Ideias da Xbox ameaçam prejudicar os videojogos

As ideias começam muitas vezes por serem completamente inócuas, até ao dia em que se tornam standard. E as ideias da Microsoft abrem precedentes  que são altamente perigosos.

Recorda-me em tempos de uma brilhante ideia que alguém teve para melhorar as receitas do seu jogo. Numa ação aparentemente inócua, alguém resolveu vender por uns cêntimos uma textura de mantas para cavalos. Era algo 100% estético, e que não tinha qualquer implicação nos jogos.

A questão é que essas texturas rapidamente fizeram dinheiro relevante. E nesse sentido apareceram mais texturas à venda para outras coisas.

Atualmente a situação evoluiu. Paga-se para desbloquear tempo de jogo, moeda ingame, armas, skins, mapas, e tudo e mais alguma coisa. O pay to win e pay to play são hoje uma realidade em muitos jogos, e as Micro transações dão mais dinheiro do que a venda dos próprios jogos.

Da mesma forma, as transações de 20 cêntimos, agora chegam aos 100 ou mais euros, e são compras que na prática não alteram a realidade do jogador, apenas melhoram a sua evolução. A venda de “moeda ingame” é atualmente uma fonte que gera mais dinheiro que a venda dos jogos em si, e essa moeda rapidamente desaparece sem que o jogador tenha verdadeiramente beneficiado disso.

Recorda-me igualmente quando a  TV Cabo apareceu em Portugal. As operadoras iam a casa apresentar o produto e este destacava-se pela presença de canais pagos onde a publicidade era não existente!

Atualmente os canais tem todos publicidade, e mesmo funções como a gravação no disco local obrigam agora a ver uma publicidade quando se pretende reproduzir o conteúdo gravado.

O que isto mostra é que tudo o que gera dinheiro nunca é ignorado. Se algo funciona, rapidamente se arranja maneira de manter e alcançar mais pessoas com ele. E nesse aspecto o caso da publicidade é flagrante. Se é certo que as pessoas pagam, e isso sustenta o canal, porque motivo ignorar que se as pessoas pagarem, mas houver publicidade na mesma, ainda se ganha mais?

Esse também é o conceito nas Microtransações. Inicialmente só apareciam nos jogos gratuitos, mas porque raio num jogo full price, se haveria de ignorar as mesmas se é possível juntar-se o útil ao agradável. E atualmente temos inúmeros jogos “Full price” com lojas para vendas de itens a dinheiro real. E muitas dessas vendas até nem são diretas, mas sob a forma de loot boxes, de forma a não garantir ao comprador que obtém o que querem, investindo assim mais algum em mais tentativas.

Tudo isto a propósito do novo conceito da Microsoft. A publicidade em jogos para se evitar pagar a mensalidade de jogos Streaming.

A ideia é assistir publicidade para pagar os jogos. E isso a compensar não se julgue que se vê uma publicidade de 30 segundo e depois se joga o tempo que se quiser. Basicamente a publicidade vai-se repetir a cada X minutos, pausando o jogo, e entrando um novo anuncio. Um conceito terrível para o gaming, mas que caso dê dinheiro rapidamente poderemos passar a ter em outros jogos. Recordo o caso recente onde o Assassins Creed Odissey fez um pop up publicitário em ecrã total do Assassins Creed Mirage, algo que a Ubisoft veio dizer se ter tratado de uma bug.

A questão é que para isto ter acontecido, o jogo teria de estar preparado para tal. Não foi por isso uma bug, mas sim algo premeditado.

A realidade é que se isto se mostra rentável, não seria de admirar que rapidamente víssemos publicidade em outros jogos. E arriscamos a destruir os videojogos, tornando os mesmos em algo equivalente ao que temos nos smartphones… mas a 70 euros.