Mark Cerny diz que sim, a Dolby diz que não! Quem tem razão?
Pois é… a polémica instalou-se. Quando Mark Cerny falou da nova tecnologia de som da Sony e como ela poderia lidar com centenas de objectos em simultâneo, foi feita uma comparação com o Dolby Atmos, sendo referido que essa tecnologia apenas suporta até 32 objectos.
Para que fique claro, um objecto é uma fonte sonora (também designada por canal), com posição devidamente situada no espaço que é tomada em conta na criação do audio.
Perante esta afirmação de Cerny, a Dolby veio imediatamente a público. Não sendo naturalmente coincidência que isso tenha acontecido pelo facto que a tecnologia da Sony será uma concorrente directa!
Na sua intervenção a Dolby veio corrigir Mark Cerny, referindo relativamente à sua afirmação dos 32 objectos:
Não, isso está incorrecto. Como tecnologia, o Dolby Atmos pode suportar centenas de objectos simultâneos.”
Dito isto, apoiamo-nos no conselho de produtores de alguns dos primeiros jogos com Atmos: os objectos são uma ferramenta fantástica, mas deve haver restrições no número de objectos activos em qualquer momento. Demasiados objectos podem criar uma paisagem sonora confusa.
Os produtores disseram-nos que evitar a camada horizontal para uma combinação de todos os objectos é um esforço desnecessariamente demorado e trabalhoso. Até agora, os produtores estão a criar combinações de próxima geração ao misturar áudio das camadas e áudio dos objectos.
“Mais é bom, mas mais talvez não seja necessariamente melhor
Torna-se curioso como a Dolby nega o limite, mas ao mesmo tempo refere “… mas deve haver restrições no número de objectos activos em qualquer momento. Demasiados objectos podem criar uma paisagem sonora confusa.”.
Quer isto dizer o que? Que ficamos todos confundidos quando saímos à rua e ouvimos incontáveis fontes sonoras diferentes????
A realidade é que a Dolby está a defender um produto. Imagino que um sistema que se propõem fazer igual ou mesmo melhor sem requerer uma complexa combinação de colunas, devidamente certificadas, seja vista como uma ameaça. Mas será que a Dolby tem razão?
Sim tem! Mas num contexto muito particular que a Dolby não explicita. E não explicita porque não lhe interessa!… Preste-se atenção ao que é dito: “Como tecnologia, o Dolby Atmos pode suportar centenas de objectos“.
Ora as teorias são muito bonitas… mas daí a serem realidade vai um grande passo.
Se ouvirem novamente o Video de Cerny, este também disse que a tecnologia da Sony poderia suportar até 5 mil objectos, mas depois quando falava, era mais contido e falava apenas em centenas de fontes.
Aqui a Dolby refere que, como tecnologia, até poderia suportar mais do que 32 objectos. A grande questão é… e que interessa isso? Qual o descodificador certificado Atmos (que diga-se são caros como o raio), que suporta mais de 32 fontes ou canais? E se os há, quanto custam?
Vamos ver o que diz a documentação da Dolby no seu software profissional de codificação Dolby Atmos Mastering Suite v3.2.
Ora na página 20, encontramos a seguinte nota:
b) Supports sending up to 32 channels of audio (beds and objects) from Pro Tools to the Renderer using the Dolby Audio Bridge driver.
Só 32 Objectos??? Mas e então as centenas onde estão?
Será erro? Não, não é… Na página 29 reaparece a mesmíssima nota!
Vamos ver o que diz quem já codificou audio com o Dolby Atmos. Eis aqui um forum de ajuda sobre o tópico.
Se descerem até à mensagem do Garnoil vão encontrar:
I am also finding out that I can probably use 32 objects at most, “simpler mixes”
32 objectos no máximo? Não eram centenas?
E os jogos? Será que os jogos usam mais que 32? Vamos ver o que é dito num fórum especializado em audio e imagem:
Video games use a Dolby MAT (Metadata-enhanced Audio Transport) container which allows for real-time Atmos encoding (up to 32 objects or channels) in PCM with low latency. Dolby supplies the tools, but game designers decide how many (and which) sounds get encoded as objects and which get mixed into channels. Atmos rendering is still done during playback, based on the number and locations of your speakers.
Ora bolas… 32 objectos.
Será que estão correctos? Será que é mesmo assim? A Atmos diz que são centenas!
Vamos ver o que a Microsoft tem a dizer:
On Windows and Xbox, the number of available voices varies based on the format in use. Dolby Atmos formats support 32 total active objects (so if a 7.1.4 channel bed is in use, 20 additional dynamic sound objects can be active).
Só pode haver aqui algum erro. A Dolby garante que a sua tecnologia suporta centenas de canais, mas o windows, que é o sistema operativo que gere os programas de edição audio usados profissionalmente para codificar o Atmos, mesmo com os PCs mais potentes do mercado só consegue lidar com 32 objectos?
Resumidamente a Dolby pode muito bem vir apregoar que a sua tecnologia suporta mais objectos. Mas isso é atirar areia para os olhos, pois os 32 são efectivamente um limite a uso. E sinceramente, após averiguar isto achei a intervenção da Dolby pura e simplesmente ridícula. Mas mesmo que no limite máximo a sua tecnologia suporte centenas de objectos, a da Sony anuncia milhares! Comentar desta forma, e passando uma imagem de que Cerny não sabe o que diz, alegando algo que, mesmo que verdade tecnicamente não o é na prática, e acima de tudo obrigando a um sistema capaz de descodificar e reproduzir Dolby Atmos é algo ridículo. Isto quer dizer que qualquer TV poderá vir a ter som igual ou superior ao Dolby Atmos, assim como qualquer soundbar Stereo, sendo que uma soundbar dessas devidamente certificada pela Dolby nunca custa menos de 600 euros (um modelo de topo pode custar algo na ordem dos 3 mil euros).
Aliás, mesmo que no futuro os preços dos descodificadores Atmos desçam e eles possam vir a descodificar mais objectos (algo que os actuais não fazem pois são todos limitados a 32 canais), isso não invalida que o standard actual, aquele que vai competir com a tecnologia da Sony tem como limite efectivamente os 32 objectos.
Ora quando a Sony se propõem tornar qualquer par de colunas baratas e mesmo sem descodificador, num sistema com capacidades equivalentes e até superiores a um sistema certificado Atmos, uma correcção enganadora como esta parece-me demais.
Isto não quer dizer que futuros sistemas, como a Xbox série X, como o seu inovador sistema audio, não possam quebrar esta barreira de objectos. A questão depois é que mesmo assim será preciso um descodificador certificado para suportar isso… e a questão é: Onde é que existe um descodificador que lide com mais de 32 canais , e se ele vier a existir, quanto custará?