Das duas uma. Ou uma onda de falta de lucidez contagiante está a propagar-se pela internet, ou cada vez mais se concluiu que tudo que sejam websites profissionais e patrocinados não conseguem ser isentos face às receitas que daí advém. Mas certamente ver o Arstechnica englobado nesse lote foi, para mim, uma surpresa.
Desde à vários anos que conheço o website Arstechnica. E desde que o conheço que o admiro pela qualidade dos artigos que coloca.
Posso mesmo dizer que os artigos que por lá encontrei e que eram do meu interesse, eram efectivamente bons. Essa é, pelo menos a minha opinião.
O Arstechnica primava pela análise clara, pela imparcialidade, e pela justificação técnica. Mas tal como muitos outros, com a Xbox One e a PS4, vergou-se a outros interesses. E é triste!
Passo a citar parte de um artigo comparativo entre a PS4 e a Xbox One publicado por esse website:
Os CPUs partilham a mesma arquitectura e design multi-núcleos, o GPU varia apenas ligeiramente em velocidade de relógio e em número de Compute Units, e apesar de a PS4 possui uma memória GDDR5 unificada mais rápida, a Xbox One compensa isto (pelo menos parcialmente), com uma pequena cache de memória ultra-rápida ESRAM.
Especificações à parte a prova do poder de uma consola está no pudim da sua saída gráfica, a até agora a PS4 e a Xbox One são praticamente indistinguíveis nesse aspecto. Outros colocaram análises detalhadas do número preciso de pixels que eram processados em cada sistema. Apesar de não termos razões para duvidar dessas análises, a diferença não é tão aparente quando se está a jogar numa televisão standard de sala a 1080p.
Eu perante estas frases tenho duas possibilidades de lidar com o que é dito.
Ou acho que algo de errado se passa com o Arstechnica, ou que algo de errado se passa com este planeta.
Até agora as performances dos sistemas informáticos, sejam eles processadores ou placas gráficas sempre foram analisadas pelas suas capacidades.
Ora aqui na Xbox One temos 12 unidades de computação, e na PS4 temos 18. Isto não é uma pequena variação, e dado que a capacidade de processamento e o número de shader pipelines por CU são idênticos, isto é 50% de capacidade de processamento efectivo a mais! E isto sem considerar outros bônus que sabemos existir no GPU da PS4.
Daí que ou algo de muito anormal se passa com o Arstechnica, ou andamos estes anos todos aqui todos feitos idiotas a ler comparativos e a comprar placas gráficas novas de 300 euros para os nossos PCs onde em alguns casos a diferença de capacidade de cálculo e performance face a alternativas mais baratas nem chega aos 50%, e isto porque segundo as recentes frases deste website da especialidade, placas com essa diferença são apenas pequenas variações.
Mas o website não se fica por aqui.
E eis que refere que a PS4 possui uma memória rápida GDDR5, mas a Xbox One possui uma memória ESRAM ultra-rápida.
Oh pá, os meus estudos podem ter sido uma valente burla, mas as contas com a matemática que aprendi não mostram as coisas assim:
Se a GDDR5 da PS4 corre a 5.5 Ghz, num bus de 256 bits, e com 1 byte=8 bits, então 5.5*256/8=176 GB/s
Ora a GDDR5 ou grava ou escreve em cada ciclo, mas independentemente do que faz, fâ-lo a 176 GB/s.
A ESRAM está embutida no GPU e como tal corre a 856 Mhz tal como este, estando ligada a um BUS de 1024 bits.
0.856*1024/8=109 GB/s
É certo que a ESRAM num único ciclo pode ler e escrever (na realidade a cada 8 ciclos só em 7 pode ler e escrever, sendo que no oitavo fica limitada a uma das situações – 7 ciclos com 2 operações e 1 com uma, ou 15 operações em 16 possíveis), o que aumenta a sua largura de banda para 15/16*109*2= 204 GB/s.
Mas apesar de 204 ser maior que 176 GB/s, há diferenças.
1º Por ciclo, apesar de ambas as situações poderem ocorrer em simultâneo, as escritas da ESRAM nunca são superiores a 109 GB/s e as leituras também não o são. Na GDDR5 são a 176 GB/s. Ou seja, dependendo do tipo de operação, as memórias podem ser mais lentas ou mais rápidas.
2º A eficiência da GDDR5 é superior à da ESRAM, e o número de ciclos disponíveis para leitura/escrita, mesmo que consideremos o valor de 2*856=1712Mhz para a ESRAM por poder ler e escrever no mesmo ciclo, é bastante diferente.
Seja como for, nem vamos entrar por aí. Basicamente aqui a ideia não é provar que uma memória é melhor ou pior que a outra. O certo é que ambas as memórias deverão debitar, na prática, larguras de banda muito semelhantes, pelo que referir-se a uma como mais rápida e a outra como ultra-rápida é erróneo e nada digno de um website técnico. Ultra rápida seria se em vez da ESRAM existisse uma eDRAM capaz de 1 TB/s de largura de banda, essa sim uma largura de banda significativamente superior!
Mas a parte mais chocante da análise é sem dúvida o segundo parágrafo onde se refere que as diferenças gráficas entre as consolas são praticamente indistinguíveis e que a diferença não é tão aparente quando se está a jogar numa televisão standard de sala a 1080p.
Bem, quanto a isto creio que o ideal seria recomendar mesmo um bom oftalmologista. E isto porque estamos a negar o inegável, a contrariar a realidade. Sinceramente não percebo como alguém consegue afirmar tal coisa.
Que me digam que as diferenças, particularmente em ecrãs pequenos, acabam por ser menores do que o espectável, até aceitaria, até porque é algo que eu próprio reconheço. Mas dizer que não se notam? Seriamente tenho de recomendar uma ida a um médico dos olhos. Mas depois de tudo o que foi lido nessas poucas linhas do Arstechnica, talvez dedicarem-se à pesca também não fosse uma má ideia.
Meus senhores… quem lê o que vocês escrevem tem de suar para ganhar ao fim do mês. O dinheiro que vão investir baseado no que vocês dizem custa a ganhar, e muitas vezes foi ganho com grande sacrifício. Por isso, parem por favor de ser parciais e façam o favor de ser honestos. Andar durante anos a comparar produtos e a distingui-los porque um dá mais 5 fps num jogo do que o outro, e agora perante diferenças abismais vir dizer que os resultados são semelhantes… Por Amor de Deus.
Mas para quem quiser ficar a pensar deixo aqui uma reflexão:
Quem utiliza PCs sabe que uma forma de se ganhar framerate é descer a resolução. Isto é apenas lógico: Mais pixels a processar implica mais uso do GPU e como tal quebra de performance.
A questão que deixo para estes senhores da Arstechnica matutarem é:
– A PS4 corre BF4 a 900p a mais de 60 fps com quebras para 50.
– A Xbox One corre BF4 a 720p a mais de 60 fps com quebras para 50.
– A diferença de resolução é 1,56 vezes mais.
– A PS4 corre COD a 1080p a mais de 60 fps com quebras para 50.
– A Xbox One corre COD a 720p a mais de 60 fps com quebras para 50.
– A diferença de resolução é 2.5x mais.
Se a XBox One é realmente comparável com a PS4, não deveria, no mínimo, correr a 720p sem as mesmas quebras de performance que a PS4 numa resolução superior (60 fps constantes)? E o que aconteceria se a PS4 em vez de usar o seu processamento extra em mais resolução optasse por se manter com ele também nos 720p?
Pensem senhores! A cabecinha existe para isso! Ou será que preferem pura e simplesmente não o fazer?
Até porque fico intrigado como nesta comparação conseguem ver tanta coisa de diferente, e quando vos metem 2,5 vezes mais pixels à frente dos olhos… Não vêem nada!
Uma consola não vale pela sua performance, e a Xbox pode vir a revelar-se superior quer pelo seu software, quer pelo seu suporte. Aliás, nunca nos ouvirão aqui referir que uma consola é melhor que a outra.
Mas se isso é uma situação, tentar negar com este tipo de argumentos sem sentido que as capacidades técnicas superiores do hardware da PS4 são pouco relevantes é o total descrédito para o vosso website.