Em 2013 a Microsoft queria vender mil milhões de consolas. Em 2019 quer alcançar 2 mil milhões de jogadores!

Se a Microsoft sofre de ilusões de grandeza ou se pura e simplesmente é utópica, é algo que não se consegue perceber! Mas repetir números megalómanos a cada geração parece ser uma prática à qual não consegue escapar.

Nota: artigo alterado a 12/03 para melhor reflectir a realidade das palavras usadas pela Microsoft.

A Microsoft começou a falar sobre a nova geração de consolas… e curiosamente as suas primeiras entrevistas fazem lembrar as primeiras que foram dadas antes do lançamento da geração atual. A diferença é que quando a Microsoft antes falava num mercado que poderia alcançar mil milhões de pessoas, agora ela fala em dois mil milhões.

Sinceramente custa-me a perceber como é que uma empresa que afirmava à boca cheia que o seu objectivo era, com a Xbox One, aumentar as vendas globais de consolas de uns previstos 400 milhões para os mil milhões, graças às capacidades multimédia da sua consola,  tendo no final a mesma alcançado um mercado global que se estima em apenas 42 milhões de consolas, não cai à terra falando do seu futuro, mesmo que, teoricamente, possível, de forma um pouco mais contida e mais ponderada. Mas acima de tudo, como ela cai no tipo de afirmações que criam no público uma sensação de “deja vu” que em nada a beneficia.

Mas apesar de o aumento para os mil milhões se terem tornado quase motivo de piada perante as vendas da Xbox One, a Microsoft não se tornou mais contida! Numa entrevista recente Phil Spencer e a sua equipa falaram do serviço Xcloud, e segundo o Geekwire, que publicou frases da mesma, os executivos Microsoft tem um novo número na boca que repetem incessantemente: 2 mil milhões!



A ideia da Microsoft com o Xcloud é alcançar o maior número de mercados possível e, segundo a notícia, a empresa repete agora incessantemente o número 2 mil milhões, que refere ser o número de jogadores potenciais em todo o mundo que podem ser alcançados com os serviços stream, entre os quais, o seu futuro serviço XCloud.

Apesar de tudo, parece existir alguma coerência e a Microsoft reconhece que muitos destes jogadores vivem em partes do mundo onde os jogos consola não conseguem penetrar. E nesse sentido Kareem Chroudhry, Vice Presidente Corporativo do Gaming na Cloud para a Microsoft, deixa as suas palavras.

Sabemos que não vamos vender 2 mil milhões de consolas, e que há muitos mercados no mundo onde as consolas não são propriamente um estilo de vida.

Kareem parece ter os pés assentes em… qualquer sitio. Falta é saber em qual! Porque a sua frase deixa no ar que, mesmo não alcançando 2 mil milhões de consolas, a Microsoft pretende vender consolas a boa parte desses utilizadores, o que, mais uma vez, perante a grandeza do número, se trata de clara utópia, fazendo lembrar a ideologia dos mil milhões de consolas Xbox One que a Microsoft referia que a sua consola levaria a ser alcançado no início desta geração, e onde, apesar da intenção e largo investimento feito, se ficaram por algo perto dos 42 milhões.

A falta de contenção mas palavras e números apresentados pela Microsoft é impressionante, e o simples referir deste número de forma incessante, como refere o Geekwire, colocando-o em várias frases, mostra uma pretensão desmedida e irrealista.

Mas depois, na mesma entrevista, a Microsoft não mostra coerência e eis que vem a contradição. Kareem até usa palavras em que aparenta  uma ambição de grandes vendas de consolas, mas depois Phil Spencer, quando questionado sobre o serviço, ao ser universal, poder prejudicar essas mesmas vendas, refere que:

O negócio dentro dos jogos é na realidade vender jogos, e vender acesso aos jogos significa que esse é o negócio fundamental. Dai que se abrires o negócio mais vezes as pessoas podem jogar, e mais vão gostar da forma de arte. Aumenta o tamanho do negócio.

De acordo com o responsável máximo da Xbox, parecendo contrariar Kareem, as vendas do seu hardware são irrelevantes. O grande negócio está nos jogos e não em factores como as vendas de hardware ou, consequentemente na base que as consolas criam!



Esta frase, num outro contexto qualquer, seria uma verdade de “La Palice”, pois é uma realidade conhecida de todos que o lucro do negócio das consolas não está na venda do hardware, mas sim dos jogos que depois são vendidos para elas.

A questão aqui é que o contexto passa pela oferta dos jogos por um serviço universal de streaming. E quando esse serviço permite alcançar hardware que não é apenas as consolas, a abrangência das frases aumenta. Basicamente neste contexto de se vender acesso aos jogos num serviço basicamente universal, a consola perde relevância, e deixa de ser a ferramenta necessária para o sucesso. Ela deixa de ser a ferramenta essencial para o fim, mas apenas uma das possíveis ferramentas para o fim.

A remoção da essencialidade tem consequências pois remove-lhe o foco que era necessário dar-lhe. Basicamente se antes tudo acabava dependente das suas vendas, pelo que o seu suporte era essencial, mas num serviço destes, o sucesso do mesmo não fica dependente da consola ou do seu hardware. Daí que talvez seja de se notar que Phil não refere que “o negócio dentro das consolas”, supostamente o mercado em que a Microsoft está, é vender jogos, mas que o “negócio dentro dos jogos” é vender jogos. Basicamente a Microsoft deixa de se referir a todo o negócio como sendo o detentor de uma plataforma de hardware especializado, mas sim o detentor de uma plataforma de venda de jogos universal.

O que nos quer parecer, é que numa pergunta sobre a possibilidade de a universalidade do serviço poder prejudicar as vendas da consola, a haver continuidade do foco mesma, a resposta deveria passar por uma frase que referia que a consola continuará a ser a aposta principal da empresa pois é nela que assenta todo o serviço e é nela que estão os clientes que tornaram tudo isto possível. Mas não… a resposta é totalmente economicista e virada para os possíveis lucros da Microsoft, ignorando completamente a preocupação do lado do cliente que existia na pergunta e virando-a apenas para o lado das receitas.

Ora abordar o tema desta forma numa altura em que se prepara uma nova geração, tal parece ser mais um tiro no pé não sendo exactamente aquilo que as pessoas que potencialmente estão interessadas em aduirir o seu hardware querem ou gostariam de ouvir antes de um investimento!



Não estou a ver como é que uma empresa que foge à importância de um hardware proprietário, relegando uma questão de preocupação do cliente para os seus lucros, e indirectamente colocando o hardware num plano secundário, deixando claro que o que interessa é vender jogos, pretende atrair o mercado das consolas, particularmente as pessoas que estão com dúvidas sobre o suporte Xbox, para comprarem o seu produto.

Basicamente, se a ideia é ter jogos por Streaming, ter uma Xbox ou um outro hardware qualquer torna-se irrelevante. E a mensagem que a Microsoft passa é contraditória. Um fala em vendas de consolas mirabolantes e o outro rrferr que a Xbox é agora apenas uma de muitas formas de a empresa atingir um fim, e que esse fim não passa especificamente pela consola. Que não é relevante apostar em desenvolver para ela especificamente pois nesta fase já não é ela que dá os lucros, ou permite criar os lucros, mas sim o global do mercado alcançado.

A frase é de Phil Spencer e interpretem-na como quiserem, mas o facto é que perante uma pergunta de alguém preocupado com o futuro da consola, ela diz claramente que o negócio não está nas suas vendas… está nos jogos vendidos! É a subversão total da pergunta!

Quando se associa isto a uma forte aposta no streaming e a 2 mil milhões de potenciais clientes quando a Xbox tem apenas 42 milhões, percebe-se que a consola Xbox conta muito pouco aqui! E o Gamewire, após falar com os dirigentes da Microsoft, tem a mesma opinião ao começar a entrevista com a frase “The days of the Xbox console as the primary focus of Microsoft’s gaming division are numbered.”

A utopia da Microsoft é gigante, e o seu marketing… continua desastroso.



O que não entendo é como é que eles mesmos reconhecem na entrevista que os serviços de streaming existem há mais de uma década, mostrando todo este optimismo, esquecendo que todos eles tiveram o mesmo fim (RIP), sendo que o que persiste e que até é o que mais lucro dá é o único que está no mercado sem o intuito de substituir o mercado clássico, mas sim de andar a par com este (o PSNow), sendo inclusive sub publicitado por isso mesmo?

Mas agora a Microsoft acredita que o seu serviço vai alcançar 2 mil milhões de pessoas, e dessa forma “conquistar o mundo Gamer”, ignorando completamente que a concorrência também vai estar lá presente, e que jogos como Call of Duty e muitos outros, que estarão nos serviços concorrentes, vendem mais sozinhos que os seus exclusivos todos juntos.

Mas voltando ao texto do artigo, não é de admirar que quando este refere “A Microsoft fala sobre o futuro da Xbox, liderado pelo seu serviço de streaming XCloud” se fale nos rumores em duas versões da Scarlett, sendo uma delas streaming.  Estas frases basicamente são a perceber que essa é a aposta da Microsoft, e que a outra consola mais poderosos só servirá para calar os queixosos da mudança que querem correr os jogos localmente, e os aguentar calados durante a transição, ao mesmo tempo que a Microsoft coloca um pé de cada lado do rio, para precaver todas as possibilidades. Esse será tambem o motivo da contradição nas palavras de Kareem e Phil. O cativar e passar a imagem que tudo interessa quando na realidade as consolas só são importantes em caso de o serviço não ter a aceitação que a Microsoft espera que tenha. Mas como o futuro é incerto… Aposta-se nos cavalos todos.

Esse será tambem o motivo porque a Microsoft, segundo os rumores, lançará duas consolas, uma dedicada ao streaming, outra ao jogo local!
Mas infelizmente, e não consigo ver a coisa de outra forma, o conceito de Streaming e o de hardware físico são incompatíveis! A apostar-se no hardware físico não se aposta no stream pois o stream não requer esse hardware físico, pelo que há que se fazer uma escolha que o lançamento de duas consolas diferentes não parece fazer crer existir. Há aqui uma aparente incongruência, um contrasenso, que poderá criar uma situação que favoreça um modelo em detrimento do outro.

Mas esta dualidade, esta aposta em várias frentes não é nada que não tenhamos visto ao longo desta geração. É o tal navegar ao sabor do vento, sem um rumo concreto, verificando como o mercado reage, e deixando a porta aberta do outro lado, que fomos criticando a Microsoft de ir fazendo ao longo destes últimos 6 anos. E pelos vistos, nesse aspecto, também tudo continua igual.





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