Os acionistas da Activision acabaram por votar a favor da venda, uma decisão que acaba por ser apenas a esperada dado o estado em que Kotick deixou a empresa. Mas Wall Stret continua a não acreditar muito na venda, e os processos contra a Activision por suspeitas de má gestão continuam a acumular-se.
Apesar de atrasada, pois outras notícias acabaram por ter prioridade, esta é uma notícia relevante que precisa de ser dada: Os acionistas da Activision votaram a venda à Microsoft, e aprovaram a mesma com 98% dos votos.
No fundo a situação era esperada. Bobby Kotick basicamente teve uma gestão terrível da empresa, levando à perda de valor das ações da mesma, à ligação a escândalos de assédio sexual, e à saída de muito do pessoal nuclear da empresa.
A agravar a situação, quando Kotick comunicou aos acionistas a necessidade de votar o email alertava que:
- Com a venda, cada acionista iria receber 95 dólares por ação, o que era 25% mais do que o valor a que estas estavam a ser transacionadas (ou seja, um quarto mais do valor).
- Que sem a venda, a Activision teria de pagar 2,27 biliões à Microsoft.
- Que as ações iriam desvalorizar tremendamente caso a venda não fosse aprovada.
Perante um quadro pintado desta forma, os acionistas tinham duas hipóteses pela frente.
- Ganhar dinheiro e vender a empresa
- Perder dinheiro e manter a empresa
E tal terá certamente pesado na decisão de vender.
No entanto o Wall Street Journal deu a conhecer uma situação curiosa. É que se na altura o valor pago pela Microsoft era superior em 25% ao valor a que as ações estavam a ser transacionadas, essa situação ainda hoje é uma realidade.
Daí que eles colocam uma questão… Se o mercado acredita na venda à Microsoft, porque motivo está a vender as ações a este valor?
Porque alguém haveria de deixar de ganhar 25% a mais, vendendo as ações já?
Mas a realidade é que elas estão a ser vendidas 25% abaixo do ser valor, algo que o Wall Street Journal entende como sendo uma ideia que passa em toda a Wall Street de que a fusão não irá para a frente, e que nesse sentido a venda a estes valores acabará por ser uma mais valia devido à quebra de valor das ações que ocorrerá caso haja uma reprovação.
Ora apesar de não estar ligado a este mundo, esta afirmação do Wall Street Journal, por muito coerente que seja, não nos convence. Na prática qualquer um que negoceie em Wall Street sabe tanto como qualquer um de nós sobre o que será o futuro, e nesse sentido nem pode ter garantias que a fusão ocorrerá, ou que não ocorrerá. Basicamente o que nos quer parecer é que as transações devem continuar a existir como se nada se passasse, uma vez que certezas, não há nenhumas. E assim sendo, havendo possibilidade de se ganhar dinheiro, há mais é que comprar e vender. Ou seja, pela nossa perspetiva, esta realidade não acaba por ser sequer minimamente indicadora de nada.
Mas como disse, deste tipo de coisas não percebo nada!
No entanto é um facto que a questão da Activision está ligada a uma série de processos em tribunal. Eis uma lista de todos os processos que já deram entrada em tribunal até hoje:
- 1 queixa em tribunal federal por assédio sexual
- 1 queixa na California por descriminação
- 1 ação genérica contra a empresa
- 4 processos de acionistas
- 8 processos contra a fusão com a Microsoft
- 2 processos de “queixa 220”
- Uma investigação da SEC sobre possíveis ilegalidades no processo de fusão
- Uma investigação do Departamento de justiça nos mesmos moldes da da SEC
Aqui os casos mais relevantes são os 3 últimos, sendo que as duas ultimas investigações são equivalentes, apenas levadas a cabo por autoridades distintas.
As “queixas 220” são basicamente queixas de terceiros que se entendem prejudicados, e que pretendem obter informação documental sobre todo o processo.
A “queixa 220” mais recente vei por parte do fundo de pensões dos funcionários públicos da cidade de Nova Yorque, que se entendem prejudicados pelos danos que a desvalorização da Activision causa nos impostos e consequentemente dinheiros públicos.
Esta queixa pretende ter acesso a toda a documentação interna da Activision, bem como toda a contabilidade da empresa e dos envolvidos, de forma a esclarecer a seguinte situação, de que acusam a Activision.
Assim, segundo a queixa:
A Microsoft abriu as discussões com a Direção da Activision sobre a aquisição a 19 de Novembro de 2021, mas apesar de tal o quadro de Diretores não reuniu para discutir e dar a conhecer a proposta da Microsoft a todos os restantes interessados, senão duas semanas depois, a 1 de Dezembro de 2021.
Nessa janela, e sem autorização do quadro de Diretores, ou uma oferta concreta da Microsoft, o CEO, Kotick, de forma cega informou a Microsoft que estaria disposto a aceitar uma oferta na ordem dos 90 aos 105 dólares por ação. A oferta da Microsoft a 10 de Dezembro de 2021, foi um valor perto do valor mais baixo do proposto por Kotick. E a 16 de Dezembro de 2021, apesar de se afirmar haver múltiplos interessados que não foram identificados, e quase nem dando tempo para que alguém cobrisse a proposta, a Activision e a Microsoft já tinham executado um acordo de confidencialidade a 30 dias.
A queixa acrescenta ainda:
A má conduta de Kotick não acabou com a decisão de vender a Activision por menos do que ela valia. A 31 de Março de 2022, o Wall Strreet Journal informou que o SEC tinha lançado uma investigação sobre se Kotick teria ou não divulgado informação não pública a Alexander von Furstenburg, neto do mogul dos media, Barry Diller, e antes do acordo de fusão.
Uns dias depois de se encontrarem com Kotick, (e antes do anuncio da fusão), von Furstenberg, Diller, e David Geffen (outro amigo de longa data de Kotick), gastaram em conjunto 108 milhões na aquisição de 4.12 milhões de acções da Activision. Estas negociações altamente questionáveis e duvidosas com 3 afiliados de Kotick, rendeu-lhes mais de 100 milhões.
Resumidamente, ainda há muita água que vai correr debaixo da ponte antes de se poder afirmar que esta venda vai em frente.
A mim parece-me que o negócio irá para a frente, apesar de achar que começa a parecer um mau negócio para a Microsoft.
De qualquer das formas também não vejo grande futuro do CEO, e mesmo que a Microsoft conclua a compra não pode ficar com aquela pessoa naquele cargo
Gervas… apesar que este negócio será certamente algo de controlo apertado pela dimensão que tem, sempre acreditei que não haveria nada que impedisse a compra, quando muito que forçasse a certas regras a serem seguidas para a aquisição.
Mas esta questão do Kotick é muito séria. Se se provar, ou pelo menos houver indícios muito fortes de que ele tentou lucrar com isto, a venda ficará pausada, e pode mesmo ser impedida. Nada a ver com a Microsoft ou com a fusão em si, mas por burla qualificada e tentativa de enriquecimento ilícito, com gestão danosa e consciente.
E isso é neste momento o que deve preocupar a Microsoft. Porque já não se trata apenas da análise da legalidade e regulação da fusão pela FTC, mas igualmente da análise de ilegalidades cometidas pelo Kotick enquanto CEO da Activision pela SEC e Departamento de Justiça.
Essa questão do Kotick, fora a pressão interna que tudo indica ter existido, e a possibilidade de se desvencilhar de processos ao qual se vincula e tem responsabilidade, ainda existe a possibilidade de ter vazado informações aos seus próximos pra usufruir da valorização na venda, o que é burla certa de regras no mercado de ações e algo a ser realmente avaliado.
Mas é preciso pensar que menos ruim é ir pra mão de alguém que acabar um futuro ainda possível de jogos, e de empregos, do que nada. Só é preciso que se punam os responsáveis por eventuais crimes civis e burlas ao sistema financeiro.
Agora, é preciso frear a concentraçõ do mercado na mão de poucos, isso não é bom sobre qualquer pretexto, mesmo os de “bom samaritanos”.
Cada dia que passa esse negócio fica cada vez mais enrolado. Tá na cara demais que a MS interferiu e esse negócio tá longe de ser normal.
Concordo, eu ontem até comentei que para mim esse Bob teve o apoio de alguém maior por detrás das cortinas. Para mim é impensável uma pessoa fazer tanta tramoia sozinho, mesmo sendo brasileiro isso beira o impossível, para casos assim sempre tem gente “maior” dando suporte.
Ps: Isso que falei é apenas suposição minha.
Veremos como se sai a questão da Sony-Bungie frente as comissões americanas, o que parece já estar sendo analisado segundo a eurogamer.pt.
Será um bom indício de se a Microsoft-Activision também irá pra frente ou se é só muita bravata pra disfarçar o protecionismo norte-americano aos seus.
Minha crença é de que avaliar a Sony como uma MS, Google, Amazon e Apple não faz qualquer sentido, e se vetarem a Sony, mais sentido faz em vetarem a MS.
Lamentavelmente, parece que essas aquisições pra catálogo de serviços são o futuro, o que eu particularmente não quero.
Já com o “enxugamento” de ips por parte da Square, começa a fazer mais sentido em estar se preparando para aquisição, já que se livrar de franquias multiplataformas consagradas pode ajudar na “lubrificação” das transações frente as comissões. Será que a Square será vendida a alguém mesmo?!?!
Se isso for o futuro, mais da metade das empresas de games desaparece.
Então, Deus queira que não!
Juca… Todos são analisados… Tudo o que seja acima e 110 milhões tem legalmente de ser analisado.
Há aqui quem queira fazer folclore com a coisa.
Sim, Mário, o que falo é que a Bethesda passou e vale mais que a Bungie, inclusive tem muito mais jogos multiplataforma, fora que a Sony não ameaçou ninguém de retirar jogos ou mesmo ficou convenientemente calada esperando a comunidade tóxica tocar o terror sobre retirar clássicos dos concorrentes.
Considero ainda, que apesar da Sony ser uma gigante em games, pelo próprio valor de mercado dela, ela não está no mesmo patamar das demais que citei e tem muito menor potencial de monopólio do mercado que qualquer uma daquelas. Logo, se houver veto a aquisição da Sony, a lógica diz que pior será pra Microsoft, a menos que impere o protecionismo da parcialidade, ou “patriótico”, ou “financeiro”.