As pessoas estão inclusive dispostas a pagar mais pelas cópias fisicas pelo simples facto de sentirem que realmente possuem a coisa. E 2017 revelou que o físico está em voga!
Actualmente filmes, livros, jornais, musica, fotos, etc, tudo está acessível por download digital. Essa parece ser a tendência do mercado, especialmente agora que os smartphones existem e nos empurram nessa direcção, sendo que muitos chegam mesmo a prever a morte das versões físicas por as considerarem obsoletas ou ultrapassadas.
Mas tal não é bem assim. Por exemplo, olhando para o mercado dos e-books vemos que ele não supera de forma alguma o dos livros impressos. E porque? Por questões psicológicas o ser humano preza mais aquilo que possui ou prevê possuir, em grande parte porque passamos a olhar para esses objectos como fazendo parte daquilo que somos.
Mas de uma forma mais simples, é mais fácil criar laços de sentimento com algo físico do que com algo digital.
Como nos revelam alguns estudos. as pessoas estão inclusivamente dispostas a pagar mais por versões físicas de livros. fotos, filmes e CDs de musica.
O mais recente artigo sobre este assunto publicado no Journal of Consumer Research e apresenta uma série de estudos que demonstram as diferenças entre a posso do físico e do digital, e que se resumem nesta frase: “As nossas pesquisas ilustram como o psicológico da posse cria uma diferença na percepção do valor entre os bens físicos e digitais, trazendo novos dados para a relação entre o consumidor e aquilo que possui.”
Um dos estudos foi realizado num destino turistico. Ali 86 visitantes foram tirar uma foto com um ator vestido de personagem histórica. Metade das pessoas receberam uma versão digital da foto, enviada por e-mail, ao passo que a outra metade recebeu uma foto fisica. Depois perguntaram-lhes se estavam dispostos. sem obrigação, a pagar pela foto, sendo que o valor pago iria para caridade. Quem recebeu a foto fisica estava disposto, em média, a pagar mais, e não era porque a foto fisica tinha mais custos que a digital.
Num outro estudo, centenas de clientes da Amazon foram questionados se e quanto estavam dispostos a pagar por versões físicas ou digitais do livro Harry Potter and the Sorcerer’s Stone, bem como por versões físicas e digitais do filme Dark Knight. Os valores monetários foram mais altos nas versões fisicas com a justificação “Sinto que o possuo” ou “Sinto que é mesmo meu”. Os vários participantes referiram ficar contentes com qualquer das versões, sendo que não sabiam explicar porque motivo estavam dispostos a pagar mais pela física.
Já quando a questão é alugar e não comprar… o valor adicional do físico perde-se, talvez porque sendo um aluguer o sentimento de posse se perde em qualquer dos casos.
O caso torna-se no entanto mais extremo quando há uma grande afinidade entre o produto e o comprador. Por exemplo, questionando as pessoas sobre um filme de culto como The Empire Strikes Back todos os fans do filme preferiam a cópia física. Já quem não o conhecia, não mostrava a mesma vontade. Existindo uma conexão com o produto, a vontade da compra de algo palpável relacionado com ele é maior.
É este sentido de posse que torna os objectos físicos mais atraentes. É um sentimento de posse e igualmente de controlo pois se é efectivamente nosso, então controlamo-lo. Já no digital… isso não acontece!
Curiosamente, ao contrário do que tem vindo a ser uma tendência, a Recording Industry Association of America (RIAA) anunciou em finais de 2017 que, pela primeira vez desde 2011, as receitas das vendas físicas de música, ultrapassaram as receitas das vendas digitais.
É uma regressão ao físico, e uma quebra no digital inesperada, surpreendente, e digna de ser registada. Teremos de ver se é uma tendência que se mantêm ou não!