Quem nos acompanha sabe perfeitamente que sou contra tudo o que precise de ligações constantes à internet. Não só tal torna o utilizador dependente de uma série de factores que o podem impedir de usufruir do seu produto, como esses serviços não tomam em conta a realidade do mundo, onde a internet não é, ainda, uma realidade em todos os locais.
Gosto de tecnologia, mas não sou obcecado pela mesma. E quando esta está implementada de forma que, mesmo que me seja benéfica, não a ache benéfica para todos, queixo-me dela. E tal é o que se passa com tudo o que requeira ligações permanentes à internet.
Fui um dos jogadores que comprou Diablo III no seu dia de lançamento. E fui igualmente um dos que teve de esperar três dias até finalmente conseguir ligar-me ao servidor e jogar. E tudo isto para jogar sozinho, apesar de o jogo suportar um modo cooperativo com três jogadores.
Daí que com a actual e semelhante polémica existente com o Sim City me lembrei de escrever este artigo. Será que este tipo de situações é efectivamente correcta? E não fui o único que baseado no Sim City achou por bem escrever algo assim. Curiosamente um americano que analisa a situação numa perspectiva diferente, a da divisão do mercado fez algo de semelhante, fornecendo-me porém uns dados interessantes sobre a realidade nesse país.
Naturalmente o criador do software é livre de implementar o que quiser, mas este terá de ter consciência do que está a exigir aos seus clientes. Não só os mesmos não poderão aceder ao produto sem internet, como ficam dependentes de uma enormidade de factores que podem impedir uma ligação correcta com o servidor. Ou seja, não basta ter o produto, é necessário que uma série de serviços prestados por terceiros não possuam problemas que nos possam impedir de utilizar aquilo que é nosso e foi pago a peso de ouro.
Mas o principal argumento que apresento contra estes serviços é o desfasamento da realidade. Recordo muitas vezes que estamos em Portugal e que aqui ainda há zonas do país onde a electricidade é um bem raro. E há outras, devidamente civilizadas, onde a internet, apesar de ser uma realidade, é muito má.
Mas quando discuto isto com algumas pessoas conhecidas elas parecem não ter noção dessa realidade. Lá porque são uns privilegiados de viverem numa grande cidade, extrapolam a realidade das coisas e acham que todos podem ter acesso com o mesmo nível e qualidade de serviços. E isso infelizmente não é uma realidade. Aliás os últimos estudos revelam que apenas 57% dos lares Portugueses possuem internet, sendo que estamos bastante abaixo da média europeia.
Mas talvez o que eles pensem é que Portugal não é exemplo. Que somos um atraso de vida, e que não podemos deixar de evoluir onde podemos só por causa disso. Mas no entanto, em países como os Estados Unidos a internet é uma realidade em qualquer local.
Ora sendo os EUA a grande referência sobre estes serviços, será que eles estão melhores que nós? Foram esses dados que procurei e que apresento de seguida:
Efectivamente os EUA estão melhor que nós. Apenas 6% da população não possui acesso à banda larga móvel.
Mas o que são 6% da população Americana? Nada mais nada menos do que 19 milhões de pessoas, ou quase duas vezes a população de Portugal. Será assim tão pouco?
No entanto, destes 6%, três quartos vivem em zonas rurais e o restante terço não está sequer em condições de receber banda larga.
Mas há outro dado curioso. É que apesar de apenas 6% não possuir acesso à banda larga móvel, apenas 40% dos americanos que tem essa possibilidade de acesso possuem realmente subscrição de serviços. Os motivos: Não podem pagar, acham que não precisam, ou não possuem conhecimentos para os usar.
Quer isto dizer que estamos a falar de 60% da população Americana sem ter subscrição de serviços web… Um grande bocado quando em Portugal apenas 47% dos lares não os possuem. Mas estamos a falar de números bem diferentes apesar das percentagens.
Seja como for, estes números dão o que pensar. E assim sendo torna-se estranho que se olhe para os serviços que requerem ligações à web como o futuro. Poderão vir a sê-lo um dia, mas esse dia ainda está distante. E não ver isto é algo que custa a perceber.