Como a Sony não matou a Sega.. Ou melhor, como a Sega se matou a si mesma!

Este é um argumento que muitos estão a usar para acusar a Sony de ter conquistado o seu lugar à custa de opressão à Sega. Estes artigo pretende repor um pouco da realidade que rodeou a Sega.

Remover um oponente do mercado pode ser feito de muitas formas… E uma delas… é o oponente arruinar-se a si mesmo.

Quando se diz que a Sony matou a Sega, há uma clara pretensão de se assumir um culpado que seja um terceiro e não a própria Sega. Mas mais do que isso há uma necessidade aqui de se culpar a Sony por algo, tentando assim justificar-se outras atitudes de terceiros. E nesse sentido há que se tomar em conta a realidade das coisas, pois a culpa do que se passou com a Sega… ficou em casa própria.

A Playstation original foi lançada aquando da Sega Saturn e da Nintendo 64. E face a estes dois competidores, a Sega Saturn cometeu erros críticos que ditaram a sua sorte. Eis os principais:

• A Saturn era extremamente complexa de ser programada. E tudo porque a Sega queria que a Saturn fosse forçosamente mais poderosa. Estávamos 1994, e a Saturn é apresentada com duplo CPU e 8 processadores. Como foi possível constatar-se até bem recentemente, a programação paralela multi núcleo sempre foi problemática… Em 1994… ela foi caótica para a Sega.
• A Sega resolveu lançar uma série de Add Ons como o Sega CD e o 32x. Estes dois add ons, particularmente o último, que corria jogos próprios, e usava cartridges próprios, foram caóticos para a consola.  O resultado foi um mercado super fragmentado e confuso onde a consola base não garantia correr todos os jogos, o que afastava os potenciais clientes.
• A Sega nunca lançou um jogo do Sonic para a Saturn, apesar de este ser o seu IP mais popular.
• A Sega pretendia de tal forma bater todos os outros com a sua Saturn que a lançou nos Estados Unidos, 5 meses antes do previsto. O que teve consequências altamente nefastas para a marca!
  • A consequência dessa situação foi que a consola não tinha jogos. Todos os jogos estavam em desenvolvimento e acabaram por ser lançados mais tarde. O resultado foi uma consola com 6 jogos por 5 meses.
  • Problemas de logistica relacionados com esta vontade de lançar mais cedo levou a que nem todas as lojas recebessem consolas. O que aconteceu foi que quem não as recebeu, depois boicotou a Sega ao não vender produtos para ela, e não colocando encomendas sem garantias de entrega.
  • A pressa de lançar antes da PS2 levou à falta de jogos, mas igualmente a problemas de hardware como:
    1. Capacitors internos que se estragavam
    2. Fontes de alimentação que se desgastavam
    3. Slots para cartridges que faziam maus contactos.

• Apesar de a Sega, em meados dos anos 90 ter tido um grande sucesso com a Mega Drive e a sua mascote, o Sonic The Hedgehog, , os problemas com a Saturn viraram-se contra a empresa, que no final da década de 90 apresentava grandes prejuízos. Em 2000, Isao Okawa entrou para o lugar de presidente da Sega e tinha uma visão da Sega como criador terceiro de software. Assim, afirmou em 1999 que a Dreamcast seria a última consola da Sega. Isto apesar de em 2000 a Sega ter negado que estariam em desenvolvimento dois dos seus jogos (Crazy Taxy e Seaman para a PS2). A falta de foco da Sega na sua Dreamcast era clara, e a empresa queria mesmo criar um Chip dreamcast que permitia aos jogos da consola correrem em todos os sistemas. Esta situação fez com que a Sega não investisse em Marketing como a Sony, Microsoft e Nintendo fizeram. Aliás a campanha da Xbox na era Dreamcast eclipsou qualquer coisa que a Sega pudesse montar e foi citada como uma das razões para a Sega descontinuar a consola. Sabe-se aliás que dentro da Sega, muitos simpatizavam com a causa da Microsoft – Bernie Stolar, da Sega América defendia um acordo que via a Microsoft comprar a Sega e trabalhar em uma plataforma conjunta. E a Sega nessa altura foi mesmo responsável por dois dos títulos de lançamento da Gamecube (Sonic Adventure 2: Battle, e Super Monkey Ball). Outros dentro da Sega estavam receosos de que grandes nomes como a Electronic Arts e Square Enix, não estivessem a bordo do projeto Dreamcast, sendo que a Eidos e Infogrames ja tinham cortado os laços com a consola. E efetivamente, EA e Square tambem acabaram por cortar laços.

• O jogo de maior sucesso da Sega, Shenmue teve um orçamento de tal forma elevado que para só para cobrir as despesas era necessário que todos os possuidores da consola comprassem o jogo… 2 cópias do jogo por jogador! A má gestão da Sega levou a que em 31 de Março de 1998 a marca apresentasse um prejuízo de 35,6 bilioes de Yenes Japoneses.

Mas onde entra aqui então a concorrência? No meio de tanto erro, onde foi que supostamente alguem matou a Sega? Eventualmente aqui:

Na realidade a afirmação em causa não faz sentido. A Sony matou tanto a Sega como a Microsoft e a Nintendo o fizeram. Aliás, na altura em que a Sony apresentava a PS a 299 dólares (100 dólares a menos que a Saturn), a Nintendo apresentava a Nintendo 64 por apenas 199 dólares (200 dólares a menos).

Basicamente a Sega Saturn é que acabou por ser a ruina da Sega. Na ânsia de criar uma consola mais potente que a PS, não só ela foi um flop ao ser uma escolha desastrada de hardware, como a consola acabou por ser 100 dólares mais cara que a Playstation original e 200 que a Nintendo 64. Associe-se depois todo um nível de suporte que a Sega não teve e inclusive destruir o seu mercado com os Add ons e a falta de suporte com os jogos Sonic, e percebemos facilmente as reais causas da morte da Sega.

Mas no meio de tudo isto, podemos verdadeiramente dizer que alguma empresa concorrente matou a Sega? Não, as empresas concorrentes fizeram aquilo que as empresas concorrentes fazem… concorrem! A Sega é que no meio de tudo isto destruiu o seu mercado sozinha. E morreu porque se matou, não porque alguém a tenha matado!