Uma consola é, como todos os sistemas informáticos, definida pelo seu hardware e pelo seu software. Mas a Microsoft cortou as diferenças entre a sua consola e o PC, tornando efetivamente a mesma num PC.
Desde que tomou posse, Phil Spencer tem vindo a aumentar a relação de proximidade entre a sua consola Xbox e o PC. A tomada de posse de Satya Nadella foi problemática para a divisão Xbox que chegou mesmo a ser ponderada para se separar da Microsoft. Mas no entanto a consola ficou… ficou como meio de promoção do seu produto principal, o software, mais especificamente o Windows.
E nesse sentido, a Xbox e o PC aproximaram-se como nunca, apesar de os utilizadores da consola e os do PC nunca olharem uns para os outros com bons olhos pelas diferenças entre os sistemas.
Mas a realidade é que ambos os sistemas convergiram, quer no software, quer no hardware!
No que toca ao software, Xbox e PC partilham agora uma base comum a nível de sistema operativo e mesmo de API gráfico. Apesar de a consola ainda possuir optimizações adicionais, que se revelam necessárias para a programação “ao metal” e a obtenção de performances adicionais que lhe permita a criação de jogos de qualidade face à performance do PC, tanto o seu sistema operativo como o API são agora mais comuns do que nunca. Estamos a falar efetivamente do mesmo Windows 10 e do mesmo DirectX 12.
E a consequência é que com esta semelhança criada na base, os jogos criados para a consola podem ser adaptados sem problemas para os PCs com maior capacidade de processamento (já o caso inverso pode ser mais problemático).
Assim uma das coisas que Phil alterou foi a exclusividade dos jogos na consola, que passaram a ser anunciados igualmente para PC. E assim exclusivos como Dead Rising 3, Titanfall, Killer Instinct, Ori and the Blind Forest, e basicamente todos os outros, passaram para o PC, mesmo que em alguns casos o lançamento tenha existido primeiro na consola e demorado alguns anos a passar para o PC. Mas desde Quantum Break que a situação se alterou, com o lançamento nas duas plataformas a ser conjunto e com a estria do sistema de cross-buy que permite que o jogo ao ser comprado para a Xbox traga um código para a descarga sem custos adicionais da versão PC. Infelizmente uma situação ainda limitada a compras em lojas específicas e que como tal não deveria ser anunciada como uma característica, mas sim como uma possibilidade.
E os jogos cross buy permitem mesmo que as gravações sejam partilhadas entre os dois sistemas, podendo um jogo gravado em uma das plataformas ser continuado na outra.
É um conceito que efetivamente aproxima as plataformas como nunca. Mas cujo objectivo é… no mínimo questionável! Quantas pessoas usarão regularmente essa característica??? Creio que muito poucas, sendo que a mesma existe mais como atrativo para trazer vendas para a Windows Store em detrimento da compra em outros locais.
Aliás se és um gamer PC, a primeira escolha será certamente ou a tua loja local para a compra física, ou o Steam para a compra digital. Mas nunca, mesmo nunca, a Windows Store. Daí que tudo o que envolve o cross-play sirva mais como engodo do que realmente como algo de interesse.
Mais ainda a Microsoft levou a compatibilidade do rato e do teclado para a consola. E a função pode ser usada no browser, ou suportada pelos jogos. E com o suporte de controlador nos jogos PC, está criada a oportunidade de se agradar a todos em todos os campos.
A única questão é que rato+teclado contra controlador, especialmente no online… não é exatamente um confronto equilibrado, com o rato e o teclado a levarem claramente a melhor no capítulo da precisão. E isso pode levar a que com as plataformas unidas, o controlador seja relegado para segundo plano.
Mas nem tudo são rosas. A união trouxe o Xbox Live para o PC, mas aqui, onde os utilizadores da consolas precisam de pagar para aceder ao online, o PC não precisa de o fazer, e nem sequer alguma vez aceitarão de bom grado que isso aconteça.
Outro senão da característica é que o PC não é uma plataforma fechada, ao contrário da consola. E isso quer dizer que os utilizadores podem executar código livre de forma paralela, o que quer dizer que se criará uma desigualdade no equilibrio, com o PC a poder usar batotas que as consolas não podem. Mas no entanto… levarão igualmente com elas uma vez que todos jogarão juntos.
Esta situação juntou completamente as duas plataformas a nível de software. A consola perdeu os exclusivos que a definiam, perdeu a exclusividade de optimizações no seu API que sempre fora uma vantagem face à força bruta dos PCs, e basicamente tornou-se um PC… a Xbox One é agora uma plaforma que inclui a consola e os PCs, e onde a consola é o elemento mais fraco da mesma.
Como curiosidade adicional, o PC possui exclusivos que não existem na consola… mas a consola, que sempre se definiu por eles, agora não os possui.
Mas esta proximidade não se limita ao software, e tambem ocorreu no hardware!
Na realidade a Xbox sempre foi, a nível de hardware, um PC! A consola original era x86, tal como a atual, e a 360 era PowerPC, mas mesmo assim um PC. E sempre utilizaram o DirectX como API e o Windows como base do seu OS.
Mas ao contrário do que acontece agora, as consolas corriam versões adaptadas do OS e do API, escritas exclusivamente e de propósito para elas. Eram consolas e como tal seguiam as regras das consolas, com as optimizações únicas que sempre as caracterizaram. Algo que acabou com a One que usa uma versão aligeirada, mas standard do Windows 10, e uma versão mais optimizada, mas não exclusiva, do DirectX 12.
Com a arquitectura x86 e sem diferenças no software, incluindo o suporte acima referido com os jogos exclusivos, que separasse a consola do PC, a consola ficava presa à definição consola por apenas uma situação, a durabilidade do seu hardware.
Mas em Fevereiro deste ano, Phil Spencer dizia numa conferência da Microsoft.
Quando se olha para o espaço consola, acredito que cada vez veremos mais inovação do que a que alguma vez vimos. Vocês irão ver-nos com novas capacidades de hardware durante uma geração que permite que os jogos corram de com compatibilidade para a frente e para trás porque temos uma aplicação universal Windows a correr em cima de uma plataforma universal Windows que nos permite focar mais e mais na inovação do hardware sem invalidar os jogos que correm nessa plataforma.
A comunidade consola foi apanhada de surpresa. Pela primeira vez na história das consolas (todas as consolas) falava-se na possibilidade de novo hardware no meio de um ciclo de vida.
O resultado destas palavras foi visualizado na última E3 com a Scorpio, uma Xbox capaz de correr jogos em 4K e com Realidade Virtual de alta fidelidade.
Esta situação abre as portas a algo que é bem conhecido dos PCs. Os upgrades. Mas onde nos PCs se pode atualizar só o CPU ou o GPU, aqui atualiza-se a consola de uma só vez! E o que se vê é a possibilidade de a Microsoft fazer lançamentos regulares de hardware mais potente, tal e qual acontece com os telemóveis (uma política que a Sony tambem está a seguir na sua Playstation).
Assim, um jogo pode não ser tão bonito ou correr tão bem na consola antiga… mas vai correr.
A questão é que todas estas alterações não trouxeram nada de interessante às consolas. Trouxeram isso sim aos PCs que beneficiaram de tudo o que as consolas tinham. Mas do lado das consolas… só houve cedências! O que as consolas possuem agora que não tivessem antes? Nada… absolutamente nada!
Diga-se que se agora a diferença entre a consola Xbox e um PC da plataforma Xbox é apenas uma mera linha, um dia, caso se implementem opções para o detalhe gráfico nas consolas, essa linha desaparece de vez. E a misera diferença existente deixa até de existir.
A consequência… a Consola tornou-se um PC… e morreu! E com ela morre aquilo que a tornava interessante, o facto de o seu hardware único que tinha uma duração de vida alongada obrigar os programadores a melhorar as técnicas de programação e procurar obter cada vez mais de um hardware que era fixo.
E então o que teremos é novamente aquilo que levou as pessoas inicialmente a mudar para as consolas. Hardware sub-aproveitado e lançamento constante de novo hardware mais potente.
No fundo há que questionar se estamos a andar efetivamente para a frente… ou se estamos a andar para trás!