Especificações enganadoras. Mitos e realidades.

Cada vez mais os panfletos são inundados de especificações de smartphones e tablets para ajudar as suas vendas. Mas será que sabes mesmo analisar essas especificações. Será que podes olhar para os números e confiar que tal como na matemática 2 é sempre maior que 1?

Actualmente, as especificações estão na moda. Por exemplo, em telefones e televisões indicações como os bits de cor, o rácio de aspecto e as polegadas do ecrã são os dados mais comuns que encontras em mil e um folhetos.

Mas será que, sem duvidar da sua veracidade, podes confiar nestes números? Ou será que estes dados podem ser bastante enganadores para quem não percebe verdadeiramente do que está a ver?

Passemos a explicar com um exemplo:

O tamanho do ecrã:

O tamanho do ecrã é algo que não engana. Quando se fala em uma dimensão fala-se em centímetros ou em polegadas, e essa medida é a diagonal útil do ecrã. Daí que não haja grande coisa a dizer. Mas será que é bem assim?



É que as dimensões da diagonal são um engano. Na prática a diagonal não importa para nada, e pode mesmo ser um dado muito enganador. O que realmente interessa é a área de visualização e essa é obtida multiplicando a largura pela altura do ecrã, e não usando as polegadas.

É por esse motivo que um ecrã de 7 polegadas, apenas 3 polegadas menor do que um ecrã de 10 polegadas, possui na realidade menos de metade da área de visualização que o ecrã de 10.

Isto recorda-nos o caso da 3DS XL que saiu com ecrãs de 4,88″, e que muitos acreditavam que eram apenas 38% maiores do que os ecrãs da 3DS (e efectivamente 4,88 é um número apenas 38% maior do que 3,53″. Mas na realidade ao se aumentar a largura dos 76,8mm para os 106,2mm e a altura dos 46,08mm para os 63,72″, apesar de um ganho e 38% na diagonal, o ganho na área de visualização é de 90%.

Mas vamos complicar mais a coisa com um exemplo teórico, entre um ecrã com 10 polegadas como um iPad ou um ecrã Android como o Asus Transformer, igualmente com 10 polegadas, qual compravam? São os ecrãs iguais a nível de dimensões quando ambos medem 10 polegadas na sua diagonal?

A resposta pode ser chocante para muitos, mas ela é NÃO. É que os tablets Apple possuem um rácio de proporção entre a largura e a altura de 4:3,  ou 1,3333, e os tablets Android são quase todos 16:10 ou 1,6, mas no entanto, considerando a perda de área na barra com os menus no fundo, poderemos considera-los como 16:9 ou 1,777.



Ora vocês sabiam que um ecrã de 10 polegadas com um rácio 4:3 é cerca de 12% maior do que um ecrã com as mesmas polegadas com um rácio 16:9?

Façamos as contas aplicando o teorema de pitágoras:

Se o rácio altura/largura = 4/3, então temos: (4x)^2+(3x)^2=10^2 => x=2, ou uma largura de 8 polegadas por uma altura de 6 polegadas, e uma área de 48 polegadas^2.

Se o rácio altura/largura = 16/9, então temos: (16x)^2+(9x)^2=10^2 => x=2, ou uma largura de 8,71 polegadas por uma altura de 4.90 polegadas, e uma área de 42,679 polegadas^2.

Fazendo a proporção vemos que o ecrã de cima é 12,4% maior



Acertando as contas dado que os iPads possuem na realidade um ecrã de 9,7 polegadas, e os Android possuem ecrãs com 10.1  polegadas, o ganho diminui, mas mesmo assim o ecrã do iPad é 5% maior.

Espantado? Como diria o Guterres é apenas uma questão de fazer as contas: Dimensões da base*dimensões da altura=área de ecrã. Simples trigonometria de calculo de área de um rectângulo.

Esperemos que te tenhas apercebido agora que a comparação de especificação não se pode nunca resumir a comparar números, e que as coisas tem de ser enquadradas numa perspectiva muito mais complexa.

O Retina Display

Com o lançamento do iPhone 4 a Apple lançou aquilo  que chamou de Retina display. Mas o que é isto exactamente?

Há quem julgue que o Retina display tem a ver com a densidade de pixels. E se pensa assim, está certo… a 50%.



É que na realidade um Retina Display está relacionado com a densidade de pixels. Trata-se de uma densidade tal que fica perto da máxima que o olho humano pode captar.

A densidade de pixels num iPhone 4 é de 326 pixels por polegada, o que efectivamente se aproxima bastante da densidade máxima que o olho humano pode captar. Mas quer isso dizer que não conseguimos ver os pixels no ecrã de um iPhone 4?

Claro que não. E sim, é possível ver-se os pixels no ecrã de um iPhone 4.

Quando se fala de uma densidade de pixels Retina estamos a falar de uma densidade muito igual à que o olho humano pode captar. Mas a questão é que o olho humano capta mais ou menos dados consoante a distância a que estamos do ecrã. Quando a Apple fala de uma resolução Retina, ela fala de uma densidade tal que à distância mais comum de uso do iPhone, cerca de 30 cm, o olho humano não consegue perceber os pixels. Mas reduzam essa distância e imediatamente apercebemos-nos dos mesmos.

Esse é o motivo porque o iPad 3, apesar de uma densidade inferior de apenas 215 pixels por polegada, consegue ser igualmente um ecrã Retina. É que a densidade apesar de menor é a que o olho humano consegue captar à distância a que o tablet normalmente se encontra dos olhos.



Por esse motivo a Apple não criou nada de novo, e podemos mesmo dizer que os ecrãs HDTV Full HD, à distância a que os visualizamos, eram já ecrãs Retina.

Gama de Cores

A Gama de Cores é exactamente o que o nome indica, a gama de cores que um aparelho consegue reproduzir. E como tal quanto mais melhor… Certo?

Errado!

Se queremos ver as cores exactas de fotos ou vídeos, a gama de cores produzida pelo aparelho reprodutor tem de ser exactamente igual à gama de cores do aparelho usado para gerar o conteúdo.

Como será perceptível, um aparelho que reproduza 16 milhões de cores não pode mostrar cores que foram captadas num aparelho que apenas possuía duas cores, o preto e o branco. Mas não é isso que pretendemos referir aqui.



A questão é que se o televisor só tivesse preto e branco, garantidamente as cores seriam iguais. Mas tendo vários milhares de tons de cinza, quais as cores a usar para o preto e o branco? Naturalmente poderiam pensar que ele usaria os extremos (o preto e o branco), mas isso não é bem assim e muito certamente, especialmente em sinais analógicos, as cores serão distorcidas.

Quer isto dizer que uma gama de cores pequena pode roubar cores, mas uma muito grande poderá distorcer as mesmas.

Gama ideal? O actual standard de mercado!

Esta situação é particularmente interessante nos televisores NTSC. É que a gama de cores do NTSC foi definida em 1953, ou seja à mais de 60 anos, e está obsoleta à mais de 30. E com estes televisores as distorções de cores são chocantes.



Actualmente nos ecrãs de tablets e smartphones os 16 milhões de cores são um mínimo, o que permite 256 tons de cada cor. A questão é alguns ecrãs apenas conseguem produzir  262,144 cores, e mesmo os que afirmam conseguir 16 milhões nem sempre o conseguem. Note-se que não estamos a falar das especificações da placa gráfica, mas sim do ecrã LCD em si.

A questão dos 16 milhões de cores é que elas medem apenas as intensidades das três cores básicas, com 256 níveis de verde, vermelho e azul. Ora isto são 16 bits de cor.

Assim ao termos 256 cores em cada uma das cores básicas, isso quer dizer que cada cor possui 8 bits de cor. E muitos fabricantes por questões de marketing e vez de referirem que estamos perante um ecrã com 16 bits de cor, somam os 8 bits de cada uma das cores básicas, obtendo o número 24, afirmando assim que o seu ecrã é superior ao ser um ecrã 24 bits. Da mesma maneira alguns ecrãs com apenas 6 bits de cor em cada cor primária são por vezes anunciados como 18 bits pelo mesmo motivo, mas na realidade apenas conseguem reproduzir 262,144 cores.

Por esse motivo, aquilo que conheces como bits de cor na placa gráfica em que 8 bits = 256 cores, 16 bits = 16 milhões de cores e por aí fora, no mundo dos ecrãs é, por vezes, uma valente treta, com os números completamente distorcidos pelas contas acima referidas.

Para enganar o utilizador, os ecrãs com capacidades pare reproduzir menos cores normalmente recorrem a processos de dithering para enganar e dar a ilusão de mais cores. Mas essa situação pode ser percebida com uma análise visual cuidada ao ecrã.



Há contudo ecrãs que efectivamente possuem mais níveis de cada cor, e que anunciam biliões ou mesmo triliões de cores. E isso não é engano, é realidade. O problema é que os produtos normalmente apenas possuem 16 milhões de cores, e daí que ao possuirmos ecrãs com mais cores do que as que usadas para gerar o conteúdo, vamos ter distorção. Por esse motivo, apesar de ser uma realidade, as vantagens dessa situação são puro marketing.

Angulo de Visão

Actualmente é raro o ecrã que não anuncia um angulo de visão de 170 graus ou mais. Quer isto dizer que a imagem é visível mesmo que o utilizador se encontre lateralmente ao monitor.

E quem se recorda dos antigos ecrãs LCD sabe bem que isto é verdade… Até um certo ponto.

É que efectivamente os ecrãs actuais não distorcem as cores ao serem visualizados lateralmente. E essa situação é efectivamente uma melhoria face aos LCD antigos.

A questão é que o rácio do contraste cai tremendamente para quase 10% do seu valor total quando se visualiza o ecrã lateralmente. E o brilho cai igualmente mais de 50%.



Por outra palavras, efectivamente é possível ver-se a imagem nesses ângulos apertados, mas a imagem final será bem diferente daquela que é visualizada de frente para o ecrã.

Quer isto dizer que aqui não há engano ao consumidor, mas convém que fique claro que a quebra na qualidade do visualizado continua a existir.

Contraste:

Quem comprou um bom LCD à 5 ou mais anos poderá constatar que este possui uma excelente qualidade de imagem que pouco ou nada fica a dever aos actuais.

E se muitas das suas especificações se mantêm actuais, algumas há que aparentemente perderam bastante, e uma delas é o contraste.

Actualmente qualquer televisor apresenta um contraste mínimo de 20 mil para 1 (20.000:1), existindo mesmo televisores que referem alguns milhões:1, mas o vosso LCD mais antigo na altura bastante caro, apenas apresentava um contraste máximo de 1000:1. Houve aqui uma evolução radical.



Mas então como se explica que a imagem que ele apresenta é em tudo semelhante aos dos televisores actuais, bastante mais baratos? É certo que a tecnologia evoluiu, mas isso não explica tudo.

É que infelizmente, e por questões de marketing, a metodologia de medição do contraste modificou-se. E se antigamente esta situação era medida no interior de uma imagem, agora o mesmo é medido entre o brilho máximo de uma imagem, e o brilho mínimo de uma outra imagem escurecida. Quer isto dizer que, independentemente das melhorias do método, o mesmo é agora diferente, e alterado por puro marketing. Mas o contraste real é aquele que os nossos olhos verificam numa única imagem.

Ou seja, se formos a ver pelo método antigo a evolução não foi assim tão radical, e os melhores LCD’s apresentam um rácio de contrastes de 2000:1, com os Plasmas a irem aos 5000:1.

Por isso, caso não estejam a ver um ecrã OLED que pode apresentar rácios reais de contraste de 50000:1 para cima, esqueçam os números. São marketing.

Ecrãs LED

Não existem. E isso muitos de vocês já saberão.



Apesar de as lojas distinguirem os LCD das chamadas LED TV’s, a verdade é que aqui só temos um único tipo de TV, os LCD.

O que são então os ecrãs LED? Pois bem trata-se apenas do método de retro-iluminação da imagem. Se nos LCD usam-se lâmpadas de maiores dimensões, nos televisores LED são estas micro lâmpadas led que fazem a retro-iluminação.

As vantagens são reais e  visíveis, mas a questão é que os ecrãs não são LED, são LCD.

Fonte: Artigos diversos do DisplayMate, tais como este, este, este ou este.



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