A arriscada estratégia que definirá a Xbox daqui para a frente
2024 foi o ano em que as consolas morreram para a Microsoft. Com o aumento dos custos de produção e a incapacidade de vender consolas em quantidade que garantam que os seus jogos se tornem lucrativos, e tendo entre mãos uma infra-estrutura gigante com os estúdios Xbox, Bethesda e Activision-Blizzard, a Microsoft basicamente abandonou os seus exclusivos, e mesmo jogos como Indiana Jones and the Great Circle, apesar dos discursos que o rodearam e que tentaram impedir o conhecer dessa realidade, chegará à PlayStation dentro de alguns meses.
Agora, no The Game Awards deste ano, um outro exclusivo previamente confirmado pela Microsoft, The Outer Worlds 2, foi anunciado para a PlayStation. Phil Spencer descreveu a situação de passagem dos jogos para a plataforma rival como não contendo linhas vermelhas sobre quais os jogos que podem passar para a PlayStation, pelo que a realidade pura e dura é agora clara: A Xbox não terá vai ter mais exclusivos daqui para frente, e tudo o que existir será cronometrado, sendo que até mesmo jogos como Halo, Forza e Gears of War, jogos normalmente associados à marca Xbox, não estão fora do lote possível de passar para a Playstation.
Mas porquê este tipo de atitude? Bem, a Microsoft faz isto porque após um boom causado pelo Covid 19, o fim da pandemia acabou com a ilusão de crescimento e trouxe os valores de engajamento de volta para os habituais. Aliás há mesmo estudos que referem que agora até há horas de jogo e gastos reduzidos. Acresce aqui que o aumento dos custos e a falta de disponibilidade de tempo das pessoas causadas por apps como o TikTok, Instagram e YouTube, estão a ser um sério problema para a indústria dos videojogos.
O pior é que a Geração Alfa que está a caminho parece mais interessada em assistir a vídeos sobre jogos do que realmente em jogá-los. Como consequência, estas realidades levaram a re-estruturações do mercado, com a própria Playstation, líder de mercado, a dar suporte ao PC via Steam e Epic Games. Já a Xbox foi mais longe e dá suporte não apenas ao Steam, mas à própria concorrente PlayStation. Isto porque como a Xbox está muito pior posicionada que a Nintendo ou a PlayStation, esta sente a pressão primeiro e de forma mais forte, o que explica algumas de suas decisões recentes.
O grande problema da Xbox é o impedir que as pessoas comecem a sentir que não podem confiar no seu produto para a maioria do conteúdo, o que lhes daria argumentos para sair, e sem as pessoas para os comprar, porque os jogos se manteriam? Basicamente esta situação criaria um ciclo sem retorno para a Microsoft, pelo que a Microsoft tem de garantir que os jogos não faltam na sua consola, dê por onde der, de forma a manter os seus utilizadores.
Mas para isso é preciso que o lucro seja sustentado e que garanta sempre o ficar à frente dos custos crescentes.
Foi nesse sentido que houve a necessidade de se encontrar novas fontes de receita. Inicialmente com o PC, depois com o Streaming, e agora ao alcançar a plataforma onde os jogos ainda vendem mais, a Playstation.
A realidade é que apesar de uma gestão catastrófica com erros e desastres seguidos, a Microsoft, mesmo que à custa de um grande investimento que poderá demorar décadas a ser recuperado, nunca deixou de apresentar receitas no seu negócio da Xbox (quanto a lucros só eles saberão, pois os seus relatórios não são claros quanto a isso). E isto apesar de uma Xbox One quase matou a marca, uma 360 que foi assombrada pelo RROD, e das Xbox Series X|S que tiveram de enfrentar a Covid-19 e a falta de componentes. Mas a realidade é que, apesar do investimento de quase 100 biliões já feito na consola, esta apresenta receitas adequadas devido à constante alteração dos seus serviços, e expansão para novas plataformas. Há porém de se referir aqui que as receitas apresentadas não são superiores às que apresentava a Activision quando esta operava por si, o que demonstra que a junção com a Xbox, apesar dos lucros, está a cobrir muita despesa. Ou por outras palavras, sem a Activision, claramente a Xbox estaria já no negativo,
A nível de investimento a Xbox passou a gastar mais dinheiro que o próprio Windows. E nesse sentido os investidores querem ativamente saber o que a Microsoft está a fazer com aquela injeção maciça de dinheiro que usou na compra da Activision-Blizzard. Aliás já referimos que o Call of Duty Black Ops 6 foi uma prova de fogo, agora superada com sucesso, pois se este tivesse sido um grande fracasso, com a guerra que existe pela IA, qualquer investidor questionaria a política de despesas do CEO Satya Nadella. O que aliás, se calhar mesmo assim, muitos estão a fazer.
Ora perante isto, só resta uma saída à XBox: crescer. E nesse aspeto o CEO da Microsoft, Satya Nadella, disse aos acionistas que quer “redefinir o que significa” ser um fã do Xbox. Agora a ênfase é no alcançar os jogadores onde eles estão, e o certo é que as pessoas, de uma forma geral, estão bloqueadas digitalmente nas plataformas em que estão, não havendo muita intenção de mudança, pelo que o esquema clássico de conquistar usuários da Playstation, com a qualidade dos produtos apresentados pela Sony, é uma tarefa quase impossível.
Dado que a Microsoft verificou que os quatro anteriores jogos lançados na Playstation não só trouxeram capital imediato, como não tiveram grande impacto nos seus serviços, The Outer Worlds 2 aparece imediatamente anunciado para PlayStation. A Microsoft acredita que as pessoas estão felizes onde estão e não estão dispostas a mudar de plataforma com base no “sucesso dos outros”. É um risco!
Mas mais do que isso, a Microsoft acredita que os jovens da Geração Alfa e mesmo as pessoas da Geração Z estão a aderir mais ao PC com Windows. Daí que fala em colocar o Steam e a Epic Games Store nas consolas Xbox. Para tal a Microsoft estará a trabalhar num conjunto de APIs no jogo e recursos de interface do usuário, com o nome de código Project Rainway, que serão usados numa Xbox multiplataforma, ao estilo do que foi feito pela Battle.net em jogos como Hearthstone, Diablo IV e World of Warcraft, que permitem que jogadores de várias plataformas comuniquem e partilhem coisas entre si. A ideia é que o resultado mantenha algum do sabor da Xbox nos jogos, mantendo a progressão, não importando a plataforma usada
A Microsoft quer estender isso a todos os seus jogos, e é isso que a Microsoft quer dizer com sua campanha de marketing “This is an Xbox”.
Infelizmente para a Microsoft, essa estratégia, está repleta de riscos, e o que vemos, é que no que toca ao boom da IA, a Microsoft em vez de investir fortemente nesse mercado de retorno imediato, apostou biliões numa Xbox que, até ao momento não deu em nada.
Ora o grande problema do crescimento na atual estratégia da XBox é que ela se está a ramificar, e onde antes tinha um oponente, agora tem vários. Com o Xbox Cloud Gaming, a competição vem do NVIDIA GeForce Now, no PC a competição vem da Steam, e nas consolas, a Competição está na Playstation.
Ora a Nvidia é agora um gigante capaz de competir om a Microsoft, e está 100% na nuvem como sendo a sua única plataforma de jogos, ao passo que a Xbox só pode comprometer a ela uma certa quantidade de recursos. Da mesma forma, no PC, a Steam, está também a 100% nesse mercado, sendo a plataforma enraizada de preferência dos utilizadores, enquanto o Xbox também só pode investir aí uma certa quantidade de recursos. Nas consolas, a história é conhecida, e a Xbox está no estado em que está face à Playstation.
A consequência é que esta aposta em tantas frentes diferentes pode arriscar potencialmente o perder em todas, caso em que a Microsoft perderá a sua identidade como Xbox e se limitará a ser uma produtora Third Party (algo que acreditamos será o que efetivamente vai acontecer, até porque na sua aposta na Playstation, ela não está a ser mais do que isso). E nesse caso a ideologia do “Isto é uma Xbox” cairia totalmente em saco roto. Aliás, mesmo que haja algum sucesso na estratégia, a Xbox sem um hardware de sucesso perde a identidade, e a frase soará sempre a algo vazio.
A realidade é que muitos fãs do Xbox provavelmente irão mudar para o PC dado que todos os jogos atuais da Xbox suportam cross-buy no PC de qualquer maneira. E os que querem uma consola, terão melhor aposta na PlayStation ou Nintendo. E a Microsoft na ânsia de crescimento não parece estar a colmatar as lacunas que impeçam isso.
Mário, caso isso ocorra de fato, será que em um “Xbox” desse será capaz de rodar games da PlayStation Studios comprados na Steam ou a Sony bloquearia isso?
Não vejo motivo para Sony bloquear. Na prática é um PC.
A Sony bloqueia os jogos dela que estão no GFNow no navegador do Xbox.
Logo, vc já tem a sua resposta.
Eu vejo… Porque a Xbox, quer se queira quer não, ainda tem uma consola e é concorrente à da Sony.
O problema dessa estratégia da Microsoft é que chegou muito tarde. Na prática é uma gambiarra, visto que a ideia inicial foi um fracasso. E como toda gambiarra, não foi projetada de forma adequada. O fato é que a Xbox não se paga como third party. A estrutura da empresa é muito grande para isso. Vão ter que cortar muita gente e muito estúdio para funcionar. A sorte é que o Nadella tem muito crédito. Se não já teriam fechado a divisão faz tempo.