessoal, o dinheiro investido daria para criar diversas equipas e produzir vários jogos em simultâneo e com todas as condições e mais algumas para produzir bons resultados. Acho que o interesse neste negócio será mais pelas propriedades intelectuais que por si só geram bastante dinheiro, o objetivo será apenas econômico e penso que a ideia de exclusividade nem estará em cima da mesa para já, pelo menos enquanto não se pagar o negócio.
Estas empresas querem dinheiro, não se importam minimamente de onde ele vem.
Não é justificar os lucros… É verificar se o negócio não está a dar prejuízo.
O negócio terá imensas vantagens para a Microsoft. Isso não está em causa.
O que está em causa é que estes IPs associados a um serviço onde a Microsoft possa estar conscientemente a perder dinheiro para ganhar mercado seria ruinoso para a concorrência.
E dado que é isso que estas agências tem como missão verificar, isso deveria ser feito, obtendo as ordens de tribunal que fossem necessárias para isso.
Uma declaração de impostos é algo genérico que não serve para aqui.
A MS só está a salvar a pobre da Activision que não tem saúde financeira, ajudando a preservar a história da indústria! 🤣
Brincadeiras à parte, acredito que a MS queira, quando possível, tornar franquias que fazem sucesso no PS em exclusivos pra forçar a entrada do seu Gamepass nos consoles PS, detonando o mercado da Sony de dentro pra fora.
A questão toda é que o serviço da MS não traz só exclusivos como o EA Acess e tem produtos que concorrem com as vendas do PS, bem como os próprios serviços PS.
Vejam bem, a MS nunca se preocupou em lançar seus sucessos no PS, apesar de dizer por um tempo que exclusividades não eram importantes – quando as quiseram colocar no PC – e tudo que existe da MS no PS é aquilo que já era lançado de antes de ela adquirir as empresas. Coisa que a Sony também está a fazer com Destiny, por exemplo.
Talvez a UE exija isso… Seria interessante para analisar se pode ser caracterizado como Dummping.
De qualquer forma, se revelassem a “conta” do Xbox na minha opinião já seria suficiente paga os acionistas começarem a cobrar todo ano as contas do Xbox daqui para frente