Estará a carroça à frente dos bois no negócio Microsoft-Activision?

Surpreendentemente, apesar de muito se falar dos reguladores e do anuncio da aquisição, a Activision ainda nem sequer tem autorização dos acionistas para a venda.

Confesso que a notícia que estou a escrever me apanhou de surpresa. A Microsoft anunciou a compra, a Activision anunciou a venda… A FTC anunciou que iria analisar a compra antes de a autorizar.

E aparentemente tudo ficaria só por estas medidas. Mas na realidade há mais… há mais um passo que é necessário, e que pode inviabilizar o negócio. Um passo que nunca esperei que já não estivesse ultrapassado. A Activision… ainda não tem autorização dos acionistas para a venda!

É deveras caricato que tudo seja anunciado sem este passo, e se tome o mesmo como uma garantia. Mas a realidade é que esta votação só se realizará no dia 28 de Abril, com os resultados conhecidos a 4 de Março, e para a venda ser aprovada é necessário que haja uma maioria.

Ora isto é caricato no sentido que os diretores contam com o ovo no cu da galinha. E não só nunca podem ter essa garantia, como eles, na comunicação aos acionistas para a votação, pintam a coisa de uma forma que quase tenta assustar os mesmos no sentido de votarem. Repare-se:

Na comunicação a Activision chama a atenção para a importância do voto, dando a conhecer que sem a maioria a venda não pode acontecer. E segundo as regras internas da empresa, quem não votar ou se abstiver, será contabilizado como estando contra a venda.

Dessa forma a Activision chama a atenção que a decisão de venda é considerada como “aconselhável” e “justa”, e “nos melhores interesses da Activision Blizzard e dos seus acionistas”.

A questão é que com a venda os acionistas perderão o controlo da empresa, mas transformarão cada ação em 95 dólares, o que é acima do preço de mercado da empresa, e permitirá um encaixe financeiro considerável a cada um.

Logo de seguida a comunicação da Activision listas as consequências de a venda não prosseguir, indicando que:

• O pagamento de 95 dólares por ação não será pago.
• A empresa continuará listada para transações no Nasdaq.

No entanto é alertado que se espera que o valor das ações caia significativamente, e que dificilmente outro negócio do género aparecerá, com as futuras operações a serem significativamente afetadas.

A Activision terá de pagar à Microsoft 2.27 biliões.

Após ter lido tudo isto, fiquei chocado! Basicamente a carta da direção da Activision está a impingir a venda aos acionistas! Resumidamente o que ali lemos é “ou vendes e lucras algum com isso, ou vais-te lixar valentemente”. E apesar que provavelmente a maior parte vai querer vender dado o preço pago pela Microsoft, a realidade é que a coisa está orientada nesse sentido.

Sinceramente isto choca-me, pois quer-me parecer que esta reunião deveria ter ocorrido antes da decisão de venda. Desta forma a direção torna-se capaz de realizar o tipo de gestão que bem entender, danosa ou não, forçando os acionistas, que são quem mantem a empresa, a aceitar o negócio. Se adicionarmos a isto que Boby Kotic, o CEO possui 4 milhões de ações, poderão aqui existir interesses pessoais enormes à mistura. Especialmente quando sabemos que a Activision foi processada por acionistas devido a esta falta de transparência neste negócio.

E quando sabemos que os membros da direção sairão da empresa ricamente recompensados pela Microsoft, mais chocante a situação se torna.

A comunicação termina com a indicação que o negócio ainda terá de ser aprovada pelos reguladores nos EUA, Reino Unido, União Europeia, e China. Reguladores que se espera investiguem todo o processo de venda, de legalidade e de impacto no mercado, até ao mais ínfimo pormenor.

Mas a realidade é que antes deles há um passo a dar. Um passo que pode matar o negócio logo à partida, e que, apesar de muito certamente acabar por ser apenas um pro-forma, já deveria estar acautelado.