Creio que em todos os anos em que lidei com video jogos, nunca me deparei com uma criatura virtual tão realista e com tanta personalidade como Trico. A sua presença em ecrã é marcante e o seu comportamento… é do mais realista que foi feito até hoje.
The Last Guardian pode não ser o jogo visualmente mais atraente de sempre. Até porque o seu desenvolvimento foi bastante atribulado e o jogo sofreu com isso!
Apesar de o estilo visual e a arte do jogo serem perto do conceito do seu autor, não haja dúvidas que o jogo poderia ter beneficiado do salto geracional da PS4, mas o certo é que o mesmo começou a ser concebido para a PS3 e a ideia original era lançar o mesmo nesta consola.
Mas agora que o jogo saiu, e apesar do grafismo se mostrar um pouco ultrapassado (apesar de mesmo assim possui zonas de elevada beleza), há uma estrela que brilha bem alto, e que mostra claramente o motivo pelo qual a PS3 não se revelou adequada para o jogo… Trico, a criatura do jogo!
Em The Last Guardian Fumito Ueda volta a mostrar a sua mestria e a brindar-nos novamente com um jogo com todas as caracteristicas para poder ser considerado uma obra prima. O jogo pega nos conceitos e basicamente no universo dos dois jogos anteriores, Ico e Shadow of the Colossus, e cria aqui algo de novo e que, por intermédio da criatura Trico, atinge patamares nunca antes alcançados.
Se em Ico a personagem tinha de lutar com as sombras malévolas e levar consigo a princesa com quem interagia para se libertarem das torres onde estavam encarcerados, em Shadow of The Colossus a interacção passa a ser entre a personagem e o seu cavalo Agro, sendo que aqui temos de montar bestas gigantes subindo pelo seu pêlo, para as derrotar.
Em the Last Guardiana o principio da cooperação das duas personagens de Ico, com o jovem humano e o Trico a colaborarem na resolução de problemas que permitem a evolução no interior da cidade onde se encontram foi retomado. Mas aqui Trico não só será o parceiro, como possui particularidades dos colossus de Shadow of the colossus, sendo que podemos subir pelas suas penas.
Mas o artigo em causa nem pretende ser uma análise a The Last Guardian… pretende isso sim falar sobre o Trico, e a sua inteligência artificial.
Um Trico é uma mistura de vários animais. Um lendário grifo e um gato são as duas criaturas que saltam à vista pela observação visual da personagem. Mas as atitudes da personagem possuem mais de cão e gato do que de outra coisa. Cão com um pouco de gato na forma como age, gato na forma felina como se move e cão na forma como ataca!
E nestes pontos que vai recair este artigo, pois ela é pura e simplesmente fantástica. Trico, não se limita a estar lá, ele tem vida própria no ecrã.
A personagem pode parecer um pouco estranha ao início, com as suas patas que fazem lembrar as de uma águia, o seu corpo de galgo, e a sua cabeça que faz lembrar um gato, mas com focinho proeminente como um cão. Mas aos poucos é impossível não se gostar dela pois aos poucos afeicionamos-nos à personagem da mesma forma que ela o faz com o humano que controlamos.
O Trico anda de um lado para o outro, observa e cheira tudo o que encontra, e brinca com as coisas soltas que encontra no chão ou penduradas, movendo-as com a pata. E tal como um cão, quando se atira alimento para o ar, ele apanha-o com o focinho em movimentos rápidos, sendo que quando se prepara para saltar longas distâncias, tal como um gato, alinha o seu corpo, faz pequenos movimentos de preparação, agita as suas asas, e impulsiona as suas poderosas patas, impulsionando-se no ar. É um grande mas ao mesmo tempo pequeno e fofo animal que tem atitudes ao longo do jogo que tornam impossível não se gostar dele. Por exemplo, a meio do percurso Trico deparou-se com uma poça de água de baixa profundidade, e qual não foi o meu espanto quando olhando para trás, ele rebolava de patas para o ar, dentro dessa poça de água para se banhar. Brincava ali como um cãozinho divertido, mas sempre atento aos chamamentos, pois basta chamar o mesmo que ele vira logo a cabeça na nossa direcção para observar o que se passa.
Mas isto não quer dizer que ele goste de água. Aliás a parte gato dele não gosta, e se uma poça pode parecer interessante, a sua relutância em entrar em zonas com mais água é perceptível. Isto apesar de um Trico ser um excelente nadador!
Inicialmente Trico, talvez característica da raça, é medroso, mas rapidamente vai-se afeiçoando ao humano seu amigo ao ponto de vencer alguns dos seus temores caso nos encontremos em perigo, avançando a toda a força para atacar. No entanto este tipo de acções despertam a besta que há em si, ficando bastante inquieto, algo que só se resolve subindo para o seu dorso e fazendo festas na sua cabeça, tal e qual como se faz com um cão inquieto.
Triko é igualmente curioso, e segue a nossa personagem por onde ela for, sendo que por vezes enfia-se por buracos de reduzidissimas, criando angumas das cenas mais engraçadas do jogo, quando o vemos a arrastar a sua enorme cabeça por zonas apertadas e onde a cabeça quase ocupa todo o espaço.
Mas é a forma realista como o Trico se move, coça, lambe, pisca os olhos,se sacode, abana, é meigo e chega a cabeça para lhe fazermos festas que o tornam realista. Quase um animal de estimação virtual, com uma personalidade própria. É um animal amoroso, e uma criação fantástica que trazem uma dimensão nova a este jogo que poucos ou nenhuns jogos anteriores conseguiram. E necessitam mesmo de ver e experimentar para crer! Esperemos que o próximo jogo de Fumito não demore mais 10 anos a sair, é uma obra prima que apenas alguns saberão reconhecer (basta ver o baixo gosto geral das pessoas na qualidade dos programas de TV de maior audiência), mas os que o sabem, certamente irão desfrutar bastante do jogo.
Nota: Os elementos da Naughty Dog consideraram o jogo fantástico
This game… Just… Wow. #PS4share pic.twitter.com/FiAPI6GF5I
— Neil Druckmann (@Neil_Druckmann) 11 de dezembro de 2016