Ler as análises a The Order 1886 é algo intrigante. Todos apontam as mesmas falhas ao jogo. No entanto as avaliações vão desde o excelente ao péssimo. Como é possível tanta disparidade?
The Order: 1886 é o mais recente IP da Sony. Criado pela Ready at Dawn o jogo é uma história em ambiente Steampunk passado na era Victoriana, e onde os heróis pertencentes a uma ordem com acesso a tecnologias avançadas, vão livrar Londres de uma ameaça de Lobisomens.
Analisando o jogo no Metacritic os resultados são dispares demais para serem percebidos. O mesmo jogo recebe notas entre 95 (excelente) e 20 (execrável). Actualmente em 75 análises a média é de 65 valores.
O curioso é que lendo algumas dessas críticas, e ignorando os valores atribuídos em ambos os extremos por não as considerarmos minimamente imparciais, todas elas referem o mesmo. A opinião dos críticos é consensual sobre aquilo que são as falhas e as qualidades do jogo. No fundo há uma opinião, que vamos considerar como sincera e honesta, sobre aquilo que foi a sua experiência de jogo. É naturalmente uma opinião, mas desde que devidamente fundamentada com bons argumentos e críticas válidas, terá de ser tomada em conta. Mas não deixa de ser apenas uma opinião.
Naturalmente o facto de se aplicar números aparentemente aleatórios a uma análise torna a mesma muito subjectiva. Porque motivo vemos notas de 58 e de 78? porque não um 77, ou um 79, um 57 ou um 59? Quando a avaliação entra em preciosismos desse género, e se entra em valores menores que as 5 unidades, entrando-se na unidade simples, torna-se difícil tomar um valor como minimamente válido. Há uma dose de subjectividade adjacente à qual não se é possível fugir.
Mas mais do que avaliar aqui o jogo ou os valores atribuidos, interessa saber e perceber o que este grande leque de opiniões para uma mesma experiência objectiva, significa. E esse é o objectivo deste artigo!
É que como referi, nas várias análises há algo de curioso. A maior parte aponta as mesmas falhas e méritos. Mas no final a conclusão sobre a qualidade geral da experiência chega a ser radicalmente diferente.
Por exemplo:
A maioria da critica elogia a apresentação, especialmente a componente gráfica que consideram a mais sofisticadas alguma vez apresentada por um jogo. E há igualmente uma concordância genérica sobre o facto que banda sonora, a narrativa, actuação das personagens, digitalização e animação estão uns furos acima do apresentado pela maior parte dos jogos.
É igualmente quase consensual que o jogo é um pouco curto e que lhe faltam modos adicionais para além da campanha, o que lhe reduz a longevidade e o valor pelo dinheiro. Há ainda muita concordância que as QTEs em alguns cenário podem ser frustrantes, e que o sistema de cobertura do jogo nada traz de inovador.
Mas com estes dados presentes em algumas análises, perante os mesmos factos, elogios e defeitos, e não existindo bugs ou defeitos de maior que afectem o jogo, temos notas dispares como (apenas como exemplo), 80 e 40.
Como se explica isto?
Naturalmente a explicação só pode ser uma. E pura e simplesmente não há outra! O valor que cada pessoa coloca nos elementos específicos da experiência são diferentes. E há igualmente depois, associado a isso, uma questão de perspectiva, onde as análises mais favoráveis revelam as fraquezas, mas centram-se nos pontos fortes, e as análises mais críticas limitam-se a aceitar os pontos fortes como redundantes face às partes onde o jogo é menos forte.
Basicamente a nota ser boa ou má acaba por depender largamente do que o que cada um espera, quer, gosta, e se o jogo o satisfez ou não perante as suas expectativas.
Ora todos nós gostamos de jogos, mas os motivos pelos quais gostamos dos mesmos variam. Há quem prefira jogos de tiro, quem goste mais de aventuras gráficas, quem prefira jogos indie, quem goste de MMOs, quem prefira os jogos de jogador único, os jogos multi-jogador, etc. A diversidade de factores é tão grande que é impossível de descrever.
The Order 1886, com as suas fraquezas e pontos fortes, parece cair numa zona onde, mais do que nunca, as preferências e expectativas de cada um contam. E os críticos são apenas pessoas, com gostos individuais, sendo que as suas preferências, conscientemente ou não, acabam por se reflectir nas suas análises.
O que fazer? Avaliar sem nota como o fazem a Eurogamer ou a Polygon?
Uma análise sem nota pode ser válida (é certamente menos polémica). Especialmente se for bem feita, justificativa e explicativa. Mas curiosamente uma análise sem nota é algo sem sabor. Apesar de a nota ser algo que acaba por reflectir uma opinião, é algo mais palpável e por isso muito importante.
Mas uma nota só por si não tem qualquer valor. É necessário justificar a mesma. E a justificação tem de ser coerente. É essa coerência que falha aqui em The Order 1886, pois para os mesmos factos a valoração das coisas acaba por ser diferente.
Basicamente quase todos concordam com os pontos fortes e fracos, mas quando se entra no campo subjectivo da valoração desses pontos… as disparidades aparecem.
Este é por isso, um jogo especial. Um jogo onde se torna claro que as análises não o conseguem avaliar de forma coerente Um jogo para o qual as análises, ao serem uma opinião, valem pouco ou nada! Um jogo que cada um terá de avaliar por si. E isto porque claramente ele caiu numa zona extremamente subjectiva.
Só assim se compreende que um jogo tenha notas tão dispares. Um jogo não pode ser simultâneamente bom e mau. Daí que o que recomendamos é mesmo: Avaliem por vocês mesmos! E neste caso em particular, não se fiem por nenhuma avaliação, seja ela boa ou má. Porque poderão ficar decepcionados se tomarem em conta as boas avaliações, e poderão estar a passar ao lado de um jogo que adorariam se tomarem em conta as más.
Agora uma referência que não pode deixar de ser dada: Caros avaliadores, no que toca a notas negativas, preocupem-se mas é mais em penalizar jogos com bugs críticas e em quantidade. Porque se com a objectividade presente não o fazem, como esperar que em casos como este alguém saiba em quem confiar?
E convenhamos que dar uma nota baixa a um jogo é bem diferente de lhe dar uma negativa. Uma nota inferior a 50 revela um jogo com problemsa e sem qualidade. Não é uma questão de ser abaixo da média, é uma questão de não conseguir atingir os mínimos. Ou será que já se esqueceram de como as notas funcionam?
Felizmente o jogo parece estar a vender bem (#1 no Reino Unido, o segundo maior mercado do mundo). E sinceramente faz-me lembrar as “50 sombras de Grey. Todos gostam de dizer que não presta, mas é um sucesso de bilheteiras! E isto mostra bem a diferença entre quem avalia e quem consome. Algo que, infelizmente, não deveria existir!