Algo vai mal em alguns estúdios da Microsoft

Halo Infinite, Everwild, e Perfect Dark são três jogos dos estúdios Microsoft que se encontram envolvidos em severos problemas de desenvolvimento.

Recentemente tivemos duas notícias que nos mostram que algo se passa em alguns estúdios da Microsoft.

É conhecido que Halo atravessou severos problemas durante o seu desenvolvimento, acabando lançado depois de a maior parte deles serem resolvidos!

No entanto, quando se seria de esperar que tudo estivesse resolvido, a realidade é que vemos que a 343 industries continua a dececionar. Não só a segunda temporada de Halo é deveras curta em conteúdo, como foi lançada após um período de tempo que em muitos casos corresponde a uma temporada completa em jogos de sucesso, quando aqui a primeira temporada se esgotou de interesse em poucas semanas. Entretanto o jogo continua sem modo Co-op e modo Forge, continuando a pecar por pouco conteúdo. Mas apesar de a 343 industries ser uma empresa com 750 funcionários, e de ter indicado o lançamento do Roadmap como a sua prioridade máxima, esta mostra-se incapaz de indicar um roadmap com previsões de lançamento das partes em falta, alegando que os seus recursos estão todos dedicados à resolução dos principais problemas do jogo, criando enorme frustração nos fans.

Claramente, numa empresa desta dimensão, algo está mal, e essa ideia agravou-me quando o principal designer de multi jogador e Director de jogo na vertente multijogador da 343 Industries, Andrew Witts, abandonou a mesma.

Ora poderíamos pensar que tal se deveu às naturais movimentações de pessoas dentro da industria, mas tal não foi o caso. Andrew despediu-se e ficou sem emprego, mostrando que a saída se deveu a desentendimentos internos.

Basicamente a 343 industries, pela sua dimensão, está longe de responder como esperado, ficando bem abaixo do esperado para a sua dimensão, e esta saída revela que, ainda hoje, há problemas internos por resolver.

Outra empresa afetada por problemas é a RARE, que cancelou o já anunciado Everwild. Segundo Jeff Grubb, no verão de 2021 a Microsoft resolver pegar num jogo que estava em desenvolvimento desde 2016, e reiniciar o mesmo, mas vários meses depois de tal ter acontecido a Microsoft ainda não tinha decidido que orientação lhe dar.

O desenvolvimento, tal como o de Halo, entrou em Caos, tal como referido pela Eurogamer, ao ponto de vários criativos terem abandonado a Rare, sendo que a maior baixa foi o seu diretor creativo, Simon Woodroffe. O artigo refere que a certa altura haviam funcionários na Rare que nem sabiam o que Everwild era, e que a Microsoft estava a par dos problemas devido aos relatórios internos, mas nunca os reconheceu publicamente.

O resultado: Apesar de Everwild estar já em produção à 6 anos, encontra-se adiado para 2024.

O caso mais recente, dentro dos conhecidos, passou-se na The Initiative, o anunciado estúdio AAAA da Microsoft.

As coisas começaram a soar a suspeitas quando foi anunciado que o jogo em que trabalhavam, Perfect Dark, iria ser desenvolvido em colaboração com a Crystal Dynamics. Porque motivo um estúdio denominado como AAAA iria precisar de desenvolver um jogo a meias com outro estúdio?

Mais recentemente veio a público a notícia que Dan Neuburger, Diretor de jogo, havia saído do estúdio. E mais uma vez foi possível perceber-se que esta pessoa não foi para outro local, mas que se despedira, estando desempregado. Algo de errado se estava a passar no estúdio.

Pois agora as notícias vieram a público e na realidade não foi apenas Dan que saiu. Eis a lista de todos os funcionários originais da empresa e os que ficaram após a razia.

Como se percebe, a razia foi enorme. Os problemas abundaram dentro da equipa!

De acordo com a VideogamesChronicle, alguns dos principais membros que saíram citaram a falta de autonomia criativa e o desenvolvimento lento como a razão para a sua saída.

Basicamente este é um novo jogo que entrou em caos de desenvolvimento, sendo que, apesar de o website da empresa referir que ela defende “um ambiente criativo e colaborador”, os funcionários que saíram descrevem a hierarquia da empresa como sendo altamente “de cima para baixo”, significando que as ordens vinha de cima e o funcionário tinha mais era que as executar, sem direito a opinião. Basicamente os diretores de jogo tomavam as decisões e elas não eram discutíveis.

Há mesmo quem quem refira que agora que o jogo está completamente nas mãos da Crystal Dynamics que é quem o está agora a gerir, com a The Initiative a ter um papel secundário.

Initiative update: I’ve added 2 more confirmed departures to the list (and corroborating a few more).

If it wasn’t obvious already, multiple sources have now suggested to me that Crystal Dynamics is essentially leading this project.https://t.co/LZPQDNJvIJ

— Andy Robinson (@AndyPlaytonic) March 16, 2022

Curiosamente, a 5 de Fevereiro de 2020, Phil Spencer mostrava-se a jogar o suposto jogo da The Initiative… Um jogo que pelo que percebemos agora, basicamente não poderia estar minimamente numa fase avançada. Não é por isso de admirar que a coisa se tenha resumido a uma imagem estática. O que estava no ecrã?

Análise

Quando Perfect Dark foi apresentado na TGS 2020 tornou-se claro que estava tremendamente atrasado, dado que o mostrado foi apenas um GCI. E o progresso que existiu entretanto foi pouco ou nenhum, tendo sido requerido a intervenção da Crystal Dynamics como colaboradores.

Um jogo AAA típico demora até 5 anos a ser desenvolvido, pelo que se com tudo o que se passa o jogo tiver de ser re-iniciado não o veremos antes de 2026… E isto vindo de um estúdio que foi estabelecido em 2018, e que na altura terá 8 anos.

E apesar de tal mostrar uma gestão miserável dos estúdios, o pior que se sabe da notícia é que a liberdade criativa que a Microsoft refere existir, na realidade é ditada superiormente. Vemos isso aqui com as declarações dos programadores de Perfect Dark, e na Rare com a decisão superior de fazer o reboot do jogo, sendo que certamente a 343 Industries sofreu do mesmo. Basicamente o que parece é que a Microsot apregoa uma coisa publicamente para atrair talento, mas internamente faz outra.

O jogo basicamente foi mostrado cedo de mais, tal como o Everwild, devido ao simples facto que a Microsoft precisava de algo para mostrar… e não tinha! E este tipo de questões aplicam-se a outros jogos que foram mostrados no mesmo estado e sobre os quais nunca mais nada se soube.

A pergunta que fica é se o Matt Booty está realmente a fazer um bom trabalho no seu cargo. Basicamente porque tudo isto é da sua responsabilidade, e estas falhas em Halo, Everwild e agora Perfect Dark acabam por serem da sua responsabilidade. E naturalmente a coisa arrasta-se a Phil Spencer como chefe geral que, pelo que sabemos, até poderá ter ajudado a esconder a realidade do desenvolvimento do jogo com a foto acima.

Se formos a ver como é que podemos esperar que os novos estúdios que foram adquiridos pela Microsoft melhorem ou mesmo mantenham a sua qualidade quando o que vimos de 2013 a 2020 foi o fecho continuo de estúdios, e agora continuamos com problemas nos estúdios internos da Microsoft que tem levado a saídas em massa?

E que mensagem de confiança a Microsoft passa aos funcionários da Activision que estão receosos com o ambiente de trabalho que possuem, quando as suas próprias equipas possuem problemas destes?

Foi prometido que IPs classicos como Fallout e Elder Scrolls irão ser reinventados e voltarão aos seus dias de glória, mas quanto, pelo que se está a ver, a Microsoft nem sequer está a conseguir gerir com sucesso o IP que é a sua imagem de marca, e o seu maior sucesso, o Halo, será que podemos realmente esperar que essa promessa seja cumprida?

Se um estúdio montado de raiz sofre de problemas internos deste tipo, o que acontecerá com uma Activision que internamente já possui uma política de problemas? Como é possível que uma equipa tenha uma perda de 50% dos seus funcionários num único ano sem sanar os problemas, e não conseguindo mostrar sequer qualquer coisa do jogo?

Repare-se que os jogos prometidos para lançamento mais breve são jogos da… Zenimax… adquirida de forma efetiva em 2021, antes de termos jogos da Obsidian, da Compulsion, ou da Ninja Theory, que já estavam na Microsoft dois anos antes? (E isto nem falando de outros estúdios Microsoft). Será que essas empresas estavam em branco? Porque em 2022 o que teremos será algo de uma empresa gigante comprada em 2020, e mais um Forza.

O que andam as equipas da Microsoft a fazer?

Todos sabemos que a Microsoft se colocou numa posição de “ver para crer”. O seu historial neste ramo tem sido de promessas e mais promessas e pouco para apresentar. E ao Microsoft para se redimir tem de mostrar ao mundo o que vale.

Para isso precisamos de ver os jogos, mas não só os jogos, a produção! A Microsoft é já enorme a nível de equipas, mas o que temos é uma Insomniac a produzir tanto ou mais do que todas as equipas da Zenimax juntas. E isto não aparenta mudar tão cedo!

Aquilo que a Microsoft aparenta estar a fazer é bem diferente. Não conseguindo impor-se… compra… e tenta esmagar a concorrência por aí! Mas perante o que vemos, caso isso acontecesse o futuro poderia ser muito… muito incerto!