A culpa do insucesso da Xbox nunca foi verdadeiramente do Mattrick, mas sim do Phil Spencer

Os fans olham para o Phil Spencer como o salvador da Xbox, mas na realidade foi ele que ditou o seu insucesso.

Phil Spencer assumiu o cargo de responsável pela Xbox a 31 de Março de 2014. E desde essa altura que os fans veem o mesmo com o salvador da Xbox.

Mas a realidade é que de salvador, o Phil Spencer teve muito pouco. Há que se reconhecer que ele pegou numa Xbox que estava a ser mal vista pelos fans devido ao anuncio de políticas pouco populares. Mas a realidade é que se Don Mattrick na altura responsável pela Xbox, ficou muito mal visto pela Xbox One, é tambem um facto que ele apenas foi nomeado para o cargo em Outubro de 2010, ou seja, pouco menos de 3 anos antes do lançamento da Xbox One, o que significa que este senhor, mesmo que tenha tido algo a dizer sobre as políticas da consola, Mattrick não foi o responsável pelo seu desenvolvimento e restrições existentes no seu hardware, bem como pelo custo da consola ou pela inclusão forçada do Kinect, algo concebido desde sempre para vir com a consola, e grande responsável pelas restrições hardware da mesma.

Mas a ideologia da Microsoft para essa geração foi clara: Passar além do mercado das consola, tomar de assalto a sala de jantar com uma consola que dobrasse como set top box, e vender 1 bilião de consolas. Seria o tomar o mercado de assalto. Uma ideia que não se sabe de quem partiu, mas que não só foi um flop total e absoluto, como prejudicou de tal forma a concepção da consola, assim como desviou o foco nos jogos, que na apresentação da mesma foi dada mais relevância à TV do que aos jogos.

Associando-se a isto ideias mirabolantes sobre controlo de usados e DRM, e a consequência foi imediata! A consola não vendia como se esperava! E Mattrick, visto como o mau da fita, na realidade apenas geria uma batata quente que não foi decidida por si.

Phil Spencer pegou na Xbox One em 2014 exatamente pelo facto de a consola estar a vender mal e a entrar em queda livre e com políticas que se revelavam impopulares, tendo sido muito elogiado por ter virado a situação, ao acabar com essas políticas, e ter removido o custo adicional do Kinect, ao retirar o mesmo da consola.

Mas como diz o ditado, “quem não sabe é como quem não vê”, e aquilo que pareceu uma atitude de salvador de Phil Spencer, na realidade veio-se a perceber depois, não é mais do que uma caracteristica sua. Este senhor mostrou ao longo dos anos que toma as suas atitudes conforme a direção do vento!

Ora na altura o vento soprava forte contra a Xbox, e este senhor, naturalmente inverteu a coisa pois o vento assim o ditava. E vimos depois, ao longo da sua liderança várias situações do gênero, onde Phil Spencer virou políticas de acordo com as necessidades.

Com Phil Spencer várias situações ocorreram na Xbox. A sua liderança nunca conseguiu, inverter uma realidade, a de ter pegado numa consola que estava em terceiro, tendo-a mantido sempre em terceiro. E mesmo hoje, em 2024 e com centenas de milhões enterrados em investimento na consola, isso mantêm-se inalterado. E diga-se até que a posição da Xbox está neste momento pior do que nunca, com a sua popularidade em baixo, as vendas em queda e com a consola física em riscos sérios de poder vir no futuro a desaparecer.

A realidade é que apesar das suas mudanças na altura da entrada, Phil falhou em dar aos fans da consola aquilo que qualquer fan deste tipo de produtos procura… Grandes jogos! Aliás, 10 anos depois, Phil ainda não compreendeu que o que vende consolas são os grandes jogos. E apesar de centenas de milhões em investimento em estúdios, os jogos Xbox continuam a ser de segundo plano, e incapazes de vender consolas.

E sem os grandes jogos, a Xbox One definhava. Ao ponto de Phil ter de procurar uma forma de rentabilizar o investimento existente em estúdios. E como tal… levou os jogos para o PC!

A promessa inicial foi que os jogos não sairiam todos no PC, mas rapidamente, e pelo facto que a Xbox se encontrava a perder clientes face à geração anterior (e terminou a geração com cerca de metade dos clientes da geração anterior), as vendas existentes não permitiam cobrir os custos de produção. E por esse motivo, rapidamente o PC se mostrou uma saída fácil e uma forma de recuperar o investimento.

O que vemos em 2024 é que não só os jogos Xbox saem todos para PC, mas mais do que isso, saem para PC no dia um. E isto porque o PC se tornou uma ferramenta absolutamente necessária para equilibrar a contabilidade, cobrir os custos, e fazer receita. Sem o PC, as vendas na Xbox sozinha não seriam capazes de rentabilizar a consola.

Infelizmente, com esta atitude, este senhor criou aqui uma situação que atenta contra a sua consola. Basicamente o PC é uma máquina bem mais capaz do que a consola, e ao colocar nele, no dia um, os jogos da consola, o interesse na mesma torna-se menor. Eu, como exemplo, nesta geração não apostei na Xbox, pois o meu PC revela-se mais do que capaz de bater a XBox Series X em todos os aspetos. E assim sendo, tendo todos os jogos no dia um, a consola não se tornou uma necessidade.

Basicamente não só Phil mudou o discurso ao longo dos anos, sempre na direção do vento que entendia como mais favorável, como esta medida comprometeu seriamente o futuro da Xbox como consola.

Mas mesmo com esta aposta, o que vimos foi que a Xbox não estava bem. Ao longo da geração Xbox One, os lançamentos First Party foram escassos e o suporte dado à consola foi miserável. Aliás o que vimos foi que Phil Spencer fechou 12 estúdios da Xbox ao longo dessa geração, mostrando uma clara política de contenção de custos e que o futuro da consola poderia estar a ser equacionado.

Mas eis que surge outra brilhante ideia lançada na liderança de Phil Spencer… O Gamepass. Um sistema que permitia aos clientes alugar, a baixíssimo custo, os jogos, tornando-os assim super acessíveis e fornecidos em quantidade. E com esta ideia Phil Spencer terá conseguido convencer a liderança que a empresa tinha todas as condições para virar a mesa e tomar a liderança do mercado.

A esta situação juntou-se a ideologia que, com o Streaming, seria possível alcançar mais de 2 biliões de clientes noutras plataformas. Eram mais uma vez as ideias mirabolantes a falar mais alto!

O que Phil esqueceu foi que o Gamepass teve consequências. E se muitos correram a abraçar a ideia de muitos jogos quase sem pagar, o resto do mercado percebeu imediatamente a realidade que estaria por detrás deste tipo de negócio. Uma canibalização das vendas, uma diminuição da receita nos produtores de conteúdo (apesar que tal serviço encheria os bolsos da Microsoft), e uma consequente diminuição da qualidade dos videojogos, com o aparecimento em massa de conteúdo extra pago, jogos como serviço e microtransações.

Talvez o que ninguém conseguisse prever foi uma outra realidade que se veio a comprovar. Apesar de a adesão ao serviço não ter sido maciça, foi em quantidade suficiente para que as vendas de jogos na consola caíssem para valores em que as receitas das vendas se tornaram baixas. Tão baixas que ou o Gamepass se tornava um bom negócio, com consequente pagamento da Microsoft, ou o criar o jogo para a Xbox não se tornava apetecível.

Resumidamente, Phil Spencer inverteu aqui aquilo que sempre foi a maior fonte de receita das consolas. E em vez de a Microsoft receber 30% de cada venda realizada na consola, a Microsoft passou a pagar para ter os jogos na sua consola. Já as vendas de jogos… essas caiam a pique!

O que se viu aqui foi que a Microsoft estava a entrar numa espiral que a condenaria. E tudo graças às ideologias mal pensadas de Phil Spencer, que continuava sem oferecer ao mercado aquilo que realmente vende consolas: Os grandes jogos!

Digam lá o que disserem, o que os e-mails internos da Microsoft revelados no processo contra a FTC nos mostraram foi que a Microsoft, numa forma de tentar sair deste impasse, resolveu apostar forte numa situação. O comprar da sua vitória!

E nesse sentido apostou forte em comprar empresas como a Zenimax e a ABK (Activision/Blizzard/King), para retirar os seus jogos da concorrência e os tornar exclusivos.

Esta situação foi um tiro que lhes saiu pela culatra. A União Europeia aprovou a compra, mas sempre com a condição de que os jogos destas empresas não seriam exclusivos. O Reino Unido bloqueou mesmo a compra, devido a não acreditar na Microsoft quanto a isto, tendo depois aprovado com concessões e promessas de que tal não aconteceria. A FTC, nos EUA, ainda não está convencida de que a Microsoft efetivamente não tentará ainda dominar o mercado, pelo que não desistiu de tentar bloquear a compra, apesar de não ter tido qualquer sucesso nesse campo.

Mas apesar de a Microsoft ter saído vencedora aqui, tudo isto mostrou-lhes que os reguladores estão ativos. E como consequência, a compra passou, mas com o compromisso de que as exclusividades nos grandes títulos não aconteceriam. E isto foi um rude golpe para a Microsoft, pois não é com a oferta de jogos de segunda linha como exclusivos que a empresa vai cativar clientes para a sua consola. E com os grandes nomes a se manterem multiplataforma, o investimento tornava-se assim basicamente inútil.

A piorar as coisas, a imagem da Xbox no público em geral decaia a olhos vistos. O suporte continuava a faltar, a imagem da marca e dos seus responsáveis, caia a pique, e consequentemente… as vendas estavam em descalabro, particularmente na Europa, sempre muito atenta a este tipo de coisas.

Esta situação levou Phil a ter, mais uma vez de virar ao sabor do vento. E percebendo que estava em mãos com um investimento de quase 100 biliões em estúdios, que não conseguia rentabilizar apenas numa consola com pouco mercado e com poucas perspectivas de crescimento pois as suas vendas encontram-se em queda acentuação com apenas 4 anos de mercado, e no PC, e não conseguindo o seu objetivo de colocar os grandes títulos como exclusivos, teve de recorrer a uma tática que já em tempos o salvara… O alcançar outros mercados, de forma a aumentar as vendas e a receita.

E como consequência disso, a Microsoft opta pela solução mais fácil e impensável, decidindo lançar alguns dos seus exclusivos na Nintendo e na Playstation 5. Algo que, ninguém duvide, seguirá os mesmos passos do que aconteceu com o PC, com um inicio onde apenas alguns jogos iam, mas depois todos irão, e no final estarão lá no dia um. E esta situação é claramente perceptível uma vez que as receitas das vendas são imediatas, e o mercado Playstation e Nintendo são dos mais ativos do mundo e trazem as receitas que a Xbox atualmente não consegue oferecer.

A consequência imediata desta atitude é também clara. Phil Spencer espetou uma estaca no coração da consola Xbox… Com os jogos no PC e na concorrência, mesmo que, nesta fase, com disparidade temporal, a consola perde basicamente todo e qualquer atrativo. E esta continuando a falhar na entrega dos grandes jogos, está condenada.

O grande problema atual da Xbox é que não se muda a imagem criada em 10 anos num período de pouco tempo. E isso quer dizer que, com os jogos no PC, na Playstation e na Switch, mesmo que a Xbox começasse a lançar agora grandes jogos, o futuro da consola poderá estar condenado.

E Phil Spencer, o suposto salvador da Xbox, pode afinal, muito bem, ser o seu cangalheiro.

NOTAS: Escrevi esta artigo após ter lido alguns outros sobre este assunto. E escrevi-o porque achei que o deveria fazer, uma vez que se há website que tem vindo a alertar para as politicas praticadas por Phil Spencer, e a forma como elas são más e que se encontravam a condenar a Xbox, é a PCManias. Nesse sentido, achei que não deveria agora ficar para trás ao não abordar um assunto relacionado com as consequências das políticas Xbox para o qual, ao contrário de outros websites que estão apenas agora a acordar para a realidade, sempre alertamos aqui.

Diga-se aliás que no dia um de Abril publicamos uma mentira criada com a ajuda do ChatGPT, e onde falávamos de um suposto rumor de fim de produção das consolas Xbox. Ora confesso que eu mesmo, ao ler o resultado final que foi o texto publicado, fique a pensar no assunto, por achar que o mesmo estava mais perto da realidade do que alguma vez supos que estivesse. E o seu conteúdo achei que estava de tal forma coerente com tudo o que tem vindo a acontecer na Xbox, que se tal viesse a ser verdade, não me surpreenderia nada.