Custos com as atuais consolas estão a crescer e tal mostra a necessidade de uma nova geração.

Ao contrário do que se possa pensar, o custo da produção do hardware só desce até certo ponto. A partir de determinada altura manter as linhas de produção activas para produções em massa de hardware ultrapassado começa a ser demasiado custoso. E de acordo com gráficos da Sony, estes custos estão a aumentar a um ritmo alarmante, mostrando a necessidade de se substituir a consola como principal fonte de rendimento.

John Kodera anunciou que a PS4 estava a entrar no final de ciclo da sua vida. Porque motivo surge essa declaração agora? Que factores levaram a Sony a decidir que a PS4 estava em final de ciclo?

Bem, até ao momento, a cada ano que passava, o custo de produção da Playstation 4 ia descendo, o que permitia que cada consola desse mais lucros nas vendas, bem como ir descendo os seus preços de forma a mantê-la competitiva. Mas era sabido à partida que a partir de determinada altura as vendas iam cair e os custos de produção iam subir tornando a produção em larga escala menos atractiva, uma altura onde se começaria a pensar em terminar com a PS4 como produto principal.

Este tipo de aumento de custos é normal: Por exemplo, lembram-se do vosso antigo PC e como as memórias para ele estavam baratas? Pois bem, essas memórias, a serem adquiridas agora são provavelmente mais caras que as mais modernas com mais do dobro da capacidade. A questão é que a tecnologia evoluiu e essas memórias ao prenderem linhas de produção obsoletas mas que ainda são necessárias devido a existirem largos milhões de PCs a requererem suporte activo às mesmas, necessitam de ser vendidas a preços compensadores uma vez que a procura não é ao mesmo nível.

Pois bem, essa situação poderá ter chegado ao hardware das consolas, pois por esse motivo ou outro, como analisaremos em detalhe mais à frente, os custos de produção parecem ter claramente subido de forma radical e súbita, o que conjugado com a previsão da diminuição futura das vendas mostra claramente que a PS4 entrou num ciclo de fim de vida onde a necessidade de troca é premente.



E daí a frase de Kodera!

Ao contrário do que se possa pensar, o fim de um ciclo de vida não está apenas e só relacionado com as quedas nas vendas, mas acima de tudo com a queda dos lucros gerados por tudo o que orbita o produto, sendo necessário uma conjugação de fatores que façam perceber que estes vão entrar em queda para se ponderar substituir um produto. Como vamos ver ao analisamos os gráficos que se seguem, mesmo com as vendas no seu pico, o aumento dos custos com a PS4 foi tal que manter a consola ao mesmo nível de produção está a ter impactos significativos nos lucros, o que associado às previsões de quebras de vendas para os anos que se seguem, mostra a necessidade de se pensar em substituir o produto.

Durante quantos anos mais se pode manter um produto nestas condições? Bem, isso depende dos aumentos de custo! Basicamente se estes forem pequenos poderá ser que o aumento dos lucros com a venda de jogos e serviços vá compensando a situação, permitindo manter o produto durante largos anos. Mas se o aumento for sendo radical, superando os aumentos de receitas com as vendas de jogos, está na altura de se pensar em trocar o produto.

Ora o que a Sony revelou e que analisamos de seguida, foi bastante revelador nesse aspecto. O presente caso, pela variação radical que passou de pequenos lucros com a descida de custos da consola em 2016 para uma queda brutal dos mesmos, em apenas um ano, parece mostrar uma gravidade acrescida pois diz respeito a um ano (2017) onde não só o volume de vendas da PS4 foi alto, como foi até recorde, mas, mesmo assim, apesar do aumento das vendas, o aumento dos custos com o hardware foi de tal maneira que o balanço final se traduziu em uma quebra enorme.

Note-se que, apesar de isso também ser uma possibilidade, isto não quer necessariamente dizer que a Sony está a vender neste momento as suas consolas com prejuízo, mas quer, pelo menos, dizer que as receitas nesse campo caíram a pique.

Nessas situações há que se pensar em encontrar um equilíbrio entre o volume de produção e as vendas, pensando-se em a tornar secundária e equilibrando os lucros com as vendas de software e serviços de forma a se manter o produto activo por mais anos, mas sem que tal tenha impacto negativo nas contas da empresa. Basicamente, e acima de tudo, o modelo de negócio com este produto precisa de se tornar secundário, deixando de ser nuclear.



Por outras palavras, este é um acontecimento que faz a Sony pensar na troca da sua PS4 por uma consola nova que a substitua como a maior fonte de receitas da empresa. E daí a intervenção e frases de Kodera.

Infelizmente, devido ao aumento de custos, a produção da PS4 a esta escala começa a trazer sérios impactos nas contas da Sony, sendo tendo já acontecido, ou indo acontecer, a Sony vai começar a perder dinheiro com cada consola vendida. Se acrescentarmos a esta quebra as previsões de futuras diminuições nos volumes de vendas, percebemos que ao nível atual das quedas dos lucros com o aumento de custos, a situação tende a agravar-se rapidamente, mostrando uma necessidade de se quebrar a produção descendo custos, o que implica substituir a consola com alguma urgência.

Mas para percebermos melhor do que falamos, vamos ver então os slides oficiais da Sony mostrados por John Kodera, CEO da Sony na última reunião de accionistas e que comprovam o que referimos em cima:

Ano fiscal terminado em Março de 2017

Do ano fiscal de 2016 para o de 2017 a Sony viu as suas receitas subirem. E o gráfico explica em que percentagens com uma bola numerada para cada um dos casos, e que referimos de seguida!



1 – Aumento dos lucros devido à descida dos custos do hardware.
2 – Aumento dos lucros com as vendas de software e conteúdos extra, incluindo a rede.
3 – Aumento lucros com os serviços de rede, principalmente com os pagantes do PS Plus.
4 – Redução do lucro com despesas com infra-estruturas para suportar o crescimento das vendas na rede e pesquisa e desenvolvimento.
5 – Aumento do lucro com o impacto das taxas de câmbio.

Ora quando vemos o mesmo gráfico, mas de 2017 para 2018 a coisa muda muito de figura.

Ano fiscal terminado em Março de 2018

Na passagem do ano fiscal de 2017 para o ano fiscal de 2018 (receitas de Abril de 2016 a Março de 2017 e de Abril de 2017 a Março de 2018) a Sony aumentou ainda mais os seus lucros face ao ano anterior, apesar que por uma margem bem mais reduzida. No entanto, analisando os diversos pontos que deram lucro e prejuizo há aqui alterações significativas face ao ano anterior. Eis os vários pontos analisados.

1 – Redução do lucro com a queda nas vendas do hardware e aumento do custo do mesmo.
2 – Aumento do lucro com o aumento das vendas de software e conteúdos extra, incluindo a rede.
3 – Aumento do lucro com os serviços de rede, principalmente com os pagantes do PS Plus.
4 – Diminuição dos lucros com investimentos e pesquisa e desenvolvimento.
5 – Aumento do lucro com o impacto das taxas de câmbio.



O fundamental aqui é perceber-se que o ponto 1 “redução do lucro com a queda das vendas do hardware e aumento do custo do mesmo” é apenas um título para o capítulo. Na realidade toda a quebra ali registada tem de ser devida a aumento dos custos do hardware pois em  em 2017 a PS4 não teve qualquer queda de vendas, aliás foi até um ano recorde a nível de vendas de consolas. A questão é que com parametros que incluem a procura dos GPUs para a criptomineração, os preços das memórias e outros factores directamente associados, como a mudança de litografia e o envelhecimento da tecnologia, etc, o aumento dos custos disparou e os mesmos começaram a ter um peso significativo, passando a o ponto 1 dos anteriores aumentos de receita dos anos anteriores, para uma quebra de receitas bastante significativa em 2018. É aliás a maior parcela presente no gráfico.

Note-se no entanto, tal como foi referido antes, que tal não significa prejuizo, apenas queda nos lucros, o que é bem diferente!

No entanto é relevante perceber-se que a consola praticamente estagnou a nível de lucros… e isto em 2017, apesar de ter sido um ano recorde de vendas. Os aumentos de custo foram tais que absorveram toda a receita adicional com as vendas de software, e prevendo-se uma queda de vendas de consolas para 2018, o resultado de tal será que o ano fiscal de 2019 deverá apresentar uma queda dos lucros.

Com quebras a este nível e no primeiro ano de inversão das receitas com o hardware, com tendência a aumentar ainda mais pela diminuição do volume de vendas, não admira que a Sony deva pensar numa nova consola, especialmente numa altura onde, caso haja retrocompatibilidade, é possível manter-se os lucros dos restantes pontos praticamente inalterados, permitindo uma passagem de gerações bem mais suave do que todas as anteriores.

Ora como já foi anunciado pela Sony, o anuncio de uma nova consola não será feito no ano fiscal que termina em Março de 2019, mas poderá ter como primeira alternativa já o ano fiscal que termina em Março de 2020, com um possível lançamento de uma nova consola em 2019.



Note-se que não estamos a dizer que tal acontecerá, apenas a indicar o primeiro ano em que isso poderá acontecer, até porque apesar da importância estratégica que 2019 poderia ter, os relatórios internos da Sony parecem apontar para 2020 ao prever para esse ano uma quebra de lucros de mais de 30%. Convêm porém não esquecer que não querendo a Sony divulgar a data de lançamento de uma futura consola, e sendo esses relatórios públicos, a data de 2020 (ano fiscal 2021) pode ser um engodo, e recorde-se que o gráfico de 2019 (ano fiscal 2020) estava, conscientemente ou não, ausente, o que leva a especulações sobre qual a real data de lançamento.

Agora o certo é que quando as quebras de receitas decido ao aumento de custos possuem um valor tão acentuado e brusco, com aqueles valores, caso tal se mantenha em queda a este ritmo, manter a consola activa como a principal fonte de receitas da Sony por muito mais tempo,  sem se a substituir, é uma garantia que os lucros cairão a pique. E para uma empresa que tem nos lucros da Playstation a sua maior fonte de receitas dependendo dela para sobreviver, tal não é algo aceitável.

Acontece ainda que o problema aqui visualizado não será exclusivo da Sony, devendo estar a afectar a Microsoft e a Xbox One da mesma forma, o que quer dizer que, mesmo com uma Xbox One X lançada recentemente, a Microsoft também se verá obrigada a pensar em substituir a One em breve.

Fonte: Apresentação do CEO John Kodera aos accionistas da Sony



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