Independentemente da compra da Activision, a Sony tem mesmo de quebrar barreiras com a PS6

Quer a aquisição da Activision pela Microsoft, aconteça ou não, a Sony não tem como não se ter apercebido da sua posição de fraqueza face ao poderia económico da concorrencia. Nesse sentido, para se manter ativa e concorrencial, a Sony terá de tomar decisões que poderão não parecer as melhores, mas que lhes permitam distinguirem-se da concorrência de uma forma que a Microsoft não possa acompanhar.

Basicamente o que vou escrever neste artigo é um tema que já abordei, mas que, cada vez mais, me parece que poderá ser uma necessidade da Sony para subsistir num cenário de mercado onde a Microsoft começa a mostrar as suas garras e o seu poderio económico. E isto, independentemente da aquisição da Activision ou não.

Perante uma Microsoft incapaz de concorrer e que pretende açambarcar o mercado criando o seu conteúdo com IPs que até então eram multiplataforma, e possuindo esta empresa uma posição de relevo e dominante no streaming pela sua Azure, sendo igualmente líder nas subscrições, particularmente pela lucros de que abdica para conseguir captar esse mercado, torna-se muito complicado para a Sony concorrer de igual para igual. Daí que, estão montadas todas as condições para um cenário de desvantagem, e onde a Sony precisa de fazer algo que a demarque da Microsoft, de forma a manter-se competitiva.

E o que poderia a Sony fazer para além de continuar a produzir, com bastante frequência, jogos de elevada qualidade?

Bem, basicamente ela necessitaria de expandir bastante aquilo que fez na PS5, com a criação de uma consola bastante apoiada no acréscimo de tecnologias proprietárias assentes sobre uma base x86.

Basicamente o perder a compatibilidade com o X86 não é, no atual cenário, algo de interesse para a Sony. Afinal com um mercado onde o DirectX 12 é o API predominante, e tendo a Sony um API diferente, a compatibilidade x86 é essencial. E nesse aspeto, entende-se que a Sony não poderá nunca abdicar de possuir uma consola com essa arquitetura por todas as vantagens que isso traz na adaptação e conversão dos jogos, normalmente desenvolvidos em PC.

No entanto, apesar de dever continuar a apostar na força de um sistema x86, tornando esta base o mais potente que for possível, isso não a deve impedir de, na sua próxima consola e futuras iterações da mesma, apostar em extras de uso opcional, que lhe ofereçam vantagens a nível de performance e capacidades, e que possam ir sendo exploradas ao longo da geração.

Basicamente se a Sony usar tecnologias dedicadas inseridas no hardware x86, que co-ajudem e melhorem as performances, sem serem de uso obrigatório, ganha uma tremenda vantagem sobre a Microsoft que, pela compatibilidade que necessita de manter com o PC, terá de ficar para trás nesse aspeto.

Nessa situação, a Microsoft a concorrer com algo assim, teria de o fazer tal e qual o PC atualmente o faz, pela aposta numa consola capaz de força bruta, o que, como sabemos, tem severas implicações no custo da mesma, bem como seria algo altamente problemático devido à legislação existente que define limites aos consumos energéticos de produtos definidos e vendidos como consolas. E dessa forma a Xbox teria de se enquadrar na categoria de PC, e não de consola.

A grande questão é que a União Europeia na sua Diretiva Ecodesign (2009/125/EC), e que tem a Microsoft, Nintendo e Sony como signatários, cria limites aos consumos das consolas, pelo que uma consola que seja vendida e não cumpra com esses limites seria impedida de entrar no mercado como consola, o que colocaria a Microsoft numa posição em que teria severos limites ao uso da força bruta.

Daí que, por exemplo, um chip proprietário dedicado a Ray Tracing, de uso opcional, um co-processador vetorial de uso opcional, ou mesmo um Cell, igualmente de uso opcional, permitiriam com um aumento pouco significativo de custo energético à Playstation obter vantagem de performances e entrar em domínios que o hardware x86 standard não é capaz de alcançar. Nesse aspeto, um Cell atualizado inserido como co-adjuvante de um GPU poderia ser um trunfo, dadas as suas elevadas capacidades, atual potencial baixo custo de fabrico, e conhecimento prévio do mercado sobre o seu funcionamento e capacidades.

E mais do que isso, um Cell apoiado numa tecnologia x86 permitiria retro compatibilidade total com todas as consolas anteriores.

Basicamente, o que vemos é que a Sony se encontra numa posição de fragilidade onde não pode ter uma próxima consola mais fraca que a da Microsoft, como também não se pode limitar a ter uma consola meramente equivalente à da Microsoft. Daí que, sabendo-se dos limites às performances colocados nas consolas pela legislação energética existente aos produtos que se definem dessa forma e que impedem o escalar das performances para níveis dos atualmente usados nos PCs, basicamente ao se optar por este tipo de escolhas, a Sony poderá conseguir destacar-se de uma forma que não pode ser superada meramente pelo poderio económico da Microsoft. Basicamente porque com isto estaríamos perante algo que apenas a Sony pode fazer, mas que a Microsoft, por ter o PC como parte integrante da sua plataforma, ao ter de manter compatibilidade total com este, não pode!

Mas, perante estas novidades no hardware, como ficariam então os ports da Sony para PC? Bem, primeiro a Sony há que se questionar se realmente o suporte do PC justifica ser mantido, especialmente porque o suporte ao PC, por muito atrativo que seja a nível de receitas extra, nunca bate a receitas da PlayStation, podendo até prejudicar as suas vendas. Aliás, mesmo na parte da receita extra obtida com as vendas no PC, está ainda por se provar que estas efetivamente compensam, especialmente tendo-se em conta que a cada novo lançamento a Sony vende menos pois a pirataria aos seus jogos está cada vez maior. E tudo isto num mercado onde o PC pode apresentar melhores resultados de performance que a consola, algo que com hardware dedicado na consola, poderia mudar.

De modo que tal terá de ser algo muito bem analisado, mas caso a Sony decida continuar com o suporte ao PC, ele deveria ser conseguido a presença de uma loja Sony no PC, que venderia esses jogos em regime de exclusividade, e faria o controlo da pirataria através de sistemas online.
Já quanto às conversões, o que elas poderiam sofrer com o uso de hardware proprietário? Bem, o PC poderá ter como converter as coisas usando força bruta, mas caso não o consiga, também não há nenhuma regra que diga que a versão PC tem de ser a melhor. E nada impediria de o jogo ser portado com menores “settings” que os permitidos pelo hardware dedicado e proprietário colocado numa PS6, usando a parte de compatibilidade do x86, e apenas enquanto isso for possível. Tal até poderia ser uma medida interessante pois tornaria a versão Playstation a mais desejada.

Como os leitores mais atentos já perceberam, eu já abordei este tema em outro artigo, mas resolvi insistir no mesmo uma vez que se percebe claramente que o dinheiro da Microsoft tem muito poder. E nesse aspeto a Sony não tem como competir com um gigante dessa magnitude usado armas meramente iguais. Daí que esta terá de de apostar em conseguir que os jogos multiplataforma criados para si possam reunir as condições para que possam possuir uma qualidade superior que levem as pessoas a optar pela sua consola.

É igualmente minha opinião que, caso a compra avance, a Sony deve rejeitar qualquer acordo para o Call of Duty.

Aceitar um acordo, mesmo de 10 anos, seria basicamente empurrar para a frente com a barriga um fim que viria a existir de qualquer maneira, ao mesmo tempo que durante a duração do acordo se estaria a contribuir para um engrossar da receita da Microsoft e para financiar a colocação do jogo no Gamepass, o que seria uma desigualdade na oferta (incluído no Gamepass e 80 euros na PS), e que ao longo dos tempos enfraqueceria a posição de mercado da Sony, fortalecendo a da Microsoft.

Por outras palavras, a manter o Call of Duty na PS, a Sony está a financiar um negócio que contribuirá para o seu próprio enfraquecimento. E se é certo que assumir a perda de vez não seria garantia de nada, será preferível fazê-lo numa altura em que a Sony está por cima, do que posteriormente quando estiver enfraquecida.

Daí que, a perda a ter de acontecer e ter, a Sony deverá aproveitar esta fase em que é líder de mercado e é capaz de abastecer o mesmo com exclusivos de qualidade que a Microsoft ainda não tem, ao mesmo tempo que abala as contas da Microsoft numa altura em que este se vê obrigada a recuperar o investimento.

A Sony deverá ainda ponderar aquisições fulcrais e cirúrgicas. Afinal, se a compra avançar, ela ficará com “crédito” junto dos reguladores, para aquisições.

Numa outra jogada, e esta independente do negócio da Activision avançar ou não, penso que o lançamento de uma PS5 Pro se torna uma necessidade. Não seria aí que a Sony criaria as alterações ao hardware acima referidas, mas a simples presença de uma consola mais poderosa que pudesse obrigar a Microsoft a responder, e que atirasse as atuais topo de gama para resoluções mais baixas, colocaria a série S, numa posição altamente delicada a nível de suporte, que certamente iria desagradar aos seus compradores. E poderemos estar aqui a falar de 50% ou mais do mercado Xbox atual!

É certo que estas decisões não são de todo do melhor interesse da Sony. E numa situação normal, elas não seriam sequer pensadas. Mas a Sony, terá percebido a sua posição de fragilidade no mercado, pelo que precisa de combater a tomada de assalto ao mercado da Microsoft de qualquer forma, não podendo pura e simplesmente ficar a ver as coisas acontecerem.

Estas situações, todas elas, não seriam o que normalmente aconteceria se o mercado se mantivesse a funcionar pelas regras por que sempre se regeu. Mas com esta tomada de assalto que a Microsoft esta a tentar fazer obriga a Sony a atuar. E atuando não pode ser de uma forma passiva, mas sim pro activa, assumindo as perdas, mas causando ao mesmo tempo o maior dano possível no oponente. E todas estas medidas poderiam afetar não só a Sony, mas ao mesmo tempo a Microsoft, e na parte onde mais lhes dói, a carteira.

A aquisição da Activision tem como grande interesse para o mercado das consolas o COD. Mas sendo que este jogo obtem a maior parte da sua receita na Playstation, o corte com o jogo, não só definiria o mercado de uma forma imediata, que permitiria à Sony saber com o que contar, como poderia abalar a carteira da Microsoft, dado que, pelo menos nesta fase, nem todos estão dispostos a abandonar a Sony apenas por causa de um jogo.

Daí que, em caso de a aquisição avançar, o lançar uma Pro, uma futura nova consola com algum hardware proprietário adicional, bem como o abandonar imediato do COD são medidas que vejo como algo que, no mínimo, a Sony deve analisar e ponderar seriamente.