Ao longo de 15 anos aqui na PCManias vimos e ouvimos muita coisa. Coisas que muitos nem imaginam. E algumas… ainda existem nos dias de hoje.
Quando em 2000 eu e o meu amigo Filipe Gomes resolvemos criar uma página, tal deveu-se a encontrarmos na internet uma série de artigos imprecisos e de baixíssima qualidade. Na altura, graças à liberdade que a internet oferecia, qualquer um se achava um entendido e falava sobre o que queria, dizendo os disparates que quisesse. Nesse sentido, resolvemos fazer um pouco de serviço comunitário criando uma página que abordasse artigos erôneos de terceiros, corrigindo-os, e dando as notícias efetivamente relevantes
Ao longo dos anos a o panorama alterou-se. Websites de qualidade foram aparecendo e a informação ia sendo filtrada, sendo que cada vez menos nos limitávamos a dar notícias e a fazer artigos técnicos e/ou de opinião. Mas agora com o crescimento das redes sociais, dos foruns e com a facilidade de qualquer um poder montar um website o problema da má informação parece estar a voltar em força.
Este artigo acaba por ser curioso pois, 15 anos depois, e especialmente após uns últimos dois anos de desmentidos a notícias criadas por um tal de MisterXmedia, relata um caso que é em tudo semelhante ao que víamos quando a página começou, mostrando a má qualidade da informação existente na internet (desta vez sem qualquer má intenção), e os motivos pelos quais a PCManias se formou.
Ter um website, ao contrário do que acontecia à 15 anos onde a PCManias se iniciou com um script tremendamente alterado por nós (pura e simplesmente não havia grande coisa e era necessário programar e alterar para se ter o que se queria), é cada vez mais simples e acessível a qualquer um! Mesmo nós acabamos por adotar uma plataforma mais genérica e universal pela sua simplicidade de uso e segurança. Mas com o website criado, caso haja efectivamente intenção de o fazer crescer, torna-se necessário que este transmita informação que seja fiável! E isso porque o utilizador não sendo informado pode ser levado a acreditar em dados errôneos!
Ora recentemente encontrei num dos websites que visito um link para um artigo de um outro website que me levou a deitar as mãos à cabeça. Diga-se que pensava mesmo que este tipo de artigos já não existisse. Mas não só existe, como alguém o citava como uma fonte de informação, supostamente fiável.
O website que possuía o artigo (e que não é o um dos que eu visito) era o htogaming.com, e a qualidade de alguns dos artigos… oh meu Deus (mas note-se que o autor age de boa fé, sem intenção de lesar seja quem for)!
Reparem nesta jóia (podem ver o original no link, mas vou traduzir):
Diferença entre 32 bits e 64 bits
Algumas empresas de jogos, criadores de jogos, decidiram usar apenas um formato 64 bits. Para talvez a maior parte de nós isso é um grande inconveniente porque só temos um GPU capaz de correr a 32 bits. Qual a razão por detrás disto?
Com um sistema operativo 64 bits com um GPU capaz o utilizador pode aceder a mais memória RAM de forma eficiente. Com um GPU 32 bits o utilizador tem um limite de memória RAM que é de cerca de 4 gbs e com um GPU 64 bits pode aceder a mais memória RAM que é cerca de 16 gbs de Ram. Tenham em consideração que os números da RAM são apenas um esboço aproximado e não um número exacto.
Para concluir este post de uma forma simplificada. A diferente entre um 32 bits e um 64 bits é que com os 32 bits tem um limite de cerca de 4 gbs de memória RAM e com os 64 bits mais de 4 gbs de memória ram até 16 gbs de ram. Outra diferença entre um GPU 32 bits e um GPU 64 bits, o GPU de 64 Bits é capaz de mais eficientemente lidar com mais quantidades de memória ram.
Se tens mais de 4 gbs de ram é aconselhável que vás com 64 bis, se tens menos de 64 bits deves querer manter-te nos 32 bits. Isso se o seu computador suportar os 64 bits
Uma grande quantidade de jogos AAA como Dying Light usam um exe apenas de 64 bits e isso requer um GPU 64 bits para jogar. Irá tornar-se mais frequente que tenham um GPU 64 bits para jogar certos jogos.
A questão que eu coloco é! Mas como é possível que este senhor tenha sequer visitas???? Sem querer ofender o seu autor não posso deixar de referir que o texto é parece escrito por uma criança de 2 anos e com a informação ali prestada completamente errónea, má explicada, e acima de tudo repetida.
Para começar, o que são gbs??? As unidades de memória vulgarmente usadas são os Bytes (B), os KiloBytes (KB), os MegaBytes (MB) e o GigaBytes (GB). No caso dos limites criados pelo suporte de 32 bits referido estamos a falar em GigaBytes (GB)! Daí que os gbs sejam uma unidade que desconheço. O que conheço que mais se aproxima são os Gb/s ou Giga bits por segundo, mas essa é uma medida de transferência de dados e não uma capacidade de memória.
Logo depois, a questão. Será que este senhor sabe a diferença entre um CPU e um GPU? E isto porque a situação que ele refere de executar programas 64 bits e no aceder a memória adicional nada tem a ver com GPUs, mas sim apenas com CPUs. Um CPU 32 bits apenas pode executar sistemas operativos 32 bits e correr software 32 bits. E isto independentemente da placa gráfica que possua!
Já os 64 bits… esses podem correr software 32 bits ou 64 bits, sendo que no primeiro caso limitam a quantidade de Ram a que o programa tem acesso.
Mas mais ainda, este senhor não sabe o que diz quando fala dos limites de memória e isso fica comprovado quando refere que está apenas a usar valores aproximados. Porque num dos casos o valor é exacto e no outro… é bem diferente do que ele refere!
Os computadores trabalham em binário e quando possuem capacidade de endereçar 32 bits, a sua capacidade de endereçamento de memória em Bytes é de 2^32.
Ora 2^32 = 4,294,967,296 Bytes! Sabendo que 1 Kilobyte são 1024 bytes temos 4,194,304 Kbytes. Sabendo que 1 MegaByte são 1024 KiloBytes temos 4096 Mbytes. E sabendo que 1 GigaByte são 1024 MegaBytes temos 4 GBytes… Um valor exacto!
Os sistemas 32 bits são capazes de endereçar exatamente 4 Gigabytes de RAM.
A provar o referido eis uma captura de um computador com um sistema operativo 32 bits e a referência aos 4096 Mbytes suportados.
Já os sistemas de 64 bits são bem mais capazes.
2^64=18,446,744,073,709,551,616 Bytes ou 18,014,398,509,481,984 Kbytes ou 17,592,186,044,416, ou 17,179,869,184 GBytes….
Estamos a falar de mais de 17 milhões de Terabytes… Um valor muito, mas mesmo muito superior aos 16 GB referidos no artigo…
Mas fascinante é a forma como, apesar dos erros, a situação explicada no segundo parágrafo e relativa ao maior suporte de memória dos sistemas 64 bits, pura e simplesmente se repete no terceiro.
Curiosamente até há a ideia de que a situação se repete novamente a meio do terceiro parágrafo quando o autor refere “Outra diferença entre um GPU 32 bits e um GPU 64 bits, o GPU de 64 Bits é capaz de mais eficientemente lidar com mais quantidades de memória ram.“. E aqui o senhor não sabe é explicar-se dando a sensação de se repetir pela terceira vez, mas na realidade o que ele quer dizer é que para além de um sistema 64 bits suportar acesso a maior quantidade de RAM tambem consegue aceder a quantidades maiores ao mesmo tempo. E isso é dito aqui, mas sem grande sucesso.
Para finalizar, este senhor recomenda as pessoas com 4 GB a correr a versão 32 bits, e as com mais a correr a versão 64 bits.
A questão é que este é um conselho que apenas se aplica ao utilizador com suporte 64 bits que terá acesso em alguns programas aos dois executáveis (e que como tal irá certamente correr sempre a versão 64 bits nem que seja por essa ter o número maior e como tal apontar ser melhor). Porque um utilizador com um CPU 32 bits terá de ter um OS 32 bits e apenas poderá correr a versão 32 bits. A restante nem sequer se lhe executa!