Phil Spencer “A Microsoft não está a queimar dinheiro no Gamepass para atrair clientes”

Phil diz uma coisa… mas todo o contexto dado depois, a nosso ver, não torna a resposta totalmente clara.

Ao termos noção que muitos poderão discordar da análise que se segue, para que não surjam dúvidas e cada um possa analisar as palavras por si, vamos começar por enquadrar a questão, e citar a resposta de Phil:

Basicamente a questão foi colocada de forma clara:

O Gamepass é viável? Com a oferta de jogos first party no serviço e a perda das vendas em jogos AAA, c om 2020 cheio de novos títulos, e sem se saber se os clientes só aderem ao serviço quando há um jogo que lhes interessa, o Gamepass é bom para o negócio?

Algo mais claro do que isto é complicado.

Eis a resposta de Phil Spencer!



É algo com que estamos confortáveis a manter como está e mais do que dobrou em tamanho ano após ano. Está numa grande trajectória.

Conheço algumas pessoas que dizem, “Oh vocês estão apenas a queimar dinheiro a torto e a direito, para ganhar clientes, para que depois de os terem possam subir os preços”. Mas esse modelo não existe para nós. Estamos bem no negócio que estamos a manter. Estamos claramente a investir nele, mas não a  investir de uma forma insustentável.

Fazemos promoções e outros – todos os serviços fazem, mas é um negócio, e um negócio que se porta bem.

Sinceramente tenho muita dificuldade em interpretar como completamente claro a 100% o que Phil diz.

Creio que se torna claro das frases que o Gamepass não está a dar prejuízo… mas quando se refere que se está a investir claramente nele, temos de presumir que mesmo não estando a dar prejuízo, ele está a comer lucros… Porque isso faz parte do conceito de investimento, e onde há investimento, há perda de lucros.

Aquilo que é claro das palavras de Phil é que o modelo é sustentável, ou seja, que não cria prejuízos. Mas não é claro sobre se é lucrativo. É um investimento, e um investimento existe com o intuito de o serviço crescer e se tornar maior. Um investimento é por definição algo onde se coloca dinheiro para se poder posteriormente recuperar. Se há recuperação imediata não é um investimento.

Eis a definição de investimento:

“Em economia, em linhas gerais, investimento significa a aplicação de capital com a expectativa de um benefício futuro”

E de uma coisa nunca tivemos dúvidas: Que o Gamepass pode ser lucrativo desde que a base de utilizadores seja enorme. A dúvida só se coloca no entretanto, e até que ponto nessa fase os lucros não são comidos de uma forma que numa empresa que não a Microsoft, capaz de absorver essas perdas, seria sustentável.



Porque se formos a analisar outras afirmações passadas, a Xbox 360, mesmo quando tinha sérios problemas com o RROD, e dava prejuízos de milhões, também era dada como sustentável. E nessa altura a Microsoft não escondia dados e víamos que a divisão dava prejuízos gigantes, que no entanto, no meio de toda a receita da Microsoft, se diluíam ao ponto de se poder manter a divisão, olhando para ela como um investimento.

Daí que, na parte que nos toca, Phil Spencer não respondeu às questões. Apenas deu a esclarecer que a Microsoft consegue muito bem aguentar o negócio como ele está, que ele não é insustentável, que está em crescimento, e que é um investimento.

Ou seja, o que nos quer parecer, e salve melhor opinião, é que Phil não deu novidade nenhuma! Aliás estranho seria que, estando este investimento a decorrer, ele dissesse outra coisa!

Agora há coisas que não podemos negar… E uma delas é a matemática de quarta classe. Se um produto custa 70 a 100 milhões a produzir, e 80% dos clientes da consola apenas pagam 1 dólar para o jogar, os lucros vão falhar. Eles podem ser compensados por outros lucros, não se tornando assim em prejuízo, mas não deixa de haver uma perda que está encarada como… um investimento!

A realidade é que isto seria fácil de se tirar a limpo. Bastariam números! Mas a Xbox está em controlo de danos à muito, muito tempo. E tentam fazer passar vitórias com situações do Gamepass, como por exemplo os 3 milhões de log-ins únicos no Gears 5, algo que não correspondeu ao número de vendas. Aliás os números de vendas conhecidos apontam para vendas físicas inferiores ao Gears of War Judgement.



E esse é o problema da Microsoft. Algo que só se explica por uma necessidade extrema de esconder dados! Não há dados ou métricas sobre os seus utilizadores, não há dados de vendas de consolas, e agora até os números de utilizadores activos se parou de anunciar (o certo é que eles estavam algo estabilizados na ordem dos 53 milhões, e esse número foi esmagado agora pela Sony quando reportou 103 milhões de utilizadores activos na sua rede, pelo que não admira que eles tenham parado, especialmente porque os logins no live incluem Xbox, PC, e jogos em outras plataformas que requerem log-ins como o Minecraft). E é no mínimo curioso que dos três fabricantes de consolas, apenas aquele que se está a dar pior tenha decidido deixar de partilhar esses dados.

Nesse sentido estas frases de Phil Spencer não alteraram nada… O Gamepass é um investimento… uma aposta que pode não dar prejuízo, mas que absorve lucros, e que não entendemos como minimamente sustentável a longo prazo, apesar de reconhecermos que se há quem o possa sustentar é a Microsoft. O serviço em si até poderia ser lucrativo com jogos mais antigos, mas não com jogos acabados de lançar e pagando largos milhões para se conseguir meter lá alguns outros jogos de renome.

A realidade é só uma, já a publicamos e está acessível a todos nos relatórios financeiros, o maior player na área do Streaming, o Netflix tem no seu relatório de contas, enterrado numa manobra financeira, um prejuízo de 10 mil milhões de dólares. E isto sem concorrência, e num mercado com 175 milhões de clientes e um potencial de alcance quase global.

Eis os dados previamente publicados no Netflix, e relativos a 2018, onde na primeira imagem vemos a receita de 15,794 milhões e o lucro liquido de 1,2 mil milhões:



Agora continuando a analisar o relatório e contas o que vemos?

Um cash flow liquido negativo no valor 2.68 mil milhões de dólares:

Basicamente o que isto significa é que o Netflix tem mais despesa do que receita, e isso justifica o empréstimo de 4 mil milhões que tambem ali se vê.

O truque da Netflix para esconder o seu prejuízo é contabilístico. Basicamente o Netflix não contabiliza o que gasta com os seus exclusivos como despesa, mas sim como activos intangível.



O que isto quer dizer é que algo que é um prejuizo acaba por entrar na contabilidade como algo que aumenta o valor da marca e da empresa, tornando-se neutro a nível contabilístico e colocando os números em valores positivos.

Jogadas contabilísticas há muitas… esta é apenas uma delas. E elas tornam um prejuizo em algo que não o é! Daí que falar-se sem se apresentar dados… vale o que vale!



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