Após ter preenchido o inquérito dos Censos 2021, fiquei com a sensação que não forneci os dados realmente importantes, mas que fui obrigado a fornecer dados estruturados de uma forma que, pelo RGPD, nunca os daria a ninguém.
Ao longo do meu período de vida de estudante, tive a oportunidade de realizar inúmeros trabalhos para os quais recorri a dados dos censos. E nesse sentido sempre fiquei com a clara noção de como estes dados podem ser uma valiosíssima fonte de informação.
Mas curiosamente, após ter preenchido o inquérito dos censos 2021, na sua totalidade, a ideia que fiquei foi que forneci imensos dados pessoais, dados que até nem cederia a ninguém, e muito menos com o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) que se encontra em vigor, mas que no que toca a informações sobre as condições de vida, qualidade das habitações, estado de conservação das mesmas, número e infra-estruturas das instalações sanitárias, acesso à rede de saneamento, a gás natural, e outras situações que consideraria como importantes para uma avaliação da qualidade das habitações e acesso das pessoas às infra-estruturas, ou seja, basicamente uma noção mais abrangente sobre como vivemos, achei o inquérito extremamente lacunoso.
E esta parte parece-me relevante, dado que na própria definição dos Censos é dito que eles recolhem “informação que permite saber quantos somos, como somos e como vivemos”. E se é assim, estando nós em pleno século 21, e num mundo de tecnologia, achava que, tal como em tempos se questionava se as habitações tinham água e eletricidade, existiriam perguntas do género:
- Sabe usar um computador, smartphone ou tablet?
- Tem acesso a um dos sistemas acima referido? Se sim, que idade este tem?
- Tem internet fixa? Com que velocidade?
- Tem cobertura de internet por rede móvel? Que rede capta (2G, 3G, 4G, outra)
Numa altura em que o governo cada vez mais aposta na informatização dos serviços, e não sendo este um serviço que seja prestado por empresas estatais, mas da qual o Estado cada vez mais nos faz ficar dependentes, e conta que usemos, quer-me parecer que ter uma noção do estado da nação, da capacidade de usar um computador e internet, e o que se esperar nesse sentido seria relevante, não só para o estado, mas para inúmeros estudos futuros que possam surgir baseados nos censos.
Resumidamente, achei que os Censos questionavam muito pouco de relevante fora da informação pessoal de cada, dados esses que sempre foram fornecidos nos Censos, mas que sinceramente, face a um regulamento geral de proteção de dados Europeu, não sei dizer se não deveria ter sido ajustado para ser mais anonimizado.
Por acaso também achei estranho algumas perguntas, se ouço bem, se vejo bem, se tenho garagem, quantos carros cabem lá dentro, etc..
Mas o que mais me espantou foi a avultada multa a que estamos sujeitos se não fizermos os censos ou se o sistema achar que não o fizemos.
Exacto… Quando os questionários deveriam questionar se existem WCS em quantidade, se eles são acessíveis, se a água é da companhia, não… Perguntam se te consegues lavar sozinho.
Achei aquilo muito, muito pouco interessante como medida de qualidade de vida, muito pouco virado para as necessidades futuras do país, e um inquérito estranho aos hábitos de cada um.
Eu li uma notícia falando de uma polêmica envolvendo o Censo 2021 realizado em Portugal, de que os dados de cidadãos portugueses talvez estejam sendo enviados para os Estados Unidos via empresa americana CloudFlare. E agora Mário? Será que você está sendo espionado pela NSA dos EUA? 😱 😀 Um tempo atrás teve aquela polêmica envolvendo a Alemanha de que ela estava ajudando os EUA a espionarem países europeus.
Isso não se confirmou. A Cloudfare foi contratada para gerir o tráfego, e evitar hacks, nada mais. Seja como for, nem devia ter sido contratada e isso deveria ser feito tudo em pt.
Vi Censo 2021 e me perguntei:”Porque o Mário está a falar do Censo 2021 (do Brasil)??”
PS: O Censo daqui foi cancelado pelo governo, mas o Judiciário mandou fazer.
Extremamente pertinente os governos questionarem a “digitalização” da sociedade, pois a tendência, acelerada pela pandemia, é ficarmos cada vez mais dependentes destas tecnologia até mesmo para os serviços mais básicos.
Agora se por um lado o censo em Portugal apresenta essas falhas, imaginem a situação no Brasil, onde temos um (des)governo que cancelou o censo!