Brad Hilderbrand, ex funcionário da MIcrosoft e EA explica o fecho dos estúdios da Besthesda

Brad Hilderbrand trabalhou na Microsoft e na Bethesda, e explica as razões que vê para o recente fecho dos 4 estúdios da Bethesda.

Há duas razões pelas quais todos os estúdios da Bethesda foram fechadas, e nenhum delas tem nada a ver com a Bethesda (diretamente)…

Game Pass e Activision.

O maior paradoxo do Game Pass é que basicamente todo e qualquer jogo lançado no serviço não atinge as suas metas de vendas.
Mas isso é apenas lógico. Porque pagar o preço todo para comprar um jogo quando se pode jogá-lo “de graça” como parte da assinatura?
Isso é contrariado de alguma forma pela atribuição de parcelas da receita aos jogos Game Pass de melhor desempenho todos os meses, mas há fatores que trabalham contra os jogos no serviço.
O fato de que a maioria dos jogos não permanece no topo das paradas por mais de um mês ou dois, e também que o crescimento do Game Pass estagnou. Então, jogos como Hi-Fi Rush, que é um jogo incrível, obtêm um pequeno aumento na receita por serem o jogo Game Pass mais popular por um mês, mas depois caem de um penhasco quando todos passam para o próximo jogo.
O pobre Redfall ficou ainda pior porque foi lançado de num contexto tão difícil que nunca teve qualquer hipótese.

Este sistema funcionou bem por um tempo, quando o Game Pass estava em crescimento, mas agora está desacelerado e a quantidade de receita que atribui aos jogos não está a acompanhar os orçamentos para produzi-los. Tudo isso não teria importância há 3 ou 4 anos atrás, porque naquela época o Xbox era basicamente um erro de arredondamento nos livros da Microsoft. A divisão rendeu algum dinheiro, mas o mais importante é que não tinha estas despesas tanto e outras partes do negócio cobriam facilmente a lacuna.
Mas a Xbox começou uma onda de compras e gastou muito dinheiro na Bethesda, mas muito mais na Activision. Agora, o “Olho de Sauron” mudou e espera-se que a Xbox comece a recuperar esses US $ 70 bilhões, ou pelo menos corte as despesas até o osso (e mais algumas) enquanto tentam fazer a receita. E isto traz-nos de volta ao Game Pass. Até agora, as grandes apostas na promoção de novas subscrições (Redfall, Starfield) não estimularam um crescimento suficiente e não há muito no horizonte que possa reiniciar o ímpeto. A melhor aposta é o COD, mas a questão se a Microsoft arrisca a receita de vendas garantida que a franquia traz ao colocá-la no Game Pass no primeiro dia ao potencialmente perder vendas massivas? Não sei quais são os planos, mas a situação em que estamos é que ou se coloca no Game Pass e se perde dinheiro, ou não se coloca e os assinantes vão-se revoltar porque acham que foi para isso que se inscreveram.
No meio de tudo isto, o COD vai ficar bem, assim como os outros megaestúdios com IPs enormes, mas a realidade é que estamos a ver o impacto; todos aqueles estúdios menores que fazem jogos realmente interessantes irão desaparecer, simplesmente porque, por melhores que sejam jogos como Hi-Fi Rush, eles nunca ganharão dinheiro suficiente para compensar aquele buraco de US$ 70 bilhões em que a Xbox se meteu e do qual agora tem de sair.

As suas palavras podem não conter a verdade toda, até porque no fundo elas são apenas lógicas. A sua opinião porém está de acordo com o que sempre viemos a dizer ao longo dos tempos, sendo que se concorda que a despesa de 70 biliões na divisão a torna mais vigiada, obrigando a resultados. E até eles aparecerem, se é que alguma vez vão aparecer, a despesa tem de ser contida!

Isto apesar de não ser coerente que um estúdio que cria um jogo como Hi-Fi Rush tão elogiado pela Microsoft, seja fechado. E menos coerente é que a Microsoft venha depois de fechar o estúdio vir dizer que precisa de mais jogos como esse! A Microsoft aparentemente continua a acreditar que os bons jogos nascem, e que basta querer fazer um para ele aparecer. Isto apesar de nunca ter criado verdadeiramente nenhum desses jogos nos últimos 12 anos.

Mas há algo mais a pesar sobre a Microsoft: o espectro da IA.

A IA surgiu de repente e tornou-se uma guerra, e numa situação normal a Microsoft estaria no mercado a adquirir tudo o que fossem pequenas empresas com potencial na IA. Infelizmente, a compra da Bethesda e Activision não só lhes levou todo o “cash in hand”, como acordou o olhar dos reguladores sobre as atitudes monopolistas e potencialmente anti concorrenciais da Microsoft. E isso quer dizer que a Microsoft está tremendamente limitada para atuar nesse sector, sendo que por esse mesmo motivo os olhos dos acionistas caem sobre a Xbox e consequentemente existe uma pressão enorme sobre a Xbox que tem forçosamente de dar agora lucros, ou então cortar brutalmente nas despesas.