Provavelmente irei abandonar um dos jogos que mais prazer me deu jogar nos últimos tempos. E tudo por causa dos maus vícios da industria.
Vai fazer agora cerca de 6 meses encontrei um jogo na Play Store que resolvi experimentar.
O seu nome: Sky Warriors, e a temática, combate aéreo com caças supersónicos.
Sendo um amante de jogos de aviões, não falhando um dos Ace Combat, resolvi experimentar. E para minha surpresa o jogo, produzido pela Wildlife Studios, uma empresa fundada no Brasil em 2011, e que se tornou uma das maiores empresas do mundo em jogos de smartphone, era surpreendentemente bom.
Adorei o jogo e comecei a jogar. O jogo, que tinha sido lançado à pouco mais de 2 meses era super porreiro, jogava-se muito bem. Basicamente deixava jogar, deixava pontuar, e apenas tentava vender (a preços absurdamente altos) um packs com diamantes e misseis que entendia serem destinados aqueles que pretendiam evoluir mais depressa, sendo que acreditava que poucos pagariam aqueles valores de tão altos que eram. Mas a realidade é que nada do que ali era vendido era critico para o jogo e para se evoluir no jogo.
Ao fim de apenas algumas partidas, no chat de língua Portuguesa fui convidado por alguém que tambem ostentava a bandeira Portuguesa para entrar num esquadrão denominado PTW. Pesquisei e o PTW – Asas de Portugal era na sua totalidade constituídos por Portugueses, e possuia dos melhores jogadores nacionais do jogo. E nesse sentido aderi!
Os PTW tornaram-se uma pequena família para mim. Cresci ali como jogador e inclusive como representante do esquadrão, onde me colocaram como vice comandante, ou seja alguém com capacidade para gerir o esquadrão, e tornei-me igualmente dos melhores jogadores Portugueses.
Propus lá dentro algumas alterações, derivadas da minha experiência com o jogo online, no Unreal Tournament, e que resultaram em cheio. Apesar de os PTW estarem muito limitados na recruta de novos membros por apenas aceitarem Portugueses ou pessoas com ligações a Portugal que se disponham a usar a nossa bandeira, crescemos, e dentro da melhor das ligas ali presentes, a Liga Diamante, chegamos mesmo a estar em 40º a nível mundial.
Mas daí para a frente foi o descalabro.
O jogo começou a promover fortemente o Pay to Win, que neste caso se traduz na venda de misseis especiais, com capacidades adicionais face aos misseis standard e gratuitos. Basicamente os misseis especiais, que se dividem na categoria de rápidos (movem-se mais rapidamente dificultando a esquiva em caso de bem apontados), misseis fortes (que basicamente destroem um inimigo mesmo que com a armadura bem evoluida), misseis automáticos (que não requerem lock, pois fazem-no eles sozinhos depois de disparados), misseis perseguidores (que curvam muito mais tornando a esquiva muito complexa), e misseis cluster (que quando do impacto causam uma explosão que arrasta tudo no raio de alcançe).
E apesar de estes misseis poderem sair em baus que se vão recolhendo regularmente, o número em que são fornecidos aí apenas permitem uma utilização esporádica. No entanto há jogadores que fazem partidas atrás de partidas apenas usando estes misseis, o que demonstra claramente que investem “forte e feio” no jogo, seja em dinheiro, seja em tempo de jogo.
Da mesma forma o jogo vende pinturas que melhoram as características dos aviões. E se algumas são vitalícias, há outras que apenas duram umas horas que fazem aumentos radicais de performance. E que da mesma forma, apesar de pagas, e caras, há jogadores que as usam constantemente.
Uma das ultima novidades foi a introdução de “chaffs”. O jogo já possuía os “flares”, que quando disparados atraem termicamente os misseis inimigos , permitindo manobrar e fugir aos mesmos, mas os “chaffs” tornaram-se uma praga. Basicamente quando disparados o avião fica impossível de se fazer lock sobre o mesmo, ou até focar as metralhadoras (que podem no entanto ser disparadas manualmente). Basicamente os “chaffs” permitem uns segundos de proteção que permitem manobrar à vontade para se disparar contra os oponentes.
E o que vemos agora é uma aposta radical nos “chaffs”, com os jogadores a ativarem os mesmos mal entram no jogo, a reativar mal podem, e de forma constante a estarem protegidos e a abater tudo o que se move com misseis especiais.
A coisa tornou-se tão ridícula que alguns jogos que antes duravam na ordem dos 3 a 4 minutos, passaram a durar 50 a 60 segundos. Basicamente esta malta entra, protege-se, dispara misseis especiais, abate tudo, e acaba o jogo.
É o Pay to Win, que só não é completo porque os bons jogadores ainda conseguem abater alguma coisa, mas torna-se frustrante pois os pontos da partida são basicamente para quem pagou, com os melhores a levarem algumas réstias, e os mais novos… a chuparem no dedo.
Diga-se basicamente que se tivesse entrado no jogo nesta altura, de forma alguma estaria a joga-lo. Aquilo que me cativou, a possibilidade de jogar e de evoluir, certamente não está igual, e duvido mesmo que o jogo me tivesse cativado.
Mas há mais… Basicamente o jogo promove em 4 dos 7 dias da semana, o que chamamos de guerra. Basicamente dois esquadrões são colocados frente a frente e ambos competem por fazer mais pontos que o adversário.
A ideia é no final da guerra atribuir a um deles o título de vencedor para subir nos rankings.
Mas a guerra funciona da seguinte maneira. Há três baús à disputa. O vencedor leva forçosamente pelo menos 2, e o derrotado pode levar um ou nenhum. Isto vai depender basicamente da pontuação que o derrotado conseguir.
Assim, o esquadrão que tiver mais pontos leva dois baús, mas se os seus pontos passarem o dobro dos do oponente, leva os três baús. Ou seja, o esquadrão derrotado, se quiser garantir um baú não pode deixar o adversário fazer o dobro dos seus pontos.
Depois há ainda benesses. Basicamente a pontuação define o conteúdo dos baús. Os baús são de bronze, mas se o esquadrão fizer mais de 30 mil pontos, eles passam a prata, se fizer mais de 100 mil, passam a outro, mais de 300 mil a platina, e mais de um milhão de pontos, são de diamante.
E isto é independente entre esquadrões. Assim se um esquadrão fizer 310 mil pontos os baús que levar são de platina. Se o outro fizer 170 mil pontos o baú que leva é de ouro.
Até aqui nada de mais, não fosse o facto que os pontos obtidos são baixos. Abater um avião valia 100 pontos, abater um alvo valia 40 pontos. E com o jogo a acabar quando um dos esquadrões alcançasse os 10 abates, percebe-se que os pontos por jogo são baixos face aos objetivos, o que obrigava a dedicação e a jogar com regularidade no período de guerra.
E eis quando os programadores resolvem alterar o jogo… e descer as pontuações. Assim um avião passou a valer 80 pontos, e um alvo 60 pontos. Ou seja, não só se traz menos pontos por jogo, como a aproximação dos pontos dos alvos aos dos aviões ainda prejudicou mais o jogo ao tornar os alvos em algo mais interessante. E os jogos que duram os tais 50 a 60 segundos, aumentaram pois mais pessoal passou a ir aos alvos, ignorando os aviões.
Mas o maior problema desta redução de pontos é que se tornou mais difícil alcançar as pontuações para os bons baús. Os PTW, capazes de fazer mais de 300 mil pontos numa guerra, com todas as alterações, com os pagantes, com os “chaffs” e com a redução de pontos passaram a ter dificuldade em alcançar esse valor. A alternativa será o perderem a sua identidade, e abrirem-se internacionalmente. Mas mais do que a identidade, perderem os jogadores, pois os atuais não pretendem tornar-se viciados no jogo, ou andar a pagar para misseis especiais.
Recentemente convidamos um comandante de um esquadrão Brasileiro, os Falcões a visitar-nos, jogar um pouco por nós, e dar-nos umas dicas. E agradecendo desde já tudo o que nos foi dito, a realidade é que o que nos foi revelado mostra que o jogo deixou de ser para nós.
Basicamente, a alternativa ao pagar… é jogar… jogar 6 horas por dia!
Ou seja, o jogo é de pagantes… ou de viciados sem vida. Um jogo que exige atenção 4 dos 7 dias da semana, ainda requer agora que se dedique 6 horas dia para se poder ser competitivo.
O resultado é que estou prestes a largar o jogo, e não sei o que será dos PTW. Basicamente nenhum dos participantes daquele grupo, todos casados e pais de família, que adoram o jogo, não tem tempo e nem vida para este tipo de coisa. E aquilo que era um jogo super porreiro que nos uniu a todos, está agora a afastar-nos a todos. Tudo pela ganancia, pelo vício e pelo querer-se ganhar dinheiro sem limites.
É basicamente esta realidade que eu vejo a passos largos aproximar-se dos jogos de consolas que tanto prezei ao longo de mais de 35 anos. É pela defesa disso que me debato aqui. É por isso que me mostro contra modelos que são no fundo lobos, mas vestidos de cordeiros, e com cerejas por cima.
É basicamente por isso que a PCManias possui a sua postura. Porque o mercado avança a passos largos para um abismo em que o futuro será governado por todos estes vicios… E a maior parte das pessoas avança alegremente para o precipício… e até defende as coisas. É muito bom para o consumidor dizem eles… acreditando no Pai Natal.
A realidade é que o estado atual dos videojogos é triste, e estes modelos são alimentados de uma forma que tornam os modelos clássicos pálidos em comparação. Depois admirem-se de terem Gaas, de terem micro transações, de os jogos estarem estragados e que a qualidade está a descer, e tentem deitar as culpas às empresas que estão a seguir esses caminhos para aumentarem as suas receitas.
Tenham é consciência que a culpa do que está a acontecer não é das empresas… é dos jogadores. Se eles não alimentassem estas práticas, nada disto acontecia.
O pior é que deve piorar antes de melhorar, ou talvez nem melhore mais nunca… Diablo Immortals parece estar fazendo muito dinheiro… E ainda têm youtubers a mostrar o “investimento” nos jogos desse tipo servindo de incentivo a gastança despropositada e desconectada da realidade…
É muito triste ver algo que gosta ser destruído pela ganância. Os consumidores são culpados, mas as empresas são tão responsáveis quanto. Visto que elas investem muito dinheiro no desenvolvimento de métodos que influenciem o psicológico das pessoas. O consumidor toma a decisão, mas não é por acaso. Fora o quanto se gasta em publicidade para tornar essa prática aceitável. Ou seja, não há santos.
Lamentável! Mas ainda creio que existem outros públicos dentro da indústria. Por exemplo, creio que os jogos que somos acostumados a jogar e gostar não serão extintos pelo simples fato que esse público não aceita outra coisa e se a indústria não os fizer mais, esse pessoal deixa de consumir, não aceitando esses jogos goela abaixo. Dão menos lucro? Sim! No entanto, são uma fatia que não deve ser deixada de lado, pois aí é perder dinheiro.
O problema é que aceita… Os GAAS são jogos desses. Podem não entrar esse exagero, mas a ideia é darem dinheiro assim.
E não acredites que esses jogos, bastante mais caros, vão apostar em ganhar menos, quando jogos baratos jogam mais…
Esta é uma praga… e são os jogadores os reais culpados, não as empresas!
Eu, vc e muita gente não aceita. Se a indústria fosse só GaaS hoje, não jogaria mais videogame.
E eu irei deixar de contribuir para ela quando e se isso acontecer. Eu não concordo com o rumo!
Tenho 50 anos… Ao longo de toda a minha vida vi a industria a evoluir, os jogos a serem cada vez melhores e melhores. E de repente, vejo a industria e enveredar por uma de sistemas de subscrição, GAAS, micro transações e outros, que não só a estão a destruir, como a limitar o jogo, a jogabilidade, e a qualidade dos jogos.
Para mim isso não vai dar…
Infelizmente está para durar ,tinha um exemplo num jogo de sueca que costumava jogar no smartphone,era porreiro e passava bem o tempo …o mal eram os pagantes que tinham sempre jogos para dar 4…o que é demais é exagero… solução.nunca mais jogar.Isto só vai terminar quando alguns países adotarem legislação de jogos de casino para esse tipo de jogos pay to win…para mim já estão nessa categoria e até talvez pior devido ao acesso aos mesmos.Enquanto não acontecer vamos voltar aos velhos tempos do retro e dia jogos de rua … alguém para jogar ao berlinde ou ao pião?
Bute lá 😉
Eu não jogo jogos mobile porque acho sempre que é tudo pay to win e publicidade, portanto não fico admirado com este artigo.
O que me assusta é começarem também a trazer estas práticas para jogos pagos nas nossas plataformas de eleição e também já se escreveu muita tinta sobre isso (FIFA, Star Wars battlefront 2, etc…).
Mas há uma diferença no mercado e nas mentalidades. Pessoas mais “antigas” do gaming preferem gastar a adquirir o jogo e usufruir do gameplay e estão-se nas tintas para cosméticos.
A malta mais nova liga mais a skins, camuflagens e porcarias cosméticas e não se importa de gastar rios de dinheiro com isso. Adicionando a isto, são impacientes e se puderem, gastam dinheiro para terem vantagens injustas em jogos free to play.
Portanto conforme diz o artigo, o problema vem principalmente do comportamento do mercado com cada vez mais consumidores a alimentar este modelo e as empresas obviamente que vão continuar a desenvolvê-lo e a lucrar com ele.
Conclusão: Ponham juízo na cabeça dos vossos filhos 🙂
Concordo com tudo o que mencionaste no teu comentário. Acrescento que ainda tenho alguma esperança que se continue pelo menos a criar jogos com a qualidade que sabemos e acredito eu que o desenvolvidor deseja criar.
Apenas a título de exemplo, joguei o King of Avalon e o líder da aliança subiu em pouco tempo bastantes níveis, e eu perguntei-lhe como tinha feito, o tipo era sérvio mas está em Inglaterra, disse-me que tinha gasto 200£ em moedas do jogo para poder evoluir, e mesmo assim mal chegou ao top 20 do servidor, disse-me que era o passatempo dele e que provavelmente no mês seguinte ía investir igual quantia.
Sinceramente não percebo o que se passa com a cabeça de algumas pessoas.
No seu caso para além do pessoal que gasta rios de dinheiro no jogo, ainda tem aqueles que jogam através de emulador no PC, no pubg mobile é ao monte, se bem que eles agora fazem pareamento com quem apenas joga no emulador, mas se fizer equipa com alguém que jogue no telemóvel já parea junto.
Mas também acho um abuso que permitem nesses jogos, e não são as crianças que gastam esse dinheiro são mesmo tipos como nós
Se olharem com atenção, nós jogadores somos muito ricos em conteúdo, quantos jogos vocês possuem? Eu já não consigo contar, se um dia as coisas forem só pagar, eu estou fora, mas minha biblioteca é capaz de me entreter por décadas a frente se eu estiver aqui ainda, por tanto, não me preocupo tanto.
Grandes jogos, novas histórias de alto nível, estão muito raros. Vou me divertindo com as novidades enquanto dá, e nesse ponto, já não me importo de largar tudo isso e virar retro gamer caso necessário.
Jogo Clash of Clans diariamente desde 2014, tenho 2 vilas sendo uma full praticamente e depois de tantos anos achei justo dar uma contribuição pequena a algo que tanto gosto me deu, comprei umas 3 skins e uns 2 passes de batalha, que não somam muito em dinheiro, e eu nem precisava, só fiz porquê além do benefício, a empresa havia me dado muito mais do que eu a eles com essas comprinhas de menos que qualquer jogo de console, foi um custo benefício gigantesco, se tivessem passado a obrigar a comprar pra progredir, eu abandonava e fim de história, me diverti por muito tempo e isso já me valeu muito.