Entrevista a André Gonçalves, Territorial PR & TPR Marketing Manager for WEMEA da Asus

A Pandemia causou uma grande escassez de produtos eletrônicos no mercado, sendo que os GPUs são talvez o componente que mais sofreu, estando completamente esgotados no mercado, e com preços a sofrerem de uma tremenda especulação.
Para abordarmos um pouco mais esse assunto, no artigo de hoje vamos fugir um pouco ao que é habitual neste website. Teremos aqui uma entrevista a André Gonçalves da Asus, que acedeu gentilmente a uma entrevista.

André Gonçalves pode não ser conhecido de todos, mas é certamente conhecido de alguns. Basicamente tem sido a cara da Asus à vários anos, tendo representado a mesma em programa de Tv como o Curto-Circuito da Sic Radial, bem como como autor de diversos artigos em jornais e revistas.

Amigo de longa data, e companheiro de longas noitadas (sem dormir) de jogatina, que partilha comigo e com alguns amigos comuns, a grande a paixão pela informática, ocupa atualmente o cargo de Territorial PR & TPR Marketing Manager for WEMEA, dentro da Asus.

PCManias

– Antes do mais, André, obrigado por teres acedido a esta entrevista.
Queres fazer algum tipo de apresentação, a ti, ao teu cargo, ou à marca que representas?



André Gonçalves

– Desde já, agradeço o convite. Faço a gestão das atividades de Relações Públicas e Marketing Técnico da nossa divisão de portáteis, bem como, o controle do Marketing de Gaming de portáteis a nível europeu. E, antes de mais, é também importante referir que as opiniões expressas nesta entrevista são exclusivamente minhas e não expressam as opiniões ou posições da ASUS.

Foto:RTP

PCManias

– E há quantos anos estás na Asus?

André Gonçalves



– Comecei à 20 anos a trabalhar a marca, numa primeira fase indiretamente através do primeiro distribuidor da marca em Portugal e à pouco mais de 16 anos diretamente na marca, quando abrimos o escritório ibérico em Barcelona e passado 4 anos em Portugal com o escritório em Lisboa. Mas mesmo assim, à bem menos tempo do que somos amigos Mário.

PCManias

– Tendo, tal como eu, assistido à evolução dos sistemas informáticos caseiros, o que, na tua opinião, tem mudado no mundo, com a evolução dos computadores?

André Gonçalves

– Quando ambos éramos crianças, gostar de computadores era um hobby incomum e até algo excêntrico. Ter um computador em casa era algo raro e pouco útil aos olhos da maioria das pessoas. Na altura, nem os maiores entusiastas desta indústria poderiam antecipar a velocidade exponencial com que a computação pessoal foi adotada pela generalidade da sociedade. Hoje a informática é ubíqua ao ponto de
quase fazer parte do conceito de literacia básica. Seguramente, no futuro, o nosso investimento pessoal em relacionamento e controlo de dispositivos informáticos será ainda maior. E isso deve-se em grande parte ao facto de cada vez mais os sistemas de automação e transmissão de informação serem fatores chave de sucesso tanto para o nosso trabalho como para o nosso entretenimento.



Foto: Asus

PCManias

– Sendo a Asus uma empresa bastante bem representada no mercado Gaming, com o seu branding ROG e TUF, a ideia é que este mercado representa uma grande fatia do negócio da Asus? Será que nos poderias dar uma noção do quão importante ele é?

André Gonçalves

– A ASUS foi seguramente uma das marcas pioneiras no mercado de gaming, e a sua grande abrangência em termos de portfólio de produto permitiu-nos entregar centenas de produtos neste mercado emergente como também ser um dos maiores inovadores e impulsionadores desta tipologia de produtos. Hoje não temos um produto destinado a este mercado, mas sim, todo um portfólio de produtos de gaming bastante distinto para servir as necessidades dos diferentes jogadores. Para além disso desde do início que reconhecemos que um portátil ROG deve ser capaz de se destacar pela sua capacidade de jogo mas também deve servir na plenitude as necessidades de computação dos seus utilizadores. Da mesma forma que um bom calçado desportivo serve para qualquer tipo de utilização diária.



Foto: e-Sports

PCManias

– A pandemia… por um lado sabe-se que as pessoas jogam mais, mas por outro, tem havido limites à produção. Podemos dizer que empresas como a Asus sofreram com a pandemia ou, apesar da afetação de determinadas partes do negócio, o crescimento em outras acabou por compensar a coisa?

André Gonçalves

– Creio que todos sofremos de uma forma ou outra com a pandemia.



PCManias

– E na parte que te toca, as Relações Públicas e publicitação da marca, como foste afetado pela questão da pandemia, com o fecho das lojas durante o período de recolhimento?

André Gonçalves

– O aspecto mais relevante foi provavelmente a diminuição drástica do número de viagens que fiz ano passado. Por outro lado, foi também o ano em que mais desenvolvi as minhas capacidades de apresentação de conteúdos à distância. Basicamente aprendi a fazer as mesmas coisas mas à distância, e creio que este conhecimento vai permitir daqui para a frente evitar algumas deslocações, mesmo após este período de viagens condicionadas.



Foto: Actigamer

PCManias

– E diz-me, não existe o receio, junto dos fabricantes de hardware, como a Asus, que tecnologias como o streaming, pelas suas baixas exigências do lado do cliente, com a entrega de jogos de elevada qualidade basicamente capazes de ser executados em qualquer sistema com um ecrã, um sistema de input e relativo pouco processamento , possam colocar em risco toda a indústria que orbita em torno do hardware e do gaming, acabando com a corrida ao hardware cada vez mais e mais potente?

André Gonçalves

– Ter medo da inovação não faz parte do ADN da ASUS. Começamos por fazer motherboards para processadores que ainda nem sequer tínhamos no nosso laboratório, e hoje desenvolvemos as mais variadas soluções tecnológicas. Do mais simples computador numa só placa a soluções industriais de IOT. A ASUS pode orgulhar-se de ter um dos mais ricos portfólios de eletrónica de consumo (e não só) do mundo. Para fazer funcionar essas soluções de streaming vai continuar a ser necessária muita tecnologia e seguramente a ASUS terá uma palavra a dizer nessa busca do incrível.

PCManias



O que acreditas que possa vir a existir, se algo, no sentido de essa situação não se tornar uma realidade. Como acreditas que empresas como a Asus podem superar essa situação?

André Gonçalves

– Como disse Peter Drucker “A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. Creio que nestes últimos 30 anos da nossa existência a marca já demonstrou inúmeras vezes a sua capacidade de criar soluções que não só vão ao encontro das expectativas dos seus utilizadores como muitas das vezes as superam.

PCManias

Como sabes, pela pandemia existente, há alguma carência de peças de informática no mercado, o que tem levado a alguma subida de preços. O melhor exemplo disso passa-se com os GPUs, que por serem altamente procurados para mineração de criptomoedas, subiram de preço, de uma forma astronómica, com produtos cujo valor deveria rondar os 300 euros, a alcançarem valores na ordem dos 800 ou até mais euros. E isto leva-nos a várias questões que gostaríamos de te colocar:
Eis a primeira:
Como é que vocês vêem a questão da mineração, e a concorrência da mesma sobre o mercado gaming? É que apesar de, para o senso comum, poder passar a ideia que o que importa é vender, a mineração pode levar a esta situação de aumento de procura e preços, levando o mercado gaming a fugir para as consolas ou para serviços de streaming.

André Gonçalves

– Na minha opinião pessoal, criar diferenciação de consumidores é um processo arriscado e com grande potencial para criar injustiças. O mercado de gaming é muito vasto e diferenciado acredito que todo tipo de soluções têm o seu espaço neste mercado e não são intersubstituíveis, a proeminência de cada uma delas só o tempo dirá. Mas o prenúncio de morte do PC gaming já foi várias vezes agourado e nunca esteve tão vivo como na última década.



PCManias

Uma outra questão que está na cabeça de todos. Este aumento dos preços dos GPUs, está a refletir-se nos bolsos de quem? Dos fabricantes, dos comerciantes?
Se é dos comerciantes, porque os fabricantes não fazem nada, como por exemplo, regular preços, e se é dos fabricantes, isto não pode levar a uma situação em que o comerciante percebe que ganha mais com esta situação, fabricando menos e ganhando mais, podendo prejudicar o mercado, e a si mesmo a longo prazo?

André Gonçalves

– A regulação artificial de preços não só é injusta como é ilegal. A subida de preços é um fator normal em mercados onde existe escassez de oferta. Mas a grande procura é também o maior catalisador da produção e com ele a auto regulação dos mercados.

PCManias



E não vos parece que quando um mero GPU como a Geforce Ti 3060, inferior ao que pode ser oferecido por uma consola de nova geração, alcança um preço de 800 ou mais euros, atirando o custo de um PC para algo na ordem de 3 a 4 vezes mais que uma consola, estas podem conquistar mercado ao PC? E da mesma forma, esta especulação não estará a atirar as especificações médias dos PCs para algo bastante abaixo do oferecido pelas consolas.

André Gonçalves

– Pelo que vejo, não são só as placas gráficas que sofrem esse problema de escassez.
Uma análise a frio do mercado nacional permite-me afirmar que a média dos PCs disponíveis para venda ao dia de hoje têm uma relação preço desempenho muito superior às consolas efetivamente disponíveis em Portugal para compra.

PCManias

– Estando à espera de um novo PC (que diga-se é equipado com material Asus), o mesmo virá sem GPU devido à especulação de preços. Tens alguma ideia de quando poderemos vir a esperar uma regularização nos fornecimentos de GPUs aos preços de retalho recomendados, ou o COVID 19 torna a resposta a isso algo imprevisível e incerto?



André Gonçalves

– Os meus prognósticos para este resultado só te posso dar no final do jogo. Mas acredito que a maioria dos grandes desafios tecnológicos desta pandemia já foram superados, e sinceramente espero que em breve uma nova Placa Gráfica ROG possa completar o teu novo PC.

PCManias

– Obrigada pelo teu tempo e pela entrevista, André.

André Gonçalves



– De nada Mário, é sempre um prazer compartilhar a minha opinião sobre estes assuntos.

Análise à entrevista

Infelizmente algumas questões a que gostávamos de ter resposta ficaram por responder, mas no global a posição de André Gonçalves enquadra-se com a da maioria dos analistas. Apesar da ameaça do Streaming e as ameaças que o Covid coloca ao PC e que expusemos nesta entrevista, o mercado PC Gaming está previsto que cresça até 25% até 2024!

No entanto o futuro é incerto, e vermos GPUs como a Geforce 1650, um GPU da gama média/baixa, cujo preço deveria rondar os cento e poucos euros, a ser vendido por 465 euros, é algo que nos leva a questionar essas previsões.

Da mesma forma ver uma Geforce 3080, com um preço de retalho anunciado de 699 dólares, e que deveria ser o GPU de referência de nova geração pelo seu preço, a ser vendida por 1999 euros, tornando-a inacessível, mostra que o mercado atualmente está estagnado e que poucos PCs sofrerão upgrades nos próximos tempos.

Certamente que, apesar da escassez, pouco preveriam que as coisas chegariam a esse ponto.

Termino só com um novo agradecimento ao André, deixando-lhe a mensagem que ligue para mais umas partidinhas de Stick Fighter 😉



18 Comentários
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José Galvão
José Galvão
14 de Maio de 2021 9:52

Gostei do facto de teres posto o dedo na ferida apesar de ser um amigo teu, embora não tenhamos obtido uma resposta signifitativa.

Não concordo quando ele diz que “a média dos PC disponíveis para venda ao dia de hoje, têm uma relação preço desempenho muito superiores às consolas efetivamente disponíveis em Portugal para compra”…

Posso estar enganado, mas nenhum PC à face da terra bate uma consola em termos de preço/performance, um PC de 200€ não consegue correr um Days Gone, o meu PC pelo qual muito procurei, custa cerca do dobro da minha PS5 e ray tracing está quieto, portanto não percebo como é que se pode fazer essa afirmação.

Achei peculiar como nesta afirmação, o André relega o PC a ser somente comparado com PS4’s e Xbox One’s, jogando com o facto de a PS5 e Series X estarem esgotadas em Portugal.

Sparrow81
Sparrow81
Responder a  José Galvão
14 de Maio de 2021 12:23

A questão é: Ele está no universo PC e é do marketing. Não espere alguém da área de marketing de uma empresa que faz coisas para PC falando que os consoles tem o melhor custo x benefício disparado do mercado. Hehe

José Galvão
José Galvão
Responder a  Sparrow81
14 de Maio de 2021 13:33

Eu sei disso mas a observação tinha que ser feita porque o que é afirmado, mesmo vindo do marketing, é de uma enorme falta de noção.

Sparrow81
Sparrow81
Responder a  José Galvão
14 de Maio de 2021 13:55

Sim, eu ia comentar o mesmo, mas vi que você já tinha falado sobre.

Marco Antonio Brasil
Responder a  José Galvão
14 de Maio de 2021 14:10

Concordo. Como dizemos no Brasil , na posição em que se encontra seria normal ele “puxar a sardinha” para o mercado PC, mas essa declaração dele foi (muito) exagerada.

José Galvão
José Galvão
Responder a  Mário Armão Ferreira
14 de Maio de 2021 16:46

Eu percebo Mário, também percebo o lado dele, é representante da marca e como tal tem que ter cuidado com o que diz, especialmente nos dias de hoje, mas uma coisa é não conseguir dar respostas, outra é mandar areia para os olhos.

André Gonçalves
André Gonçalves
Responder a  José Galvão
18 de Maio de 2021 17:31

Concordo João, a afirmação pode parecer exagerada provavelmente por um descuido meu na falta de uma explicação mais clara. Vou então reformular:
“A média dos PC disponíveis para venda, ao dia de hoje, tem mesmo assim um despenho superior às consolas efetivamente disponíveis em Portugal para compra. Tendo em consideração todas as vantagens acrescidas do PC em termos de funcionalidade, catálogo de jogos disponível e custo de aquisição dos mesmos.”
Acredito que acima de tudo, que a escolha de compra entre um PC ou uma consola de jogos vai muito além do seu despenho gráfico, pois não são dois tipos de produtos diretamente substituíveis. Da mesma forma como o comprador de um carro desportivo não considera, na maioria dos casos, a compra de uma mota só porque tem maior aceleração ou velocidade de ponta. Sem com isto dizer que as consolas, tal como as motas, não sejam soluções interessantes para quem procura esse tipo de experiências.

José Galvão
José Galvão
Responder a  André Gonçalves
18 de Maio de 2021 22:09

Olá André, antes de mais nada fico muito contente por teres respondido.

Dito dessa maneira, concordo plenamente, o PC tem um sem número de funcionalidades que as consolas nunca vão ter, não é por acaso que o meu PC é ligado todos os dias, já a minha PS5 nem por isso, mas sou da opinião de que a única comparação deve ser feita apenas com os jogos em mente, meter funcionalidades ao barulho é injusto.

Por acaso sou motard, a minha moto é uma Honda CBR 600 F de 1999, tem 110CV de potência, custa uma fração de um carro com o dobro ou até mesmo o triplo da potência, o carro tem muitas mais funcionalidades que a minha moto, mas garanto-te que em circuito (videojogos) a moto não lhe dá a minima hipotese, mesmo que perca em tudo o resto, no entanto os seus ”exclusivos”, como sensação de liberdade, poder de acelaração, facilidade de uso e manutenção, encantam milhões.

PS: por acaso nasci no dia de S. João,, mas chamo-me José 😉

Cumprimentos 🙂

André Gonçalves
André Gonçalves
Responder a  José Galvão
19 de Maio de 2021 12:31

Nesse caso o meu pedido de desculpas pela distração José.
No meu caso também já troquei 4 vezes de carro mas ainda mantenho a minha fiel 600cc.
Um abraço.

Marco Antonio Brasil
14 de Maio de 2021 14:09

Muito boa a entrevista.

E melhor ainda a análise, um tapa na cara de alguns que ainda insistem em negar que o PC Manias é guiado por critérios técnicos!

Deto
Deto
14 de Maio de 2021 17:23

tá defendendo o produto dele.

eu recomedaria quem tem um PC continuar com o mesmo PC e jogar os jogos mais leves e velhos e daqui uns 2 anos fazer upgrade.

se tem gente que compra console de nova geração para jogar jogos velhos, pq não continuar com o PC velho para jogos velhos?

Se o cara nunca jogou Fallout 3 e o New Vegas, pega eles no PC… qualquer PC MID de antes da pandemia garante 1080p 60fps nesses jogos e tem pelo menos entre 400 e 800h de jogatina nesses jogos.

Dead Space 1, 2 e 3; esse deve rodar 1440p 60fps em qualquer PC mid de antes da pandemia… tá ai umas 30~60h de jogo.

Last edited 3 anos atrás by Deto
Kito
Kito
14 de Maio de 2021 18:32

Gostei da entrevista Mário.
A questão sobre possibilidade das consolas roubarem mercado aos PC faz sentido sim, principalmente neste contexto actual.
É impossível encontrar no mercado uma placa gráfica entre 400 a 500€ que ofereça o mesmo que as consolas. Sem falar dos outros componentes para se montar um pc.
Hoje em dia tanto o PS5 ou a XSX conseguem oferecer aquilo que antes só se via nos pc’s de alto desempenho, desde processadores com vários núcleos com clocks ao nível dos pc desktop, bastante memória, Ssd de alto desempenho, placas gráficas bastante capazes e com possibilidade de melhorias futuras com o equivalente ao dlss da amd a caminho, suporte a resoluções 4k, framerate até 120 fps, HDR. E não esquecer que os jogos são criados com elas em mente.
Claro que a força bruta nos PC estará sempre à frente possibilitando obter melhores resultados. Mas a que preço? E será assim tão diferente? Olha que eu tenho como plataforma principal o PC.
Eu ainda não possuo nenhuma consola de nova geração mas estou a pensar nelas como opção em vez de um upgrade ao meu PC, que ainda consegue executar os jogos de forma decente.

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