E se um dia os jogos por streaming dominassem o mundo.

É incrível como algo que parece ser tão inofensivo poderia trazer consequências tão grandes e mudar completamente o mundo, atrasando a evolução, alterando preços de hardware, causando milhões de prejuízo na industria do hardware, e mesmo criando um número incontável de perdas de postos de trabalho.

Streaming. Uma palavra cada vez mais ouvida e dada como sendo o futuro dos videojogos ao poder alcançar milhões de milhões de aparelhos que de outra forma nunca seriam capazes de executar esses jogos.

Basicamente no streaming todo o processamento é feito do lado do servidor, sendo que o resultado gráfico do jogo é enviado como sendo um video, existindo um pequeno software que o reproduz e capta o input de reacção do jogador, permitindo assim que o jogo seja jogado remotamente e sem qualquer tipo de processamento local de maior.

O streaming possui vantagens e desvantagens, mas do lado das vantagens há algumas que atraem fortemente os criadores de software. A quebra das barreiras de performance, de compatibilidade, e a possibilidade de jogos de topo poderem ser jogados em aparelhos móveis de baixo custo. Basicamente, com o streaming, um jogo feito, por exemplo, para PC, poderia ser jogado em todas as plataformas, incluindo aparelhos móveis de baixo custo, com a mesma qualidade gráfica exibida no PC para o qual ele foi concebido correr. Tal permite reduzir custos de desenvolvimento, alcançar um mercado muito maior e, graças a um aparentemente mais baixo custo pelo pagamento faseado, conseguir fazer receitas extra.

Por estas virtudes, que existem para o lado dos criadores de software, todos o querem. Mas no entanto, todos estão igualmente conscientes que não podem abraçar o streaming de forma aberta, e isto porque o streaming encerra riscos tremendos que colocam em risco toda a industria do hardware e software, a industria informática. E nesse sentido, todos afirmam que apenas o pretendem como alternativa aos jogos executados localmente, referindo que não acreditam que alguma vez substituam o mercado tradicional!



Mas não nos enganemos. Streaming e jogos físicos terão muita dificuldade em co-existir, especialmente se o streaming não obrigar a um tão grande investimento numa máquina capaz, e se permitir obter resultados em tudo semelhantes. Mais ainda, a ilusoriamente aparente oferta de grande quantidade a baixo custo, irá mais cedo ou mais tarde, atrair a grande maioria das pessoas. Quer se queira quer não, e a realidade da economia mundial mostra isso mesmo, custa menos dar um valor fixo por mês para acesso a centenas de jogos, do que pagar 70 euros de uma vez para apenas um jogo, motivo pelo qual as pessoas se sentem atraídas nestes serviços, mesmo que na realidade não saiam mais baratos.

É nesse sentido que convêm que se alerte das realidades. Dos riscos do streaming quer para o mercado dos videojogos, como para toda a industria informática, bem como dos seus reais custos, pois dado que quem decidirá o mercado futuro é o consumidor, convêm que este esteja consciente de que pode estar a destruir todo um ecossistema e mesmo a matar os videojogos.

E a real triste verdade é que o sucesso dos jogos por streaming colocaria em risco a industria dos videojogos, tal como a conhecemos, é isso algo que já foi abordado neste website. Sem entrar em grande detalhe ou querendo repetir o que já foi dito, naturalmente que sistemas de subscrição colocam em risco todo o sistema de vendas físicas uma vez que o streaming, ao não ter barreiras de compatibilidade, caso se torne um stardard ou o sistema predominante, irá levar as empresas a reduzir custos, acabando com a criação de versões específicas para os diversos hardware, criando apenas uma versão acessível a todos, e acabando assim com as vendas físicas e o suporte a hardware específico.

Seria por isso uma situação que alteraria o mundo dos videojogos, acabaria com a posse do adquirido, e obrigaria “ao always online”. A concorrência de diversos serviços prestados por todos os intervenientes do mercado (Microsot, Sony, Nintendo, Google, Nvidia, EA, Ubisoft, Square Enix, Activision, etc, e aos quais se juntariam iniciativas de novas empresas ou serviços já existentes),  ainda dividiriam mais o acesso aos jogos. E ao contrário do actualmente existente onde o cliente tem acesso ao que deseja sem ter de pagar mais por isso, numa situação dessas, caso não se opte por múltiplas subscrições, aumentando os custos no acesso, o cliente teria de perder muitos jogos. Mas diga-se que não é só assim que o cliente aumenta os seus custos! A simples adesão a estes serviços parece bastar, como o demonstra este outro artigo e onde vemos que, mesmo sem grande concorrência, o aumento dos gastos acontecem desde já, com os assinantes destes serviços a gastarem, em média, 45% mais do que quem não os assina.

Mas as consequências não seriam apenas essas, e não estariam apenas relacionadas com a quebra do modelo tradicional do que são os videojogos. A realidade é que, pelos requisitos para o streaming que leva à falta de necessidade de um sistema potente para se poder correr os jogos mais exigentes, essa situação iria ter outras graves consequências no mercado.

AMD, Nvidia, Intel e outros, ganham milhões com a venda de sistemas topo de gama! Aliás são estes que lhes dão mais dinheiro, e sem a necessidade dos mesmos, seriam tremendamente penalizados nas vendas, e consequente receita e lucros. Pura e simplesmente os seus sistemas mais avançados teriam quebras radicais na procura, e isso porque a sua compra para o gaming deixaria de justificar. Mesmo que o PC pudesse ser o sistema menos prejudicado, ao ser o escolhido, pela simplicidade, pela facilidade e pela universalidade, para o desenvolvimento, e dessa forma podendo ser a plataforma que mantinha o modelo de vendas clássica, a realidade é que o custo de atualizar uma Placa Gráfica ou um CPU de topo não justificariam, uma vez que qualquer pessoa, com uma placa de baixo custo, com acesso à internet, conseguirá a mesma qualidade gráfica e FPS. E isso tornar-se-ia visível a todos.



Basicamente, mesmo que as vendas do hardware de topo continuassem a existir, o seu volume iria forçosamente cair drasticamente. A procura de hardware de topo deixava de ser uma necessidade para quem pretendesse jogar com a qualidade máxima.

Esta implicação nas vendas teria depois impacto nos lucros, e acima de tudo na necessidade de evolução, com a consequente pesquisa e desenvolvimento de novo hardware mais potente. Os videojogos, como sabemos, são das situações que mais puxa pelos sistemas e nesse sentido são dos maiores motores de desenvolvimento tecnológico do mercado, particularmente no domínio dos GPUs.

Sem a procura, não haveria a necessidade da criação da oferta. Teríamos uma estagnação da evolução tecnológica a nível de hardware e uma proliferação de sistemas de baixo custo.

Esta situação teria rapidamente impacto nos preços dos sistemas mais caros,  que sofreriam um aumento do custo. Basicamente a procura pela performance continuará a existir em certas actividades, mas deixando o mercado dos topos de gama de ser relativamente massificado, com a remoção da procura do mercado gaming, os preços sofrerão.

A quebra de receitas nas vendas dos sistemas mais potentes, e onde há maiores margens de lucro, obrigariam a que as receitas passassem a necessitar de ser obtidas nos sistemas mais baixos, obrigando também a que os seus preços destes subissem. As menores necessidades de investigação e desenvolvimento iriam levar a cortes de postos de trabalho, e as menores vendas iriam ainda cortar postos de trabalho adicionais.



Lucros das empresas com as gamas de hardware. Exemplo de 2016.

Basicamente as alterações ao mercado poderiam ser radicais. Estaríamos perante uma potencial situação que poderia ter impactos gigantescos em toda a industria informática.

Naturalmente o caso aqui exposto é radical. É um “worst case scenario”, mas algo bem real, que pode acontecer. Agora a industria certamente tem noção de tudo isto, e procura alternativas que prendam as pessoas o modelo tradicional, como é o caso do VR. Mas o certo é que terão de existir mais alternativas do que as atuais pois o streaming está a entrar a um ritmo grande e não vejo os gigantes do hardware a fazerem muito no sentido de fazerem algo que continue a tornar o mesmo atractivo.



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