Phil Spencer veio mais uma vez dar uma entrevista, e cheia de frases bonitas como “Xbox tem de significar jogos de qualidade. Temos de trabalhar para chegar lá, o output das first party não foi o melhor“.
Se fosse comparar Phil a um político, vemos que estas são promessas com 6 anos, e que parecem retornar dada a proximidade de novas eleições… neste caso… novas consolas!
Antes do mais, convêm explicitar que muito sinceramente gostaria de ver a Xbox voltar a concorrer seriamente com a Playstation, debitando produtos exclusivos de qualidade. Seria bom ver a Xbox a obter a pujança da era X360 e, acima de tudo, voltar a ser uma consola que compete a nível de interesse com a Playstation. Tenha saudades das alturas da geração anterior onde ambas as consolas debitavam exclusivos que eu desejava, sendo em determinadas alturas difícil optar pelos jogos a comprar dada a boa oferta dos dois lados. Era a concorrência no seu melhor, com o cliente a ganhar.
Nesse sentido, só espero que aquilo que Phil Spencer refere acaba por ser realmente verdade, mas a realidade é que neste momento, e estando a ouvir as suas promessas desde 2013, mesmo podendo existir agora toda uma realidade diferente, o facto é que não tenho porque continuar a acreditar naquilo que a Microsoft refere.
Resumidamente, a Microsoft fala demais. É rara a semana onde não temos uma declaração qualquer de Phil Spencer. E nessas entrevistas as promessas sucedem-se, mesmo que ao longo de 6 anos, o que tenhamos visto foi apenas “ar quente”. Algo que se acabou por reflectir nas vendas passadas e actuais da consola.
Um velho provérbio diz que a diferença entre um gato e um leão, é que no gato colocamos normalmente a mão, mas não leão não! E se este deixa que lhe coloquem repetidamente a mão, ele já não é um leão, é um gato grande!
Ora o ser humano tem de ter dignidade e personalidade. E ver mentiras seguidas continuando a acreditar que “agora é que vai ser” não mostra absolutamente dignidade ou personalidade nenhuma. Deixamos se ser pessoas individuais, para ser meros carneirinhos que comem tudo o que nos tentam impingir. Meros fantoches na propaganda que é o marketing. Pessoas sem personalidade que perderam a sua dignidade ao se deixarem levar repetidamente em conversas das quais nada resulta.
Apesar de tudo, acredito que com a vinda de uma nova geração, as palavras de Phil Spencer podem vir finalmente a tornar-se verdadeiras. Mas o facto é que isto já se repete desde 2013, e nessa altura também estávamos no início de uma nova geração. Uma geração cheia de promessas, uma geração de enganos consecutivos que apenas os fans mais acérrimos se recusam a ver.
- Foi a promessa do grande suporte a nível de exclusivos e conteúdo First Party. ela já vem desde 2013, mas estando-se já em 2019, ainda não se viu nada.
- Foi o suporte ao Kinect que foi prometido e indicado como parte integrante da consola, mas onde o Kinect acabou removido da consola, e pior do que isso, completamente descontinuado.
- Foi a promessa de contratos com TVs de todo o mundo para conteúdo em overlay colocado pela Xbox em programas desportivos. Isso foi considerado uma utopia desde o dia um, mas a promessa persistiu durante vários anos, sem que no entanto algo tenha alguma vez surgido.
- Foi a promessa de séries de TV que acompanhariam a consola, e que nunca aconteceram. Foi mesmo criado um estúdio que seria responsável pela criação dessas séries, mas este acabou por fechar.
- Foi a promessa de uma performance igual ou superior à da PS4, com a frase “Nós criamos o DirectX e não vamos permitir que a PS4 tenha 40% de performance adicional”. Mas a PS4 teve e ainda tem vantagens de resolução que chegam aos 40%.
- Foi a garantia que o DRM não poderia ser removido, chegando-se mesmo a ser algo injurioso com um fan que propunha isso mesmo. Cerca de 2 semanas depois desse acontecimento o DRM era removido.
- Foi a promessa do poder do processamento na Cloud. O slogan chegou mesmo a ser Cloud Powered, mas sem que alguma vez se tenha visto algo digno desse nome e perto do prometido. O que existiu foi sendo adiado e adiado, aparecendo apenas em 2019. O resultado foi… execrável! Resumidamente, a montanha acabou a parir um… rato. E um rato que ficou bem atrás do mostrado, e que nem sequer impressionava. O slogan Cloud Powered acabou por ser apenas “fumo”.
- Foi a promessa que a Xbox seria um centro completo de entretenimento inclusive com possibilidade de gravar TV. Apesar de mantida durante anos, foi mais uma que acabou cancelada.
Basicamente promessas todos fazem… e se formos a ver podemos apontar o dedo às outras marcas tambem. Não cumprir com o prometido não é certamente algo exclusivo da Microsoft! Mas convenhamos que o que se passou nesta geração foi completamente anormal! Não só pela quantidade de promessas que não deram em nada, mas por se ter mantido muitas delas ao longo de toda a geração, expectativas essas baseadas em promessas que se repetem, e que se defraudaram. A atual promessa de exclusivos já não serão certamente para a actual geração mas, a ser cumprida, apenas para a próxima.
A realidade é que a promessa que Phil acaba de fazer não é diferente da que veio a ser feita ao longo de vários anos. Desde o início da geração que Phil promete jogos, dinheiro para eles, equipas, comprometimento, cobiçando os estúdios Sony e referindo que tem de fazer igual! Mas vimos os jogos a aparecerem? Não, não vimos.
Phil vem então agora referir numa nova entrevista que “A Xbox tem de significar jogos de qualidade. Temos de trabalhar para chegar lá, o output das First Party não foi o melhor“.
Ora bolas… estamos em 2019, a Xbox One foi lançada em 2013 e vinha de uma geração onde qualquer consumidor afirmaria sem sombra de dúvidas que os jogos Xbox significavam qualidade.
Vir dizer isto agora é um admitir que a entrega para a geração Xbox One falhou, o que diga-se, nem é mais do que um facto. Mas essa nem é a questão! A questão é que estamos perante o responsável pelo falhanço, o responsável pela quantidade e qualidade da entrega ao longo de toda esta geração, e este Phil Spencer que promete resolver a coisa no futuro é o mesmo que prometeu resolver a coisa no passado! Se ele desde 2013 que promete mas não cumpre, porque motivo se há-de acreditar que a coisa vai mudar?
Muitos poderão dizer que Phil Spencer só assumiu a Xbox em 2014, mas na realidade a coisa não é bem assim, e há um motivo pelo qual Phil Spencer acompanhava Don Mattrick em tudo. A 7 de Fevereiro de 2013, ou seja, 8 meses antes do lançamento da Xbox One, era tornado público que Don Matrick iria abandonar a Microsoft, sendo substituído temporariamente por Steve Balmer. Mas já nessa altura se referia que seria Phil Spencer quem o substituiria, sendo que a Microsoft apenas necessitava de acertar a coisa a nível das chefias para a sua nomeação efectiva. Isso foi noticia e as referências a Phil Spencer como seu substituto já apareciam aqui. Daí que Phil esteve presente sempre com Matrick em tudo que rodeava a consola. Phil é oficialmente líder da divisão Xbox desde 2014, mas em 2007 já era Gestor Geral da Xbox, tornando-se Vice Presidente dos Estúdios Microsoft em 2009, e estava apontado ao cargo de líder desde Fevereiro de 2013.
Daí que surge a pergunta: Os jogos Xbox não deveriam significar qualidade desde sempre? Uma consola que está no mercado há 18 anos, e que na geração passada dividiu o mercado com a Playstation. Para isso os jogos Xbox eram forçosamente sinónimo de qualidade! Se estes não significam qualidade agora, isso só se pode dever às fracas entregas nesta geração. E quem tem a culpa?
Quando é o responsável pela marca fala da importância dos exclusivos desde 2013, mas que vem agora, 6 anos passados, dizer novamente que é preciso trabalhar para chegar a um ponto onde os jogos Xbox representem qualidade? Algo aqui está mal, e certamente não é quem, como nós, vem a alertar para as derrapagens desde sempre. Mas mais ainda, não parece que as apostas da Microsoft em serviços de subscrição e streaming sejam muito adaptados a entregas de qualidade… mas isso é um outro assunto sobre o qual só poderemos concluir no futuro.
Agora uma coisa é certa… A Xbox fez recentemente um grande investimento em novos estúdios, que lhe aparenta dar garantias para o futuro. E essa realidade poderá parecer ser suficiente para que os mais acérrimos tentem defender a situação, apoiando Phil Spencer. Mas quem diz isso, que recue até 2013, altura do lançamento da Xbox One e faça as contas, quantos estúdios tinha a Microsoft nessa altura? A resposta? 18… sim 18!
Infelizmente, como vimos nesta geração, ter estúdios não significa muito do lado da Microsoft. Apesar de em 2013 serem 18, o que é que eles lançaram? Pouco ou nada. Infelizmente a Microsoft tem um historial de abertura, compra, fecho e desmembramento de estúdios como nenhuma outra empresa, e isso até foi alvo de um artigo aqui na PCManias. A realidade é que Phil Spencer, o Homem que adquiriu as novas equipas, em vez de colocar as equipas que tinha a produzir, melhorando-as e dando-lhes condições, optou pelo fecho de 12 delas durante a geração Xbox. Elas estavam lá, muitas delas tinham jogos em preparação, mas foram fechadas e os jogos cancelados. Mesmo jogos Second Party foram cancelados! E tudo sob o comando de Phil Spencer.
Não vamos discutir aqui a qualidade das equipas, mas elas foram criadas ou compradas por alguma coisa. Se não tinham talentos, contratavam. Mas não! A Microsoft preferiu encerrar tudo o que tinha e comprar novas. Comprou acima de tudo em quantidade, mas convenhamos que muito do comprado não possui verdadeiramente títulos de qualidade no seu curriculo. E pelo menos uma das compras, a Playground Games, até já trabalhavam em exclusivo para a Microsoft.
Já tínhamos escrito sobre isso num outro artigo publicado aqui na PCManias.
Daí que a realidade é que, com uma nova geração à porta, estas promessas para não serem mais do que paleio promocional ao estilo do usado pelos políticos em campanhas, tem de ser acompanhado de acções. Ninguem de bom senso vai aceitar uma nova geração mais uma vez apoiada em promessas! Temos de ver esses jogos, esses jogos desejáveis, esses jogos exclusivos, esses jogos que separam o produto da Microsoft da concorrência. Se realmente eles existem, vamos lá vê-los! Palavras já não chegam.
Infelizmente, e apesar de tal não ser o objectivo deste artigo, isso é algo que nos parece um pouco difícil. A Xbox tem vindo a ser transformada num serviço, com a consola a deixar de ser o foco, e a passar a ser uma opção. O streaming sendo um serviço de subscrição poderá ter alguma dificuldade em amealhar as receitas necessárias para o pagamento de grandes produções. E mais do que isso, coloca de lado o interesse numa consola com jogos optimizados para o seu hardware pois com um PC, mesmo um antigo, usando Streaming qualquer um poderá vir a jogar os exclusivos Xbox.
Mas mesmo assim, com a XBox como serviço, o interesse de exclusivos é sempre grande. Estes só tem de ter a qualidade e a quantidade. Mas isso tem de ser entregue, e não apenas prometido!
Senão vejamos (e aqui vamos ignorar as promessas de performance, de resolução, do poder da cloud, focando-nos apenas em algumas das vezes em que Phil Spencer interveio com entrevistas de maior relevo e insistindo ao longo dos anos nas promessas que dizem respeito aos exclusivos)
2013:
Promessa
Vindos de uma geração de sucesso, com imenso Hype por detrás, Phil Spencer em entrevista conjunta com Don Mattrick anuncia que a Microsoft estava a investir mil milhões (1 bilião na unidade Americana) em jogos exclusivos para a Xbox, com 15 exclusivos, 8 deles novos IPs a serem lançados no primeiro ano da consola.
Realidade
A Xbox não teve 15 exclusivos no primeiro ano, demorando mesmo vários anos a ter 15 exclusivos. Não teve 8 novos IPs exclusivos, e os mil milhões de investimento devem-se ter perdido, pois nunca se viram. A Geração Xbox One foi a geração com menor suporte de exclusivos first party da história das consolas da Microsoft.
2015:
Durante a E3, Phil Spencer promete novamente o foco em jogos First Party e jogos Xbox Exclusivos.
Realidade
Depois desta E3 vimos a Lift London e a Soho Productions serem fundidas em uma só empresa.
A Press Play, Lionhead Studios, Big Park, Good Science Studios, Leap Experience Pioneers, Function Studios, Team Dakota e Sota são fechadas.
Basicamente logo após a promessa de expansão o que vimos foram fechos de equipas e cancelamento de jogos.
2015:
Promessa
Alguns meses, depois, em Agosto, Phil Spencer volta à carga, e em entrevista, refere que o investimento em jogos First Party é “Nuclear para a estratégia”.
Realidade
A quantidade de jogos exclusivos lançados de 2015 para a frente decaiu face ao que tinha sido lançado em 2014. A consola atravessou mesmo períodos de larga “seca” a nível de exclusivos. A qualidade do lançado decaiu em média. Como já foi referido, o suporte First Party e mesmo de exclusivos acabou por ser o pior da história de todas as consolas da Microsoft.
2017:
Promessa
Phil Spencer continua a afirmar e prometer que a Microsoft está empenhada em fazer crescer os estúdios e o conteúdo first party da consola.
Realidade
Nesta fase a promessa já se torna cansativa pois a geração já passou do meio e não se viu nada. É algo que se revela sem resultados práticos, e que se associa a um conjunto de outras promessas que nesta fase já se sabem que não passaram disso mesmo.
No entanto este foi no entanto o ano em que a Microsoft adquire e cria um total de 7 estúdios. Convêm é não esquecer que nesta fase Phil Spencer tinha já encerrado 12 dos estúdios que estavam activos na geração X360. A promessa que aparentemente se cumpria, não era nesta fase nada mais do que uma premente necessidade. A Microsoft, de 18, estava reduzida a 6 estúdios, e não era de forma alguma competitiva.
2018:
Promessa
Já com uma boa quantidade de estúdios em carteira, capaz de criar jogos para alimentar a consola ou o seu serviço, Phil Spencer promete agora a execução de grandes jogos First Party, incluindo jogos Single Player.
Realidade
Basicamente a Microsoft adquiriu estúdios para compensar os que fechou. A capacidade de cumprir com entregas de exclusivos passou a ser real. Mas estes estúdios irão ainda demorar a entregar os seus jogos criados sob alçada da Xbox, só podendo ser entregues numa próxima geração de consolas. O que existe e está a ser entregue são jogos que já estavam desenvolvidos por estas empresas e que agora, ao serem adquiridas, passaram a ser da Microsoft.
A promessa pode muito bem ser cumprida, mas continua adiada, e estando-se agora em 2019, passaram-se 6 anos, e basicamente esta geração Xbox, ao estar agora a chegar ao fim, viveu apenas de promessas.
Daí que Phil… Acabemos com as promessas. Vamos é ver esses jogos. Pois somente perante eles, poderemos efectivamente fizer que tudo está perdoado. É certo que agora há equipas, mas há tambem um gamepass e futuramente um Xcloud que precisam de novo conteúdo constante nos jogos para os manter atractivos, daí que , vamos lá ver o que as novas equipas efectivamente produzem e o que rendem ao ter de manter os jogos com conteúdo.